Desde 1955, com a catástrofe em Le Mans, ficou proibido as corridas em território suíço, mas isso não impedia que ocorresse um Grande Prêmio da Suíça e a federação local promoveu sua corrida no exterior, em Dijon-Prenois, na vizinha França. Lugar da primeira vitória de Alain Prost. Com o segundo lugar conquistado em Zeltweg, Keke Rosberg assumia a segunda posição do campeonato seis pontos atrás de Didier Pironi, que nunca mais correria de F1. Apenas um ano antes Keke lutava para conseguir um lugar no grid com a moribunda Fittipaldi e mesmo sem vencer uma única corrida, estava prestes a se tornar Campeão Mundial. Não faltavam críticas em cima do finlandês, acusado de falta do brilho dos grandes campeões, mas ele se aproveitou bem da falta de confiabilidade de Renault e Brabham-BMW, além do azar da Ferrari, para se colocar nessa posição com seu confiável Williams-Cosworth. Alain Prost era anunciado como piloto número um da Renault para 1983 e com isso, René Arnoux estava fora da equipe francesa. Frank Williams negociava com a BMW, mas o chefão inglês não aceitou engolir Manfred Winkelhock, imposição dos bávaros, e no momento em que renovava com Rosberg, anunciava a contratação de Jacques Laffite, que fora piloto da Williams nos primeiros e difíceis momentos da equipe inglesa.
Num circuito em que testava constantemente, não foi surpresa ver a Renault dominar a classificação, conquistada por Prost após uma briga feroz com Arnoux. Isso aconteceu na sexta. No sábado, um calor infernal fez com que as condições da pista piorassem e ninguém melhorasse os tempos do dia anterior. Um segundo atrás da Renault, vinha Patrese em seu Brabham, enquanto Piquet era apenas sexto e reclamando da nova versão da Brabham, que somente ele usou. Niki Lauda disse que sua McLaren estava perfeita em Dijon e conseguiu um notável quarto lugar. O motor Alfa Romeo V12 permitiu à De Cesaris um quinto lugar, enquanto Giacomelli, que havia aceitado as desculpas do companheiro de equipe pelo acidente na largada na Áustria, se colocava entre os dez primeiros. As duas Williams compartilhavam a quarta fila, mas pela primeira vez no ano Daly superava Rosberg. Isso era um pequeno alento para Watson, que ao contrário do seu companheiro de equipe Lauda, não tinha um bom carro na França. Vencedor da corrida anterior, Elio de Angelis conseguiu apenas um 15º lugar, com o seu companheiro de equipe Mansell lutando bastante para conseguir a 26º e última posição do grid.
Grid:
1) Prost (Renault) - 1:01.380
2) Arnoux (Renault) - 1:01.740
3) Patrese (Brabham) - 1:02.710
4) Lauda (McLaren) - 1:02.984
5) De Cesaris (Alfa) - 1:03.023
6) Piquet (Brabham) - 1:03.183
7) Daly (Williams) - 1:03.291
8) Rosberg (Williams) - 1:03.589
9) Giacomelli (Alfa) - 1:03.776
10) Tambay (Ferrari) - 1:03.896
O dia 29 de agosto de 1982 amanheceu com sol e calor em Dijon-Prenois, mas havia uma novidade não muito boa para os tifosi. Patrick Tambay reclamava de fortes dores do pescoço e não foi à pista no sábado. No domingo as dores permaneceram e a Ferrari resolveu poupar o seu único piloto. Após vários anos, não haveria uma Ferrari numa largada de F1. Por causa do calor, os pilotos se esmeraram na escolha dos pneus. Prost usava os compostos mais macios da Michelin, enquanto Arnoux largou com os mais duros. Todos os pilotos clientes da Goodyear escolheram os mais duros. Na luz verde, Arnoux consegue uma melhor saída e toma a ponta de Prost, seguidos por Patrese e Lauda. Numa manobra audaciosa por fora, Keke pula para o quinto posto, mas durante a primeira volta foi ultrapassado por Piquet.
Nelson Piquet estava numa estratégia de parar durante a corrida, a grande novidade do ano, mas além do brasileiro, era Prost quem estava mudando de posição, assumindo a liderança na segunda volta e logo marcando a volta mais rápida da corrida. O calor forte, mais o desgaste dos pneus, fez com que o ritmo da prova fosse um pouco mais lento. Piquet ultrapassa Patrese, que não faria um pit-stop programado, na terceira volta e parte para cima de Arnoux. Porém, Piquet não estava confortável com os seus pneus e na quinta volta ele escorrega no óleo derramado pelo estouro do motor de Roberto Guerrero, perdendo um pouco de tempo. Após ultrapassar Lauda, Rosberg ultrapassa Patrese na sexta volta e de forma bastante interessante, acompanhava de perto o ritmo forte de Piquet. Também pensando no campeonato, Watson realizava uma boa corrida de recuperação e ganhava terreno. Na volta 11, Piquet finalmente ultrapassa Arnoux, mas já estava 7s atrás de Prost. Patrese perdia rendimento e após ser ultrapassado por Lauda, era acossado pelo ascendente Watson, que já entrava na zona de pontos. Sabendo que Piquet iria fazer um pit-stop, Arnoux praticamente deixou Piquet passar e acompanhava o brasileiro a distância, com Keke apenas 2s atrás. Porém, a diferença entre Prost e Piquet não diminuía. A tática de Piquet e da Brabham não estava surtindo o efeito esperado.
Na ânsia de ganhar posições rapidamente, Watson ultrapassa Patrese passando por cima de uma zebra, mas se hoje isso é banal, em 1982 era algo que poderia destruir a corrida de um piloto, pois poderia danificar as minissaias laterais, que ajudavam a aerodinâmica dos carros. Não demorou e Watson entrou nos boxes para consertar sua minissaia e saía definitivamente da briga pela corrida. Rosberg abranda o seu ritmo para economizar os pneus, enquanto os três primeiros colocados negociavam com diferentes graus de sucesso espaço com os retardatários. A diferença entre Prost e Piquet chega a cair para a casa dos 4s, mas com Piquet parando na volta 40, exatamente a metade da corrida, sua tática não tinha dado certo. O brasileiro retorna à pista em quinto, quase 50s atrás de Prost e com os pneus duros, pois Piquet não se deu muito bem com os macios. Foi uma tentativa válida para acabar com o domínio da Renault, mas no fim, era os carros franceses que lideravam a corrida suíça. Porém, Prost danificou sua asa esquerda enquanto colocava uma volta num retardatário e Arnoux se enganchava no trânsito. Rosberg e Lauda andavam próximos e quando o finlandês encontrou Andrea de Cesaris, o piloto da Alfa Romeo não facilitou as coisas para Keke, que ficou bastante irritado e quase jogou o italiano, literalmente, na Suíça! Piquet estava num ritmo tão lento, que acaba levando uma volta de Prost, que via seu carro ficar cada vez mais desequilibrado e Arnoux se aproximava aos poucos. Rosberg se aproveitou que De Cesaris estava num daqueles dias e o italiano atrapalhou Lauda a ponto de Keke escapar na frente. O piloto da Williams vinha menos de 10s atrás de Prost.
Em Paul Ricard, a Renault havia mandado Arnoux ceder sua vitória para Prost, no que foi ignorado por René, desafeto declarado de Prost. Com Arnoux se aproximando do seu primeiro piloto, a cúpula da Renault começava a ficar nervosa, pois sabia que René ignoraria solenemente qualquer ordem de equipe para manter as posições. Porém, Arnoux teve o seu motor com problemas de injeção e ele entrou nos boxes lentamente. Eram menos pontos no Mundial de Construtores para a Renault, mas a certeza de uma corrida tranquila para Prost. Ou não? Keke Rosberg já vinha menos de 5s atrás com poucas voltas para o fim. Prost estava com problemas claros de dirigibilidade e toda a França torcia loucamente por Prost e a Renault. Conta a lenda que os organizadores da corrida até tentaram 'diminuir' a corrida, colocando menos voltas para o final no placar eletrônico. Faltando duas voltas para o fim e com Rosberg colado em Prost, o diretor de corridas chegou a entrar na pista com a bandeira quadriculada, mas o pessoal da Williams chiou. Exatamente nessa volta, Prost escorrega um pouco e Rosberg consegue a ultrapassagem consagradora. Por causa da confusão na direção de prova, Keke deu uma volta a mais para finalmente receber a bandeirada de sua primeira vitória na F1. Mais varzeano impossível! A torcida francesa vaiou Rosberg, que tomou a liderança que fora de Prost por 78 das 80 voltas. Lauda completou o pódio, com Piquet superando Patrese no final, mas a tática do pit-stop não havia funcionado a contento. Elio de Angelis fechou a zona de pontuação, bem longe da vitória que conquistara quinze dias antes. Keke Rosberg conquistava a primeira vitória da Finlândia na F1 e assumia a liderança do campeonato. Prost e a Renault amargavam outra derrota doída e para os críticos de Keke, um fato deixava-os ainda mais sem crédito. Se não fosse desclassificado injustamente no Brasil, Rosberg teria se tornado campeão em Dijon, mas com Pironi de fora da temporada, Keke poderia ser campeão em Monza, próxima corrida. O título não demoraria a ser de Keke Rosberg.
Chegada:
1) Rosberg
2) Prost
3) Lauda
4) Piquet
5) Patrese
6) De Angelis