domingo, 26 de setembro de 2021

O outro Alex

 


Vinte e cinco anos atrás, um Alex cruzava o Atlântico em baixa após uma passagem sem muito brilho na F1 e aportava na equipe Ganassi para fazer história. Dono de uma pilotagem agressiva e emocionante, Zanardi tomou a Indy como um furacão e conquistou um bicampeonato de forma impressionante, lhe garantindo o lugar de volta à F1 com o novo status de estrela. Dessa vez o Alex que aportou na Ganassi em 2021 não veio diretamente da Europa, mas tinha uma carreira enviesada. Palou lutou toda a sua carreira contra a falta de apoio, mesmo que fosse claro que o espanhol tinha talento. Após passagens curtas e turbulentas por GP3 e F2, Palou se mudou para o Japão para se tornar um piloto profissional na Super Formula. Não demorou muito para o jovem espanhol ganhar a confiança da Honda e foi um dos destaques da principal categoria de monopostos do Japão. Isso significou um convite para testar na Indy na equipe Dale Coyne no final de 2019, encantando os donos da pequena equipe, que contrataram o espanhol. Com o apoio da Honda, Palou fez um ano de estreia acima das expectativas numa temporada retalhada pela pandemia.

Aquilo chamou a atenção de Chip Ganassi. O velho chefe de equipe via seu time ser carregado nas costas pela lenda Scott Dixon, enquanto o outro carro parecia parar de funcionar nas mãos de qualquer piloto desde que Dario Franchitti se aposentou em 2013 por causa de um sério acidente. Palou seria mais um na longa lista de piloto que correram com o carro número dez e fracassaram? Pela primeira vez numa equipe forte e com uma certa tranquilidade, Alex Palou passou a utilizar seu talento para imitar Alex Zanardi. Porém, se Zanardi tinha uma pilotagem exuberante, Palou exibiu um jeito de guiar diferente, usando a consistência e a solidez para não apenas andar no mesmo ritmo de Dixon, como fazer uma temporada incrível apenas em sua segunda temporada na Indy. O espanhol mostrou suas armas com a vitória em Barber, sua primeira na Indy e logo assumindo a ponta do campeonato. Aos 24 anos de idade, Palou mostrou uma tenacidade de um veterano. Normalmente Palou sempre conseguia um lugar entre o top-10, além de quase ter vencido as 500 Milhas de Indianápolis. Quando era o principal favorito ao título, Palou sofreu um duro golpe com um abandono duplo no misto de Indianápolis e em Gateway. O espanhol iria entregar os pontos? Nada disso! Indo para três pistas que não conhecia, mas extremamente tradicionais na Indy, Palou mostrou que ele é feito de um material diferente. Em Portland, Palou largou na pole, saiu da pista na primeira volta, mudou a estratégia rumo a sua terceira vitória. Em Laguna Seca, uma pilotagem cerebral o fez terminar em segundo e chegar em Long Beach com a mão na taça.

A tarefa de Palou não era exatamente das mais difíceis e ficaram ainda mais tranquilas quando Ed Jones teve uma diarreia mental e bateu em Pato O'Ward no famoso grampo da última curva em Long Beach ainda nas primeiras voltas. O mexicano caiu para as últimas posições, mas o toque havia sido fatal e não demorou muito para que o semi-eixo do carro de O'Ward quebrasse. Não era dia da McLaren, definitivamente. Palou estava logo atrás do incidente e chegou a ter o carro acertado por Ryan Hunter-Reay, em sua última corrida pela Andretti após uma longa carreira na equipe. Porém, o espanhol ficava ainda mais próximo do título. Josef Newgarden tinha chances retóricas, mas o americano estava no lugar certo se algo acontecesse com Palou. Para o americano da Penske, só a vitória interessava, mas o tricampeonato só viria se Palou terminasse abaixo da vigésima quarta posição. Para um piloto tão sólido e inteligente como o espanhol, isso beirava o impossível. Sem contar que Newgarden não contava com a agressividade de outro jovem piloto.

Vindo de vitória na semana passada em Laguna Seca, Colton Herta errou na classificação após dominar os treinos livres e largara apenas em décimo quarto. O americano da Andretti foi ultrapassando quem via pela frente até tomar a ponta de Newgarden e dominar o resto da prova. Herta foi o grande destaque desse final de campeonato, com corridas dominantes, mas o americano ainda resta controlar seu ímpeto e melhorar a consistência. Talvez dos jovens pilotos da Indy, Herta seja o mais veloz.

Porém, um campeão precisa mais do que apenas velocidade. Alex Palou fez uma prova conservadora e sem correr nenhum risco rumo ao quarto lugar que lhe garantia com folgas o seu primeiro título na carreira. Tendo crescido vendo Fernando Alonso tornar o automobilismo popular na Espanha, Palou é um dos primeiros frutos da Alonsomania. Se o espanhol vai repetir a manobra do seu xará e retornar com pompa para a Europa? Difícil dizer, mas Palou provou que tem o talento e solidez necessária de um campeão. Pato O'Ward é outro dos jovens top-guns da Indy e correndo por uma equipe em acensão como a McLaren, o mexicano tem tudo para evoluir cada vez mais, sem contar que sua equipe está investindo cada vez mais em estrutura. A Penske ainda se salvou com Newgarden, mas seus demais pilotos sofreram com a irregularidade e até mesmo com fogo amigo. Scott McLaughin se tornou o novato do ano, mas esteve longe de brilhar, Will Power foi mais lembrado pelas presepadas do que sua velocidade natural e Simon Pagenaud está de saída da equipe, indo para a Meyer Schanck ao lado de Helio Castroneves, que mais uma vez mostrou ainda ter alguma velocidade em classificação, mas nenhuma consistência em ritmo de corrida. Claro, sem contar em Indianápolis, onde é um verdadeiro fenômeno. A Andretti foi outra que se salvou com apenas um piloto, no caso Herta. Os demais pilotos decepcionaram de forma retumbante, mas a equipe ainda confia em Alexander Rossi, enquanto dispensou os veteranos e cansados Hunter-Reay e James Hinchcliffe. Porém, a equipe não ficará mais nova com a mudança, pois um dos substitutos será Romain Grosjean. O francês fez um excelente ano de estreia, com corridas impressionantes recheadas de ultrapassagens agressivas. Sem se preocupar com as punições comuns da F1, Grosjean chamou a atenção de todos e em 2022 estará na forte equipe Andretti. 

Como acontecera em 1996 quando apostou de forma arriscada em Alex Zanardi, Chip Ganassi sabe que fez outra aposta certeira em Palou. Com 41 anos de idade, Scott Dixon não será eterno e em algum momento o neozelandês irá parar de nos surpreender com sua pilotagem precisa e cerebral, com vários títulos e recordes. Após vários tiros n'água, parece que o velho Chip encontrou alguém que possa ser o principal piloto da equipe num futuro próximo. Marcus Ericsson conseguiu duas vitórias surpreendentes em 2021, mas muito baseado nas ótimas táticas da equipe. Dixon fez um ano abaixo dos seus altos padrões, enquanto Jimmie Johnson está apenas se divertindo na Indy. Já Alex Palou é o presente e o futuro da Ganassi na Indy. Ele não é espetacular quanto o outro Alex, mas o espanhol tem tudo que um campeão precisa.

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