sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O Frango Veloz

Ele chegou a ser referência à duas lendas brasileiras no automobilismo, mas ele esteve longe de sequer fazer próximo do que Senna e Piquet fizeram, principalmente na F1. Chico Serra foi uma estrela do automobilismo de base brasileiro no final da década de 1970 e foi cheio de moral para a Inglaterra, onde chegou a ganhar o conceituado campeonato de F3, mas esse foi praticamente seu último bom momento no automobilismo internacional, pois apenas faria número na F1 antes de retornar ao automobilismo brasileiro e recuperar um pouco do seu prestígio antes de ir para a Inglaterra. Completando 60 anos hoje, vamos conhecer um pouco de Chico Serra.

Francisco Adolpho Serra nasceu no dia 3 de fevereiro de 1957 em São Paulo e no começo dos anos 1970, o jovem começou a correr de kart, onde se tornou um dos melhores pilotos de sua geração, inclusive sendo referência a outro jovem kartista, três anos mais novo, que o acompanhava nas categorias interiores ao de Chico. Ayrton Senna, também uma estrela do kartismo paulistano, nunca correu contra Chico Serra numa mesma categoria, mesmo que muitos imaginavam que eles poderiam ter grandes batalhas. Cheio de títulos no kart, Serra debutou nos monopostos em 1976 na F-VW 1300 e após um bom campeonato, Serra se mandou para a Inglaterra. Meca do automobilismo na época, se dar bem nas categorias de base britânicas era um grande passo rumo à F1 e esse era o objetivo de Chico, que graças ao patrocínio da Sadia, era também conhecido como Frango Veloz.

Com fortes patrocínios e muito apoio, Chico Serra chegou na Inglaterra numa das principais equipes de base da ilha, a Van Diemen, de Ralph Firman. Mesmo pagando muitas contas da equipe, Serra rapidamente mostrou velocidade e se sagrou campeão inglês de F-Ford. Para 1978, Serra se gradua ao conceituado Campeonato Inglês, onde encontraria-se com outro brasileiro com quem teria uma grande rivalidade, principalmente fora das pistas. Chico Serra tinha uma ampla cobertura da imprensa nacional, que via no jovem de 21 anos o sucessor de Emerson Fittipaldi na F1 em breve, mas na Europa havia outro brasileiro, que tinha sido campeão na F-Super Vê e que tinha feito um bom ano na F3 Europeia, mas ninguém ligava para ele. O seu nome era Nelson Piquet. Conta a lenda que assim que soube que Serra iria participar da F3 Inglesa, Piquet saiu do certame Europeu, onde tinha boas chances de ser campeão, para disputar o campeonato inglês só para derrotar Serra. E foi justamente o que aconteceu! Serra sofreu um acidente grave que o deixou de fora boa parte da temporada, mas Piquet já dominava o campeonato e se sagrou campeão inglês de F3 em 1978. A forma arredia com que Nelson Piquet tratava a imprensa vem desde os tempos em que a mídia da época (jornais e revistas) preferiam acompanhar Chico Serra do que ele, mesmo Piquet mostrando mais resultados do que Chico.

Recuperado do seu acidente, Serra voltou com tudo para a F3 em 1979 e venceu o campeonato na equipe de Ron Dennis, que já ensaiava sua entrada na F1. Serra começava a receber convites para correr na F1 (vencer a F3 Inglesa normalmente era sinônimo de estar na F1 em pouco tempo naquela época), mas o brasileiro prefere ficar outro ano na equipe de Ron Dennis, mas na F2. O forte campeonato de base foi dominado pela Toleman em 1980, enquanto Serra até começou bem o campeonato, mas não repetiu as boas exibições e acabou o ano no pelotão intermediário. Já pensando na F1, Serra se envolve com a equipe Fittipaldi, que tinha esse nome porque a Copersucar tinha abandonado o barco no final de 1979, mostrando que as coisas na equipe não estavam muito boas, mas quem poderia resistir um convite de correr na equipe de Emerson Fittipaldi? Mesmo com o time minguando e na falta de melhores ofertas, Chico Serra assina um contrato com a Fittipaldi em 1981. Em reportagens da época, Wilsinho Fittipaldi falava em um novo patrocinador máster, mas isso nunca aconteceria. Mal financiado, a Fittipaldi sofreria nos seus últimos anos na F1 e sendo um piloto novato, Serra sofreria ainda mais. Ainda mais tendo ao seu lado um piloto arrojado como Keke Rosberg, que andava muito na frente de Serra em toda a temporada. A estreia de Chico na F1 foi boa, com um sétimo lugar em Long Beach, quase pontuando, mas aquela seria a única vez que Serra veria a bandeirada em 1981, abandonando em cinco oportunidades e não largando em outras nove.

No Grande Prêmio da Áustria, a Fittipaldi não correu por falta de peças, demonstrando o tamanho do buraco onde estava a equipe. Nomes como Peter Warr e Harvey Postlewaithe saíram do time, enquanto Keke Rosberg ia para a Williams ser campeão. Meio que por milagre, a Fittipaldi continua na F1 em 1982 e Chico Serra seria o único piloto da equipe. O que poderia ser uma vantagem, pois teria o time todo à sua disposição, Serra via o time definhando cada vez mais. O novo carro, o F9, era até bom, mas a equipe não tinha mais dinheiro para investir. Porém, 1982 veria Chico Serra como destaque em três oportunidades. Durante o triste Grande Prêmio da Bélgica, Serra consegue levar seu carro ao sexto lugar, marcando seu único ponto na carreira numa exibição notável. Nas primeiras voltas do Grande Prêmio da Inglaterra, Chico capota seu carro de forma espetacular, mas saía do veículo apenas tonto. Porém o melhor aconteceria durante os treinos do Grande Prêmio do Canadá. Tentando conseguir um bom tempo para entrar no grid, Serra teria sido atrapalhado pelo compatriota Raul Boesel e Chico acabaria fora da corrida. Irritado, ainda de capacete, Serra foi aos boxes da March e ao encontrar Boesel,os dois acabam se engalfinhando numa cena ao mesmo tempo grotesca e hilária. Ao fundo, poderia se ouvir 'Para Chico!' Com a Fittipaldi fechando as portas no final de 1982, Serra consegue um lugar na Arrows para 1983, mas sem patrocinadores, Chico teria apenas cinco corridas para mostrar serviço. Em Jacarepaguá, Serra chega a brigar por algumas voltas com a Ferrari de René Arnoux, mas às vésperas dos Grande Prêmio da Bélgica, Thierry Boutsen chegava com um bom aporte de dinheiro na Arrows e Chico Serra ficaria de fora da F1, desta vez definitivamente. Foram apenas 18 corridas e um ponto em Zolder.

Após sua experiência nada animadora na F1, Serra tentou o que todo piloto que saía da F1 pelas portas dos fundos fazia: recorria às corridas de Endurance. Ele participa de corridas eventuais, como os 1000 Km de Nürburgring e os 1000 Km de Kyalami. Em 1985 Chico se aventura na Indy, mas o paulista só participa de uma corrida em Portland. Na segunda metade dos anos 1980, Serra retorna ao automobilismo brasileiro, participando de corridas no Brasileiro de Marcas. Depois de passagens na F-Uno, Serra se estabiliza na Stock Car, conquistando três títulos consecutivos com o belo carro negro da Texaco. Quando seu filho Daniel começa sua caminhada no automobilismo, Chico começou a sair de cena, fazendo seu último campeonato na Stock em 2007. Chico Serra teve uma carreira vitoriosíssima no automobilismo brasileiro, mas que não teve reflexo no exterior.

Parabéns!
Chico Serra 

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