Big One. Essas duas palavrinhas vindas dos Estados Unidos tem alguns significados. Muitas vezes se utiliza quando algo grande acontece, sendo que nas corridas também significa um grande acidente, principalmente na Nascar. Na prova de hoje em Budapeste aconteceu dessa expressão se misturar num só motivo. Primeiramente pela enorme carambola provocada por Bottas e Stroll, ambos já punidos justamente. A segunda para a gigantesca corrida que aconteceu logo depois, cheio de reviravoltas, lances inusitados e pilotagens épicas em todo o pelotão, terminando com um vitorioso inusitado. Esteban Ocon ganhou sua primeira corrida na F1 tendo que segurar toda a prova Sebastian Vettel nos seus retrovisores, porém, não foi apenas esses dois que se sobressaíram hoje. Hamilton, Alonso, Verstappen, Williams... não faltaram destaques positivos na corrida magiar dessa manhã.
Nos últimos dias se falou em chuva no final de semana húngaro, lembrando um pouco o que aconteceu na Áustria, sendo que os austríacos erraram feio. Quando tudo levava a crer que os meteorologistas húngaros seguiriam seus companheiros do país vizinho, o domingo amanheceu chovendo em Budapeste e quando a pista já estava seca, a chuva voltou a dar as caras bem no momento em que os carros estavam no grid. A pista estava úmida e todos os carros estavam calçados com pneus intermediários quando as cinco luzes vermelhas apagaram, com Hamilton se mantendo na ponta e Bottas fazendo uma péssima saída. Porém, tudo pioraria para Valtteri metros depois. Quando Lando Norris se colocou bem à sua frente na freada da primeira curva, Bottas acertou a traseira da McLaren começando uma reação em cadeia com grandes repercussões na corrida e no campeonato. Sem controle, ambos os carros atingiram os dois carros da Red Bull, enquanto mais atrás Stroll tinha uma pane mental igual a de Bottas e atingiu bem no meio a Ferrari de Leclerc, levando o monegasco a bater em Ricciardo. Quando Hamilton olhou no retrovisor ele devia não acreditar. Ao invés de ter Bottas ou alguém da Red Bull, em segundo vinha Esteban Ocon e logo atrás Vettel. Porém, de forma bastante discutível, a bandeira vermelha apareceu, ajudando sobremaneira Max Verstappen, que tinha sérios danos no seu carro. O mundo inteiro apontou o dedo para Valtteri Bottas, sem contar alguns sem noção clamando por uma ação orquestrada de Bottas para ajudar Hamilton, eliminando os dois pilotos da Red Bull de propósito. Devem ser os mesmos que juram ter provas que a eleição de 2014 foi fraudada...
Arautos da teoria da conspiração à parte, o erro grosseiro de Valtteri Bottas foi um duro golpe à renovação (ou não) do finlandês com a Mercedes, até porque a equipe se encarregaria de estragar o 'grande plano' mais tarde. Já o caso de Stroll é a confirmação de que mesmo evoluindo, o jovem canadense tem flagrantes limitações e só está na F1 graças ao tamanho da carteira do papai.
Enquanto a bandeira vermelha se prolongava de forma ainda mais discutível, dando tempo para a Red Bull tentar deixar o carro de Verstappen em condições de pelo menos largar, o sol dava aparecia em Budapeste e quando a corrida se reiniciou, um fato bizarro aconteceu, sem contar o erro tão bizarro quanto da Mercedes. Quando os pilotos davam uma volta atrás do SC antes da largada, perceberam que a pista já estava suficientemente seca para colocar pneus slicks, fazendo com que quase todos procurassem os boxes ao invés de procurarem seus lugares no grid. Quase todos porque por algum motivo a Mercedes deixou Hamilton sozinho no grid, nos apresentando uma cena inusitada, pois Lewis era o único no grid quando a largada foi dada, enquanto os demais piloto se espremiam na saída do pit-lane, com Ocon à frente de Vettel. A tática horrivelmente escolhida pela Mercedes ficou rapidamente clara como a errada e quando Hamilton foi aos boxes no final da volta, ele saiu dos pits em último. Com menos de três voltas completadas, haviam seis abandonos e o pelotão todo misturado, com a Latifi em terceiro, seguido por Tsunoda e Sainz, com toda a corrida ainda por vir.
Ficava nítido que a dificuldade de ultrapassagem da pista castigaria os pilotos, algo que sempre aconteceu em Hungaroring. Vettel tinha um carro mais rápido, mas Ocon se mantinha em primeiro sem maiores arroubos. Hamilton tinha o carro nitidamente mais rápido da pista, mas ele também não podia escalar como imaginava. Verstappen estava com o carro todo empenado e claramente não podia fazer muita coisa na corrida, a não ser diminuir os danos. Por sinal, a Mercedes diminuiu os danos de Hamilton ao trocar sua estratégia e trazê-lo mais cedo para os pits, fazendo-o ganhar terreno e poder atacar quem via pela frente. Hungaroring sempre foi um circuito de difíceis ultrapassagens, mas Hamilton fez várias, até encontrar um tal de Fernando Alonso.
Mesmo com o companheiro de equipe liderando a corrida e a ponto de dar a primeira vitória da equipe desde os tempos do próprio Alonso na Renault, o espanhol fez uma corrida maravilhosa e foi um dos destaques. Fernando foi o último a parar e estava em quinto, se aproximando da briga entre Sainz e Hamilton pelo pódio. Novamente a Mercedes se redimiu da caca feita na segunda largada e colocou pneus médios em Hamilton para as últimas voltas. Com pneus mais novos, inicialmente Alonso atacou seu compatriota Sainz, mas não demorou muito a sofrer um ataque feroz de Hamilton. Foi o ponto alto da corrida! Recém-completando 40 anos, Alonso deu um verdadeiro show de defesa de posição, enervando Hamilton a ponto de reclamar das espremidas em alta velocidade recebidas. Quem te viu, quem te vê Lewis... Hamilton só ultrapassou Alonso quando faltavam doze voltas para o fim e por um erro do piloto da Alpine, mas o espanhol já tinha feito seu trabalho para a equipe. Com a velocidade que Hamilton vinha com pneus médios novos, se Lewis ultrapassasse rapidamente Alonso, ele provavelmente chegaria na briga pela vitória. Lewis não teve trabalho algum para deixar Sainz para trás e na bandeirada estava pouco mais de 1s atrás de Vettel, numa remontada incrível do inglês da Mercedes. Foi a incrível defesa de Alonso que segurou a vitória de Esteban Ocon. Em meio a tantos pilotos ricos na F1 atual, talvez Ocon seja o piloto com origem mais humilde do grid. Ele chegou a viver num trailer com os pais e trabalhou no McDonald's para ajudar a família. Dono de grande talento, Ocon foi descoberto por Toto Wolff e passou vários anos sob as asas da Mercedes, mas acabou sem espaço e por muito pouco Esteban ficou fora da F1. Resgatado pela Alpine, Ocon sempre foi considerado da mesma estirpe de Leclerc, Gasly, Russell, Norris e, por que não, Verstappen. O francês assumiu a ponta no erro da Mercedes, mas não errou em nenhum momento tendo um tetracampeão logo atrás de si, conseguindo a sua primeira vitória na F1 ao natural, como se fosse um grande costume de Esteban vencer naquele palco.
Vettel tentou a corrida inteira, pressionou como pôde Ocon tentando achar uma brecha, mas o segundo lugar do alemão não deixa de ser uma ressurreição após anos tão complicados dentro da Ferrari. Sainz simplesmente não foi páreo para Hamilton, demonstrando a diferença que ainda há entre ele e o compatriota Alonso. Leclerc reclamou demais da presepada de Stroll que o deixou de fora da primeira volta, assim como Pérez. Verstappen poderia ser mais um abandono na primeira volta, mas o neerlandês ainda conseguiu completar a corrida e mesmo com o carro totalmente danificado, ainda marcou um pontinho. Um grande feito de Max, mas a liderança do campeonato foi perdida. Norris ainda tentou largar, mas ficou claro para a McLaren que os danos eram deveras extensos e o inglês ficou pelo caminho, seu primeiro abandono depois de quinze corridas consecutivas nos pontos. A esperança da McLaren ficou nas mãos de Daniel Ricciardo, mas infelizmente o australiano está numa má fase em que ele não consegue sair. Mesmo com o Red Bull todo danificado, Ricciardo não foi capaz de segurar Verstappen e ainda foi ultrapassado pela Alfa de Raikkonen, deixando Daniel fora dos pontos. Falando em pontos, a Williams se aproveitou dos problemas dos outros para pontuar com seus dois carros, com o destaque ficando dessa vez para Latifi, com chegou a correr em terceiro e terminou na frente do badalado George Russell, que chorou após a corrida. A Alpha Tauri marcou bons pontos com seus dois carros, enquanto a Alfa Romeo viu seus dois pilotos serem punidos em 10s e com o avanço da Williams, os italianos estão na frente apenas da Haas no Mundial de Construtores. Mazepin abandonou por um erro da Alfa, que soltou Giovinazzi em cima do russo, mas a equipe americana teve o que comemorar, pois Mick Schumacher apareceu várias vezes na TV em brigas com carros mais rápidos, sendo que o alemão andou várias voltas entre os dez primeiros.
No fim das contas, a briga pelo título ficou em segundo plano de uma corrida incrível e daquelas inesquecíveis. Mesmo perdendo a liderança para Hamilton, a situação de Verstappen poderia estar muito pior se o inglês vencesse, mas a Mercedes errou feio em Budapeste. O pior erro, porém, foi de Bottas e não seria impossível Russell ser anunciado nos próximos dias após tamanha presepada. Porém, a barbeiragem de Bottas permitiu à Alpine vencer pela primeira vez e desde 1983 não se via uma vitória com piloto, carro e motor francês. Para melhorar, a Alpine ainda contou com a luxuosa ajuda de Alonso para permitir que Esteban Ocon colocasse em seu currículo uma vitória na F1. Um Big One na largada e um Big One de uma ótima corrida de um ótimo campeonato.
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