Daqui a algumas horas, a temporada 2011 da F1 irá começar oficialmente. Após uma temporada inesquecível em 2010, os melhores pilotos do mundo retornarão ao trabalho após dois meses de testes coletivos na Espanha e uma quase guerra civil ter cancelado o Grande Prêmio do Bahrein, que abriria a temporada deste ano.
Apesar do velho clichê de que 'os tempos da pré-temporada não significam nada', os testes em Valencia, Jerez e Barcelona servem como parâmetro para ver quem está bem ou não para, ao menos, esse início de ano. A Red Bull dá toda a pinta de estar com um carro tão bom como o do ano passado, quando o RB6 era o melhor carro do grid. Porém, resta saber o que o time austríaco aprendeu de lição na hora de domar seus dois pilotos na luta pelas vitórias e, consequentemente, pelo título. Sebastian Vettel fez um final de ano em 2010 maduro, bem ao contrário de suas características erráticas demonstradas ao longo do ano. O jovem alemão tem uma velocidade estonteante, mas como contra-ponto, tem uma ímã em se meter em encrencas e polêmicas, apesar do seu temperamento engraçado e de bom-moço. Talvez com o título no bolso, Vettel possa relaxar e domar melhor seu talento, mas enquanto isso não vem, Mark Webber vai se aproveitando e ganhando pontos no campeonato, como ocorreu em 2010, para desespero de sua própria equipe, que via em Webber um piloto para marcar pontos no Mundial de Construtores e não atrapalhar a vida de Vettel, mas o australiano, cada vez melhor com a experiência, quase foi o Nelson Piquet'87 ao vencer o título contra a vontade do seu time.
Nos testes a Red Bull foi a mais consistente, sempre entre os mais rápidos, independentemente do piloto. Já a Ferrari foi que acumulou mais quilometragem, terminando os dias de testes com marcas centenárias de voltas, independentemente dos pilotos. Mas enquanto a Red Bull tem que lhe dar com a briga entre seus pilotos em nome da 'igualdade do esporte', a Ferrari tem bem definido quem é quem na sua dupla de pilotos. Apesar de muita gente torcer desesperadamente em nome da brasilidade, Fernando Alonso é mais piloto do que Felipe Massa e com o apoio que tem dentro da Ferrari, será uma tarefa complicadíssima para Massa superar Alonso como fez com Raikkonen em 2008, quando derrotou como quis o finlandês após esse ter sido campeão no ano anterior. Ao contrário de Raikkonen, Fernando Alonso não foi campeão em seu primeiro ano de Ferrari e está motivadíssimo e paranoico em se tornar tricampeão mundial. Malismos a parte, Alonso é o melhor piloto do grid e para Massa, resta tentar andar no ritmo do espanhol, algo em que já é pressionado de dentro da Ferrari. Na verdade, Massa sempre teve que se provar na Ferrari e sempre passou a impressão que esteve em inferioridade dentro da equipe, qualquer que seja o companheiro de equipe. Será difícil reverter isso.
A McLaren tem em Button e Hamilton dois pilotos fortes e antagônicos. Enquanto um é agressivo, o outro é cerebral. E o melhor, se dão muitíssimo bem. Porém, o novo carro se mostrou problemático, lento e sem confiabilidade nenhuma. Um péssimo indício para uma equipe que já não conta mais com o status de equipe de fábrica, apesar da grandiosidade da história da McLaren. A Mercedes, antiga parceira da McLaren, teve uma pré-temporada irregular, com desempenhos ruins no seu início, mas que melhoraram a tal ponto de Schumacher ter liderado as últimas sessões em Barcelona. Ninguém sabe ao certo qual será a verdadeira cara da Mercedes, mas Schumacher, aos 42 anos, ainda parece ser o parâmetro da equipe, mesmo tendo sido goleado por Rosberg ano passado.
A Renault já começou o ano com uma desvantagem brutal antes mesmo do sinal verde no final do pit-lane em Melbourne. Sem Robert Kubica por toda a temporada por causa do seu acidente de rally, o time francês terá que se conformar com a eterna eficiência de Nick Heidfeld, que de tão rápido e acertador de carros, mas sem nenhum brilho, é o segundo piloto com o maior número de corridas sem vitórias na história da F1. Para um carro bom, mas longe dos líderes, a eficiência de Heidfeld parece ser pouco para um algo a mais na temporada, algo que Kubica tinha, enquanto que de Petrov, a Renault só espera que seus patrocinadores russos paguem em dia o que tem no contrato. E nada mais. Sorte de Bruno Senna, que pode se aproveitar de alguma má fase de Petrov e retornar à F1 num carro decente. O time francês ainda tem que lutar para mudar de nome e assumir o nome Lotus, mas a chata briga com a Lotus de Fernandez ainda não deixou. O time que estrou no ano passado tem tudo para andar numa categoria solitária. Não tem carro para se juntar aos carros de equipes estabelecidas, mas já está um degrau acima de Virgin e Hispania, que permanecem como as piores da F1. A Virgin mostrou seu 'potencial' nos testes espanhois, enquanto a Hispania nem isso e com os pilotos que tem (o ressuscitado Narain Karthikyean e a eterna promessa Vitantonio Liuzzi), a chance do time não terminar o ano é grande. A regra dos 107% voltou e corremos o risco de termos apenas 20 carros no grid, por enquanto.
A Williams segue o destino da verdadeira Lotus de Colin Chapman. Infelizmente. Para quem não se lembra, os momentos finais da Lotus produziram carros com potencial, mas a falta clara de financiamento fazia com que o time caísse de rendimento, com pilotos apenas regulares e promessas. O time de Frank Williams vive esse mesmo drama. O carro parece bom, mas a falta de dinheiro já fica claro quando tem que utilizar os motores Cosworth, os mais fracos da F1. O time está vendendo ações na bolsa de Frankfurt, mas a situação pior é ter que engolir Pastor Maldonado, que mesmo campeão da GP2, só entrou na F1 pelos dólares ditatorias-bolivarianos da PDVSA. A situação do venezuelano é no mínimo estranha. Se antes o título da GP2 era sinal de certeza de um bom piloto, com Maldonado isso não significa muito, com muitos lembrando do dinheiro levado à Williams. Para aumentar as similaridades com a antiga Lotus, a Williams tem um piloto experiente e regular em Rubens Barrichello para tentar melhorar o carro e conseguir alguns pontos quando a oportunidade surgir. Rubinho está numa fase da vida em que apenas se diverte e por isso está meio que absolvido de algumas atuações ruins que, porventura, possa ter. Mas o brasileiro ainda foi o mais rápido num dos dias de testes e superou com facilidade Maldonado, que mesmo estabanado na GP2, mostrava velocidade.
Outra que se salvou pelo dinheiro de patrocinadores trazido por um seu piloto foi a Sauber. O time suíço esteve perto de acabar quando a BMW tirou o time de campo e correu em 2010 sem patrocínios, mas a chegada de Sérgio Pérez foi a certeza de muito dinheiro do bolso de vários patrocinadores mexicanos. Perez tem a mesma sina de Maldonado. O mexicano foi vice-campeão da GP2, mas o farto dinheiro dado à Sauber o fez ser conhecido, talvez injustamente, como piloto-pagante. Kamui Kobayashi tentará se classificar melhor e não ter que fazer suas já famosas ultrapassagens arrojadas que o fez ser tão querido no mundo da F1. A Force India conseguiu se livrar de Liuzzi, mas o grande crescimento visto ano passado corre o risco de se estagnar em 2011. O time perdeu engenheiros e manteve Sutil, que não anda, nem desanca em sua carreira. Para o lugar do italiano, veio Paul di Resta, que tem como principal chamariz ter derrotado Vettel na F3 Européia em 2006. A Toro Rosso andou forte na pré-temporada, mas isso se deve ao chicote que seus pilotos levaram de Helmut Marko. O velho dirigente da Red Bull está louquinho para colocar Daniel Ricciardo, australiano de nome italiano, na F1 e não enxerga mais em Sebastien Buemi e Jaime Alguersuari um possível sucessor de Vettel dentro do programa da Red Bull para jovens pilotos. O medo impera entre os jovens pilotos e ambos terão que brigar entre eles para segurarem seus empregos.
As novidades da F1 são para melhorar as corridas, mas não creio e até acharia bem feito se não funcionasse. Gostei bastante das corridas com poucos pit-stops e descomplicadas do ano passado. As coisas eram resolvidas na pista, com os pilotos tentando ultrapassagens e pressionando o da frente, como era antigamente. Não veremos mais isso. Vamos logo a nos acostumar com pilotos esperando os pit-stops para ultrapassar o da frente. Os pneus Pirelli que se acabam rapidamente, um tremendo contra-ponto estratégico para uma marca que fabrica um produto que tem que durar muito, o Kers, o turbo do século 21, com seu botãozinho mágico para tentar ultrapassar, e essa besteira de asa traseira móvel. Para quem ler F1 antiga, sabe que essas marmotas podem influenciar a segurança dos pilotos. E se essa tal asinha, de tanto ser usada, se quebrar no meio de uma curva?
A F1 inicia 2011 com várias perguntas e as respostas só serão respondidas com o tempo. Melbourne é um ótimo lugar para se fazer corridas e por isso os xiitas fizeram um favor em ajudar a cancelar a prova do Bahrein. Porém, a prova australiana ainda não dirá quem será o favorito para 2011, ainda mais com as equipes ainda se acomodando com as novas regras, mas no final, com uma geração muito forte no grid, o ano tende a ser muito bom. É o que torcemos!
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