Se havia um lugar que todos esperavam que a Red Bull fosse derrotada, era em Monza. Mesmo o motor Red Bull/Honda debitando muita potência, o circuito relativamente simples e de pouca dependência aerodinâmica poderia diminuir a maciça diferença dos austríacos frente aos demais. A pole da Ferrari no sábado deu até ligeiras esperanças de que a dupla Sainz e Leclerc repetisse o feito de 1988, mas tudo não passou de um sonho de verão na idílica Itália. Porém, não podemos dizer que Verstappen ligou o rádio na primeira FM que apareceu e fez mais um 'Sunday Drive' nesse domingo. O pole Sainz deu bastante trabalho à Max nas primeira quinze voltas, não facilitando a vida do neerlandês, que esperou pacientemente que Sainz errasse, muito por causa dos pneus, e Max conquistasse sua décima vitória consecutiva na F1, quebrando mais um recorde no que já podemos dizer ser a hegemonia mais massacrante da história da F1 de um conjunto carro-piloto.
O sol apareceu com força em Monza nesse domingo, ao mesmo tempo que dava um banho de água gelada nos tifosi. Por melhor que estivesse bem posicionado, Sainz sabia que seus pneus teriam ainda mais dificuldades no calor, deixando a vida de Max Verstappen ainda mais tranquila, bastando o neerlandês usar a cabeça. A largada em Monza foi tranquila, talvez ainda resquícios do que acontecera na MotoGP uma hora antes, com praticamente todos os pilotos se comportando e mantendo suas posições. Com Russell mantendo Pérez em quinto, os três primeiros rapidamente se destacaram, com o trio Sainz, Verstappen e Leclerc andando bem juntos. Era nítido como quatro dividido por dois é dois que a ultrapassagem de Max era questão de tempo, mas Verstappen teve que usar algo que ele não gosta muito: a paciência. Agressivo por natureza, Verstappen não demorou a ir para cima de Sainz com toda a força do seu Red Bull, mas Sainz não entregou a rapadura facilmente, enquanto Leclerc apenas observava de perto, talvez esperando que um entrevero entre os dois lhe entregasse uma vitória no colo. Os pneus de Carlos iam ficando cada vez mais desgastados e Max esperou um erro de Sainz na freada da primeira chicane para que o espanhol saísse menos embalado e Verstappen ficasse por fora no Curvone, mas por dentro da chicane Della Roggia. Simples e cirúrgico. Max efetuou a ultrapassagem e não demorou três voltas para ter mais do que suficientes 3s para administrar a corrida até a bandeirada.
Contudo, a corrida estava longe de estar terminada atrás de Max. Leclerc se aproveitou do desgaste maior que Carlos teve que colocar em seus pneus e partiu para cima do seu companheiro de equipe, até porque Pérez já havia ultrapassado Russell e se aproximava das duas Ferraris. Numa corrida com os dez primeiros colocados parando apenas uma vez, a estratégia não fez muita diferença e no longo segundo stint a Ferrari teria que enfrentar outra Red Bull, mesmo que sendo a mais fraca. Pérez capinou bem mais do que Max, que só teve que ultrapassar uma Ferrari, mas o mexicano fez dele o que se espera. Pérez forçou tudo, saiu da pista algumas vezes, choramingou via rádio, mas efetuou as duas ultrapassagens que renderam mais uma dobradinha à Red Bull, continuando a já inacreditável sequência da equipe austríaca, com vinte e quatro vitórias nas últimas vinte e cinco corridas, sem contar que 2023 o time permanece invicto, com Verstappen contabilizando impressionantes doze vitórias, sendo dez consecutivas, quebrando o recorde do outro dominador da equipe, Sebastian Vettel. Se em Monza a Red Bull fez dobradinha, o que poderá para-los?
Leclerc ainda tentou uma segunda pressão em cima do seu companheiro de equipe, chegando a efetuar a ultrapassagem, mas ao errar, o monegasco tomou o troco. Nas últimas voltas Frederec Vasseur respirou fundo, temendo um vexame dos seus dois pilotos em Monza, mas no final Sainz conseguiu segurar o ímpeto de Leclerc e numa corrida onde olhou mais para o retrovisor do que para frente, o espanhol garantiu o primeiro pódio do ano. Russell fez uma corrida solitária após ser ultrapassado por Pérez, mesmo que colocando Ocon para fora ao sair dos boxes, a prova do inglês foi bem tranquila. Já Hamilton tentou uma tática diferente ao largar com pneus duros e fazer um primeiro stint mais longo, provavelmente tentando colocar pneus macios no final, mas ao perceber que estava perdendo muito tempo, a Mercedes antecipou a parada e colocou a borracha médio no carro do Lewis, que como não poderia deixar de ser, reclamou da estratégia escolhida pela equipe. Se não for blefe, a visão de corrida de Hamilton chega a ser pífia, pois o heptacampeão tinha um ótimo rimo no stint final, inclusive escapando de uma punição num toque com Piastri, onde os dois saíram da pista, mas o australiano da McLaren acabou se dando mal ao quebrar a asa traseira. Hamilton ainda superou a Williams de Albon e sua temida velocidade final para ser sexto, mesmo que bem longe de Russell. Albon ficou claramente sem pneus nas voltas finais e foi bastante atacado, mas o tailandês só perdeu uma posição para Hamilton, segurando a sétima posição dos ataques de Norris, que teve que se conformar com a oitava posição.
Num final de semana bem ruim da Aston Martin, Alonso ficou num opaco nono lugar, enquanto Stroll sequer se aproximou da zona de pontuação. Quando Piastri foi aos boxes trocar a asa dianteira danificada, Logan Sargeant entrou na zona de pontos, o que poderia acabar com o jejum do americano, contudo, Logan já tinha Bottas nos seus calcanhares e ele não resistiu ao ataque da Alfa Romeo, que terminou nos pontos, após longo jejum. Após um pódio em Zandvoort, a Alpine esteve em lugar nenhum em todo o final de semana italiano e ainda viu Ocon ser o segundo abandono do dia, se juntando à Tsunoda, que encostou seu Alpha Tauri ainda na volta de apresentação com o motor quebrado, atrasando um pouco a largada.
Mesmo tendo um pouco mais de trabalho nesse domingo, Max Verstappen não deixou de vencer mais uma corrida em 2023, quebrando mais um recorde, enchendo as mãos de vitórias e sua recente forma nada indica que o neerlandês parará na décima vitória consecutiva. A Red Bull tem o melhor carro disparado e mesmo fazendo uma temporada mezzo mezzo Pérez vai aos poucos se consolidando como o vice-campeão. E a Red Bull tem o melhor piloto. Max Verstappen vai nos mostrando um verdadeiro recital de como massacrar a concorrência sem dó.
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