domingo, 14 de julho de 2019

É disso que o povo gosta!

As vozes de 141.000 espectadores pareceram ter acordado o mundo da F1 em Silverstone. O histórico circuito inglês não permite as facilidades de uma corrida empolgante como ocorreu em Zeltweg, mas Silverstone é Silverstone. Olhando apenas os resultados, uma nova dobradinha da Mercedes com Hamilton disparando cada vez mais na liderança do campeonato rumo ao hexacampeonato pode indicar uma corrida enfadonha, mas a uma hora e meia de corrida em Silverstone foi das melhores nos últimos tempos, com brigas em todas as posições, incluindo a primeira. A F1 precisava dar um bom show em seu berço e conseguiu! A torcida deve estar deixando Silverstone feliz pela vitória (a sexta no circuito) de Lewis Hamilton e com a bela corrida que assistiram.

Com a Mercedes dominando desde o princípio do final de semana, a briga pela vitória ficaria entre seus dois pilotos, com um claro favoritismo para Lewis Hamilton. Simples, certo? Nem tanto. Hamilton teve que usar da sorte para superar seu companheiro de equipe, que lutou de forma dura e justa nas primeiras voltas para permanecer em primeiro, com Bottas só perdendo a corrida por causa de um safety-car fora de hora. Porém, Lewis Hamilton precisava provar que é um piloto fora da caixa. Nas últimas voltas, com mais de 20s de vantagem sobre Bottas, que teve que trocar os pneus por uma segunda vez e estava equipado com macios, Hamilton baixou o ritmo para uma última volta voadora. Mesmo com pneus duros de trinta voltas de 'idade', Hamilton tirou a volta mais rápida de Bottas com direito a recorde de pista. Foi como um recado ao finlandês: hoje você andou bem, mas quem manda aqui sou eu! Hamilton marcha impávido rumo ao hexacampeonato e Bottas mostrou que sua defesa de posição nas primeiras voltas na casa de Hamilton prova que o nórdico tem muita capacidade. Apenas falta que essas atuações excepcionais de Bottas se tornem regras.

Com a Mercedes disparada na frente, Ferrari e Red Bull também protagonizaram disputas de tirar o fôlego, principalmente entre Max Verstappen e Charles Leclerc. Rivais desde os tempos do kart, Leclerc e Verstappen nos mostraram os melhores momentos da corrida com disputas roda a roda de tirar o fôlego. Com contas pendentes desde a última corrida na Áustria, os dois jovens pilotos mostraram que a F1 não está morrendo. Longe disso! Mesmo com os dois brigando fortemente por posição, a saída de pista de Verstappen não foi causada por Leclerc, que mais uma vez foi vítima de um erro tático da Ferrari no momento do safety-car. Embalado com a bela vitória na Áustria, mas sem chances de vitória, Max foi com tudo para cima de Vettel, que se beneficiou do safety-car para pular de quinto para terceiro lugar, com a parada dos rivais à frente. Demonstrando sua ótima fase, Verstappen conseguiu uma bela ultrapassagem por fora na freada da reta Hangar, mas Vettel saiu mais embalado para a próxima freada, na Club. Como não poderia deixar de ser, Verstappen fechou bem a porta e Vettel permaneceu atrás. Sabendo que não teria pressão aerodinâmica. Ou não? O resultado foi um sórdido acidente em que Vettel encheu a traseira de Verstappen e ambos saíram da pista, trazendo Leclerc de volta ao pódio e fazendo com que Gasly conseguisse seu melhor resultado nessa sua passagem pela Red Bull, que pode ser breve, apesar do bom resultado. Vettel teve que trocar o bico e foi punido justamente pelo acidente provocado por ele. Verstappen mudou de posição e fechou toda a porta? Sim, contra fatos não há argumentos. Mas com doze anos de F1, Vettel está louro de saber que frear no limite tão colado atrás de um carro pode ocasionar perca de pressão aerodinâmica e o resultado ser um acidente em que a culpa, como na lei do trânsito, é de quem bate atrás. Vettel está longe do seu auge e seu último título completará sete anos. O alemão já mostrou na Red Bull que não reage bem quando tem uma sombra e Charles Leclerc na Ferrari é uma sombra que vem incomodando bastante Vettel, com erros seguidos e que já incomodam também a cúpula ferrarista. Por isso que os boatos de uma aposentadoria precoce de Vettel pipocam aqui e ali. E os tempos da Ferrari realmente são outros. Em outros tempos, quem poderia imaginar a Ferrari ser prejudicada três vezes consecutivas pelos comissários?

Com Vettel caindo para último com poucas voltas para o fim, a briga pelo melhor do resto valorizou um pouco mais: um sexto lugar. Até o final a briga ficou entre Carlos Sainz e Daniel Ricciardo. Tendo largado mais atrás, Sainz foi um dos beneficiados pelo safety-car e colocando pneus na hora certa, ficou numa ótima posição para vencer a disputa do pelotão intermediário, com Ricciardo colado em sua traseira, mas sem muitos ataques efetivos. Norris estava na disputa, mas ao contrário do companheiro de equipe da McLaren, acabou perdendo terreno e ficou fora dos pontos. Raikkonen garantiu mais alguns pontos para a Alfa Romeo, enquanto Giovinazzi acabou mudando a face da corrida quando rodou sozinho na Club, trazendo o safety-car que tanto ajudou e atrapalhou pilotos hoje. Mesmo fazendo uma temporada medíocre, Daniil Kvyat vai marcando pontos e chamando a atenção da Red Bull, que hoje não tem quem colocar no lugar de Gasly e o russo pode ser o escolhido. Albon, que passou a corrida na frente de Kvyat, foi uma das vítimas do SC e saiu da zona  de pontuação nas últimas voltas. Hulkenberg também perdeu para o desgaste de pneus, mas ultrapassou Albon nos momentos finais da corrida para garantir mais um pontinho para a Renault. Sérgio Pérez perdeu a asa numa disputa com Ricciardo e com isso, a Racing Point não fez mais nada na corrida, pois esperar algo de Stroll é pedir demais. A Haas segue seu calvário. Numa disputa na primeira volta, seus dois pilotos bateram rodas e com os carros quebrados, abandonaram logo depois. Coitado do Steiner. No final de semana em que completa 50 anos de F1, a única alegria de Frank Williams no dia de hoje foi uma volta que deu pelo circuito ao lado de Lewis Hamilton num carro de passeio. Simplesmente tocante.

Após a corrida em Paul Ricard, era facílimo criticar a F1 e para quem queria aparecer, declarar sua morte. A F1 sempre teve corridas ruins e boas, como a de hoje. Mesmo com problemas urgentes a resolver, a F1 sempre sobreviveu aos problemas e não é uma corrida emocionante (ou não) que pode-se definir os rumos da categoria. Olhando um pouco para o lado, a MotoGP está com Marc Márquez com o título nas mãos e dominando corridas como se estivesse brincando no parque. Porém, as corridas não deixam de ser boas e disputadas. Lewis Hamilton irá vencer pela sexta vez na F1 e a Mercedes está dominando a F1, mas se houverem mais corridas como hoje, ninguém irá reclamar tanto.

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