domingo, 11 de outubro de 2015

Com a mão na taça

Na luta pela liderança, a corrida de hoje na Rússia lembrou os demais dias de treinos em Sochi: a emoção acabou cedo demais. Nico Rosberg finalmente conseguiu uma largada decente e se manteve na ponta, mas um problema, aparentemente, no acelerador fez com que o alemão abandonasse ainda no início da corrida, entregando a vitória de bandeja para Lewis Hamilton, que se igualou à Sebastian Vettel como terceiro maior vencedor da história da F1, assim como deu um passo decisivo para o seu terceiro título mundial, que já pode ser sacramentado na próxima etapa em Austin. Contudo, atrás do mundo Mercedes, a corrida se mostrou animada e com disputas até o fim. Se o segundo lugar de Vettel não surpreende, o terceiro posto de Sergio Pérez após uma disputa tríplice nas duas últimas voltas com Bottas e Raikkonen foi o ponto alto da corrida.

Para uma temporada marcada por corridas não muito animadas, a prova de hoje em Sochi ficou acima das expectativas, com muita disputa do segundo lugar para baixo por causa da entrada de dois safety-cars ainda antes da volta 15. Quando Grosjean estampou com força sua Lotus no soft-wall no curvão, Lewis Hamilton já tinha a corrida nas mãos. Nico Rosberg fez uma boa largada, se defendeu bem de Hamilton na longa reta até a primeira freada, mas o alemão começou a ter problemas logo após a relargada, reclamando à equipe que seu acelerador não voltava quando tirava o pé. Um problema até mesmo perigoso e a Mercedes foi negligente, pedindo à Rosberg para que ele simplesmente se adaptasse ao problema, mas quando Nico saiu da pista duas vezes consecutivas, o bom senso prevaleceu e o alemão foi aos boxes para abandonar. À essa altura, Hamilton já tinha aberto uma boa vantagem sobre Bottas, que ultrapassara Raikkonen na relargada, e partia para outra corrida de dominação, como havia acontecido em Suzuka. Os únicos sustos de Lewis aconteceram nos extremos da corrida, quando Nico Rosberg desacelerou demais na primeira volta por causa do safety-car e nas últimas voltas, quando apareceu um problema na asa traseira da Mercedes, mas como já faltavam duas voltas, isso não impediu que o inglês vencesse com categoria sua décima corrida em 2015 e só um tsunami de proporções bíblicas pode tirar o tricampeonato de Hamilton. O que se passa com Nico Rosberg aconteceu parecido com Mark Webber nos tempos de dominação da Red Bull. Não bastasse ser mais lento do que o companheiro de equipe, tudo acontece com o carro do alemão. E os abandonos já deixaram Nico Rosberg numa incômoda terceira posição no campeonato, com o também inevitável título de Construtores da Mercedes sendo adiado em algumas semanas. Definitivamente, Nico Rosberg perdeu sua chance de ser campeão em 2014.

Vettel fez uma corrida perfeita em nível estratégico. Após perder a posição para o companheiro de equipe na largada, Vettel tomou a posição de Kimi numa disputa apertada, onde Raikkonen vendeu caro, demonstrando uma animação exacerbada do finlandês, como se veria mais tarde. Mais rápido do que Bottas, Vettel não se abalou quando o piloto da Williams parou nos boxes e ficou na pista o tempo necessário em que Bottas perderia tempo com o tráfego e Seb saiu confortavelmente na frente do finlandês. Sem tempo a perder, Vettel aproveitou os pneus novos para ultrapassar o sempre difícil Sergio Pérez, pois o mexicano não pararia mais. Com Bottas e Raikkonen se estranhando mais atrás, Vettel teve o caminho livre para conseguir mais um segundo lugar e assumir essa posição no campeonato, demonstrando o quão ótima é sua temporada de estreia pela Ferrari. A diferença entre os carros de Mercedes e Ferrari chega a ser gritante em alguns momentos, mas Vettel vai se aproveitando de todas as oportunidades que surgem e já está entre os dois carros prateados na classificação, algo notável pela divisão de forças da F1 atual. O duelo finlandês foi o grande destaque da corrida, com Bottas e Raikkonen andando próximos na maior parte da corrida, com Kimi chegando a ultrapassar o compatriota, mas levando o xis, em determinada ponta da corrida. Era apenas um ensaio. Na última volta, com a Ferrari animando um já animado Raikkonen rumo ao pódio, o finlandês partiu definitivamente para cima do piloto da Williams, quando ambos já haviam ultrapassado Pérez, com pneus desgastados. Porém, Raikkonen tentou uma manobra banzai no mesmo lugar onde havia levado o xis, mas desta vez com consequências para ambos. Enquanto Bottas bateu no muro e soltou alguns piiis pelo rádio, Raikkonen, com a suspensão quebrada, ainda cruzou em quinto, mas a notícia de sua punição não deverá demorar a surgir. Foi o ponto alto da corrida, mas se fosse num país em crise da América do Sul, essa disputa iria dar muito no que falar daqui para frente...

Quem não teve nada com isso foi Sérgio Pérez. O mexicano vem fazendo uma temporada excelente, principalmente quando a Force India estreou seu novo pacote em Silverstone. Tendo como companheiro de equipe o badalado Nico Hulkenberg, vencedor das 24 Horas de Le Mans, Pérez passou a superar o alemão até com alguma frequência e enquanto Nico rodou sozinho na segunda curva da corrida, provocando o primeiro safety-car e ainda tirar Marcus Ericsson da corrida, Pérez manteve sua boa posição no grid e ainda deu o pulo do gato quando o safety-car voltou à pista com o acidente de Grosjean. Ao entrar nos boxes e colocar os pneus macios, o mais duro do final de semana, Pérez indicava que não pararia outra vez e o mexicano era o primeiro do grupo de pilotos que pararam na ocasião. O resultado foi que o piloto da Force India apenas esperou que os pilotos na sua frente parassem para ganhar posições. Ultrapassado por um decidido Vettel, Pérez se manteve na frente de Ricciardo e dos animados finlandeses até que nas últimas voltas, com os pneus bem desgastados, Sergio foi atacado na penúltima volta por Bottas e Raikkonen, mas o mexicano viu de camarote os dois finlandeses baterem e na base da sorte, que sempre premia os competentes, voltou ao terceiro lugar e subiu ao pódio pela segunda vez com a Force India, a primeira em 2015. Pérez vibrou muito com a oportunidade que agarrou e a fase do mexicano já se assemelha com os bons tempos de Sauber, no começo arrebatador da carreira de Pérez. Outro que fez uma corrida de cabeça foi Felipe Massa. O brasileiro teve uma classificação bizarra que o colocou apenas em 15º, mas largou com muito cuidado, sendo um dos poucos que largou com pneus macios, e fez uma corrida inteligente, usando o bom ritmo do seu carro, ultrapassando os carros da Toro Rosso e da McLaren. Com o problema do seu companheiro de equipe e Raikkonen, Massa pulou para um excelente quarto lugar, onze posições à frente de onde largou. Vale ressaltar que a Williams continua sofrendo com seus pit-stops e na estratégia dos seus pilotos, que fez com que Bottas perdesse a posição para Vettel e quase estragou a corrida de Massa.

Nasr fez uma corrida do nível do que fez em Melbourne, onde fez muito mais do que seu carro pode oferecer e se Raikkonen for mesmo punido, o brasiliense pulará para sexto, apenas uma posição abaixo do seu excelente resultado de sua estreia. O piloto da Sauber teve sorte em se livrar do incidente na segunda curva, mas Nasr nunca saiu da zona de pontuação, chegando a correr em segundo quando retardou ao máximo sua única parada, mas antes disso, Nasr segurou sem maiores arroubos seu compatriota Massa, que tinha um carro bem melhor do que seu. Mas ao contrário dos pilotos finlandeses, os brasileiros se comportaram melhor e colheram os resultados no fim. Após decepcionar na classificação, Kvyat conseguiu uma ótima largada e com os problemas dos demais pilotos da Red Bull, foi o melhor do grupo, logo atrás de Nasr. Ricciardo estava na mesma estratégia de Pérez e segurava Bottas e Raikkonen até o fim, quando um problema de suspensão traiu o australiano. Para quem brada aos quatro ventos que tem o melhor chassi da F1, ver um abandono devido à problema de suspensão deve dar um sorriso no canto da boca dos homens da Renault. Carlos Sainz saiu do hospital rumo ao grid e quase marcou pontos, mas um problema no freio tirou o espanhol da corrida, quando estava na zona de pontuação, enquanto Max Verstappen teve sua corrida estragada quando pegou as sobras do acidente de Hulkenberg e Ericsson na primeira volta. Grosjean fazia outra corrida consistente e com boas chances de pontuar, quando rodou estranhamente no curvão e bateu muito forte, trazendo o safety-car que mudou a corrida de muita gente. Maldonado chegou em oitavo, mas o venezuelano não teve um bom ritmo e só ultrapassou as lentas McLarens no final. Como não poderia deixar de ser, Alonso deu uma patada na equipe quando o seu engenheiro lhe disse que estava brigando com Massa. 'Eu adoro seu bom humor', respondeu Alonso, um pouco antes de ser ultrapassado facilmente pelo brasileiro. Contudo, a McLaren se aproveitou dos vários incidentes durante a corrida para pontuar com seus dois pilotos, na mesma volta do líder. Animado com a sua renovação de contrato, Button superou Alonso. A Manor fez o de sempre.

Se em 2014 houve a animada briga entre os pilotos da Mercedes, em 2015 Hamilton vem dominando Rosberg e os constantes problemas que vem afligindo o alemão mina cada vez mais a confiança de Nico, que já perdeu até mesmo o segundo lugar no campeonato. Foi uma corrida animada e cheia de alternativas na Rússia, mas o título já está decidido, só faltando mesmo a matemática confirmar. Com o talento que tem, Lewis Hamilton faz por merecer o título que já está praticamente nas suas habilidosas mãos.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário