domingo, 7 de outubro de 2018

Briga desigual

Quando Sebastian Vettel conquistou seu tetracampeonato em 2013, havia uma expectativa de quando o alemão iria medir forças verdadeiramente com Lewis Hamilton. No período em que ganhou seus quatro títulos, o maior rival de Vettel era Fernando Alonso, que conseguia tirar leite de pedra de uma Ferrari claudicante, comandada pelos italianos. O espanhol, tentando desequilibrar Vettel, dizia que perdia os títulos para Adryan Newey, projetista do imbatível carro que ajudava Vettel a destruir a concorrência. O bom mesmo era Lewis Hamilton, bradava Alonso. Da mesma geração, ainda não havia tido uma briga 'face to face' entre Vettel e Hamilton. Isso, até a era híbrida começar e Vettel se mudar para a Ferrari. Os dois finalmente brigariam com ferramentas parecidas pelo título e em 2018 teria o tempero especial de estarem empatados em número de títulos.

Se a Ferrari apenas ameaçou em 2017 e faltou experiência aos novos italianos que comandam a equipe, 2018 seria o ano para acabar com a brincadeira de Hamilton e da Mercedes. Vettel é experiente e tem quatro títulos mundiais nas costas, enquanto Hamilton ainda parecia imaturo e já havia fraquejado contra um alemão mais maduro. Porém, Hamilton aprendeu bastante com a derrota para Nico Rosberg no quintal de sua casa, enquanto a aparente armadura de Vettel tantas vezes mostradas contra Fernando Alonso no começo dessa década exibia frestas. Na Red Bull e com o melhor carro, Vettel estava em sua zona de conforto e com os chefões Helmut Marko e Christian Horner ao seu lado, o mesmo não acontecendo com a sempre caótica gestão italiana, sem contar a pressão que Vettel tem em fazer o que Schumacher fez a quase vinte anos atrás: recuperar a Ferrari. Vettel continua mostrando velocidade, mas vem cometendo erros sobre pressão e hoje cometeu mais um, praticamente entregando o título para Lewis Hamilton, que vem pilotando cada vez melhor. Com a confiança em alta, com a Mercedes cada vez melhor e uma gestão sólida, Hamilton não teve adversários em sua pista favorita, desta vez não dando chances até mesmo à Valtteri Bottas, que o bateu claramente semana passada em Sochi, tendo a necessidade das polêmicas ordens de equipe para Hamilton vencer na Rússia. Desde a morte de Sergio Marcchione, talvez o menos latino dos chefes italianos, a gestão da Ferrari entrou em parafuso e os erros se sucedem nas mais diferentes áreas. São estratégias erradas na classificação e na corrida, mas hoje quem errou foi seu principal piloto. Vettel fazia uma rápida corrida de recuperação, se colocando na quarta posição após uma ótima largada e ultrapassagens sem problemas sobre a dupla da Toro Rosso e Grosjean. Max Verstappen já tinha mostrado que estava 'naqueles dias' quando deu um chega pra lá em Raikkonen quando escapou na pista na famosa chicane, permitindo que Vettel se aproximasse. Ainda na mesma volta, Vettel tentou uma afobada ultrapassagem na improvável curva Spoon, que jogou sua corrida pelo ralo. O toque entre os dois pilotos foi inevitável, mas Vettel levou a pior ao rodar e cair para a última posição. Game Over. Hamilton apenas administrou uma corrida onde a única emoção do inglês foi curtir as rápidas curvas de Suzuka ao longo das 53 voltas onde não foi incomodado em nenhum momento. Aos 33 anos, Hamilton chegou à vitória de número 71 e com mais de 60 pontos de vantagem sobe Vettel nas quatro corridas restantes, fica apenas a dúvida se o título será nos Estados Unidos ou no México, tamanho a diferença de pilotagem que tem sobre Vettel, além da sobra que a Mercedes tem sobre a Ferrari.

A ordem de equipe pode ter mexido na cabeça de Bottas, que fez uma corrida medíocre hoje, onde com o melhor carro disparado, ainda foi pressionado nas voltas finais por Max Verstappen. O holandês cumpriu uma justa punição de 5s pelo toque em Raikkonen e ainda assim se manteve na terceira posição. Com os pneus macios, foi para cima de Bottas, mas a superioridade do conjunto Mercedes ajudou a Bottas não passar o mico de destruir a dobradinha da Mercedes. Raikkonen poderia fazer as honras da Ferrari, mas com outra pilotagem apagada, Kimi mostrou o porquê estar de saída da Ferrari, pois o finlandês não apenas foi capaz de atacar Verstappen, como acabou ultrapassado por Ricciardo, que largou onze posições atrás dele. O australiano, tão chateado pela falha do motor Renault na classificação de ontem, fez uma corrida correta para ser quarto. A Ferrari, na pior corrida de 2018, ficou com a quinta a sexta posições, demonstrando ser a terceira força do momento. Sentindo o momento, Vettel fez a besteira de tentar uma ultrapassagem amalucada em cima de Verstappen e depois fez a corrida protocolar para chegar em sexto, mais de 20s atrás do seu sorumbático companheiro de equipe, mas ainda marcando a volta mais rápida. Um final de temporada péssimo para o alemão, cuja a derrota em Monza quando era o grande favorito à vitória parece estar tendo o mesmo efeito da marcante edição do Grande Prêmio da Itália de 1985, quando Alboreto nunca mais foi o mesmo após perder para Prost quando tudo levava a crer que ele era o favorito ao título.

O circuito de Suzuka pode trazer um enorme prazer aos pilotos por causa do seu rápido e seletivo traçado, mas também pode trazer muito sono aos fãs da F1 com corridas chatas, porém, pela baixa expectativa que sempre há em Suzuka, a corrida foi bem legal no pelotão intermediário. Sem contar as corridas de recuperação de Ricciardo e Vettel, a corrida foi cheia de ultrapassagens da sétima posição para baixo. Grosjean ficou na posição de melhor do resto a corrida inteira, mas acabou ultrapassado por Pérez após o período de safety-car virtual pelo abandono de Leclerc. Grosjean reclamou da manobra do mexicano, mas nas voltas finais a sua principal preocupação era mesmo segurar a segunda Force India de Ocon. A Honda sonhou em marcar pontos em casa e a boa posição no grid dos seus pilotos era um bom prenúncio, mas uma péssima largada de Hartley, seguido por um ritmo de corrida medíocre praticamente eliminou as chances de pontos do neozelandês, o mesmo acontecendo dele ficar na F1 em 2019. Gasly lutou mais e estava na briga pelos pontos, mas acabou ultrapassado nas voltas finais por Sainz pela décima posição e a Honda saí de Suzuka de mãos abanando novamente. A Sauber teve um final de semana complicado, o mesmo acontecendo com a Renault, que só marcou ponto por que Sainz estava melhor 'calçado' nas voltas finais. Magnussen foi claramente superado por Grosjean e numa manobra bastante discutível mudou de direção na freada, fazendo com que Leclerc batesse em sua traseira, lhe furando o pneu, causando o único safety-car do dia. Enquanto isso, na luta dos times tradicionais para sair da última posição, a McLaren superou por muito pouco a Williams na inglória situação de equipes tão gloriosas.

Lewis Hamilton já está na história da F1 e vai caminhando para o quinto título, se tornando o terceiro piloto da F1 a conseguir esse feito. Cada vez mais amadurecido (finalmente!), Hamilton está pilotando cada vez melhor e cresceu na hora certa, o mesmo acontecendo com a Mercedes, que hoje exibe uma dominância semelhante ao triênio 2014-16, onde bateu as rivais com gosto e sem piedade. Vettel já tinha mostrado cair de rendimento sob pressão na Red Bull e no caldeirão que vive na Ferrari, o alemão vai cometendo cada vez mais erros incompatíveis com o seu cartel. A esperada disputa entre os dois pilotos que dominaram essa década vai se mostrando mais desigual do que o esperado. Hamilton vai sobrando frente a um Vettel que mais erra do que o esperado. 

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