terça-feira, 9 de julho de 2019

História: 30 anos do Grande Prêmio da França de 1989

Enquanto a F1 cruzava o Atlântico para voltar a Europa depois da animada e surpreendente corrida em Montreal, vários acordos e desacordos nos bastidores fizeram com que o Grande Prêmio da França de 1989 visse vários estreantes. Apesar da excepcional corrida em Jacarepaguá, era nítido que Johnny Herbert ainda não tinha se recuperado plenamente do seu sério acidente na F3000 em 1988 e o inglês era substituído por Emmanulle Pirro, que era pilotos de testes da McLaren. Pirro tinha sido sondado pela Lola e chegou a testar o carro, mas o italiano preferiu o melhor cockpit da Benetton. Cansado da instabilidade de Yannick Dalmas, a Lola contrata para o seu lugar o jovem francês Eric Bernard, que estava fazendo um bom campeonato na F3000. Na semana anterior a corrida, Derek Warwick se envolve num acidente de kart e com uma costela quebrada, o inglês não participaria da prova em Paul Ricard, sendo substituído pelo piloto de testes da Arrows, o norte irlandês Martin Donnelly.

Ken Tyrrell havia conseguido um muito bem vindo patrocínio da tabaqueira Camel, mas isso causou um pequeno problema dentro de sua equipe. Michele Alboreto era patrocinado pela Marlboro e logo se estabeleceu o conflito de interesses, resultando na dispensa do italiano, mesmo Alboreto tendo chegado ao pódio no México. Para substituir temporariamente Alboreto, Tyrrell convoca Jean Alesi. Rival de Bernard nas categorias de base na França e companheiro de equipe de Donnelly na F3000, Alesi era visto como estrela em ascensão e o francês já tinha despertado o interesse de Ligier e Williams. Muito bem visto pela crítica francesa, com a corrida em Paul Ricard e Alesi correndo com o patrocínio da Camel na F3000 pela equipe Jordan, Tyrrell achou uma ótima ideia dar uma chance ao francês de 25 anos. E o velho tio Ken não se decepcionaria. Se a França ansiava por uma nova estrela, a estrela estabelecida de 1989 estava de mudança. Alain Prost reuniu a imprensa na sexta pela manhã para anunciar que estava saindo da McLaren no final da temporada. Mesmo tendo sido uma parceria vitoriosa ao longo de seis anos, a péssima relação entre Prost e Senna tinha pesado demais. Prost continuava insinuando que a Honda favorecia Senna, enquanto Ron Dennis dizia que Prost não suportava perder para Senna com o mesmo carro. Claro que Prost não ficaria muito tempo sem contrato e a Ferrari já tentava a sua contratação, enquanto a McLaren negociava com Berger para fazer o movimento contrário. Além de rápido, Berger se dava muito bem com Senna...

Na classificação os pilotos da McLaren dominaram mais uma vez. Senna marcou o melhor tempo na sexta-feira, mas Prost lhe tomou a pole position no dia seguinte. Os tempos conquistados pelos pilotos da McLaren eram mais rápidos do que os alcançados em 1988. Mansell consegue um ótimo tempo para ser terceiro apenas dois décimos atrás da pole, num final de semana em que os carros com pneus Goodyear obtiveram clara vantagem em comparação aos usuários da Pirelli.

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:07.203
2) Senna (McLaren) - 1:07.228
3) Mansell (Ferrari) - 1:07.455
4) Nannini (Benetton) - 1:08.137
5) Boutsen (Williams) - 1:08.211
6) Berger (Ferrari) - 1:08.233
7) Alliot (Lola) - 1:08.561
8) Patrese (Williams) - 1:08.993
9) Palmer (Tyrrell) - 1:09.026
10) Gugelmin (March) - 1:09.036

O dia 9 de julho de 1989 amanheceu ensolarado e com muito calor no sul da França, um clima bastante típico dessa época do ano, mas que castigaria carros e pilotos trinta anos atrás. Por causa do calor, todos os pilotos escolhem os pneus duros e planejam parar pelo menos uma vez. Na volta de apresentação Patrese tem problemas de motor e fica parado. Não deixaria de ser uma sorte para o italiano, pelo susto ocorrido na primeira largada. Após seu pódio em Jacarepaguá, Maurício Gugelmin fazia uma temporada irregular com sua March e por isso o décimo lugar no grid era uma dádiva ao brasileiro. Na freada para a curva um, Gugelmin achou uma brecha e tenta colocar seu carro ali. Porém, com vários carros freando ao mesmo tempo e se movendo para conseguir uma boa posição, Gugelmin se viu sem espaço e proporcionou uma espetacular capotagem sobre os pilotos da frente, causando um verdadeiro caos no grid. E proporcionar uma das largadas mais conhecidas da história da F1.

Gugelmin bateu em Boutsen, decolou, caiu em cima da asa traseira da Ferrari de Mansell, depois em Berger e pousou de cabeça para baixo. Naquele dia Gugelmin estreava um capacete novo, que ficou lixado pelo contato com o asfalto. Apesar do susto, Gugelmin saiu do carro ileso. Mesmo no pelotão intermediário, vários carros bateram. Após se livrar de toda a confusão da primeira curva, Olivier Grouillard acabou batendo num lento Mansell metros depois. Com tanto confusão, a bandeira vermelha foi mostrada e uma segunda largada seria dada. Vários pilotos utilizariam carros reservas, enquanto Mansell, Gugelmin e Donnelly largaram dos boxes. Na primeira largada Senna saiu muito bem, mas na segunda tentativa, o diferencial do brasileiro quebrou quando ele engatou a segunda marcha. Por sorte a McLaren de Senna não foi atingida, porém era mais um abandono para o campeão de 1988, que colocava as mãos na cintura ao sair do carro, totalmente incrédulo.

Prost estava na sua situação preferida, que era de administrar a corrida a seu bel prazer, sem forçar muito num dia muito quente em uma pista em que sempre andou muito bem. Enquanto Prost se livrava facilmente do segundo colocado Berger, Mansell vinha num ritmo alucinante das últimas posições, chegando a ultrapassar até três carros numa volta! Na volta 12 Berger saiu da pista e cai para quarto, ultrapassado por Nannini e Boutsen, tendo que trocar seus pneus três voltas mais tarde, elevando Mansell a um impressionante top-10, lembrando que largavam 26 carros trinta anos atrás. Com o forte calor, não demorou muito para a corrida se tornar uma prova de sobrevivência, com os pilotos cuidando dos pneus, tentando parar nos boxes o menos possível. Quando já se recuperava de sua rodada, Berger abandonou com o câmbio quebrado na volta 29, enquanto Mansell, que trocou seus pneus, retornava a pista com a mesma voracidade de antes. Prost fez sua parada na volta 34 sem perder a ponta, enquanto o novato Jean Alesi conseguia uma corrida notável. Mesmo sem experiência com um F1, Alesi levava seu Tyrrell ao top-6, conservando seus pneus. E ele logo ganharia mais terreno. Na volta 41 o segundo colocado Alessandro Nannini se preparava para colocar uma volta em Nakajima quando sua suspensão traseira esquerda quebrou de forma espetacular, quase causando um grave acidente, pois a Benetton de Nannini passou sem controle a milímetros da Lotus de Nakajima. 

Quando o motor de Capelli explode na volta 44, Alesi assumia a segunda posição, se tornando um dos destaques da corrida. Boutsen, que havia parado para trocar pneus, não conseguia alcançar Alesi por causa de um problema de câmbio, que o faria abandonar na volta 50. Com os pneus cada vez mais desgastados, Alesi via crescer no seu retrovisor Patrese e Mansell, que também fazia uma corrida espetacular. Na volta 48, com os pneus em petição de miséria, Alesi faz sua única parada e retorna em quarto, dando um recado que ele poderia ser um digno sucessor de Prost, que liderava tranquilo. Patrese tinha largado com o carro reserva e tinha dificuldades de equilíbrio, mas segurava valentemente Mansell, contudo uma violenta rodada do italiano na volta 61 entregou a segunda posição para Mansell, coroando a belíssima corrida do inglês. O piloto da Ferrari lamentaria bastante depois da corrida ter largado dos boxes, pois tinha um ótimo ritmo em Paul Ricard. Alain Prost conseguiu sua trigésima sétima vitória na F1, 45s à frente de Mansell. Patrese terminou em terceiro e conseguiu o seu quarto pódio consecutivo. Alesi conquistou um excelente quarto lugar em sua estreia. Johansson terminou em quinto, dando os primeiros pontos para o Onyx. Primeiro ponto também para Grouillard, sexto. Mesmo com a vitória de Prost e a incrível corrida de recuperação de Mansell, o nome do dia era Jean Alesi. O francês recebeu os parabéns de Prost depois da corrida e passou a ser disputado por todo o paddock, mas Tyrrell acabaria contratando Alesi para 1990. Alesi seria uma estrela da F1 na década de 1990, mas não com o brilho intenso esperado. Ah! Depois do susto na primeira largada, Maurício Gugelmin teve problemas com seu March reserva na corrida, ficou várias voltas parado, mas acabou com a melhor volta da corrida!

Chegada: 
1) Prost
2) Mansell
3) Patrese
4) Alesi
5) Johansson
6) Grouillard

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