domingo, 11 de julho de 2010

Avalie se fosse primeiro piloto...


Logo no início da Copa do Mundo, falei que a Red Bull não tem muita 'camisa' e que essa falta de experiência em disputar títulos poderia ser fatal. Pois bem, mesmo com a estupenda vitória de Mark Webber na corrida de hoje, a Red Bull terá vários abacaxis para descascar após o final de semana inglês. O maior será apaziguar os ânimos entre os dois pilotos, com Mark Webber fazendo beicinho por causa do episódio da nova asa dianteira, entregue a Vettel por o alemão estar à frente do campeonato no sábado e que o australiano deixou clara sua insatisfação em todas as entrevistas, principalmente na sua volta de desaceleração, quando ao invés de vibrar, lembrou do problema. O outro, esse mais subjetivo, será a cabeça de Vettel. A velocidade do alemão é clara, mas seus erros e pequenos azares o tiram, aos poucos, da briga pelo campeonato. E como o Mundial de Construtores é feito com dois carros, a Red Bull vê a McLaren, com um carro nitidamente inferior, indo embora com seus dois pilotos.

A corrida de hoje foi animada, mas de formas de pequenos incidentes. Primeiro, a largada. Uma das reclamações de Webber antes da corrida era sua posição de largada, que estaria muito sujo e poderia o fazer perder posições, mas eis que o australiano conseguiu aderência não sei daonde e pulou para primeira ainda antes da primeira curva, ficando lado a lado com o companheiro de equipe. E foi aí que aconteceu o primeiro incidente. Sem espaço, Vettel ficou por fora e aparentemente recebeu um leve toque de Hamilton, que tentava mergulhar na primeira curva. Vettel permaneceu ao lado de Webber, mas algumas voltas depois ele saiu da pista com o pneu tarseira furado. Como ainda estava no começo da volta, a corrida de Vettel estava destruída, pelo menos aparentemente. Mark Webber passou a liderar a corrida de forma soberana, mas com um surpreendente Lewis Hamilton muito rápido atrás, mas não chegou a haver uma briga mais forte pela ponta. O australiano foi muito rápido a corrida toda, não dando chances aos rivais e passando a frente de Vettel no campeonato, o que pode indicar se a Red Bull tem ou não favorecimento entre seus pilotos. Uma das desculpas de Christian Horner era que deu a já famosa asa dianteira a Vettel por que o alemão estava melhor posicionado no campeonato, mas agora quem está na frente é Webber. Horner usará essa idéia numa próxima situação?

Porém, Vettel se recuperou durante a corrida, muito ajudado pelo esquisito safety-car que apareceu devido aos detritos deixados pela asa traseira de Pedro de la Rosa. Não que a corrida não deveria ter sido paralisada, mas os comissários demoraram demais a despachar o Mercedão à pista. Lerdeza que causou outra confusão. Sem ter nada com isso, Vettel se aproveitou do agrupamento dos carros e seguiu ultrapassando quem via pela frente, não importando se era a Toro Rosso de Alguersuari ou a Ferrari de Massa. O alemão deu um show, principalmente em sua disputa com Adrian Sutil na última volta. Porém, os seis pontos não o ajudarão muito no campeonato, já que ele largou na pole. A McLaren vem utilizando a inteligência e o bom ritmo de corrida para se sobressair frente a emergente rival e lidera os dois campeonatos de forma sólida, algo que era considerado até mesmo impossível pelo péssimo final de semana até então. Porém, a corrida mostrou outra perspectiva e Hamilton foi muito rápido, a ponto de trocar melhores voltas com Webber em determinados momentos e não deixando o australiano descançar na ponta. Hamilton mostra a cada dia que passa que é um piloto diferenciado e sua maturidade faz transformar sua enorme velocidade em boas atuações como hoje. Por sinal, outra atuação excelente foi de Jenson Button. O inglês foi discreto como sempre, mas ganhou dez posições durante a corrida usando apenas uma boa largada e um ótimo ritmo quando teve caminho livre à sua frente. O atual campeão não tem a exuberância de Hamilton, mas Button está fazendo corridas incríveis com seu McLaren e contra tudo e contra todos, ainda está mais vivo do que nunca na batalha pelo campeonato.

A Mercedes teve uma boa recuperação do fiasco em Valencia e conseguiu um pódio após longo e tenebroso inverno. Se as mudanças no carro favoreceriam Schumacher, Rosberg provou que é capaz de liderar a equipe e fez uma boa prova hoje, suportando a pressão de Alonso enquanto pressionava Kubica. Nico ultrapassou Kubica nos boxes e se manteve em terceiro sem muitos problemas, mesmo que seu ritmo estivesse a léguas de distância dos líderes. Com esse resultado, Rosberg pode finalmente convencer a Mercedes em apostar mais nele, principalmente com Schumacher ainda sofrendo nesse seu retorno à F1. De cabeça, não lembro de nenhuma ultrapassagem efetuado pelo heptacampeão, mas ser ultrapassado... Schumacher luta muito, parece até mesmo querer levar o carro nas costas, mas em praticamente toda corrida ele leva uma ultrapassagem.

Após Kubica ser ultrapassado por Rosberg, o polonês ficou na alça de mira de Alonso, que não perdeu tempo em atacar o piloto da Renault. O espanhol largou muito mal e queria tirar o atraso, não medindo esforços para atacar quem via pela frente. Kubica, que abandonaria mais tarde após outra excelente corrida, se defendia bem, mas Alonso ficou lado a lado com ele e, de forma lógica, Kubica deixou o lado de fora para o seu amigo Alonso. Sem espaço, o piloto da Ferrari cortou a chicane e ultrapassou Kubica. Nessa hora, Alonso cometeu um erro fatal. Tão preocupado em punir ou ser punido, Alonso deveria ter a exata noção da irregularidade cometida e ter deixado Kubica o ultrapassar imediatamente e depois tentar outra manobra. Mas o espanhol permaneceu na mesma posição, até tentou atacar Rosberg, enquanto Kubica abandonava. Quando ninguém mais esperava a punição, ela veio com muito atraso e aqui vale a crítica aos comissários. Com uma irregularidade tão clara, precisavam os comissários esperarem várias voltas para se pronunciar? Se fossem rápidos, bastava mandar Alonso devolver a posição a Kubica e estava punido o espanhol de forma justa. Ao invés disso, esperaram várias voltas, nesse interím Kubica abandonou e Alonso não podia mais ser punida da forma devida, mas de uma forma exagerada, tendo que cumprir um drive-through bem no momento que o safety-car entrava na pista, em outra atuação demorada dos comissários. Isso significou a ruína da corrida de Alonso, que fez uma corrida agressiva que lhe rendeu um toque com Vitantonio Liuzzi no final da prova e outra visita aos boxes. Alonso irá reclamar bastante e com razão. É a segunda corrida consecutiva que o espanhol tinha um bom carro nas mãos, mas saiu prejudicado de uma corrida e poucos pontos marcados, praticamente saindo da briga pelo campeonato. Assim como a Ferrari, que ainda poderá ter outro pequeno problema para resolver. Num toque nitidamente de corrida, Alonso e Massa se tocaram no decorrer da primeira volta. O espanhol não deu mole e houve um toque entre eles. Coisa de corrida. O problema foi que Massa teve um pneu furado e outra corrida no buraco. O brasileiro fez uma péssima corrida, mas pela segunda vez este ano, foi prejudicado por causa de manobras, legais, de Alonso. Porém, a coisa anda tão feia na Ferrari, que nem valha a pena uma confusão entre seus pilotos.

Rubens Barrichello se aproxima de sua corrida de número 300, mas ainda assim mostra que a sua experiência acumulada ainda serve muito numa F1 sem testes. O brasileiro ajudou a Williams evoluir ao longo da temporada e mais uma vez fez com que conseguissem outro ótimo resultado. O quinto lugar, olhando as demais atuações da Williams ao longo do ano, é muito bom e isso pode ser creditado a Barrichello, que vem dando um banho em Hulkenberg, que ainda marcou um pontinho e participou da animada briga dos alemães no final da corrida. Outro que estava nessa briga tedesca era Adrian Sutil. O piloto da Force India não tinha uma boa posição no grid, mas largou bem, atacou (e arrancou a asa traseira) de Pedro de la Rosa e fez uma bela ultrapassagem sobre Michael Schumacher. Sutil deu muito trabalho a Vettel, mas não conseguiu deter a forçada de barra do piloto da Red Bull na última volta, mas o alemão fez um ótimo trabalho e conseguiu mais pontos preciosas para sua equipe. Liuzzi foi punido por ter atrapalhado a volta de Hulkenberg e largou mais atrás, mas foi combativo quando foi atacado por Alonso e ainda chegou próximo de Hulkenberg, o último a pontuar. No entanto, o italiano ainda está ficando bem atrás de Sutil tanto em treinos, como em corrida.

Mesmo ficando bem atrás do companheiro de equipe, Kamui Kobayashi fez outra boa prova e após largar muito bem, andou sempre na zona de pontuação e ainda teve tempo para pressionar Barrichello. Após um início de temporada desapontador, Kobayashi vem evoluindo junto com a Sauber e começa a mostrar um pouco do piloto audacioso que vimos no final de 2009. Pedro de la Rosa é o piloto mais azarado do ano, pois mesmo largando entre o dez, o espanhol nunca ficou na zona de pontuação e foi alboroado por Sutil em plena reta dos boxes, quebrando sua asa traseira e ainda provocando o safety-car. A Toro Rosso arriscou uma estratégia diferente ao retardar as paradas, mas Alguersuari e Buemi não foram capazes de pontuar. Enquanto Buemi foi discreto, Alguersuari levou uma bela ultrapassagem de Rosberg e no final rodou na entrada da reta dos boxes, quase provocando um safety-car no final da prova. Vitaly Petrov estava no zona de pontuação quando sucumbiu a pressão de Vettel e saiu da pista, talvez provocando outro furo de pneu, pois o russo teve que fazer um pit-stop não programado já no final da corrida. Com sua cabeça a prêmio dentro da Renault, Petrov precisa urgentemente de bons resultados para continuar na F1. As pequenas tiveram o desempenho de sempre, mas apenas Lucas di Grassi abandonou, enquanto Sakon Yamamoto andou próximo a Karun Chandhok, provando que o japonês é mais do que outro piloto-pagante.

Há doze anos atrás, Silverstone viu uma corrida animada e polêmica bem no dia da final da Copa do Mundo. O resultado foi uma vitória retumbante vitória da França sobre um desanimado Brasil, após o piripaque de Ronaldo. Hoje, não faltou animação e polêmica, mas como até agora não houve nenhuma notícia de um piripaque de um espanhol ou um holandês, o jogão de hoje tende a ser equilibrado. Webber passou a semana dizendo que haveria uma briga interna na McLaren, mas o australiano provou do próprio veneno, pois agora a Red Bull tem um assunto interno grave a resolver, com seus pilotos se estranhando dentro e fora das pistas. Apesar da vitória de hoje, a Red Bull tem muito mais do que se preocupar, mesmo com o belo carro projetado por Adryan Newey, do que as adversárias.

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