sexta-feira, 25 de março de 2011

História: 20 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1991


Ayrton Senna estava com um sério problema naquele final de março de 1991. Não era com seu McLaren, que havia lhe dado a vitória na primeira etapa do campeonato em Phoenix. Sua equipe o adorava e lhe deu um bolo (na cara) no seu aniversário de 31 anos dias antes. A torcida brasileira o idolatrava e ele era uma unânimidade por aqui. Mas Senna tinha um problema. Desde sua estréia em 1984, o paulista tinha performances terríveis no Grande Prêmio do Brasil e isso lhe incomodava bastante. O máximo que Senna havia conseguido em seu país fora um 2º lugar em 1986, onde foi derrotado por Nelson Piquet. Nem a troca de Jacarepaguá, cujo circuito levava o nome do seu desafeto Piquet, por Interlagos em sua cidade natal havia melhorado a sorte de Ayrton e ele estava desesperado em mudar essa sina.

São Paulo é considerada a terra da garoa e o tempo instável se fez presente na megalópole naqueles dias. Na sexta-feira, a chuva se fez presente e vários pilotos rodaram, não dando para fazer um julgamento mais realístico sobre a continuação ou não do domínio da McLaren. Porém, o sábado amanheceu com sol forte e a Williams começava a mostrar suas garras. Patrese e Mansell lideraram boa parte daquela sessão, mas Senna tirou uma volta mágica da cartola e superou seus rivais, para delírio do público. Senna diria mais tarde que foi a força da torcida vindo das arquibancadas que o fez ser tão rápido naquela volta. Se a Williams crescia, a Ferrari estava em ladeira abaixo. O time treinou vários pit-stops na tentativa de evitar erros, como o que afetaram Prost em Phoenix, mas talvez a equipe italiana se preocupou demais em treinos suas paradas de boxes e ficou para trás na pista.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:16.392
2) Patrese (Williams) - 1:16.775
3) Mansell (Williams) - 1:16.843
4) Berger (McLaren) - 1:17.471
5) Alesi (Ferrari) - 1:17.601
6) Prost (Ferrari) - 1:17.739
7) Piquet (Benetton) - 1:18.577
8) Gugelmin (Leyton House) - 1:18.664
9) Modena (Tyrrell) - 1:18.847
10) Gachot (Jordan) - 1:18.882

O dia 24 de março de 1991 amanheceu diferente do sábado. Nublado, frio e uma chuva era esperada a qualquer momento. Porém, isso não impediu que o público lotasse o circuito de Interlagos e fazer o seu famoso grito de guerra na época: Olê, olê, olá... sennááá, sennááá. Quando os pilotos estacionaram seus carros no grid para a largada, a McLaren de Berger começa a pegar fogo em sua traseira. Mas o incêndio era tão pequeno que talvez nem o austríaco tenha percebido e o fogo acabou sozinho, não atrapalhando a ótima largada de Senna, que chegou na primeira curva confortavelmente em primeiro, seguido pelas duas Williams. Porém, era Mansell que estava na cola do brasileiro.

Assim como aconteceu no ano anterior, Senna começou a disparar na ponta, mas Mansell se mantinha a uma distância em que Senna não podia relaxar em momento algum. Mais atrás, Alesi largava melhor do que Berger e atrasava o piloto da McLaren, deixando Patrese numa confortável 3º posição. Prost estava na mesma situação de Berger, pois foi ultrapassado por Piquet na largada, mas o brasileiro da Benetton estava lento demais, contudo o francês não conseguia a ultrapassagem. O francês tentou dar o bote ao entrar nos boxes mais cedo, na volta 17, mas a Ferrari tinha sérios problemas de dirigibilidade e o plano não funcionou como esperado. O vencedor da corrida de 1990 estava praticamente fora do páreo.

Enquanto isso, Senna tinha situação melhorada pela lendária lentidão da Williams em seus pit-stops. Mansell fez sua parada na volta 22 e sua equipe se atrapalhou na troca de pneus e o inglês se atrapalhou em passar a primeira marcha. Ao final da rodada de paradas, Mansell ainda estava em segundo, mas imprimindo um ritmo muito forte para se aproximar novamente de Senna. Sem a mesma potência de Honda (McLaren) e Renault (Williams), Piquet tentava se sobressair com seu Benetton em estratégias de não parar nos boxes, ajudado pela durabilidade dos seus pneus Pirelli. Isso fez Piquet ser 3º nos Estados Unidos e quando já estava nessa mesma posição em Interlagos, é alcançado por Patrese e Berger, não oferecendo muita resistência. O plano não funcionaria a contento a Interlagos. Quando já começava a incomodar Senna, Mansell sofre outro revés quando tem um pneu furado na volta 50 e a parada também lenta, fazendo com que o inglês ficasse mais de 30s atrás de Senna.

Contudo, a sorte parecia virar para Senna quando o seu câmbio começa a fraquejar. Mansell aumenta o ritmo, mas o seu câmbio o faz rodar no Esse do Senna e a corrida do piloto da Williams estava terminada. Não o calvário de Senna. A McLaren perdia marchas sucessivamente e as últimas voltas se tornam dramáticas quando o câmbio trava na sexta. Senna corria no limite, mas algumas coisas o ajudaram nessa sua corrida rumo a primeira vitória no Brasil. A McLaren tinha um câmbio novo em que as marchas mais altas tinham uma enorme elasticidade, tornando a vida de Senna menos ruim nas curvas lentas. Outro detalhe era que tanto Patrese como Berger também tinham problemas em seus carros e eles não podiam capitalizar o problema de Senna, ainda que Patrese estivesse bem mais rápido do que o brasileiro. Como se não bastasse tudo isso, a chuva que ameaçou cair o tempo todo foi aparecer bem no final, fazendo com que Senna pedisse o fim da corrida. A chuva se torna mais forte e como medida de segurança, a bandeirada aparece uma volta mais cedo. O público que lotou Interlagos foi ao delírio, assim como Senna. A Globo praticamente inaugurou a transmissão de rádio do piloto vencedor e todo o mundo ouviu Senna berrar: Puta que pariu!!!!!!!!!! Talvez por isso ficamos tanto tempo se ouvir transmissões de rádio na F1... Porém, o brasileiro tinha feito um esforço sobre-humano e parou seu carro logo depois da bandeirada. Ele estava esgotado fisicamente, mas não queria perder por nada nesse mundo o seu momento de júbilo e mesmo mal conseguindo ficar de pé, foi ao pódio receber seu merecido troféu. Agora, Senna tinha seu problema resolvido!

Chegada:
1) Senna
2) Patrese
3) Berger
4) Prost
5) Piquet
6) Alesi

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