quinta-feira, 25 de julho de 2019

Puxando a sardinha

Os anos 1980 foram os mais legais e românticos do esporte a motor. Na mesma medida em que as corridas entravam cada vez mais nos lares das pessoas através da TV, a velocidade impressionante dos bólidos e a aura que os pilotos dessa época tinham fazem que essa década tenha um lugar especial para todos que acompanharam, nem que seja um pouco, F1, Indy, Rali, Endurance ou motovelocidade naqueles tempos.

Falar dos anos 1980 causa um enorme turbilhão de emoções nas pessoas, fazendo-as imaginar estar em Silverstone, Indianapolis, Le Mans, Assen ou Jacarepaguá. Foram realmente anos mágicos e que entraram para a história, mas passados trinta naos dessa década explosiva, algumas pessoas se esquecem que o mundo não parou em 1989 e que a vida, assim como o esporte a motor como um todo, segue evoluindo. 

O que era o topo da tecnologia se tornou rapidamente obsoleto e foram substituídas, mesmo tendo muito carinho por elas. Motor turbo, câmbio na mão, poucos comandos no volante se tornaram peças de museu e seguindo o propósito do automobilismo, aparatos mais modernos apareceram, da mesma forma que os pilotos vão se preparando cada vez mais e superando os que ficaram para trás. Essa é a ordem natural da vida.

Nessa semana Nigel Mansell sacudiu o mundo da F1 com uma entrevista à revista da FIA onde tentava dizer em palavras o que era a F1 no seu tempo. Mansell usou bem as palavras em seu depoimento para destacar seu tempo, que foi realmente inesquecível e espetacular, mas como acontecia nos seus tempos de pilotos, Nigel acabou derrapando quando estava mais emocionado. O inglês usou a frase "os pilotos de hoje nunca saberão o que é um carro de F1" para quantificar o quão bom era sua época. E realmente era. Porém, Mansell se esqueceu de um detalhe primordial: a F1 não parou no tempo.

Mansell pisou na bola ao dizer essa frase, menosprezando os pilotos da F1 atual, cujos carros são factualmente os mais rápidos da história. Seja na F1 ou em qualquer ramo, subestimar as pessoas é um erro grave e dizer que os pilotos atuais 'não conhecem um carro de F1' foi mais um da longa lista de Mansell. Um carro de F1 nunca foi fácil de ser pilotado e mesmo com vários aparatos ao alcance da mão, um piloto de F1 atual precisa ser extremamente técnico e talentoso para ser rápido. Não devemos nos enganar. Para um piloto atual de F1, altamente preparado mental e tecnicamente, pilotar um carro dos anos 1980 pode até parecer fácil. A mão de obra dentro de um carro de F1 atual é tão ou mais frenética do que nos anos 1980, mesmo que bastante diferente dos tempos mágicos de Mansell.

Rememorando a Copa do Mundo de 1994, cuja conquista completou 25 anos esse mês, falava-se abertamente antes da competição que os jogadores da Copa de 1970, a última que o Brasil havia vencido naquele momento, torciam contra os atletas comandados por Parreira. O motivo? Se dizia que muitos daqueles jogadores do mágico time de 1970 ainda viviam das glórias daquele título. No caso de uma vitória do Brasil 24 anos depois, como acabou acontecendo, esses jogadores perderiam essa pecha de últimos campeões.

Maldades à parte, é da natureza humana querer que seu feito seja o mais importante, o mais difícil, o mais emocionante. Mansell puxou a sardinha para o seu lado, destacando sua época que foi realmente sensacional e inesquecível, mas a F1 e a vida não parou naqueles gloriosos tempos.

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