Nos dias de corrida de F1 pela manhã eu tenho um pequeno ritual um pouco do início da transmissão, que é ver como está o tempo. Sol ou chuva? Após dois dias de calor sufocante, Hockenheim amanheceu com chuva, o que dava uma pitada a mais para uma corrida que já prometia, pois as duas rápidas Ferraris largariam na segunda metade do pelotão. Porém, nem de longe a corrida prometia ser tão insana como a de hoje, em que o vencedor fez cinco pit-stops, o safety-car entrou na pista quatro vezes, boa parte dos pilotos de ponta tiveram corridas para esquecer, Stroll liderou algumas voltas e Daniil Kvyat levou a Toro Rosso de volta ao pódio pela primeira vez desde a célebre vitória em Monza de Vettel em 2008.
A corrida na Alemanha já começou prometendo quando foi anunciado que a largada seria parada. Sim, já era um indício de que as coisas seriam diferentes. Quando a pista está molhada, virou padrão para a FIA mandar que a largada seja atrás do safety-car. Bernd Maylander até esteve presente na largada, mas apenas para que os carros se acostumassem ao piso molhado, já que em nenhum momento desse final de semana os pilotos experimentaram essas condições. Largada, parada, dada, Max Verstappen novamente largou mal e caiu para quarto, repetindo a má saída da Áustria, quando venceu. Será destino? A partir de então a corrida se tornou uma loteria ao bel-prazer da mãe-natureza, com a chuva indo e voltando a todo momento, tornando a situação dos pilotos críticas. Cada decisão tomada influenciou positiva ou negativamente a corrida dos pilotos nesse domingo. E quem se sobressaiu foi Max Verstappen, que lutou contra uma má largada para novamente vencer em condições atípicas. Se na Áustria o holandês se aproveitou do calor infernal, hoje Max se aproveitou do clima inclemente nas margens da Floresta Negra. Além da sua excepcional pilotagem, Verstappen contou também com pit-stops sem erros e na hora certa da Red Bull para vencer com certa tranquilidade no final, aumentando a sensação que o holandês só precisa de um carro ligeiramente melhor para brigar pelo título. Porém a Red Bull viu o outro lado da moeda em outra corrida medonha de Pierre Gasly. O francês errou várias vezes, em nenhum momento flertou em brigar pelo pódio, foi ultrapassado por pilotos da Toro Rosso, subsidiária da Red Bull e no fim acabou se envolvendo num incidente com Albon na última volta. Após sua corrida decente em Silverstone, Gasly voltou ao olho do furacão, onde já havia batido na sexta e viu os dois pilotos da Toro Rosso andarem muito bem.
Para quem acompanha esse blog sabe que esse blogueiro não é o maior fã de Daniil Kvyat. O russo pode dizer que tem a estrela na testa, pois em outros tempos já estaria correndo numa categoria menor como a F-E, depois de tantos fracassos na F1 e ser até mesmo humilhado pela cúpula da Red Bull. Como hoje quem teve sorte chorou menos, Kvyat acertou na mosca ao colocar os pneus slicks na penúltima relargada e estava em segundo quando todos os líderes colocaram os pneus certos. Kvyat só não pôde segurar Vettel no final, mas ao ultrapassar Stroll um pouco antes, o piloto da Toro Rosso se colocou numa ótima posição de pódio, levando a equipe italiana que um dia se chamou Minardi de volta ao pódio depois de quase onze anos. E combinado com mais uma péssima exibição de Gasly, o nome de Kvyat está de volta a baila para uma vaga na Red Bull. O grande rival de Kvyat está dentro de sua equipe, pois Albon também fez uma belíssima corrida e pontuou bem, apesar do toque com Gasly na última volta. Sainz foi a cara dessa corrida maluca. O espanhol saiu da pista, quase atolou sua McLaren e ainda assim teve tempo para ser quinto, enquanto Norris abandonou com problemas mecânicos. Em algum lugar nas Astúrias, deve ter chegado a informação que a Honda colocou dois carros seus no pódio e a McLaren beliscou um bom quinto lugar. Ai Alonso...
Mesmo com a bela corrida de Verstappen, o nome da corrida foi mesmo Sebastian Vettel. Um ano antes, em condições até parecidas com a de hoje, Vettel saiu da pista sozinho e começou seu inferno astral, onde quando não é a Ferrari que erra, é o alemão que apronta com batatadas que não condizem a um tetracampeão. Ontem a Ferrari errou, mas hoje, um ano depois da corrida que marcou sua carreira, Vettel consertou a marcada com uma prova sensacional vindo de último para a segunda posição. Quando a pista ainda estava úmida, Vettel fazia uma corrida até apagada, ficando muito tempo atrás da Alfa Romeo de Kimi Raikkonen, mas quando a pista secou, Vettel pareceu ter ligado o 'turbo' e passou quem via pela frente, chegando a um incrível segundo lugar. Da mesma forma que Hockenheim foi um marco negativo na carreira de Vettel ano passado, tomara que a prova de 2019 seja uma reviravolta positiva para o alemão. Leclerc começou a corrida de forma agressiva, se aproveitou um dos raros acertos da Ferrari ao colocar pneus intermediários novos quando o safety-car virtual deu as caras, mas o jovem monegasco também errou muito e acabou batendo quando a chuva veio no momento em que a maioria estava com pneus slicks. Mais uma chance desperdiçada para Leclerc, que provou não ser tão forte assim no molhado.
Com tantos personagens importante na corrida de hoje, alguém poderia perguntar: e a Mercedes? Pois é, a Mercedes armou toda a festa pelos seus 125 anos de história no automobilismo, patrocinou a ameaçada corrida em Hockenheim, vestiu seus mecânicos de forma retrô e pintou seus carros de forma diferente para ter a sua pior corrida dos últimos cinco anos. A lamentação de Hamilton pelo rádio foi verdadeira: como tudo pode ter dado tão errado? Sim, tudo deu errado para a Mercedes, começando com seus pilotos, que lideraram o primeiro stint da corrida e davam pinta de mais uma dobradinha. Porém, foi Hamilton e Bottas que cometeram os maiores erros do dia, saindo da pista três vezes e deixando a equipe no zero. O caso de Bottas foi o mais emblemático. O finlandês tinha tudo para tirar toda a desvantagem que tinha para Hamilton no campeonato, mas Bottas simplesmente não conseguia ultrapassar Stroll e acabou errando sozinho na curva um, lugar onde Hamilton tinha rodado um pouco antes. A batida de Bottas deixou a Mercedes no zero, bem no final de semana em que a montadora anunciou que decidirá quem será seus pilotos em 2020 no mês vindouro. Se fosse futebol, Esteban Ocon já estaria no aquecimento ao lado do campo...
Reginaldo Leme soltou um 'Meu Deus...' quando a TV mostrou Lance Stroll saindo com pneus slicks. O veterano comentarista mal poderia imaginar que essa manobra por muito pouco não deu o segundo pódio da carreira do canadense. Stroll emergiu na ponta da corrida e se não fosse o furacões Verstappen e Vettel, teria garantido o pódio para Racing Point, que viu seu piloto principal ser a primeira vítima da pista traiçoeira. Teoricamente a Haas estaria comemorando seus dois carros na zona de pontuação, numa corrida onde o time americano tentou estratégias arriscadas com Magnussen chegando a correr em segundo. Porém, o pobre Günther Steiner terá outra crise para administrar, pois novamente Grosjean e Magnussen se tocaram numa disputa de posição. Da mesmo forma que Gasly e Bottas, Grosjean e Magnussen devem estar procurando algo para fazer em 2020. Hulkenberg, que sempre se mostrou fortíssimo na chuva, se achou em segundo lugar numa das relargadas. Seria hoje que o alemão quebraria o tabu sem pódios? Definitivamente, não. Primeiro, Hulk seria ultrapassado pela dupla da Mercedes e depois bateria na saída da última curva, local onde Leclerc abandonou e Hamilton saiu da pista e quebrou o bico. Para completar o dia para Abiteboul, Daniel Ricciardo abandonou com o motor quebrado. Voltando aos clichês do futebol, Abiteboul está prestigiado dentro da cúpula da Renault. Numa bela corrida de Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi chegando a ficar com a volta mais rápida, a Alfa Romeo marcou pontos também com seus dois pilotos. Com tantos acidentes, erros, problemas e abandonos, a Williams quase marcou pontos, mas com um carro tão ruim, acabou no zero novamente.
Para quem açodadamente cravou a morte da F1, seria bom rever alguns conceitos. O mundo está tão imediatista, que basta um momento ruim (ou até mesmo bom) para decretar conceitos sobre o que está acontecendo. A F1 está cheia de problemas estruturais e tomara que sejam consertadas logo, para o bem do automobilismo, mas morta ou próxima disso, a F1 definitivamente não está! Mesmo com tantas presepadas, a Mercedes dificilmente perderá o título desse ano e Hamilton será hexacampeão, mas das últimas seis corridas, cinco foram sensacionais. Tirando a dona da casa Mercedes, Leclerc, Renault, Gasly, Bottas, Steiner e Alonso, todos saíram de Hockenheim com muito o que comemorar com a doideira de hoje.
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