Há dez anos atrás, o Grande Prêmio da China de 2005 marcava o fim de uma campeonato marcante e surpreendente. Mesmo com carros muito rápidos, donos de vários recordes de pista até hoje, 2004 foi uma temporada esquecível em termos de emoção e parecia que o domínio Schumacher-Ferrari nunca teria fim. Porém, bastou uma mudança no regulamento técnico para que tudo mudasse em meses. A proibição da troca de pneus programadas durante a corridas atingiu em cheio a estratégia da Ferrari não apenas nas corridas, mas na concepção do carro. Desde 1998 era conhecido as táticas orquestradas por Ross Brawn para que Schumacher ganhasse posições ou simplesmente tempo sob os adversários usando apenas o talento do alemão em algumas poucas voltas. Com os pilotos tendo que cuidar mais dos pneus, que teria que durar uma corrida inteira, essa estratégia de forçar em determinados momentos não teria a mesma eficácia para Ferrari e Schumacher.
Como a Bridgestone só tinha a Ferrari, a Michelin soube capitalizar a fraqueza da rival e dominou em 2005. Fernando Alonso se mostrou um piloto muito regular, mas não restavam dúvidas que o conjunto mais forte de dez anos atrás era a McLaren-Mercedes de Kimi Raikkonen. Após disputar o título em 2003 e sofrer em 2004, Kimi veio muito forte em 2005 e mesmo a McLaren demorando a acertar seu novo carro, Raikkonen se tornou rapidamente o piloto mais rápido em 2005, superando Juan Pablo Montoya, que veio à peso de ouro da Williams. Era bastante esperado o duelo entre o gelado Raikkonen e o fogoso Montoya, mas Kimi sobrepujou o colombiano com até alguma facilidade, enquanto JP perdia cada vez mais motivação no mesmo ritmo em que ganhava peso. Raikkonen venceu muitas corridas em 2005, mas a péssima confiabilidade da parceria McLaren-Mercedes marcou aquele ano e Alonso soube conduzir o campeonato de forma esplêndida. Quando tinha carro para vencer, como na China, ia lá e vencia. Quando Raikkonen disparava na frente, Alonso marcava o maior número de pontos possíveis ou esperava a quebra da McLaren. Essa temporada cerebral criou a sensação de que Raikkonen teria merecido mais o título. Contudo, o campeão, o mais jovem da história até então, se chamava Fernando Alonso e o espanhol mostrou todo o seu talento com uma atuação sublime em Suzuka, numa vitória antológica de Raikkonen. Parecia que os dois seriam os grandes dominadores nos próximos anos. Parecia.
Nas categorias de base, um alemão e um inglês começavam a se destacar. Protegido pela Red Bull desde os 14 anos, Sebastian Vettel havia conquistado o título de novato do ano na F3 Europeia e testou um carro da Williams, devido ao título da F-BMW em 2004. Nessa mesma temporada, Vettel se encontrou pela primeira vez com Lewis Hamilton, outro piloto protegido por uma equipe de F1 desde a tenra idade, no caso a McLaren. Dois anos mais velho do que Vettel, Hamilton dominou a F3 Europeia em 2005 com 15 vitórias em 20 corridas, cimentando sua escalada rumo à F1. Junto com Alonso e Raikkonen, Vettel e Hamilton se tornariam as grandes estrelas da F1 nos anos seguintes, até mesmo superando Fernando e Kimi, vencedores dos títulos de 2006 e 2007, mas sem triunfos desde então.
O grid de 2005 viu pela última vez duas equipes simpáticas, mas em franca decadência no momento. A Minardi saía de cena em sua costumeira última fila rumo à asas da Red Bull para se tornar a Toro Rosso, criadouro da equipe e que serviu de trampolim para Sebastian Vettel na F1. A outrora quase-grande Jordan também sairia de cena com seus famosos carros amarelos e seria comprada e recomprada até ser a Force India de hoje. Enquanto que para os brasileiros, Rubens Barrichello se despedia de uma relação conturbada de seis anos com a Ferrari e era substituído pelo compatriota Felipe Massa, que ficaria ainda mais tempo na scuderia. O que ambos tem em comum? Terem batido na trave várias vezes, enfurecendo os menos entendidos em suas carreiras honestas da F1. Michael Schumacher sentia o gosto da derrota pela primeira vez em muitos anos, mas o alemão ainda salvou um terceiro lugar no Mundial de Pilotos e uma vitória. O alemão, adorado e odiado por muitos, viria com muita força em 2006, em seu último sopro de competitividade antes de sair da F1. Pela primeira vez.
Enfim, 2005 foi o início de uma nova era na F1, uma mudança de guarda importante no quesito pilotos, mas até a estreia de Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, as estrelas seriam Fernando Alonso e Kimi Raikkonen.
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