A corrida de ontem teve inúmeros personagens que poderiam facilmente estar aqui. Verstappen, Kvyat, Red Bull, Racing Point, Toro Rosso, Honda... Porém, a escolha recaiu para o segundo colocado da corrida deste domingo por todo o contexto. Um ano atrás Sebastian Vettel liderava sua corrida caseira quando a chuva veio. Num erro infantil, Vettel acabou saindo da pista sozinho e abandonou no setor do estádio, onde a maior parte da torcida fica. Vettel se desesperou, socou o volante, mas o estrago estava feito. Sebastian ainda venceria na Bélgica e reassumiu a liderança do campeonato do ano passado, mas a exibição em Spa foi sua última de destaque. Desde então Vettel entrou numa espiral de erros totalmente inaceitáveis para o seu alto nível. Vettel chegou a bater na primeira volta quatro vezes ano passado, enquanto rodava sozinho no Bahrein e saiu da pista em Montreal quando era pressionado por Hamilton. Os boatos de que Vettel estaria se aposentando no final desse ano começaram a pipocar aqui e ali. Assim como aconteceu quando recebeu Daniel Ricciardo na Red Bull, Vettel não estava reagindo bem a chegada de Charles Leclerc na Ferrari. No sábado, Vettel sofreu outro golpe quando o turbo da Ferrari quebrou e o alemão sequer treinou. Seb largaria em último. Um domingo duro pela frente, ainda mais quando a chuva deu as caras novamente em Hockenheim. O mesmo clima que o vitimou um ano antes. Mesmo ultrapassando oito carros na primeira volta, Vettel parecia sem confiança, passando várias voltas atrás da Alfa Romeo de Kimi Raikkonen. Quando tudo levava a crer que Vettel teria outra corrida medíocre, a pista finalmente secou e Vettel teve um estalo. A Ferrari fora muito forte naquela situação e quando Vettel colocou os pneus slicks pela última vez, o alemão mostrou o quão forte pode ser, iniciando uma corrida de recuperação que todos esperavam dele. Vettel ultrapassou um a um quem aparecia pela frente até chegar ao segundo lugar, terminando uma corrida em que saiu de último. Vettel sorria com o resultado. Se ano passado foi um marco negativo para Vettel, tomara que esse resultado na mesma pista de Hockenheim signifique um marco positivo para o alemão e ele retorne ao alto nível que todos conhecemos.
segunda-feira, 29 de julho de 2019
Figurão(ALE): Mercedes
A Mercedes se preparou para a sua corrida caseira com esmero. Primeiro, colocou o seu nome como patrocinador principal do Grande Prêmio da Alemanha. A estrela de três pontas estavam espalhadas em todos os lugares do circuito de Hockenheim. Comemorando 125 anos de envolvimento no automobilismo, a Mercedes fez questão de rememorar a data. Todos os seus membros estavam vestidos como nos anos 1950, inclusive com paletós e suspensórios. O carro ganhou uma pintura diferente. No sábado, a principal rival da Mercedes durante os treinos livres, a Ferrari, teve problemas com seus dois pilotos e a montadora alemã só não conseguiu uma dobradinha no grid por causa da genialidade de Max Verstappen. Porém, o holandês não largou bem e logo Bottas assumiu o segundo lugar, logo atrás de Hamilton e a Mercedes corria para uma dobradinha que teria um gostinho especial. Ledo engano. Justamente na sua corrida de comemoração, a Mercedes teve seu pior final de semana de 2019. Primeiro Hamilton errou na última curva e bateu no muro de leve, mas a ponto de quebrar o bico, fazendo o inglês ir para os boxes de forma irregular. Ao chegar nos pits, Hamilton viu a Mercedes sem saber o que fazer, demonstrando uma rara cena da equipe que é o primor da eficiência nos últimos anos totalmente atrapalhada. Porém, aquele não seria o único erro de Hamilton, que caiu para último e rodou mais uma vez. Foram seis paradas para Lewis, duas rodadas correndo sozinho e só superando os dois carros da Williams nas voltas finais. Bottas tinha todas as chances de recortar a desvantagem que tem para Hamilton no campeonato e mesmo com Verstappen claramente na frente e com tudo para conseguir a vitória, pelo menos Bottas tinha totais condições de beliscar um segundo lugar. Tinha. Sem alma, Bottas demorou a ultrapassar Stroll e acabou errando na saída da curva um, mesmo local onde Hamilton havia rodado, porém Valtteri bateu no muro de pneus e sua corrida estava acabada. De ritmo de festa, o final de semana da Mercedes acabou em ritmo de velório e ainda durante a corrida, pelo rádio, Lewis Hamilton resumiu a corrida da Mercedes: como tudo deu tão errado hoje?
domingo, 28 de julho de 2019
Briga de equipe
O circuito de Mid-Ohio é daqueles chamados 'old school'. Construído no final dos anos 1950, o belo circuito é estreito, pequeno e com o traçado seguindo a natureza exuberante do local. Porém, com carros tão potentes, rápidos e largos, ultrapassar com um carro da Indy em Mid-Ohio é um trabalho tão complicado que muitas vezes as equipes preferem construir estratégias vencedoras ao invés de conseguir algo na pista.
A Chip Ganassi já tinha dado claras indicações que tinha um ótimo acerto na pista onde seu principal piloto, Scott Dixon, já havia vencido cinco vezes e por isso foi surpreendente que tanto Dixon como Felix Rosenqvist terem ficado de fora do Fast-Six, que define (até pelo nome) os seis primeiros do grid. Porém, nunca é bom deixar de fora da lista de favoritos um piloto como Dixon, ainda mais em Mid-Ohio. A corrida dessa domingo foi um tablado de xadrez gigante e em alta velocidade, onde as equipes jogavam com as estratégias, muitas vezes deixando seus pilotos em táticas diferente. Assim fez a Ganassi. Rosenqvist e Dixon largaram com pneus duros, mas quando fizeram suas paradas, trocaram de tática. O mesmo ocorreu com as demais equipes. Seguindo a Ganassi, a Penske resolveu deixar o pole Power na pista com pneus macios por várias voltas, enquanto Newgarden e Pagenaud, ambos na luta pelo título, pararam mais cedo e colocaram os pneus duros. A Andretti fez algo parecido com Rossi e Hunter-Reay dividindo as estratégias entre seus dois principais pilotos. Quem acertaria?
Após a última rodada de paradas, a Ganassi parecia que tinha a corrida nas mãos. Dixon liderava com ampla vantagem sobre Rosenqvist, enquanto Hunter-Reay segurava um trem que tinha Newgarden, Power, Rossi, Pagenaud e Colton Herta. Para o campeonato, esse resultado seria o ideal para Newgarden, que aumentaria sua vantagem sobre Rossi e Pagenaud, mas como vimos na prova da F1 pela manhã, as corridas não ciências tão exatas assim. No último stint, Dixon colocou pneus macios e teria que faze-los funcionar nas últimas trinta voltas. Rosenqvist estava com a borracha mais dura e o resultado foi até lógico. Dixon perdeu rendimento e Rosenqvist cortou toda a diferença que Dixon tinha nas últimas voltas. Dixon estava tão lento, que um grupo de quatro retardatários chegou nele, trazendo Rosenqvist. O sueco vem fazendo uma temporada um pouco abaixo do esperado e uma vitória poderia salvar seu emprego de forma definitiva. Porém, ao contrário da F1, a bandeira azul na Indy não é tão respeitada e os retardatários fizeram jogo duro, enquanto não conseguiam ultrapassar um lento Dixon.
O que parecia uma corrida até modorrenta pela falta de bandeiras amarelas, logo se transformou num emocionante fim de prova. Com os pilotos da Ganassi lentos por motivos distintos, Hunter-Reay e Newgarden encostaram de vez. Na última volta, Rosenqvist tinha se livrado a duras penas dos retardatários e estava colado em Dixon. Ainda com Dixon na briga pelo título, será que Chip Ganassi deixaria Rosenqvist atacar o neozelandês? A resposta foi dada na curva 2 da última volta, quando os dois se tocaram e quase jogaram a dobradinha da Ganassi no lixo. Porém, o pior aconteceu mais atrás. Líder do campeonato e com seus rivais pelo título mais próximos atrás de si, Newgarden tentou uma manobra para lá de otimista em cima de Newgarden e ele acabou na caixa de brita, caindo para 14º e vendo Rossi se aproximar novamente no campeonato.
Foi um fim de corrida eletrizante. A Ganassi garantiu a primeira dobradinha em quatro anos e o velho Chip já deve ter ligado para Günther Steiner sobre administração de companheiros de equipe. Com o erro para lá de evitável de Newgarden, Rossi se aproximou e Dixon mantém-se vivo na briga pelo hexa.
Doideira
Nos dias de corrida de F1 pela manhã eu tenho um pequeno ritual um pouco do início da transmissão, que é ver como está o tempo. Sol ou chuva? Após dois dias de calor sufocante, Hockenheim amanheceu com chuva, o que dava uma pitada a mais para uma corrida que já prometia, pois as duas rápidas Ferraris largariam na segunda metade do pelotão. Porém, nem de longe a corrida prometia ser tão insana como a de hoje, em que o vencedor fez cinco pit-stops, o safety-car entrou na pista quatro vezes, boa parte dos pilotos de ponta tiveram corridas para esquecer, Stroll liderou algumas voltas e Daniil Kvyat levou a Toro Rosso de volta ao pódio pela primeira vez desde a célebre vitória em Monza de Vettel em 2008.
A corrida na Alemanha já começou prometendo quando foi anunciado que a largada seria parada. Sim, já era um indício de que as coisas seriam diferentes. Quando a pista está molhada, virou padrão para a FIA mandar que a largada seja atrás do safety-car. Bernd Maylander até esteve presente na largada, mas apenas para que os carros se acostumassem ao piso molhado, já que em nenhum momento desse final de semana os pilotos experimentaram essas condições. Largada, parada, dada, Max Verstappen novamente largou mal e caiu para quarto, repetindo a má saída da Áustria, quando venceu. Será destino? A partir de então a corrida se tornou uma loteria ao bel-prazer da mãe-natureza, com a chuva indo e voltando a todo momento, tornando a situação dos pilotos críticas. Cada decisão tomada influenciou positiva ou negativamente a corrida dos pilotos nesse domingo. E quem se sobressaiu foi Max Verstappen, que lutou contra uma má largada para novamente vencer em condições atípicas. Se na Áustria o holandês se aproveitou do calor infernal, hoje Max se aproveitou do clima inclemente nas margens da Floresta Negra. Além da sua excepcional pilotagem, Verstappen contou também com pit-stops sem erros e na hora certa da Red Bull para vencer com certa tranquilidade no final, aumentando a sensação que o holandês só precisa de um carro ligeiramente melhor para brigar pelo título. Porém a Red Bull viu o outro lado da moeda em outra corrida medonha de Pierre Gasly. O francês errou várias vezes, em nenhum momento flertou em brigar pelo pódio, foi ultrapassado por pilotos da Toro Rosso, subsidiária da Red Bull e no fim acabou se envolvendo num incidente com Albon na última volta. Após sua corrida decente em Silverstone, Gasly voltou ao olho do furacão, onde já havia batido na sexta e viu os dois pilotos da Toro Rosso andarem muito bem.
Para quem acompanha esse blog sabe que esse blogueiro não é o maior fã de Daniil Kvyat. O russo pode dizer que tem a estrela na testa, pois em outros tempos já estaria correndo numa categoria menor como a F-E, depois de tantos fracassos na F1 e ser até mesmo humilhado pela cúpula da Red Bull. Como hoje quem teve sorte chorou menos, Kvyat acertou na mosca ao colocar os pneus slicks na penúltima relargada e estava em segundo quando todos os líderes colocaram os pneus certos. Kvyat só não pôde segurar Vettel no final, mas ao ultrapassar Stroll um pouco antes, o piloto da Toro Rosso se colocou numa ótima posição de pódio, levando a equipe italiana que um dia se chamou Minardi de volta ao pódio depois de quase onze anos. E combinado com mais uma péssima exibição de Gasly, o nome de Kvyat está de volta a baila para uma vaga na Red Bull. O grande rival de Kvyat está dentro de sua equipe, pois Albon também fez uma belíssima corrida e pontuou bem, apesar do toque com Gasly na última volta. Sainz foi a cara dessa corrida maluca. O espanhol saiu da pista, quase atolou sua McLaren e ainda assim teve tempo para ser quinto, enquanto Norris abandonou com problemas mecânicos. Em algum lugar nas Astúrias, deve ter chegado a informação que a Honda colocou dois carros seus no pódio e a McLaren beliscou um bom quinto lugar. Ai Alonso...
Mesmo com a bela corrida de Verstappen, o nome da corrida foi mesmo Sebastian Vettel. Um ano antes, em condições até parecidas com a de hoje, Vettel saiu da pista sozinho e começou seu inferno astral, onde quando não é a Ferrari que erra, é o alemão que apronta com batatadas que não condizem a um tetracampeão. Ontem a Ferrari errou, mas hoje, um ano depois da corrida que marcou sua carreira, Vettel consertou a marcada com uma prova sensacional vindo de último para a segunda posição. Quando a pista ainda estava úmida, Vettel fazia uma corrida até apagada, ficando muito tempo atrás da Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, mas quando a pista secou, Vettel pareceu ter ligado o 'turbo' e passou quem via pela frente, chegando a um incrível segundo lugar. Da mesma forma que Hockenheim foi um marco negativo na carreira de Vettel ano passado, tomara que a prova de 2019 seja uma reviravolta positiva para o alemão. Leclerc começou a corrida de forma agressiva, se aproveitou um dos raros acertos da Ferrari ao colocar pneus intermediários novos quando o safety-car virtual deu as caras, mas o jovem monegasco também errou muito e acabou batendo quando a chuva veio no momento em que a maioria estava com pneus slicks. Mais uma chance desperdiçada para Leclerc, que provou não ser tão forte assim no molhado.
Com tantos personagens importante na corrida de hoje, alguém poderia perguntar: e a Mercedes? Pois é, a Mercedes armou toda a festa pelos seus 125 anos de história no automobilismo, patrocinou a ameaçada corrida em Hockenheim, vestiu seus mecânicos de forma retrô e pintou seus carros de forma diferente para ter a sua pior corrida dos últimos cinco anos. A lamentação de Hamilton pelo rádio foi verdadeira: como tudo pode ter dado tão errado? Sim, tudo deu errado para a Mercedes, começando com seus pilotos, que lideraram o primeiro stint da corrida e davam pinta de mais uma dobradinha. Porém, foi Hamilton e Bottas que cometeram os maiores erros do dia, saindo da pista três vezes e deixando a equipe no zero. O caso de Bottas foi o mais emblemático. O finlandês tinha tudo para tirar toda a desvantagem que tinha para Hamilton no campeonato, mas Bottas simplesmente não conseguia ultrapassar Stroll e acabou errando sozinho na curva um, lugar onde Hamilton tinha rodado um pouco antes. A batida de Bottas deixou a Mercedes no zero, bem no final de semana em que a montadora anunciou que decidirá quem será seus pilotos em 2020 no mês vindouro. Se fosse futebol, Esteban Ocon já estaria no aquecimento ao lado do campo...
Reginaldo Leme soltou um 'Meu Deus...' quando a TV mostrou Lance Stroll saindo com pneus slicks. O veterano comentarista mal poderia imaginar que essa manobra por muito pouco não deu o segundo pódio da carreira do canadense. Stroll emergiu na ponta da corrida e se não fosse o furacões Verstappen e Vettel, teria garantido o pódio para Racing Point, que viu seu piloto principal ser a primeira vítima da pista traiçoeira. Teoricamente a Haas estaria comemorando seus dois carros na zona de pontuação, numa corrida onde o time americano tentou estratégias arriscadas com Magnussen chegando a correr em segundo. Porém, o pobre Günther Steiner terá outra crise para administrar, pois novamente Grosjean e Magnussen se tocaram numa disputa de posição. Da mesmo forma que Gasly e Bottas, Grosjean e Magnussen devem estar procurando algo para fazer em 2020. Hulkenberg, que sempre se mostrou fortíssimo na chuva, se achou em segundo lugar numa das relargadas. Seria hoje que o alemão quebraria o tabu sem pódios? Definitivamente, não. Primeiro, Hulk seria ultrapassado pela dupla da Mercedes e depois bateria na saída da última curva, local onde Leclerc abandonou e Hamilton saiu da pista e quebrou o bico. Para completar o dia para Abiteboul, Daniel Ricciardo abandonou com o motor quebrado. Voltando aos clichês do futebol, Abiteboul está prestigiado dentro da cúpula da Renault. Numa bela corrida de Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi chegando a ficar com a volta mais rápida, a Alfa Romeo marcou pontos também com seus dois pilotos. Com tantos acidentes, erros, problemas e abandonos, a Williams quase marcou pontos, mas com um carro tão ruim, acabou no zero novamente.
Para quem açodadamente cravou a morte da F1, seria bom rever alguns conceitos. O mundo está tão imediatista, que basta um momento ruim (ou até mesmo bom) para decretar conceitos sobre o que está acontecendo. A F1 está cheia de problemas estruturais e tomara que sejam consertadas logo, para o bem do automobilismo, mas morta ou próxima disso, a F1 definitivamente não está! Mesmo com tantas presepadas, a Mercedes dificilmente perderá o título desse ano e Hamilton será hexacampeão, mas das últimas seis corridas, cinco foram sensacionais. Tirando a dona da casa Mercedes, Leclerc, Renault, Gasly, Bottas, Steiner e Alonso, todos saíram de Hockenheim com muito o que comemorar com a doideira de hoje.
sábado, 27 de julho de 2019
Boa nostalgia
Na manhã desse sábado em Hockenheim, os torcedores da Ferrari sentiram uma boa nostalgia quando viram a Ferrari F2004 pilotada por um piloto com sobrenome Schumacher pela pista alemã. Voltando quinze anos no tempo, a Ferrari venceu o Grande Prêmio da Alemanha de 2004 com Michael Schumacher dominando a corrida, assim como o alemão dominava aquele campeonato rumo ao heptacampeonato. Eram bons tempos da Ferrari, o auge do pai de Mick Schumacher, que deu umas voltas hoje, e da cúpula ferrarista, composta por Jean Todt, Ross Brawn e Rory Byrne. Lógico que erros e problemas aconteciam, mas a Ferrari estava tão bem estruturada, que tudo parecia coberto pela experiência dentro e fora da pista.
Retornando ao presente, a Ferrari dominava o final de semana alemão com alguma facilidade, com Leclerc chegando a botar seis décimos na turma da Mercedes, que corre literalmente em casa e em comemoração aos 125 anos de envolvimento com o automobilismo, chegou à Hockenheim com um estilo retrô. Também correndo em casa estava Vettel, que está usando o capacete da lenda do DTM Bernd Schneider. Um ano depois do erro que se tornou um marco em sua carreira, Vettel sofreu outro golpe em Hockenheim quando teve um problema no turbo de sua Ferrari ainda no Q1 e largará amanhã em último. Leclerc continuava liderando a Ferrari na luta pela pole, mas quando o Q3 começou, os mecânicos da Ferrari cercavam o carro do monegasco. Enquanto a dupla da Mercedes e Verstappen marcavam seus tempos, Leclerc saiu do cockpit vermelho para incredulidade de todos em Hockenheim. A Ferrari, talvez em sua melhor chance em 2019 para derrotar a Mercedes, abandonava com seus dois carros na classificação, entregando de bandeja a pole para Hamilton, que já se tornou o favorito a vitória amanhã.
A classificação teve alguns destaques adicionais, como a impressionante proximidade no pelotão intermediário, que viu Norris ficar no Q1, enquanto Sainz foi ao Q3. Raikkonen liderou a meiúca com sua Alfa Romeo, enquanto a Haas mostrou algum alento depois da desastrosa corrida na Inglaterra. Resta saber como os americanos sairão na corrida. Pela primeira vez no ano Stroll passou ao Q2. Mesmo com o feito, isso só é outra demonstração de fraqueza do canadense, enquanto Pérez foi ao Q3 e mostrou seu bom trabalho de sempre. Chama também atenção Verstappen ter conseguido beliscar a primeira fila, mesmo tendo problemas em seu motor. Outro ponto negativo para Bottas, que deve estar ansioso para saber se ficará ou não na Mercedes em 2020.
A corrida de amanhã já terá a atração de ver as duas Ferraris, que andaram muito bem até agora, saindo em posições bem abaixo do potencial delas. Leclerc e Vettel terão corridas divertidas pela frente, ainda mais com a possibilidade de chuva. Enquanto a Mercedes vibra outra vez em casa, a reunião da Ferrari deverá ser quente, como numa reunião de família napolitana. Bem longe dos tempos em que a Ferrari dominava a F1.
quinta-feira, 25 de julho de 2019
Puxando a sardinha
Os anos 1980 foram os mais legais e românticos do esporte a motor. Na mesma medida em que as corridas entravam cada vez mais nos lares das pessoas através da TV, a velocidade impressionante dos bólidos e a aura que os pilotos dessa época tinham fazem que essa década tenha um lugar especial para todos que acompanharam, nem que seja um pouco, F1, Indy, Rali, Endurance ou motovelocidade naqueles tempos.
Falar dos anos 1980 causa um enorme turbilhão de emoções nas pessoas, fazendo-as imaginar estar em Silverstone, Indianapolis, Le Mans, Assen ou Jacarepaguá. Foram realmente anos mágicos e que entraram para a história, mas passados trinta naos dessa década explosiva, algumas pessoas se esquecem que o mundo não parou em 1989 e que a vida, assim como o esporte a motor como um todo, segue evoluindo.
O que era o topo da tecnologia se tornou rapidamente obsoleto e foram substituídas, mesmo tendo muito carinho por elas. Motor turbo, câmbio na mão, poucos comandos no volante se tornaram peças de museu e seguindo o propósito do automobilismo, aparatos mais modernos apareceram, da mesma forma que os pilotos vão se preparando cada vez mais e superando os que ficaram para trás. Essa é a ordem natural da vida.
Nessa semana Nigel Mansell sacudiu o mundo da F1 com uma entrevista à revista da FIA onde tentava dizer em palavras o que era a F1 no seu tempo. Mansell usou bem as palavras em seu depoimento para destacar seu tempo, que foi realmente inesquecível e espetacular, mas como acontecia nos seus tempos de pilotos, Nigel acabou derrapando quando estava mais emocionado. O inglês usou a frase "os pilotos de hoje nunca saberão o que é um carro de F1" para quantificar o quão bom era sua época. E realmente era. Porém, Mansell se esqueceu de um detalhe primordial: a F1 não parou no tempo.
Mansell pisou na bola ao dizer essa frase, menosprezando os pilotos da F1 atual, cujos carros são factualmente os mais rápidos da história. Seja na F1 ou em qualquer ramo, subestimar as pessoas é um erro grave e dizer que os pilotos atuais 'não conhecem um carro de F1' foi mais um da longa lista de Mansell. Um carro de F1 nunca foi fácil de ser pilotado e mesmo com vários aparatos ao alcance da mão, um piloto de F1 atual precisa ser extremamente técnico e talentoso para ser rápido. Não devemos nos enganar. Para um piloto atual de F1, altamente preparado mental e tecnicamente, pilotar um carro dos anos 1980 pode até parecer fácil. A mão de obra dentro de um carro de F1 atual é tão ou mais frenética do que nos anos 1980, mesmo que bastante diferente dos tempos mágicos de Mansell.
Rememorando a Copa do Mundo de 1994, cuja conquista completou 25 anos esse mês, falava-se abertamente antes da competição que os jogadores da Copa de 1970, a última que o Brasil havia vencido naquele momento, torciam contra os atletas comandados por Parreira. O motivo? Se dizia que muitos daqueles jogadores do mágico time de 1970 ainda viviam das glórias daquele título. No caso de uma vitória do Brasil 24 anos depois, como acabou acontecendo, esses jogadores perderiam essa pecha de últimos campeões.
Maldades à parte, é da natureza humana querer que seu feito seja o mais importante, o mais difícil, o mais emocionante. Mansell puxou a sardinha para o seu lado, destacando sua época que foi realmente sensacional e inesquecível, mas a F1 e a vida não parou naqueles gloriosos tempos.
segunda-feira, 15 de julho de 2019
Figura(ING): Lewis Hamilton
O inglês teve mais trabalho do que o planejado, mas isso não impediu que Lewis Hamilton conseguisse sua sexta vitória em Silverstone e se tornar, de forma isolada, o maior vencedor do Grande Prêmio da Grã-Bretanha. Hamilton não liderou nenhum treino livre, mas dava a sensação que estava tudo sob controle e que a vitória viria no domingo, já que a Mercedes novamente abria muita vantagem para as rivais. Porém, Hamilton acabou superado por míseros seis milésimos de segundo para o seu companheiro de equipe na classificação. Largando na primeira fila, Hamilton esperava superar Bottas como já acontecera antes, mas o nórdico, precisando mostrar serviço para continuar na Mercedes em 2020, jogou duro na disputa entre eles e se manteve na liderança no primeiro stint. Com duas estratégias diferentes entre os pilotos da Mercedes, Hamilton teve a sorte dos campeões ao ver Antonio Giovinazzi rodar sozinho e o safety-car entrar na pista no momento correto, fazendo com que Hamilton entrasse nos boxes para sua única parada nesse momento. Após a relargada, com Bottas atrás e ainda tendo que fazer uma parada, Hamilton estava com a vitória nas mãos. Porém, Lewis meio que queria provar que sua vitória não foi na sorte. Quando Bottas fez sua segunda parada e colocou pneus macios, ele logo marcou a volta mais rápida da corrida e parecia que o finlandês ficaria com o ponto da melhor volta. Porém, Hamilton economizou seu equipamento e numa última volta mágica, conseguiu marcar a melhor volta da corrida com direito a recorde da pista com o pneus duros e com trinta voltas de 'idade'. Um momento incrível e um recado de Hamilton para o seu companheiro de equipe: você andou bem hoje, mas tenho reserva para lhe derrotar quando quiser. Hoje, Hamilton pode derrotar qualquer um na F1 com seu incrível talento.
Figurão(ING): Sebastian Vettel
Antes da corrida de Montreal, havia um forte boato de que Sebastian Vettel, mesmo ainda prestes a completar 32 anos, estaria próximo de se aposentar de forma prematura da F1. A sombra de Charles Leclerc na Ferrari e atuações inconsistentes desde a segunda metade da temporada passada eram os fatores que faziam Vettel pensar em abandonar tudo. Porém, Vettel conseguiu sua melhor corrida no Canadá, mesmo que punido de forma polêmica e ter perdido a vitória. Após a corrida desse final de semana em Silverstone, há quem queira que realmente Vettel se aposente, mas por motivos diferentes. O alemão da Ferrari vinha fazendo uma corrida até interessante, após ter se aproveitado da entrada do safety-car e ganhar posições, mas era atacado por Max Verstappen. Após ser ultrapassado por fora pelo holandês na Stowe, Vettel tentou dar o troco na curva seguinte, mas acabou errando os cálculos de forma bisonha e encheu a traseira do holandês, colocando ambos para fora da pista. Por mais que tenha perdido a pressão aerodinâmica no momento em que freou colado na traseira de Verstappen, Vettel tem doze temporadas nas costas para saber dessa possibilidade ao frear no limite colado no carro do adversário. Punido de forma correta, Vettel caiu para as últimas posições, enquanto Charles Leclerc, mesmo prejudicado novamente pelas táticas ferraristas, subiu ao pódio. Quando ainda estava na Red Bull, Vettel não reagiu muito bem quando Ricciardo começou a roubar seu espaço na equipe e com Leclerc cada vez mais forte e recebendo mais atenção, Vettel vai repetindo a situação vivida cinco anos atrás na sua antiga equipe. Sem ter para onde ir se sair da Ferrari, Vettel estaria teoricamente fora da F1. Tomara que não, pois um tetracampeão sempre tem lugar, mas o alemão precisa de resultados melhores e errar menos, principalmente erros crassos como o de ontem.
domingo, 14 de julho de 2019
É disso que o povo gosta!
As vozes de 141.000 espectadores pareceram ter acordado o mundo da F1 em Silverstone. O histórico circuito inglês não permite as facilidades de uma corrida empolgante como ocorreu em Zeltweg, mas Silverstone é Silverstone. Olhando apenas os resultados, uma nova dobradinha da Mercedes com Hamilton disparando cada vez mais na liderança do campeonato rumo ao hexacampeonato pode indicar uma corrida enfadonha, mas a uma hora e meia de corrida em Silverstone foi das melhores nos últimos tempos, com brigas em todas as posições, incluindo a primeira. A F1 precisava dar um bom show em seu berço e conseguiu! A torcida deve estar deixando Silverstone feliz pela vitória (a sexta no circuito) de Lewis Hamilton e com a bela corrida que assistiram.
Com a Mercedes dominando desde o princípio do final de semana, a briga pela vitória ficaria entre seus dois pilotos, com um claro favoritismo para Lewis Hamilton. Simples, certo? Nem tanto. Hamilton teve que usar da sorte para superar seu companheiro de equipe, que lutou de forma dura e justa nas primeiras voltas para permanecer em primeiro, com Bottas só perdendo a corrida por causa de um safety-car fora de hora. Porém, Lewis Hamilton precisava provar que é um piloto fora da caixa. Nas últimas voltas, com mais de 20s de vantagem sobre Bottas, que teve que trocar os pneus por uma segunda vez e estava equipado com macios, Hamilton baixou o ritmo para uma última volta voadora. Mesmo com pneus duros de trinta voltas de 'idade', Hamilton tirou a volta mais rápida de Bottas com direito a recorde de pista. Foi como um recado ao finlandês: hoje você andou bem, mas quem manda aqui sou eu! Hamilton marcha impávido rumo ao hexacampeonato e Bottas mostrou que sua defesa de posição nas primeiras voltas na casa de Hamilton prova que o nórdico tem muita capacidade. Apenas falta que essas atuações excepcionais de Bottas se tornem regras.
Com a Mercedes disparada na frente, Ferrari e Red Bull também protagonizaram disputas de tirar o fôlego, principalmente entre Max Verstappen e Charles Leclerc. Rivais desde os tempos do kart, Leclerc e Verstappen nos mostraram os melhores momentos da corrida com disputas roda a roda de tirar o fôlego. Com contas pendentes desde a última corrida na Áustria, os dois jovens pilotos mostraram que a F1 não está morrendo. Longe disso! Mesmo com os dois brigando fortemente por posição, a saída de pista de Verstappen não foi causada por Leclerc, que mais uma vez foi vítima de um erro tático da Ferrari no momento do safety-car. Embalado com a bela vitória na Áustria, mas sem chances de vitória, Max foi com tudo para cima de Vettel, que se beneficiou do safety-car para pular de quinto para terceiro lugar, com a parada dos rivais à frente. Demonstrando sua ótima fase, Verstappen conseguiu uma bela ultrapassagem por fora na freada da reta Hangar, mas Vettel saiu mais embalado para a próxima freada, na Club. Como não poderia deixar de ser, Verstappen fechou bem a porta e Vettel permaneceu atrás. Sabendo que não teria pressão aerodinâmica. Ou não? O resultado foi um sórdido acidente em que Vettel encheu a traseira de Verstappen e ambos saíram da pista, trazendo Leclerc de volta ao pódio e fazendo com que Gasly conseguisse seu melhor resultado nessa sua passagem pela Red Bull, que pode ser breve, apesar do bom resultado. Vettel teve que trocar o bico e foi punido justamente pelo acidente provocado por ele. Verstappen mudou de posição e fechou toda a porta? Sim, contra fatos não há argumentos. Mas com doze anos de F1, Vettel está louro de saber que frear no limite tão colado atrás de um carro pode ocasionar perca de pressão aerodinâmica e o resultado ser um acidente em que a culpa, como na lei do trânsito, é de quem bate atrás. Vettel está longe do seu auge e seu último título completará sete anos. O alemão já mostrou na Red Bull que não reage bem quando tem uma sombra e Charles Leclerc na Ferrari é uma sombra que vem incomodando bastante Vettel, com erros seguidos e que já incomodam também a cúpula ferrarista. Por isso que os boatos de uma aposentadoria precoce de Vettel pipocam aqui e ali. E os tempos da Ferrari realmente são outros. Em outros tempos, quem poderia imaginar a Ferrari ser prejudicada três vezes consecutivas pelos comissários?
Com Vettel caindo para último com poucas voltas para o fim, a briga pelo melhor do resto valorizou um pouco mais: um sexto lugar. Até o final a briga ficou entre Carlos Sainz e Daniel Ricciardo. Tendo largado mais atrás, Sainz foi um dos beneficiados pelo safety-car e colocando pneus na hora certa, ficou numa ótima posição para vencer a disputa do pelotão intermediário, com Ricciardo colado em sua traseira, mas sem muitos ataques efetivos. Norris estava na disputa, mas ao contrário do companheiro de equipe da McLaren, acabou perdendo terreno e ficou fora dos pontos. Raikkonen garantiu mais alguns pontos para a Alfa Romeo, enquanto Giovinazzi acabou mudando a face da corrida quando rodou sozinho na Club, trazendo o safety-car que tanto ajudou e atrapalhou pilotos hoje. Mesmo fazendo uma temporada medíocre, Daniil Kvyat vai marcando pontos e chamando a atenção da Red Bull, que hoje não tem quem colocar no lugar de Gasly e o russo pode ser o escolhido. Albon, que passou a corrida na frente de Kvyat, foi uma das vítimas do SC e saiu da zona de pontuação nas últimas voltas. Hulkenberg também perdeu para o desgaste de pneus, mas ultrapassou Albon nos momentos finais da corrida para garantir mais um pontinho para a Renault. Sérgio Pérez perdeu a asa numa disputa com Ricciardo e com isso, a Racing Point não fez mais nada na corrida, pois esperar algo de Stroll é pedir demais. A Haas segue seu calvário. Numa disputa na primeira volta, seus dois pilotos bateram rodas e com os carros quebrados, abandonaram logo depois. Coitado do Steiner. No final de semana em que completa 50 anos de F1, a única alegria de Frank Williams no dia de hoje foi uma volta que deu pelo circuito ao lado de Lewis Hamilton num carro de passeio. Simplesmente tocante.
Após a corrida em Paul Ricard, era facílimo criticar a F1 e para quem queria aparecer, declarar sua morte. A F1 sempre teve corridas ruins e boas, como a de hoje. Mesmo com problemas urgentes a resolver, a F1 sempre sobreviveu aos problemas e não é uma corrida emocionante (ou não) que pode-se definir os rumos da categoria. Olhando um pouco para o lado, a MotoGP está com Marc Márquez com o título nas mãos e dominando corridas como se estivesse brincando no parque. Porém, as corridas não deixam de ser boas e disputadas. Lewis Hamilton irá vencer pela sexta vez na F1 e a Mercedes está dominando a F1, mas se houverem mais corridas como hoje, ninguém irá reclamar tanto.
sábado, 13 de julho de 2019
Falso equilíbrio
Olhando o grid de largada do treino em Silverstone realizado a pouco, pode-se pensar que a F1 está extremamente equilibrada. Os quatro primeiros colocados, de três equipes diferentes, ficaram separados por menos de dois décimos de segundo, com os três primeiros ficando menos de oito centésimos entre si. Porém, dando uma nova olhadinha, percebe-se que a relação da F1 em 2019 não mudou com a Mercedes completando mais uma primeira fila, com Leclerc fazendo bem o seu papel com a Ferrari (Vettel não) e Verstappen fazendo milagres com seu Red Bull.
As nuvens pesadas em Silverstone poderiam fazer da classificação um assunto interessante com pista molhada, mas a esperada chuva não veio e a classificação ocorreu de forma tranquila, mas o que chamou a atenção foi sempre que os pilotos estavam muito próximos, mesmo que com resultados iguais às demais corridas. A dupla da Williams e Stroll cumpriram o script e ficaram no Q1. Frank Williams, homenageado pelos seus 50 anos de F1, mordia os lábios com seus carros ficando a 1s dos demais. Kvyat foi outro que ficou no Q1, demonstrando muito bem que o russo tem que dar graças a Deus por ainda estar na F1.
McLaren e Renault lideraram o pelotão intermediário, mesmo Carlos Sainz tendo ficado pelo Q2. Vettel sofria com problemas de abertura do seu DRS e por isso, não conseguia igualar os ótimos tempos de Leclerc, que brigava com as Mercedes pela ponta, enquanto Max Verstappen, que não vinha esmagando Gasly como costumeiramente acontece, acordou no Q2. Mesmo correndo em casa e vindo de quatro poles seguidas em Silverstone, Hamilton foi superado por Bottas, mesmo melhorando seu tempo na segunda tentativa do inglês, mas acabou por ser milésimos insuficiente para superar Bottas, que voltou a ficar em primeiro no grid. Leclerc vinha mais rápido em sua última volta, mas acabou perdendo no terceiro setor e ficou em terceiro, mas menos de um décimo atrás de Bottas, com Verstappen separando as Ferraris com um ótimo tempo no fim.
Apesar de todo esse equilíbrio, a Ferrari já detectou que não tem o mesmo ritmo da Mercedes em ritmo de corrida, enquanto Bottas já mostrou algumas vezes esse ano que Hamilton ainda é muito superior durante as provas. Vitória fácil de Hamilton? Tudo indica que sim, mas ano passado Hamilton foi tocado na primeira curva e perdeu a vitória, enquanto a chuva, que só ameaçou hoje, pode cair amanhã, num grid nem tão normal como ocorreram em outras oportunidades, mas sem o embaralhamento da Áustria, que causou uma ótima corrida. Dedos cruzados para termos uma boa corrida e os chatos de plantão não voltem com suas trombetas do apocalipse.
quinta-feira, 11 de julho de 2019
O acidente de Schumacher
O Grande Prêmio da Inglaterra de 1999 começava confuso vinte anos atrás. Alessandro Zanardi havia estacionado seu Williams no lugar errado do grid e por isso a largada fora cancelada. Os pilotos já estavam no meio da primeira volta, com a bandeira vermelha já mostrada, quando Michael Schumacher pareceu ter esquecido de frear na freada da curva Hangar. O alemão foi reto e bateu de frente na barreira de pneus. Apesar da pancada, Michael sairia do seu carro rapidamente. Era o que todos que assistiam a cena imaginávamos.
Enquanto a Ferrari olhava assustada para os monitores, o resgate chegou rapidamente e na mesma velocidade ficava claro que o incidente não era tão simples assim. Schumacher havia quebrado sua perna direita em dois lugares e era resgatado da sua Ferrari semi-destruída. Nos boxes, Ralf Schumacher se desesperava pela falta de notícias do irmão e chegou a sair do grid, acompanhado por Alesi. O mundo prendia a respiração, principalmente quando vários lençóis não mostravam Schumacher sendo levado de maca para um ambulância, além de um frasco de soro conseguir ficar acima dos médicos. Quando muitos pensavam no pior, uma câmera conseguiu flagrar um tchauzinho do alemão.
Schumacher estava bem. Machucado, mas bem.
Ralf voltou para a segunda largada, enquanto a Ferrari lambia suas feridas. O maior rival de Schumacher naquele campeonato, Mika Hakkinen, largou novamente na pole e liderou as primeiras voltas. Quando o finlandês saiu do seu primeiro pit-stop, parecia que havia algo estranho. Mesmo Mika tendo completado a volta quase inteira, uma roda traseira saiu do seu McLaren, bem no momento em que Hakkinen passava pela entrada dos boxes. Fim de corrida para o finlandês.
David Coulthard assumia a ponta para vencer sem maiores arroubos. Enquanto boa parte da Ferrari se encaminhava para o hospital, quem ficou viu uma situação curiosa e interessante. Com o abandono de Hakkinen, o finlandês mantinha os oito pontos de vantagem sobre o piloto principal da Ferrari. Como Schumacher com certeza perderia algumas provas, o piloto principal da Ferrari passava a ser Eddie Irvine, que com o segundo lugar em Silverstone empatava com Schumacher no Mundial de Pilotos. Era como se o campeonato zerasse naquele momento para a Ferrari e Irvine.
Contudo, poucos acreditavam que Irvine, que fazia seu melhor campeonato na carreira, poderia liderar a Ferrari contra a potência da McLaren e a motivação de Hakkinen. O tempo mostraria que a conjunção de erros táticos da McLaren com uma boa dose de sorte do irlandês quase fez Irvine quebrar o jejum da Ferrari que naquele ano completava vinte anos.
Ralf subiu ao pódio com o terceiro lugar e nem parecia o preocupado irmão de momentos antes, mas logicamente o piloto da Williams se dirigiu ao hospital para acompanhar Michael, que naquele momento era operado. A grave contusão somado ao desempenho de Irvine em sua ausência gerou muitas especulações, inclusive de que Schumacher se aposentaria. Ledo engano. Michael Schumacher retornaria ainda naquele ano à F1 e dominaria a categoria nos próximos cinco anos.
Infelizmente, esse acidente em Silverstone não seria o mais grave acidente na vida de Schumacher.
terça-feira, 9 de julho de 2019
História: 25 anos do Grande Prêmio da Inglaterra de 1994
Mesmo tendo conquistado a pole em Magny-Cours na semana anterior, Damon Hill era bastante criticado pela imprensa especializada, que o acusava de não ter condições de derrotar Michael Schumacher, além de já estar velho (34 anos) para ser uma promessa a ponto de se apostar. Numa entrevista antes do circo chegar à Silverstone, Frank Williams lamentava não ter contratado... Michael Schumacher. A pressão sobre Damon Hill era muito grande e o fato do seu pai Graham não ter vencido um único Grande Prêmio da Inglaterra era um fator de motivação ao tímido inglês. O autódromo de Silverstone foi modificado na primavera por recomendações da GPDA para melhorar a segurança. Várias curvas são modificadas, incluindo a curva rápida de Stowe.
Em quarto no final da primeira sessão de qualificação, Hill transcendeu no dia seguinte para tirar o máximo proveito do seu Williams FW16 e ficou com a pole position por apenas três milésimos à frente de Schumacher. O alemão da Benetton-Ford não poupou seus esforços, mas estava satisfeito com o segundo lugar. A Ferrari participou da luta pela pole position graças à potência do novo motor V12. Berger, muito incisivo, ficou em terceiro lugar, apenas vinte milésimos atrás de Hill. Alesi já estava mais para trás, a meio segundo.
Grid:
1) Hill (Williams) - 1:24.960
2) Schumacher (Benetton) - 1:24.963
3) Berger (Ferrari) - 1:24.980
4) Alesi (Ferrari) - 1:25.541
5) Hakkinen (McLaren) - 1:26.268
6) Barrichello (Jordan) - 1:26.271
7) Coulthard (Williams) - 1:26.337
8) Katayama (Tyrrell) - 1:26.414
9) Brundle (McLaren) - 1:26.768
10) Verstappen (Benetton) - 1:26.841
O dia de 10 de julho de 1994 estava ensolarado, mas sem o forte de calor que marcou a corrida em Magny-Cours na semana anterior. Inclusive com a presença de Lady Diana, o público inglês lotou Silverstone para apoiar Damon Hill, no que era uma resposta aos críticos do inglês. Por outro lado, visto como o grande inimigo de Damon, Schumacher era vaiado a cada aparição. Durante a volta de apresentação, Michael Schumacher ultrapassou Damon Hill duas vezes, não respeitando a formação e no que era claramente uma violação das regras. Isso daria muito pano para manga até o final da temporada. Quando os carros estavam prontos para a largada, Coulthard acena com os braços e a largada foi abortada, com o escocês tendo que largar em último. No início da segunda volta de apresentação, Irvine tem o motor quebrado e não largaria, enquanto Schumacher novamente não respeita as regras da volta de apresentação. Já se falava abertamente na punição do alemão quando a largada foi dada, com Hill conseguindo manter a ponta. Na quinta fila, o motor Peugeot de Brundle explodiu espetacularmente e o inglês não corre sequer um metro antes de abandonar.
Hill e Schumacher imprimiam um ritmo muito forte, abrindo 7s em três voltas para o terceiro colocado Berger e 14s na volta 8. O austríaco estava com o carro mais pesado, enquanto os dois líderes marcavam volta mais rápida em cima de volta mais rápida. No pit-wall da Benetton, muita conversa acontecia para saber o que aconteceria. Que Schumacher seria punido, ninguém tinha muita dúvida, mas com quinze voltas de corrida ainda não se sabia como seria a punição. Flavio Briatore, Tom Walkinshaw, Ross Brawn e Joan Villadelprat pediam explicações à direção de prova. Quando Hill faz sua parada e retornou em terceiro, Pat Symonds advertia Schumacher de sua punição, mas ele diz que a penalidade seria de cinco segundos adicionado ao seu tempo no fim da prova. Enquanto isso, Briatore e Walkinshaw discutiam com os comissários da FIA do que já estava se tornando uma tremenda confusão, que já estava chamando mais atenção do que a corrida em si. Schumacher faz seu pit-stop normalmente e não paga qualquer penalidade. Para complicar a esdrúxula situação, o alemão aproveita as duas voltas com pista livre e retorna dos pits na frente de Hill.
Porém, Schumacher não liderava a prova, pois Berger estava postergando sua parada, mas quando estava prestes a ultrapassar a Ferrari do austríaco, a direção de prova mostrou uma bandeira preta para o alemão na volta 23. Briatore ficou uma fera nos pits e ordena que Schumacher continue na corrida, como se nada tivesse acontecendo, enquanto na Benetton, a confusão era enorme, com Walkinshaw indo até o diretor de prova Roland Bruynseraede pedir explicações. Após uma quente discussão, Walkinshaw retorna aos pits da Benetton dizendo que Schumacher não seria mais desclassificado, mas receberia uma punição de 5s em forma de stop-and-go. Três voltas depois o alemão cumpriu a tal punição e caiu para terceiro, com Hill, que ultrapassara Berger, na ponta da corrida, para delírio do público inglês. O motor de Berger quebrou na volta 32, deixando Hill em primeiro, com 18s de vantagem para Schumacher. Coulthard fazia uma bela corrida de recuperação e já estava na zona de pontuação.
Os líderes completaram suas segundas paradas sem mudanças, enquanto o porta-voz da FIA Martin Whitaker anunciou à imprensa que Schumacher não fora punido por queima de largada, como foi anunciado anteriormente, mas por não ter mantido a sua posição nas duas voltas de apresentação. As voltas finais foram sem emoção em Silverstone dentro da pista, pois fora dela a torcida fez uma bela festa. Damon Hill venceu o GP da Inglaterra, com Schumacher em segundo lugar e Alesi em terceiro. Enquanto isso, Barrichello tentou uma ultrapassagem otimista na Luffield para surpreender Häkkinen na última volta. Os dois se tocam e rodam. Barrichello tem a suspensão quebrada e volta à pista bem lentamente, enquanto Häkkinen mantém o motor ligado, mas perde muito tempo para volta a pista. Quando parecia que Barrichello conseguiria um quarto lugar no limite, Häkkinen consegue a ultrapassagem na reta de chegada! Coulthard termina na sexta posição. Damon Hill fez a volta de desaceleração com uma enorme bandeira britânica, para deleite dos espectadores. Finalmente um piloto com sobrenome Hill vencia na Inglaterra! Porém, nos bastidores, as coisas continuavam quentes. Flavio Briatore e Tom Walkinshaw concentravam seus ataques aos diretores de prova, ou seja, Roland Bruynseraede e o diretor Pierre Aumonier. Inicialmente Schumacher seria punido em 25.000 dólares por não respeitar a bandeira preta, mas sua desclassificação parecia anulada. Parecia.
Max Mosley apontava duas irregularidades graves cometidas por Benetton e Schumacher no Conselho Mundial de FIA, convocado logo depois da corrida: primeiro, que Michael não cumpriu a punição original dentro do prazo prescrito, então conscientemente ignorou a bandeira preta. A FIA não deu crédito às explicações de Schumacher, que afirmou ter visto a bandeira, mas não o painel em que estava inscrito o seu número, o 5. Briatore e Walkinshaw, que impediram a implementação da sanção, também foram convocados a se explicar. Além disso, Mosley criticava fortemente a direção da prova, cuja conduta errática estava na origem de toda a confusão. Afinal, como poderia uma bandeira preta, ou seja, exclusão da corrida, ser removida para se tornar um simples stop-and-go? A FIA já havia recebido denúncias de que a Benetton cometia infrações técnicas e era esse o motivo da enorme vantagem de Schumacher no campeonato. Num campeonato que já parecia decidido antes da metade, o erro de Schumacher, que falou que o motivo de sua desobediência na regra da volta de apresentação era esquentar os freios e que Hill estava muito lento, foi um prato cheio para que Schumacher e Benetton começassem a ver suas esperanças de títulos serem abatidas por suspensões e punições polêmicas. Schumacher acabaria realmente desclassificado meses mais tarde, dando pontos preciosos para Hill no campeonato.
Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Häkkinen
4) Barrichello
5) Coulthard
6) Katayama
História: 30 anos do Grande Prêmio da França de 1989
Enquanto a F1 cruzava o Atlântico para voltar a Europa depois da animada e surpreendente corrida em Montreal, vários acordos e desacordos nos bastidores fizeram com que o Grande Prêmio da França de 1989 visse vários estreantes. Apesar da excepcional corrida em Jacarepaguá, era nítido que Johnny Herbert ainda não tinha se recuperado plenamente do seu sério acidente na F3000 em 1988 e o inglês era substituído por Emmanulle Pirro, que era pilotos de testes da McLaren. Pirro tinha sido sondado pela Lola e chegou a testar o carro, mas o italiano preferiu o melhor cockpit da Benetton. Cansado da instabilidade de Yannick Dalmas, a Lola contrata para o seu lugar o jovem francês Eric Bernard, que estava fazendo um bom campeonato na F3000. Na semana anterior a corrida, Derek Warwick se envolve num acidente de kart e com uma costela quebrada, o inglês não participaria da prova em Paul Ricard, sendo substituído pelo piloto de testes da Arrows, o norte irlandês Martin Donnelly.
Ken Tyrrell havia conseguido um muito bem vindo patrocínio da tabaqueira Camel, mas isso causou um pequeno problema dentro de sua equipe. Michele Alboreto era patrocinado pela Marlboro e logo se estabeleceu o conflito de interesses, resultando na dispensa do italiano, mesmo Alboreto tendo chegado ao pódio no México. Para substituir temporariamente Alboreto, Tyrrell convoca Jean Alesi. Rival de Bernard nas categorias de base na França e companheiro de equipe de Donnelly na F3000, Alesi era visto como estrela em ascensão e o francês já tinha despertado o interesse de Ligier e Williams. Muito bem visto pela crítica francesa, com a corrida em Paul Ricard e Alesi correndo com o patrocínio da Camel na F3000 pela equipe Jordan, Tyrrell achou uma ótima ideia dar uma chance ao francês de 25 anos. E o velho tio Ken não se decepcionaria. Se a França ansiava por uma nova estrela, a estrela estabelecida de 1989 estava de mudança. Alain Prost reuniu a imprensa na sexta pela manhã para anunciar que estava saindo da McLaren no final da temporada. Mesmo tendo sido uma parceria vitoriosa ao longo de seis anos, a péssima relação entre Prost e Senna tinha pesado demais. Prost continuava insinuando que a Honda favorecia Senna, enquanto Ron Dennis dizia que Prost não suportava perder para Senna com o mesmo carro. Claro que Prost não ficaria muito tempo sem contrato e a Ferrari já tentava a sua contratação, enquanto a McLaren negociava com Berger para fazer o movimento contrário. Além de rápido, Berger se dava muito bem com Senna...
Na classificação os pilotos da McLaren dominaram mais uma vez. Senna marcou o melhor tempo na sexta-feira, mas Prost lhe tomou a pole position no dia seguinte. Os tempos conquistados pelos pilotos da McLaren eram mais rápidos do que os alcançados em 1988. Mansell consegue um ótimo tempo para ser terceiro apenas dois décimos atrás da pole, num final de semana em que os carros com pneus Goodyear obtiveram clara vantagem em comparação aos usuários da Pirelli.
Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:07.203
2) Senna (McLaren) - 1:07.228
3) Mansell (Ferrari) - 1:07.455
4) Nannini (Benetton) - 1:08.137
5) Boutsen (Williams) - 1:08.211
6) Berger (Ferrari) - 1:08.233
7) Alliot (Lola) - 1:08.561
8) Patrese (Williams) - 1:08.993
9) Palmer (Tyrrell) - 1:09.026
10) Gugelmin (March) - 1:09.036
O dia 9 de julho de 1989 amanheceu ensolarado e com muito calor no sul da França, um clima bastante típico dessa época do ano, mas que castigaria carros e pilotos trinta anos atrás. Por causa do calor, todos os pilotos escolhem os pneus duros e planejam parar pelo menos uma vez. Na volta de apresentação Patrese tem problemas de motor e fica parado. Não deixaria de ser uma sorte para o italiano, pelo susto ocorrido na primeira largada. Após seu pódio em Jacarepaguá, Maurício Gugelmin fazia uma temporada irregular com sua March e por isso o décimo lugar no grid era uma dádiva ao brasileiro. Na freada para a curva um, Gugelmin achou uma brecha e tenta colocar seu carro ali. Porém, com vários carros freando ao mesmo tempo e se movendo para conseguir uma boa posição, Gugelmin se viu sem espaço e proporcionou uma espetacular capotagem sobre os pilotos da frente, causando um verdadeiro caos no grid. E proporcionar uma das largadas mais conhecidas da história da F1.
Gugelmin bateu em Boutsen, decolou, caiu em cima da asa traseira da Ferrari de Mansell, depois em Berger e pousou de cabeça para baixo. Naquele dia Gugelmin estreava um capacete novo, que ficou lixado pelo contato com o asfalto. Apesar do susto, Gugelmin saiu do carro ileso. Mesmo no pelotão intermediário, vários carros bateram. Após se livrar de toda a confusão da primeira curva, Olivier Grouillard acabou batendo num lento Mansell metros depois. Com tanto confusão, a bandeira vermelha foi mostrada e uma segunda largada seria dada. Vários pilotos utilizariam carros reservas, enquanto Mansell, Gugelmin e Donnelly largaram dos boxes. Na primeira largada Senna saiu muito bem, mas na segunda tentativa, o diferencial do brasileiro quebrou quando ele engatou a segunda marcha. Por sorte a McLaren de Senna não foi atingida, porém era mais um abandono para o campeão de 1988, que colocava as mãos na cintura ao sair do carro, totalmente incrédulo.
Prost estava na sua situação preferida, que era de administrar a corrida a seu bel prazer, sem forçar muito num dia muito quente em uma pista em que sempre andou muito bem. Enquanto Prost se livrava facilmente do segundo colocado Berger, Mansell vinha num ritmo alucinante das últimas posições, chegando a ultrapassar até três carros numa volta! Na volta 12 Berger saiu da pista e cai para quarto, ultrapassado por Nannini e Boutsen, tendo que trocar seus pneus três voltas mais tarde, elevando Mansell a um impressionante top-10, lembrando que largavam 26 carros trinta anos atrás. Com o forte calor, não demorou muito para a corrida se tornar uma prova de sobrevivência, com os pilotos cuidando dos pneus, tentando parar nos boxes o menos possível. Quando já se recuperava de sua rodada, Berger abandonou com o câmbio quebrado na volta 29, enquanto Mansell, que trocou seus pneus, retornava a pista com a mesma voracidade de antes. Prost fez sua parada na volta 34 sem perder a ponta, enquanto o novato Jean Alesi conseguia uma corrida notável. Mesmo sem experiência com um F1, Alesi levava seu Tyrrell ao top-6, conservando seus pneus. E ele logo ganharia mais terreno. Na volta 41 o segundo colocado Alessandro Nannini se preparava para colocar uma volta em Nakajima quando sua suspensão traseira esquerda quebrou de forma espetacular, quase causando um grave acidente, pois a Benetton de Nannini passou sem controle a milímetros da Lotus de Nakajima.
Quando o motor de Capelli explode na volta 44, Alesi assumia a segunda posição, se tornando um dos destaques da corrida. Boutsen, que havia parado para trocar pneus, não conseguia alcançar Alesi por causa de um problema de câmbio, que o faria abandonar na volta 50. Com os pneus cada vez mais desgastados, Alesi via crescer no seu retrovisor Patrese e Mansell, que também fazia uma corrida espetacular. Na volta 48, com os pneus em petição de miséria, Alesi faz sua única parada e retorna em quarto, dando um recado que ele poderia ser um digno sucessor de Prost, que liderava tranquilo. Patrese tinha largado com o carro reserva e tinha dificuldades de equilíbrio, mas segurava valentemente Mansell, contudo uma violenta rodada do italiano na volta 61 entregou a segunda posição para Mansell, coroando a belíssima corrida do inglês. O piloto da Ferrari lamentaria bastante depois da corrida ter largado dos boxes, pois tinha um ótimo ritmo em Paul Ricard. Alain Prost conseguiu sua trigésima sétima vitória na F1, 45s à frente de Mansell. Patrese terminou em terceiro e conseguiu o seu quarto pódio consecutivo. Alesi conquistou um excelente quarto lugar em sua estreia. Johansson terminou em quinto, dando os primeiros pontos para o Onyx. Primeiro ponto também para Grouillard, sexto. Mesmo com a vitória de Prost e a incrível corrida de recuperação de Mansell, o nome do dia era Jean Alesi. O francês recebeu os parabéns de Prost depois da corrida e passou a ser disputado por todo o paddock, mas Tyrrell acabaria contratando Alesi para 1990. Alesi seria uma estrela da F1 na década de 1990, mas não com o brilho intenso esperado. Ah! Depois do susto na primeira largada, Maurício Gugelmin teve problemas com seu March reserva na corrida, ficou várias voltas parado, mas acabou com a melhor volta da corrida!
Chegada:
1) Prost
2) Mansell
3) Patrese
4) Alesi
5) Johansson
6) Grouillard
domingo, 7 de julho de 2019
Fora do padrão
Hoje a MotoGP saiu do padrão de corridas emocionantes e a prova na Alemanha não foi das mais animadas. E um dos culpados pela falta de emoção da corrida desse domingo manteve seu padrão em Sachsenring: Marc Márquez venceu. Pela décima vez consecutiva no pequeno circuito que ficava na Alemanha Oriental. Uma vitória de ponta a ponta, mesmo o espanhol não largando bem, mas bastou a freada da primeira curva para Márquez pontear a corrida até o final e vencer pela quinta vez na temporada e disparar em um campeonato que já parece ter dono.
Se em Austin, onde sempre venceu, Márquez caiu esse ano, em Sachsenring o espanhol da Honda não deu chances aos seus rivais. Márquez ainda deu uma bobeada na largada e chegou para a freada da primeira curva atrás de Quartararo, mas bastou frear um pouquinho mais tarde para se ver livre de qualquer ameaça e apenas aumentar sua diferença para os demais, numa corrida solitária de Márquez. Os números do espanhol espantam. Pela segunda vez na história do Mundial de Motovelocidade algum piloto venceu pela décima vez consecutiva numa mesma pista. Com o apagado quinto lugar de Andrea Doviziozo, o hexacampeonato na MotoGP de Marc já pode ser considerado favas contadas, o que juntando aos dois títulos nas categorias inferiores, Márquez irá para o oitavo título mundial, ficando apenas a um de Valentino Rossi. Isso com 26 anos de idade. Um piloto monstruoso e histórico, mesmo que muitos não gostem dele. Márquez não tem o carisma de Rossi, mas é definitivamente feito do mesmo material da lenda italiana.
Com Márquez imparável na frente, restou a briga pela segunda posição. E nem assim isso animou a corrida. Com Quartararo tendo feito uma primeira volta horrorosa e caindo logo em seguida, os espanhóis Maverick Viñales e Alex Rins disputavam o segundo posto, com vantagem para o piloto da Suzuki, enquanto Viñales era pressionado por um heroico Cal Cruthlow. Porém, Rins caiu já na metade final da corrida e Viñales segurou sem maiores arroubos a pressão de Cruthlow, que correu com uma fratura no joelho e se manteve colado na rabeta de Viñales até a antepenúltima volta. Um pódio valioso para o inglês. Mais atrás, as Ducatis brigavam entre si. De contrato renovado, Petrucci conseguiu derrotar seu companheiro de equipe Doviziozo, que vai marcando seus pontos, mas está longe de brilhar. Com apenas uma vitória na abertura do campeonato, Doviziozo vê o sonho do título cada vez mais distante com corridas perfeitas de Márquez, que desde o Catar sempre chegou à sua frente, quando ambos receberam a bandeirada. Rossi fez uma corrida burocrática, após uma classificação medíocre. Pode ser duro para os fãs (eu incluso), mas o tempo de Valentino já está passando e somente seu carisma o deixa numa equipe de fábrica como a Yamaha, que lhe deve quatro títulos na MotoGP, mas no momento Rossi está ficando para trás em comparação aos demais pilotos Yamaha. Um fato interessante do meio do pelotão foi que Stefan Bradl, substituto de Lorenzo e que nos últimos tempos é comentarista de TV, conseguiu um resultado bem similar ao que o tricampeão vem conquistando. Seria um sinal para Lorenzo?
Foi uma corrida longe de ser emocionante por causa de Marc Márquez, que vai tornando o campeonato desse ano ainda mais chato. Porém, da mesma forma como a Mercedes e Lewis Hamilton, não podemos criticar um piloto por ser melhor do que os outros ou que está ganhando demais. Os outros que corram atrás!
quinta-feira, 4 de julho de 2019
História: 15 anos do Grande Prêmio da França de 2004
Quinze anos atrás a Ferrari estava matando a tapa seus concorrentes, principalmente quem mais lhe incomodou no ano anterior, Williams e McLaren.Os números eram inegáveis e o heptacampeonato de Schumacher era uma questão de quando, com Rubens Barrichello ficando logo atrás do alemão em praticamente todas as corridas. A Ferrari F2004 era tão dominante quanto o carro no qual a Ferrari humilhou a concorrência dois anos antes, em 2002. A McLaren sofria com um motor Mercedes inconfiável, enquanto a Williams vivia um turbulento momento de transição, com seus dois pilotos, Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher, saindo da equipe no final do ano, isso sem contar a tumultuada relação entre a cúpula da Williams, que construiu um carro com uma dianteira horrorosa, e a BMW. Além da Ferrari, quem se aproveitava dessa fase complicada das tradicionais rivais da Ferrari eram Renault e BAR. Com estruturas menores, mas com bom investimento de montadoras, Renault e BAR estavam conseguindo seus melhores resultados em muitos anos, praticamente brigando para ser a distante segunda força de 2004.
Correndo em casa, a Renault se preparou com esmero para a corrida em Magny-Cours. O hoje presidiário Carlos Gosh presidia a Renault com um nariz torcido para a sua equipe de F1, mas Flavio Briatore usava sua lábia para manter os milhões que sustentava sua equipe, liderada por um jovem Fernando Alonso. Num treino com um formato bem diferente do atual, o espanhol ficou com a pole, superando por três décimos Michael Schumacher, enquanto Coulthard ocupava um surpreendente terceiro lugar com a McLaren. Barrichello era apenas décimo num grid muito apertado e que tinha como novidade o piloto de testes da Williams Marc Gene, substituindo o lesionado Ralf Schumacher. Como os pilotos davam apenas uma volta voadora com o combustível que utilizariam na largada do domingo, havia muita especulação com qual peso cada piloto iria largar no domingo. Alonso estaria mais leve do que o normal?
Grid:
1) Alonso (Renault) - 1:13.698
2) M.Schumacher (Ferrari) - 1:13.971
3) Coulthard (McLaren) - 1:13.987
4) Button (BAR) - 1:13.995
5) Trulli (Renault) - 1:14.070
6) Montoya (Williams) - 1:14.172
7) Sato (BAR) - 1:14.240
8) Gene (Williams) - 1:14.275
9) Raikkonen (McLaren) - 1:14.346
10) Barrichello (Ferrari) - 1:14.478
O dia 4 de julho de 2004 amanheceu com sol forte em Nevers, o que na maioria das vezes não significava um bom presságio para a corrida. As corridas em Magny-Cours nunca foram caracterizadas por serem das mais emocionantes e quando o clima estava tão quente como naquele dia quinze anos atrás, a esperança de uma boa prova não era das melhores. Porém, praticamente pela primeira vez Michael Schumacher conheceria o piloto que seria um rival à altura do laureado alemão: Fernando Alonso. Naqueles tempos em que a tecnologia já fazia muita diferença, a eletrônica da Renault era reconhecida como muito superior às demais e o momento em que isso era mais evidente acontecia na largada. O famoso 'botão mágico' da Renault fez Alonso disparar na frente, enquanto Trulli pulava de quinto para terceiro. As largadas relâmpagos da Renault aconteciam aos montes na metade da década de 2000.
Schumacher permaneceu em segundo nas primeiras voltas, perseguindo um Alonso inspirado e que tinha toda a torcida a favor. Mesmo a Renault estando numa boa temporada, era esperado que o espanhol parasse logo, mas Alonso permanecia na pista e num ritmo tão forte quanto o de Schumacher. De forma surpreendente, quem parou primeiro foi Schumacher, logo na volta 11, com Alonso parando algumas voltas depois. A tática era clara para todos: três paradas. Num circuito chatinho e de ultrapassagens complicadas, normalmente as corridas em Magny-Cours eram procissões entremeadas pelos pit-stops. Pela lógica, seriam quatro mini-corridas na França. Porém, Schumacher e os táticos da Ferrari pensaram em algo diferente. Se na pista seria muito complicado passar Alonso, restava usar a tática. Mas como, se todos estavam com uma tática idêntica? Ross Brawn confiava tanto no talento de Schumacher que muitas vezes colocava na mesa para o alemão uma estratégia arriscada, onde o alemão teria que transformar sua corrida em sucessivas voltas em ritmo de classificação. Ao invés de parar três, porque não quatro vezes? Para tanto, Schumacher teria que voar. E assim o alemão o fez. Michael fez sua segunda parada bem antes de Alonso e dessa vez superou o espanhol, mas a Ferrari não demorou a chamar seu primeiro piloto para os boxes pela terceira vez. Para quem assistia, era esperado uma longa parada. Reabastecimento em 6s e Schumacher voltava à pista em primeiro, com poucos segundos de vantagem sobre Alonso.
Fazendo as contas, Schumacher ficaria mais quinze voltas na pista. E nessas quinze voltas o alemão de 35 anos mostrou toda a sua genialidade com um ritmo absurdo na ponta, não dando chances à Alonso. Quando foi aos boxes pela quarta e última vez, Michael colocou combustível o suficiente para terminar a corrida e finalizar uma de suas vitórias mais marcantes na carreira. Naquele dia Schumacher encontrou um adversário fortíssimo e precisou improvisar para vencer um Alonso que começava a mostrar todo o seu talento que lhe daria dois títulos nas temporadas vindouras. Numa bela corrida de recuperação, Rubens Barrichello ocupava a quarta posição no último stint e partiu para cima de Jarno Trulli, que ocupou a terceira posição a corrida inteira. Mesmo num circuito de ultrapassagens complicadas, Rubens aproveitou um cochilo de Trulli na última curva da última volta para conseguir o último lugar no pódio. Aquela ultrapassagem sofrida na frente da torcida da Renault deixou Trulli em desgraça. Mesmo tendo conquistado sua única vitória apenas algumas semanas antes em Monte Carlo, o italiano entraria em conflito com Briatore e nem completaria a temporada com a Renault. No entanto, a exibição de Alonso e, principalmente, Schumacher, deixaram todos os demais pilotos como meros coadjuvantes.
Chegada:
1) M.Schumacher
2) Alonso
3) Barrichello
4) Trulli
5) Button
6) Coulthard
7) Raikkonen
8) Montoya
segunda-feira, 1 de julho de 2019
Figura(AUT): Max Verstappen
Não poderia ser outro! O que Max Verstappen fez em Zeltweg entrou para a história da F1, incluindo nesse caldeirão a bela festa promovida pela torcida holandesa pelo jovem neerlandês. Mesmo correndo em casa, as perspectivas da Red Bull não era das melhores. Zeltweg ou Spielberg, como queiram, tem retas longas e que favorecem os potentes motores Mercedes e, principalmente, Ferrari. Mesmo o motor Honda cada vez melhor, a Red Bull sabia que o final de semana em que se corre na pista que tem o mesmo nome da equipe seria complicado, mesmo Verstappen tendo vindo de vitória na pista no ano anterior. Porém, Max Verstappen deve ter visto as arquibancadas pintadas de laranja e se motivou como acontecia com Nigel Mansell nas famosas tardes de Silverstone e Brands Hatch na década de 1980. O holandês começou a mostrar a que veio com uma classificação onde enfrentou ombro a ombro Mercedes e Ferrari, com Max ficando na primeira fila. Contudo Verstappen pareceu ter estragado tudo com uma péssima largada, onde caiu de segundo para sétimo no final da primeira volta. O primeiro stint do piloto da Red Bull foi bem normal, não tomando conhecimento de Alfa Romeo e McLaren para se colocar em quinto. Num calor infernal na Áustria, Verstappen soube cuidar dos pneus, sendo um dos últimos a parar, pulando para quarto por causa dos problemas de Hamilton. Com pneus duros, começava o show de Verstappen. O holandês da Red Bull começou a ultrapassar quem aparecesse pela frente. Deixou Vettel e Bottas para trás mesmo com ambos tendo motores mais potentes. Nas voltas finais, Max encontraria um velho conhecido dos tempos de kart: Charles Leclerc. O monegasco da Ferrari havia dominado a corrida, mas não foi páreo para a recuperação sublime de Verstappen, que conseguiu uma ultrapassagem à fórceps, conseguindo uma vitória épica, mesmo que confirmada apenas três horas mais tarde por causa da manobra in extremis do holandês. Verstappen mostrou todas as características de uma corrida histórica. Ele foi resiliente quando errou na largada. Controlado ao cuidar dos pneus e do carro num calor atípico. Rápido e talentoso quando foi necessário. E muita agressividade nas suas ultrapassagens decisivas. Max Verstappen conseguiu uma exibição que o colocou na história septuagenária da F1.
Figurão(AUT): Pierre Gasly
Enquanto o ocupante da parte superior comemorava, talvez, uma das maiores exibições individuais da F1 no século 21, usando o mesmo carro e tendo cruzado a primeira volta logo atrás do companheiro de equipe, terminando a prova num obscuro sétimo lugar, uma volta atrás, chegou Pierre Gasly. O jovem francês da Red Bull está nessa parte da coluna mais uma vez, mas apesar de Robert Kubica pudesse estar aqui por ter conseguido tomar uma volta do companheiro de equipe, George Russell nem de longe emulou o desempenho de Max Verstappen nesse domingo. Os finais de semanas tenebrosos de Pierre Gasly vão se acumulando e o francês fica cada dia com menos defesa. Correndo na casa de sua equipe, Gasly cruzou a primeira volta colado na traseira de Verstappen graças a má largada do holandês, mas a partir de então o ritmo de corrida dos dois pilotos da Red Bull foi inacreditavelmente diferente. Enquanto Verstappen ultrapassava com facilidade Lando Norris e Kimi Raikkonen, Gasly ficou empacado atrás de dois pilotos muito bons, mas com equipamentos nitidamente inferiores ao que Gasly tinha em mãos. O francês ainda superou Raikkonen, mas não o fez com Lando Norris. Apesar do grande desenvolvimento da McLaren, o abismo entre as equipes top-3 e o resto ainda é gigantesco e nem assim Gasly foi capaz de superar o novato inglês. Nas últimas voltas, Verstappen perseguiu ferozmente Charles Leclerc e um dos retardatários que teve que superar foi justamente seu companheiro de equipe. Uma amostra clara que o trabalho de Pierre Gasly em 2019 vem sendo abaixo da crítica. Se antes a Red Bull tinha pilotos jovens sobrando em seu programa de desenvolvimento, a ponto de substituir Kvyat por Verstappen no meio da temporada, agora os austríacos tem que aguentar um piloto que não marca pontos suficientes no Mundial de Construtores. Vendo o que acontece com os pilotos que não cumprem os altos níveis exigidos por Helmut Marko, já está na hora de Gasly olhar alguma coisa fora da F1...
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