Definitivamente 25 de julho não é um dia ideal para Felipe Massa. Em 2009, encarou a morte de perto. Exatamente um ano depois do seu sórdido acidente em Hungaroring, Massa passou por outra situação que, se não causou riscos à sua vida, pode marcar para sempre sua carreira. Mais de oito anos depois da famosa (e infame) troca de posições entre Rubens Barrichello e Michael Schumacher em Zeltweg, Massa deixou Fernando Alonso o passar para vencer a corrida alemã, deixando Felipe Massa, que já estava triste pela morte de um tio, totalmente arrasado. Alonso, que foi rápido o final de semana todo, não foi vaiado e venceu pela segunda vez na temporada e pela performance da Ferrari em Hockenheim, tem tudo para voltar com força total na briga pelo título.
Porém, a atitude ferrarista começou a se desenhar na largada. Um dos requisitos em que Sebastian Vettel precisa melhorar urgentemente é a largada. Correndo em casa, o alemão novamente não partiu bem e foi engolido pelas Ferraris, mas Vettel fez uma manobra que decidiria muita coisa dali em diante. Tentando desesperadamente se manter na ponta, Vettel foi para cima de Alonso, que largava ao seu lado na primeira fila, e o ferrarista ficou expremido contra o muro dos boxes, deixando o caminho livre para Felipe Massa passar ambos por fora e assumir a liderança da corrida, após uma temporada em que não tinha sentido o gosto de ver seu nome como líder de uma corrida. Com Alonso em segundo, a Ferrari não deu chances aos seus adversários e disparou na frente, mas o espanhol, meio segundo mais rápido do que Felipe na Classificação, queria mais. E começou a confusão.
Felipe Massa se segurou muito bem com os pneus super-macios, mas quando os super-duros foram colocados nas duas Ferraris, Alonso partiu para cima do companheiro de equipe. Massa perdia tempo com os retardatários e foi colocando uma volta em Bruno Senna que Alonso tentou a ultrapassagem no hairpin após a reta oposta. Felipe fechou. Alonso tentou o xis e foi para cima na curva seguinte. Massa fechou a porta com vontade! Fernando ficou irritado e no seu rádio, foi ouvido a palavra 'ridículo'. Do que tratava Alonso, saberemos mais tarde, mas o rádio da Ferrari permanecia ativo. O espanhol deu espaço a Felipe, mas voltou a se aproximar do brasileiro, quando Rob Smedley, engenheiro de Massa, veio com a famosa frase de que nas entrelinhas significa "cai fora!". "Fernando está mais rápido". Para bom entendedor, meia palavra basta e não demorou para Massa deixar Alonso passar e disparar rumo a bandeirada final. Foi uma prova até de certa forma monótona, mas como ocorreu na Áustria em 2002, pode trazer desdobramentos que mudarão a relação dentro da Ferrari e das demais equipes por muito tempo.
Ordens de equipe existem há vários anos e é tão antigo quanto a própria F1. Naquela ocasião de duas Copas do Mundo atrás, Barrichello cometeu o erro estratégico de ter colocado a Ferrari em uma situação extremamente desagradável quando deixou Schumacher passar no momento da bandeirada, causando indignação a todos que viram a manobra. Desta vez, Massa o fez de forma mais discreta, quando ainda havia muitas voltas para percorrer. Outro detalhe diferente foi que em 2002 a Ferrari construiu um dos carros mais perfeitos da história, onde colocar 1s sobre os adversários era algo comum, portanto, o título para os vermelhos era mera questão de quando e aonde. Portanto, fazer tamanha presepada, ainda na sexta corrida do ano, não era nada necessária, pois mesmo que houvesse uma briga interna, a Ferrari tinha uma vantagem absurda para as demais. Em 2010, a Ferrari tem uma disputa mais acirrada e, o pior para ela, estando em clara desvantagem no campeonato. A Red Bull tem o melhor carro do ano, enquanto a McLaren parece ter a dupla mais equilibrada do campeonato. A Ferrari tinha apenas uma vitória no ano e seu melhor piloto estava apenas na 5º colocação no campeonato, com a metade do campeonato já tendo sido ultrapassado. E na corrida, Vettel se aproximava de Alonso, que começava a ser segurado por Felipe Massa. Ficando preso atrás do companheiro de equipe, o espanhol corria o risco de ser alcançado por Vettel e a prova perfeita da Ferrari ser estragada.
Trocando em miúdos, a troca de posições foi um acerto estratégico da Ferrari, mesmo que de uma forma feia e condenável. Alonso está melhor colocado no campeonato e o asturiano ainda corria o risco de ser ultrapassado por Vettel, um dos seus rivais pelo título. Não devemos nos esquecer que esta temporada está sendo pródiga em incidentes entre companheiros de equipe, como o já famoso acidente entre Vettel e Mark Webber na Turquia. Hoje mesmo vimos as duas Toro Rossos se batendo no hairpin na primeira volta. A fechada que Felipe Massa deu em Fernando Alonso, fazendo com que o espanhol chegasse a chamar a atitude do brasileiro (ou da equipe...) de ridícula foi realmente perigosa, mesmo que não fosse anti-desportiva. Um acidente poderia acontecer e nunca devemos nos esquecer que Massa e Alonso quase saíram no tapa em 2007 na Alemanha, mas em Nürburgring, numa disputa de posição. Porém, se as coisas deviam ser resolvidas dentro de uma pista de corrida, o certo seria deixar as coisas rolarem frouxas, certo? E se os dois batessem? Olhar bem pragmático, mas uma possibilidade bem real pelo o que vinha acontecendo. O certo é que haverá muita conversa de perseguição ferrarista contra os brasileiros e a polêmica está apenas começando.
De resto, a corrida foi bem estática, com poucas trocas de posição. Vettel ainda se aproximou de Massa no final, se aproveitando da fragilidade emocional do brasileiro, após ter dado a vitória para o companheiro de equipe, mas o alemão definiu sua derrota em mais uma largada desastrosa, contudo Vettel não pode sair reclamando muito com relação a sua briga dentro da Red Bull, já que Mark Webber fez uma corrida terrível, onde também largou mal e sofreu com problemas em seu carro. Bem ao contrário da vitória em Silverstone duas semanas atrás. Claramente como terceira força, a McLaren fez uma prova discreta com seus dois pilotos andando juntos o tempo inteiro, com Hamilton ultrapassando Button na largada e por lá ficando até a bandeirada. Lewis aprendeu que, se o carro não lhe dá condições para um ótimo resultado, marcar o maior número de pontos é o objetivo. Se no começo do campeonato havia um G4, agora há apenas um G3, pois a Mercedes, mesmo correndo em casa, está longe das suas rivais e tende a pensar em 2011 a partir de agora. Um sinal claro disso foi a classificação de hoje, onde apenas os seis primeiros completaram o total de voltas, exatamente os pilotos do G3, com Robert Kubica levando sua Renault nas costas ao ser o melhor do resto, mas desta vez Vitaly Petrov não foi de todo mal e finalmente marcou um pontinho. A Williams viu sua recuperação ir por água abaixo por uma péssima largada dos seus dois pilotos e ficaram longe de pontuar, situação parecido com a Sauber, com o adicional de Pedro de la Rosa ter sido atingido por Kovalainen quando o espanhol ia colocar uma volta no piloto da Lotus. É o segundo incidente do finlandês envolvendo um carro mais rápido. A Force India teve um dia para esquecer, com seus dois pilotos completando um total de cinco pit-stops ao longo da corrida.
A Ferrari deu um sinal claro hoje ao dizer a todos quem é o seu favorito na briga pelo título. Com um carro que parece ter renascido, o time de Maranello retorna ao rol dos favoritos pela prova de hoje e seu representante tem nome e sobrenome: Fernando Alonso. O espanhol também mostrou que tem voz ativa na equipe em não ter vergonha em reclamar da atitude da equipe e do outro piloto, conseguindo com isso a 23º vitória na carreira e novamente tem a chance de lutar pelo título. Mesmo que para isso, deixasse Felipe Massa numa situação publicamente desfavorável e de inferioridade perante o time.
Ótima análise. Concordo em vários pontos.
ResponderExcluirFerrari já escolheu, já tinha escolhido seu primeiro piloto, e não podia ser diferente. Massa não fez uma boa temporada, enquanto Alonso, o bicampeão mal caráter, não fez lá grandes coisas não. E por ser quem é, eu sim, esperava mais. Pode ser o que for, mas na pista, dentro do carro, não tem pra ninguém. Chorasse menos e trabalhasse mais, talvez estivesse menos distante de Hamilton.
Essa palhaçada de boa moral e bons costumes tem de acabar. Ordem de equipe não é pecado, se fosse, não precisaria chamar equipe. Bando de gente doida que acha que Fórmula 1 é parâmetro pra alguma coisa senão carros, pneus, tecnologias e o escambau.