Quando a Pirelli anunciou que utilizaria em Interlagos os pneus duros e médios, os pilotos, liderados por Felipe Massa, reclamaram bastante da escolha e a Pirelli acabou mudando para os pneus médios e macios. O que os italianos não contavam era com o calor em São Paulo que produziu uma das maiores secas da história daquela região do país. Se a estratégia era de duas paradas, o forte calor e as bolhas fez com que a maioria dos pilotos visitassem os boxes três vezes, inclusive os dois pilotos da Mercedes, que dominaram a corrida inteira, com Rosberg superando Hamilton num final de corrida tenso, onde havia a expectativa de Lewis tentar outra manobra vencedora sobre o companheiro de equipe, mas o inglês deve ter pensado mais no campeonato, mesmo que em Abu Dhabi, Hamilton tem que chegar no mínimo em segundo lugar. Para delírio da torcida, Felipe Massa superou duas trapalhadas em suas paradas para ser o terceiro colocado, o que nos dias atuais significa ser o 'melhor do resto'.
Se havia a previsão de chuva, para alegria dos que queriam uma corrida tumultuada e também dos paulistanos, ávidos por água em seus reservatórios, o domingo reservou um forte calor que acabou mudando um pouco a cara do Grande Prêmio do Brasil, mas não influenciando muito o resultado, com os três pilotos que foram à entrevista coletiva de sábado terem ido ao pódio, na mesma formação. Rosberg largou bem, seguido por Hamilton e todo o pelotão. O forte calor fez com que os pneus macios durassem, em média, sete voltas para todos os pilotos e ainda assim os compostos médios sofreram bastante, com bolhas aparecendo principalmente nos pneus dianteiros. Quando todos estavam calçados com os pneus de banda branca, Hamilton parecia melhor do que Rosberg, que reclamava que estava saindo de frente e de traseira. Quando Nico fez sua segunda parada, Hamilton aproveitou para fazer uma assombrosa melhor volta, com os pneus desgastados e cheio de bolhas, fazendo com que o inglês ficasse uma volta a mais para dar o bote em Nico. Essa aposta acabou falhando quando Lewis saiu da pista na curva do Lago e perder muito tempo. Se a expectativa era que Hamilton saísse de sua segunda parada à frente de Nico, ele acabou mais 7s atrás do alemão, mas quem disse que Lewis desiste fácil? Sofrendo menos do que o companheiro de equipe com os pneus, Hamilton foi tirando a diferença e na terceira rodada de paradas, Hamilton colou no companheiro de equipe. Por sinal, nos rádios, os engenheiros nunca se referiam 'Nico' ou 'Lewis', mas seu 'companheiro de equipe'. Como falou Felipe Nasr antes da prova: acabou o amor. E foi por essa falta de amor que o final da corrida foi tenso, com os dois carros da Mercedes próximos e Hamilton vindo com um histórico de ultrapassagens decisivas em cima de Rosberg nas últimas provas. Hamilton colocou o carro por dentro algumas vezes, mas em nenhum momento forçou a barra. O inglês parecia mais rápido, mas pensou no campeonato e ficou em segundo, posição que terá que repetir em Abu Dhabi, se quiser se tornar bicampeão daqui a duas semanas. Nico Rosberg encerrou um incômodo jejum que durava já alguns meses, mas sua situação ainda é complicada, pois mesmo vencendo, um resultado altamente possível no Oriente Médio, ele terá que torcer que Hamilton fique de terceiro para baixo. Com o domínio da Mercedes atualmente, somente problemas atípicos poderá fazer com que um ou dois carros prateados fiquem nas duas primeiras posições em qualquer pista.
Se não fosse duas trapalhadas em duas das três visitas aos boxes neste domingo, Felipe Massa poderia ter conquistado o terceiro lugar com ainda mais facilidade. Primeiro, Massa não respeitou o limite de velocidade no pit-lane no primeiro pit-stop e por isso, o brasileiro teve sua segunda parada atrasada em 5s por punição. Em sua parada final, Massa confundiu os mecânicos da Williams com os da McLaren, que também usam branco, e perdeu um tempinho. Sorte que na pista, Felipe fez uma de suas melhores corridas nos últimos tempos, sendo muito sólido e rápido em praticamente as setenta e uma voltas da corrida de hoje. Em vários momentos Massa andou no mesmo ritmo da Mercedes e em condições iguais, mostrando do que Felipe Massa é capaz num bom dia, mas o problema que a corrida de hoje é cada vez mais uma exceção do que uma regra. Desta vez Bottas fez uma corrida para esquecer, com o finlandês também enfrentando pequenos problemas (seu cinto de segurança se soltou e precisou ser ajustado na segunda parada e uma sobreviseira que ficou enganchada na asa traseira) que o fizeram chegar apenas em décimo, após ficar em quarto no começo da corrida, andando na mesma balada de Felipe Massa. Muita gente reclama que o Galvão Bueno torce demais para os brasileiros, Felipe Massa em particular, mas hoje o narrador global se comportou bem, torcendo para o amigo Massa, mas sem ser ridículo, ao contrário dos comentaristas, principalmente Luciano Burti, que torcia por um toque dos dois carros da Mercedes para favorecer Felipe.... Mas depois de Massa, o melhor brasileiro em Interlagos foi Nelson Piquet, que foi simplesmente hilário brincando com Niki Lauda!
Jenson Button, possivelmente em suas últimas corridas pela F1, fez uma boa prova, terminando num bom quarto lugar, chegando a ameaçar Felipe, mas ficando distante no final. Quando o inglês teve que suar para ultrapassar Raikkonen, um dos poucos que fez duas paradas, Button viu a aproximação de Vettel nas voltas finais, mas o piloto da McLaren segurou bem a posição e amealhou importantes pontos no campeonato, principalmente de construtores. Já Kevin Magnussen foi mais discreto, mas ainda assim conseguiu bons pontos com um nono lugar. Vettel fez uma prova correta, após um erro na primeira volta ter anulado sua boa largada e ficar numa posição difícil nas primeiras voltas, atrás da Ferrari de Alonso. Livre do espanhol, Vettel chegou bem próximo de Button, num fim de semana em que a McLaren andou mais do que a Red Bull, que viu um estranho abandono de Ricciardo, quando a suspensão dianteira esquerda aparentemente arriou bem no final da reta dos boxes, mas sem maiores danos ao carro, mas garantindo o segunda abandono do australiano. A Ferrari fez o seu papel em ficar com as posições finais de pontos, com Alonso sempre lutando muito, mas sem ter o que fazer com um carro ruim e sem velocidade de ponta. Raikkonen tentou uma estratégia arriscada de duas paradas num dia em que o desgasta excessivo de pneus deu o tom, mas desta vez o finlandês fez uma boa corrida, onde pela primeira na temporada travou uma briga acirrada com Alonso, só superado pelo espanhol, com melhores pneus, já no finalzinho da corrida. Hulkenberg também não fez suas paradas na janela normal de pit-stops e garantiu uma boa subida no pelotão, marcando pontos depois de um incômodo jejum, chegando a liderar a corrida de forma efêmera. A Sauber deu a impressão de marcar pontos finalmente com Gutierrez, que largou melhor do que Raikkonen, mas o tempo provou que o mexicano não tem um ritmo de corrida consistente, e logo Gutierrez foi ficando pelo caminho, enquanto Sutil acabou com todos os sonhos da Sauber ao ter um pit-stop errático e ser o último a completar a corrida. Kvyat tentou uma estratégia diferente, mas acabou próximo do seu companheiro de equipe Vergne, enquanto a Lotus proveu o segundo abandono do dia com Grosjean e não repetiu a boa exibição de Austin semana passada.
Foi uma corrida interessante essa em Interlagos e com Felipe Massa no pódio, garantiu o júbilo da torcida em São Paulo. Para o campeonato, a quinta vitória do ano de Nico Rosberg abre novamente a luta pelo título para a prova final, em Abu Dhabi. Se os pontos fossem distribuídos de forma normal no Oriente Médio, Hamilton estaria com uma mão na taça, mas como a pontuação será dobrada, um mal dia do inglês poderá entregar a taça de badeja para Rosberg. Nas outras duas oportunidades em que Hamilton esteve envolvido diretamente na luta pelo título, o inglês se mostrou frágil e longe de brigar de verdade pela vitória. Essa será a cartada de Nico Rosberg daqui a duas semanas, quando esse campeonato, que já é histórico, será decidido dentro do seio da Mercedes.