domingo, 24 de setembro de 2023

Um porre

 


Há um ditado que diz que pistas boas produzem corridas boas. Suzuka é das pistas preferidas de todos os pilotos de ontem e de hoje e para os brasileiros, o circuito japonês tem um significado ainda mais especial, por ter sido palco de metade dos títulos conquistados na F1. Porém, Suzuka é um circuito bem 'old school' e com uma F1 com carros tão largos e com alta dependência aerodinâmica, a triste realidade é que o circuito nipônico não está envelhecendo muito bem e normalmente as corridas por lá são verdadeiros porres, daqueles de derrubar qualquer um num sábado para domingo de madrugada. Hoje não foi exceção e novamente vimos uma corrida bem morna, combinando bem com o clima em Suzuka nesse final de semana, onde o sol brilhou forte e causou alto desgaste de pneus. Querendo dar uma resposta aos que duvidavam da Red Bull depois do final de semana horroroso em Singapura, Max Verstappen passeou entre as curvas rápidas de Suzuka, dando o título de Construtores para a Red Bull, além de ficar apenas três pontos de confirmar o tricampeonato.


A largada foi o momento mais interessante da corrida. Piastri deve ter levado um pouco a sério a brincadeira feita por Norris no dia anterior, quando o inglês pediu ao companheiro de equipe uma largada à la Senna em 1990. Piastri estacionou seu McLaren apontando para Verstappen e largou de forma diagonal, tentando ir para cima de Max, que segurou a posição, mas essa manobra deixou o caminho livre para Norris pular bem na primeira curva e brigar por alguns metros com Verstappen, mas logo o neerlandês colocou ordem na casa e deu um 'tot ziens' para Lando. Mais atrás, a corrida do outro piloto da Red Bull se tornava um inferno. Sérgio Pérez largou bem, assim como Hamilton e Sainz. Naquele bolo, apenas Leclerc, que largava em quarto, não saiu bem no apagar das luzes vermelhas, mas o ferrarista não entregaria a sua posição fácil e como resultado, os quatro chegaram a ficar emparelhados no aproche da primeira curva, inclusive com Sainz tentando uma manobra duvidosa ao colocar sua Ferrari à fórceps entre Leclerc e Pérez. No entanto, ao lado de Pérez já estava Hamilton, que colocou as rodas na grama e tocou-se com Checo, que foi o grande prejudicado da confusão, pois teve a asa dianteira quebrada e precisou ir aos boxes troca-la. Nas últimas posições, Bottas e Ocon batiam, fazendo com que Albon e Zhou pegassem resquícios do toque, que fez com que a pista ficasse tão suja, que o Safety-Car fosse à pista.


Pérez continuou sua corrida desastrada ao cometer o erro primário de ultrapassar carros com o SC na pista, lhe causando uma punição de 5s, que foi cumprida mais rápido do que o planejado quando Checo se envolveu num acidente estúpido com Magnussen, no hairpin, coroando uma corrida pífia do mexicano, que teve que abandonar a corrida... para depois tentar um retorno sem nenhum motivo aparente. Pérez passou vários minutos dentro do carro, recebeu o ok para retornar à pista, deu uma volta lenta para encostar novamente. Enquanto isso, Verstappen passeou pelas curvas de Suzuka para vencer pela 48º vez na carreira e demonstrando o quanto Pérez foi inútil nesse final de semana, os pontos conquistados por Max foram mais do que suficientes para que a Red Bull conquistasse o Mundial de Construtores com uma antecedência absurda, mesmo para os padrões atuais de seguidos domínios na F1. Verstappen chegou aos quatrocentos pontos ainda faltando seis provas para fim, restando ao piloto da Red Bull apenas três pontos para confirmar um tricampeonato que já era favas contadas desde a primeira corrida da temporada. A conta deverá ser batida ainda no sábado, na corrida Sprint do Catar. Pérez pode ser um bom piloto, mas demonstra ter problemas de confiança e ao ser esmagado por Verstappen e vendo a equipe viver em torno do neerlandês, Pérez parece acuado. O mexicano ainda tem uma boa vantagem sobre Hamilton na segunda posição, mas com corridas como a de hoje, essa posição pode ficar bem ameaçada, o que seria uma derrota doída e com consequências para o futuro de Pérez na F1.


Com a pista abrasiva e um calor fora da curva em Suzuka, o desgaste de pneus seria um ponto primordial na corrida nipônica, mas nem isso animou muito a prova, com praticamente todos os pilotos optando pela tática padrão de duas paradas. Piastri foi beneficiado pelo SC Virtual no toque entre Pérez e Magnussen por ter feito o seu primeiro pit-stop durante o período, mas o ritmo superior de Norris fez com que a McLaren realizasse a troca entre seus pilotos. Foi uma corrida bem solitária para ambos, mas garantindo bons pontos para a McLaren e o primeiro pódio na F1 para Piastri, que em troca não pareceu muito feliz com sua conquista. Provavelmente Piastri não tenha ficado contente com a ordem de equipe, além de saber de sua capacidade e que um pódio é apenas um passo rumo a conquistas ainda maiores. Leclerc fez uma corrida tranquila, onde a Ferrari não cometeu erros crassos, mesmo que permitindo que Sainz, longe do brilhantismo de Marina Bay, perdesse uma posição para a Mercedes num undercut. Por sinal, os pupilos de Toto Wolff estavam bem animados, com Hamilton e Russell chegando a trocar tintas durante a corrida. George arriscou numa estratégia de uma parada, mas no final o inglês chegou praticamente na mesma posição em que ficaria, caso escolhesse a tática padrão. Nas voltas finais, Sainz tentou um ataque em cima de Hamilton, mas Lewis segurou bem a posição e aumentou sua vantagem para Alonso na briga pelo terceiro lugar no campeonato.


O espanhol da Aston Martin largou bem, se aproveitando do entrevero na sua frente na primeira curva, pulando na frente da dupla da Mercedes, mas Alonso simplesmente não tinha ritmo para enfrentar Ferrari e Mercedes, terminando num opaco oitavo lugar e já se impacientando com a decadência de sua equipe nesse último terço de campeonato. Stroll abandonou, mas não por culpa sua, mas por problemas na asa traseira, fazendo com que a Aston Martin trouxesse o canadense para os pits. Mesmo tendo que fazer uma parada não programada pelo toque com Bottas na primeira volta, Ocon ainda teve fôlego para conseguir pontuar ao mudar de estratégia e ficar bastante tempo na pista com pneus duros no primeiro stint. Gasly superou a dupla da Alpha Tauri e com a parada de Ocon, terminou em nono, mostrando que a Alpine é a quinta força do campeonato. Bem no final de semana em que foi confirmado como piloto reserva em 2024, Lawson fez outra corrida muito boa usando seu conhecimento de Suzuka, já que Liam disputa a Super Formula japonesa, e superou Tsunoda na casa do japonês, ficando a um posto de marcar ponto novamente. Foi uma corrida com mais abandonos do que o normal e novamente Sargeant se envolveu em um acidente, que aumenta ainda mais a pressão em cima do americano. Drugovich agradece.


Numa corrida sem muita história, a Red Bull confirmou seu merecido título de Construtores na casa de sua parceira, a Honda, e ainda deixou Max Verstappen esperando apenas a confirmação matemática para poder comemorar o título. O neerlandês dominou a corrida em Suzuka com a mesma facilidade em que efetuou na maioria de suas treze vitórias em 2023. Com suas curvas rápidas e estreitas, Suzuka é cada vez mais uma pista para o piloto, mas nem tanto para o público. Não foi uma corrida boa de se assistir, mas Verstappen e a Red Bull não tem nada com isso e vai destruindo recordes, concorrência e até mesmo seu segundo piloto. Uma domínio para a história.

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