Quinze anos atrás a Ferrari estava matando a tapa seus concorrentes, principalmente quem mais lhe incomodou no ano anterior, Williams e McLaren.Os números eram inegáveis e o heptacampeonato de Schumacher era uma questão de quando, com Rubens Barrichello ficando logo atrás do alemão em praticamente todas as corridas. A Ferrari F2004 era tão dominante quanto o carro no qual a Ferrari humilhou a concorrência dois anos antes, em 2002. A McLaren sofria com um motor Mercedes inconfiável, enquanto a Williams vivia um turbulento momento de transição, com seus dois pilotos, Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher, saindo da equipe no final do ano, isso sem contar a tumultuada relação entre a cúpula da Williams, que construiu um carro com uma dianteira horrorosa, e a BMW. Além da Ferrari, quem se aproveitava dessa fase complicada das tradicionais rivais da Ferrari eram Renault e BAR. Com estruturas menores, mas com bom investimento de montadoras, Renault e BAR estavam conseguindo seus melhores resultados em muitos anos, praticamente brigando para ser a distante segunda força de 2004.
Correndo em casa, a Renault se preparou com esmero para a corrida em Magny-Cours. O hoje presidiário Carlos Gosh presidia a Renault com um nariz torcido para a sua equipe de F1, mas Flavio Briatore usava sua lábia para manter os milhões que sustentava sua equipe, liderada por um jovem Fernando Alonso. Num treino com um formato bem diferente do atual, o espanhol ficou com a pole, superando por três décimos Michael Schumacher, enquanto Coulthard ocupava um surpreendente terceiro lugar com a McLaren. Barrichello era apenas décimo num grid muito apertado e que tinha como novidade o piloto de testes da Williams Marc Gene, substituindo o lesionado Ralf Schumacher. Como os pilotos davam apenas uma volta voadora com o combustível que utilizariam na largada do domingo, havia muita especulação com qual peso cada piloto iria largar no domingo. Alonso estaria mais leve do que o normal?
Grid:
1) Alonso (Renault) - 1:13.698
2) M.Schumacher (Ferrari) - 1:13.971
3) Coulthard (McLaren) - 1:13.987
4) Button (BAR) - 1:13.995
5) Trulli (Renault) - 1:14.070
6) Montoya (Williams) - 1:14.172
7) Sato (BAR) - 1:14.240
8) Gene (Williams) - 1:14.275
9) Raikkonen (McLaren) - 1:14.346
10) Barrichello (Ferrari) - 1:14.478
O dia 4 de julho de 2004 amanheceu com sol forte em Nevers, o que na maioria das vezes não significava um bom presságio para a corrida. As corridas em Magny-Cours nunca foram caracterizadas por serem das mais emocionantes e quando o clima estava tão quente como naquele dia quinze anos atrás, a esperança de uma boa prova não era das melhores. Porém, praticamente pela primeira vez Michael Schumacher conheceria o piloto que seria um rival à altura do laureado alemão: Fernando Alonso. Naqueles tempos em que a tecnologia já fazia muita diferença, a eletrônica da Renault era reconhecida como muito superior às demais e o momento em que isso era mais evidente acontecia na largada. O famoso 'botão mágico' da Renault fez Alonso disparar na frente, enquanto Trulli pulava de quinto para terceiro. As largadas relâmpagos da Renault aconteciam aos montes na metade da década de 2000.
Schumacher permaneceu em segundo nas primeiras voltas, perseguindo um Alonso inspirado e que tinha toda a torcida a favor. Mesmo a Renault estando numa boa temporada, era esperado que o espanhol parasse logo, mas Alonso permanecia na pista e num ritmo tão forte quanto o de Schumacher. De forma surpreendente, quem parou primeiro foi Schumacher, logo na volta 11, com Alonso parando algumas voltas depois. A tática era clara para todos: três paradas. Num circuito chatinho e de ultrapassagens complicadas, normalmente as corridas em Magny-Cours eram procissões entremeadas pelos pit-stops. Pela lógica, seriam quatro mini-corridas na França. Porém, Schumacher e os táticos da Ferrari pensaram em algo diferente. Se na pista seria muito complicado passar Alonso, restava usar a tática. Mas como, se todos estavam com uma tática idêntica? Ross Brawn confiava tanto no talento de Schumacher que muitas vezes colocava na mesa para o alemão uma estratégia arriscada, onde o alemão teria que transformar sua corrida em sucessivas voltas em ritmo de classificação. Ao invés de parar três, porque não quatro vezes? Para tanto, Schumacher teria que voar. E assim o alemão o fez. Michael fez sua segunda parada bem antes de Alonso e dessa vez superou o espanhol, mas a Ferrari não demorou a chamar seu primeiro piloto para os boxes pela terceira vez. Para quem assistia, era esperado uma longa parada. Reabastecimento em 6s e Schumacher voltava à pista em primeiro, com poucos segundos de vantagem sobre Alonso.
Fazendo as contas, Schumacher ficaria mais quinze voltas na pista. E nessas quinze voltas o alemão de 35 anos mostrou toda a sua genialidade com um ritmo absurdo na ponta, não dando chances à Alonso. Quando foi aos boxes pela quarta e última vez, Michael colocou combustível o suficiente para terminar a corrida e finalizar uma de suas vitórias mais marcantes na carreira. Naquele dia Schumacher encontrou um adversário fortíssimo e precisou improvisar para vencer um Alonso que começava a mostrar todo o seu talento que lhe daria dois títulos nas temporadas vindouras. Numa bela corrida de recuperação, Rubens Barrichello ocupava a quarta posição no último stint e partiu para cima de Jarno Trulli, que ocupou a terceira posição a corrida inteira. Mesmo num circuito de ultrapassagens complicadas, Rubens aproveitou um cochilo de Trulli na última curva da última volta para conseguir o último lugar no pódio. Aquela ultrapassagem sofrida na frente da torcida da Renault deixou Trulli em desgraça. Mesmo tendo conquistado sua única vitória apenas algumas semanas antes em Monte Carlo, o italiano entraria em conflito com Briatore e nem completaria a temporada com a Renault. No entanto, a exibição de Alonso e, principalmente, Schumacher, deixaram todos os demais pilotos como meros coadjuvantes.
Chegada:
1) M.Schumacher
2) Alonso
3) Barrichello
4) Trulli
5) Button
6) Coulthard
7) Raikkonen
8) Montoya
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