segunda-feira, 5 de outubro de 2015

História: 35 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos Leste de 1980

A F1 partia para a sua última corrida de 1980 já pensando em 1981, onde a guerra FISA-FOCA, que chegou a cancelar o Grande Prêmio da Espanha em Jarama daquele ano, poderia esquentar ainda mais. Como sempre, a última corrida de uma temporada significava várias despedidas na F1 e 1980 não foi diferente, como era o caso do próprio palco do Grande Prêmio dos Estados Unidos Leste. O tradicional circuito Watkins Glen chegou a ser a corrida mais valorizada da F1 nos anos 60 e 70, mas a pista cada dia mais antiquada e a recusa dos proprietários em ceder a barganha de Bernie Ecclestone (até porque estavam em crise financeira...), fez com que essa fosse a última prova de F1 em Glen. O então campeão Jody Scheckter já havia anunciado a sua decisão de se aposentar no final de 1980, mas o destino de Emerson Fittipaldi, pelo menos em público, ainda era uma incógnita. No Brasil, onde tudo se faz piada, a pergunta era uma só no final de 1980: Emerson pararia ou não?

A Skol, principal patrocinadora da equipe Fittipaldi, havia sido comprada pela Brahma e uma das primeiras ações da compradora foi retirar a marca Skol da F1, deixando a equipe Fittipaldi em apuros, principalmente para 1981. Essas dificuldades com sua equipe parecia ser demais para Emerson, mas haviam outros 'grilos' na cabeça do bicampeão. Tendo visto o acidente que deixou Clay Regazzoni paralítico bem na sua frente em Long Beach, Emerson se viu como o último resquício de uma F1 bem diferente de 1980. Dez anos e um dia após sua primeira vitória na F1 na própria pista de Watkins Glen (que havia se tornado antiquado para a F1 moderna de 35 anos atrás), Emerson Fittipaldi era o único piloto que largou em 1970 ainda presente no grid dez anos depois. Todos os demais haviam se aposentado ou, algo mais comum, morrido na pista. Junto com a ruína de sua equipe, seu sonho pessoal, Emerson faria sua última corrida de F1 de forma melancólica 35 anos atrás.

O final de semana em Watkins Glen começa tumultuado, com dois acidentes fortes com pilotos franceses logo na sexta-feira, com Laffite perdendo o controle do seu Ligier e depois com Prost sofrendo uma falha de suspensão de seu McLaren. Um pneu chegou a atingir a cabeça de Prost e o francês bateu no hospital com fortes dores de cabeça, mas felizmente nada demais aconteceu com Alain, que, assustado com o terceiro problema de suspensão quebrando em um ano, prometeu nunca mais correr pela McLaren. Três anos mais tarde... A classificação se deu com a grande surpresa do domínio de Bruno Giacomelli e sua Alfa Romeo, que conquistava a primeira pole da equipe italiana desde os anos 50. Voltando aos país onde conseguira sua primeira vitória na F1, Nelson Piquet completaria a primeira fila. A Williams do recém coroado Alan Jones fica logo atrás de Piquet, separadas pela Lotus de Elio de Angelis, na melhor classificação da equipe de Colin Chapman em 1980. 

Grid:
1) Giacomelli (Alfa Romeo) - 1:33.291
2) Piquet (Brabham) - 1:34.080
3) Reutemann (Williams) - 1:34.111
4) De Angelis (Lotus) - 1:34.185
5) Jones (Williams) - 1:34.216
6) Arnoux (Renault) - 1:34.839
7) Pironi (Ligier) - 1:34.971
8) Rebaque (Brabham) - 1:35.166
9) Watson (McLaren) - 1:35.202
10) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:35.235


O dia 5 de outubro de 1980 amanheceu nublado em Watkins Glen, até mesmo com ameaça de chuva durante o dia, mas tudo ficou na ameaça mesmo e apesar do tempo bastante nublado, a corrida aconteceria com piso seco. Bruno Giacomelli havia se mostrado um piloto um pouco afobado demais durante o ano, mas largando na pole, o pequeno italiano se mantém na ponta como se fosse um veterano. Talvez animado demais com seu primeiro título, Alan Jones larga muito bem e chega a assumir a segunda posição, mas o australiano acaba indo para fora da pista na curva um e cai para 12º, o mesmo ocorrendo com Arnoux e De Cesaris. Piquet e Reutemann mantém suas posições, enquanto Giacomelli já começava a disparar na ponta.


Andrea de Cesaris começava a sua 'tradição' na F1 logo em suas primeiras corridas na categoria, quando bate na traseira de Derek Daly, enquanto tentava se recuperar de sua má largada, e o italiano é o primeiro abandono do dia ainda na segunda volta, enquanto Alan Jones, bem mais experiente do que De Cesaris, além de ter em mãos o melhor carro de 1980, inicia uma espetacular corrida de recuperação. Enquanto Giacomelli abria 5s de Piquet, o brasileiro controlava bem a aproximação de Reutemann, que tinham uma boa vantagem sobre Pironi e De Angelis. Imprimindo um ritmo fortíssimo, Jones ultrapassa a McLaren de Watson na volta 11 e já aparecia na zona de pontuação, se aproximando da briga entre Pironi e De Angelis. Na volta 16 Emerson Fittipaldi tem a suspensão quebrada e abandona a corrida. Era a última vez que a F1 veria o bicampeão dentro da pista...

Enquanto Giacomelli duplica para 10s sua vantagem sobre Nelson Piquet, Alan Jones era o piloto mais rápido da pista e ultrapassa Elio de Angelis na volta 23, imediatamente encostando em Didier Pironi. Nelson Piquet havia largado com pneus duros na esperança de ter melhores pneus no final da corrida, mas com o tempo muito frio, o brasileiro não conseguiu aumentar a temperatura dos seus pneus e seu ritmo não era bom, deixando Carlos Reutemann cada vez mais ameaçador. Tentando se manter na frente do argentino, mesmo com um carro sem aderência, Piquet acaba saindo da pista e permite a Reutemann assumir o segundo posto. Nelson ainda volta à pista, mas quando chega aos boxes, os mecânicos da Brabham percebem que a saia lateral do carro do brasileiro estava quebrada e Piquet abandona na última corrida de sua primeira temporada competitiva na F1. O brasileiro seria um piloto de ponta nos próximas dez anos na F1! Jones pressionava Pironi, mas o francês, mesmo com um carro nitidamente inferior, se segurava na terceira posição. Até Pironi encontrar Marc Surer como retardatário e Jones aproveitar uma indecisão do francês da Ligier para assumir o terceiro posto e, sendo o mais rápido na pista trinta e cinco anos atrás, partir para cima de Reutemann.

Bruno Giacomelli fazia uma corrida perfeita e tinha 12s de vantagem sobre a dupla da Williams, que nesse momento da prova brigavam pela segunda posição. No começo de 1980, Patrick Depailler havia declarado que a Alfa Romeo ainda venceria uma corrida naquele ano. Todos riram do francês, que morreu tentando melhorar o carro italiano. Muito amigo de Depailler, Giacomelli com certeza corria lembrando dessa afirmação e tinha tudo para confirmar o que havia dito o francês. Porém, na volta 31, pouco depois da metade da prova, Giacomelli encostou seu Alfa Romeo na grama com problemas de ignição. Giacomelli ficou inconsolável. Tinha sido sua melhor chance de vencer na F1 e o tempo mostrou que seria a última também. A corrida caía no colo de Alan Jones. Sim, de Jones. O australiano havia derrotado seu companheiro de equipe numa briga encarniçada pela ponta, mas Jones acabaria por bater Reutemann, numa situação que pioraria bastante na temporada seguinte. A Williams dominava a corrida, da mesma forma como havia dominado a temporada, com Jones abrindo imediatamente 3s sobre Reutemann, que tinha mais de 10s de vantagem sobre Pironi. O ritmo de Jones era tão forte, que ele marca a volta mais rápida da prova com um tempo melhor do que a pole! O recado tinha sido dado. Frank Williams pede para que Jones diminua o ritmo e o australiano recebe a quadriculada com poucos mais de 4s sobre Reutemann. De forma simbólica, o próximo a receber a bandeirada é Jody Scheckter, campeão em 1979, mas três voltas atrás do líder. Reutemann completa a segunda dobradinha seguida da Williams, com Pironi completando o pódio em sua última corrida pela Ligier. Numa temporada terrível, Mario Andretti salva seu único ponto de 1980 após ultrapassar Arnoux nas últimas voltas. Nos boxes, Scheckter, apesar de outra corrida medíocre, é recebido com champanhe pela Ferrari. Ele promete nunca mais correr numa pista perigosa como Watkins Glen. Muitos esquecem de colocar Alan Jones entre os grandes da F1, mesmo campeão em 1980, mas essa corrida em Glen mostrava bem o arrojo e a tenacidade desse australiano, que mesmo não tendo uma pilotagem tão refinada, venceu pela sexta vez em 1980 e entrava na história da F1.

Chegada:
1) Jones
2) Reutemann
3) Pironi
4) De Angelis
5) Laffite
6) Andretti 

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