quarta-feira, 25 de agosto de 2021

História: 30 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1991

 


No dia 13 de agosto de 1991, Bertrand Gachot foi intimado pelo tribunal de Southwark, em Londres, sobre uma agressão a um taxista londrino no ano anterior. Para o belga, que fazia uma boa temporada pela Jordan, provavelmente tudo aquilo resultaria numa sentença leve em suspenso. Porém, Gachot se viu numa enrascada gigantesca quando chegou ao tribunal e viu o forte sindicato dos taxistas fazendo um piquete na frente do tribunal exigindo uma pena 'exemplar'. Gachot foi interrogado, antes de ir para o júri e o resultado foi chocante: uma multa de 500 libras e prisão de 18 meses na prisão de Brixton, uma das mais perigosas da Inglaterra. O pai de Gachot fez de tudo para livrar a cara do filho, mas enquanto recorriam, Gachot foi mandado para a prisão. Eddie Jordan defendeu seu piloto, mas por outro lado, precisava de um piloto para correr na quinzena seguinte em Spa. Ele pensou em Stefan Johansson, que havia corrido de forma interina em Montreal na Arrows, e Alessandro Zanardi, líder da F3000. Além desses, Jordan estabeleceu contato com Jochen Neerpasch, diretor de competição da Mercedes, que lhe ofereceu um jovem piloto alemão de 22 anos, que havia sido campeão da F3 Alemã em 1990 e vencido a famosa corrida em Macau. Michael Schumacher se apresentou num teste em Silverstone e deixou todos embasbacados, fazendo Jordan lhe oferecer um contrato longo, mas orientado pelo seu empresário Willi Weber, Schumacher conseguiu enrolar Jordan, que lhe perguntou se o alemão já havia corrido em Spa. Michael respondeu que sim. O problema foi que a pergunta do velho Eddie havia sido incompleta, pois Schumacher só havia corrido na famosa pista belga de bicicleta...


Como era de se esperar, houveram muitas manifestação contra a prisão de Gachot quando a F1 chegou em Spa, corrida caseira do piloto da Jordan. A namorada de Gachot mandou fazer várias camisas 'Gachot Why?' e praticamente todos os pilotos usaram-na no final de semana. A Honda trazia um novo motor para a McLaren que traria um aumento de potência em altos giros, porém, Ayrton Senna já sentia que o melhor momento da McLaren estava passando, cedendo lugar para a Williams, que pela infelicidade do brasileiro, renovou os contratos de Mansell e Patrese para 1992. Recém-completados 39 anos, Nelson Piquet ainda negociava para permanecer na F1 e após pedir sete milhões de dólares à Briatore, Piquet viu o dirigente da Benetton se negar e tentou um lugar na Ligier, na esperança de ter os motores Renault na temporada seguinte. 

Senna costumava ser um mestre em Spa e o brasileiro comprovou sua reputação com sua 58º pole no circuito belga. Patrese conseguiu a segunda posição no sábado, mas foi desclassificado após uma inspeção técnica perceber que a Williams de Patrese não tinha a marcha ré funcionando. Este fora um erro grave da parte dos mecânicos e Frank Williams pediu desculpas ao piloto italiano, que largaria em décimo sétimo com seu tempo na sexta-feira. Prost ainda ficaria com um lugar na primeira fila, Berger era quarto após quebrar dois motores, com Mansell em terceiro reclamando bastante do seu Williams. A grande surpresa veio do estreante. Schumacher ficou com o quinto tempo mais rápido na sexta-feira, à frente de seu companheiro de equipe De Cesaris por quase um segundo. No sábado Michael se envolveu num incidente com Prost e jogou a culpa no veterano, mostrando uma grande personalidade. No sábado Schumacher ficou em sétimo, metendo sete décimos no experimentado De Cesaris. Era Michael Schumacher chegando com tudo!

Grid:

1) Senna (McLaren) - 1:47.811

2) Prost (Ferrari) - 1:48.821

3) Mansell (Williams) - 1:48.828

4) Berger (McLaren) - 1:49.485

5) Alesi (Ferrari) - 1:49.974

6) Piquet (Benetton) - 1:50.540

7) Schumacher (Jordan) - 1:51.212

8) Moreno (Benetton) - 1:51.283

9) Martini (Minardi) - 1:51.299

10) Modena (Tyrrell) - 1:51.307


O dia 25 de agosto de 1991 amanheceu com sol e bom tempo, algo raro na floresta das Ardenhas. Mostrando toda a sua frustração, os fãs de Gachot fizeram várias pichações no asfalto de Spa, o que poderia atrapalhar em caso de pista molhada, mas não seria o caso. Após dois dias difíceis, a Williams apareceu muito forte no domingo e fizeram os melhores tempos no warm-up, se mostrando como reais desafiantes na corrida, que começou sem maiores problemas na sempre difícil largada em Spa. Schumacher fritou pneus na freada da curva, saiu da La Source em quinto, mas na subida da Eau Rouge, o alemão tirou o pé com problemas. A embreagem tinha explodido, mas Schumacher havia dado seu recado à F1. Uma nova estrela estava chegando!


Com o carro mais acertado, Mansell rapidamente ataca Prost para ficar com a segunda posição e logo tenta uma aproximação em cima de Senna. Contudo, a corrida de Prost seria muito breve, pois na terceira vez em que saiu da La Source, o motor Ferrari explodiu e Prost teve que encostar com um pequeno incêndio atrás de si. Alain saiu uma fera, deteriorando ainda mais seu relacionamento com a Ferrari. Piquet assumia a terceira posição, mas já vinha 5s atrás dos dois líderes e segurando Berger, a quem Nelson ultrapassara na primeira volta. Mesmo com o novo motor Honda, a McLaren estavam lentas nas retas, mas Senna resistia bravamente aos ataques de Mansell, enquanto Berger não conseguia ultrapassar Piquet. Já Patrese fazia uma ótima corrida de recuperação e se aproximava da zona de pontuação com menos de dez voltas de prova. Senna faz sua única parada na volta 15, que fora mais lenta devido a uma roda dianteira presa, fazendo o brasileiro da McLaren voltar no meio de uma briga entre Patrese e De Cesaris. Andrea se livra de Patrese e ataca Senna, fazendo-o perder ainda mais tempo para Mansell, que faz uma volta muito rápida antes de parar duas voltas depois de Senna, retornando na frente do brasileiro. Hoje chamamos isso de undercut. 


Berger faz sua parada na volta 18 e novamente a McLaren se atrapalhou, perdendo 16s na operação e para piorar, o austríaco ainda sai da pista quando retornou à corrida. Alesi havia escolhido largar com pneus duros e tentaria não parar, com isso, o francês estava em segundo, entre Mansell e Senna, mas Alesi não era atacado por Ayrton, que por sua vez tinha um impressionante De Cesaris nos seus retrovisores, antes do italiano da Jordan fazer seu pit-stop. Mansell tentava abrir vantagem, mas tudo acabou em frustração ao inglês quando ele abandonou na volta 22 com um problema elétrico. Outro golpe duro na tentativa de Mansell em brigar com Senna pelo título, mas o brasileiro ainda não liderava a prova, ponteada por Alesi na metade da prova. O terceiro colocado Piquet começou a ter problemas de desgaste de pneus e era alcançado pela dupla italiana Patrese e De Cesaris, enquanto Berger marcava a volta mais rápida da corrida em sua tentativa de recuperação. Na volta 27 Senna perde desempenho rapidamente quando erra uma marcha, o que se mostraria dramático. Senna se recupera, mas teria dois problemas. O primeiro era que o trio liderado por Piquet se aproximou de forma ameaçadora dele. E a segunda era que o câmbio da McLaren estava danificado com o raro erro de Ayrton, que teria que administrar seu câmbio com um terço de corrida pela frente. Patrese tentou ultrapassar Piquet, mas acabou saindo da pista, perdendo posição para De Cesaris. 


Parecia que aquele dia era mesmo de Alesi, que liderava tranquilo e com pneus ainda em ordem, porém, quando o francês saía da Eau Rouge na volta 31, o motor Ferrari explodiu, destruindo os sonhos da primeira vitória de Alesi, que saiu do carro arrasado. Senna reassumia a ponta, mas teria no seu encalço um Andrea de Cesaris em dia inspirado, após o romano ultrapassar Piquet. Como num conto de fadas, Andrea partiu para cima de Senna, enquanto Berger se aproximava de Piquet e Patrese, fazendo o italiano da Williams ultrapassar o brasileiro, sofrendo com seus pneus. Berger ultrapassa Piquet e começou a pressionar Patrese, que via seus freios piorarem a cada volta. Senna tinha mais intimidade com os retardatários e abre 5s para De Cesaris, mas o sonho do piloto da Jordan se transforma em fumaça na volta 41, em um dos abandonos mais tristes da F1 nos anos 1990 com o motor quebrado da Jordan de Andrea. Patrese passou a ter problemas de câmbio e foi seguidamente ultrapassado por Berger e Piquet. Ayrton Senna conquistava a sexta vitória em 1991 e a quarta consecutiva em Spa-Francorchamps. O ritmo de Berger era tão forte que ele chegou colado em Senna, numa alegre dobradinha da McLaren, com Piquet fechando o pódio. Pela última vez, Senna e Piquet compartilharam um pódio e a tensão entre eles ainda era grande, com os dois brasileiros se evitando no pódio. Roberto Moreno tinha feito uma parada extra, fez a melhor volta da corrida e ainda conseguiu ultrapassar Patrese na última volta, chegando em quarto lugar. Com isso, haviam três brasileiros entre os quatro primeiros. Eram outros tempos! Tinha sido a melhor corrida de Roberto em 1991, mas como se veria nas próximas semanas, isso não adiantaria muito...

Depois da corrida Senna confessaria que seu câmbio estava quebrado e não duraria mais nenhuma volta. Uma vitória de sorte. Ou não? "Justiça foi feita para mim! Esse sucesso compensa meus abandonos em Silverstone e Hockenheim!" 

Chegada:

1) Senna

2) Berger

3) Piquet

4) Moreno

5) Patrese

6) Blundell 

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