Com sua veia de negociante e seu amor ao automobilismo, ele transformou uma claudicante McLaren numa potência ainda maior do que a tradicional equipe já fora um dia. Foram títulos consecutivos nos anos 1980. Apesar de sua arrogância e antipatia, não dá para negar a importância de Ron Dennis na F1 nos últimos 35 anos e completando 70 anos essa semana, vamos ver como um jovem mecânico se transformou em um dos mais vitoriosos chefes de equipe da história.
Ronald Dennis nasceu no dia primeiro de junho de 1947 em Woking, uma pequena cidade inglesa onde o jovem Ron passou boa parte de sua vida e levou o complexo da McLaren no futuro. Apesar de ganancioso, Dennis nunca imaginou que seria milionário fazendo o que amava, que era o automobilismo e quando chegou a conclusão de que atrás do volante ele não seria tão brilhante, Dennis rapidamente se voltou para os bastidores, estudando mecânica. Com apenas 18 anos, Ron Dennis estreou na F1 como mecânico da Cooper, onde trabalhou com Jochen Rindt, que rapidamente se interessou pelo jovem inglês e quando o austríaco se mudou para a Brabham em 1968, levou Dennis consigo. Quando Rindt partiu para a Lotus em 1969, Ron resolveu ficar na Brabham, onde trabalhava no carro do chefe da equipe. No famoso Grande Prêmio da Inglaterra de 1970, onde Jack Brabham liderou a corrida inteira, mas perdeu no finalzinho por causa de uma pane seca, Ron Dennis chorou bastante, pois era ele que calculava o tanto de combustível que o carro de Brabham levava.
Mesmo prestigiado dentro da Brabham, Dennis saiu da equipe no final de 1970 com a aposentadoria de Jack e a posterior chegada de Bernie Ecclestone. Tão empreendedor quanto Bernie, Dennis pensa em construir uma equipe própria e junto com o seu amigo Neil Trundle, criam a Rondel, um pequeno time das categorias menores da Inglaterra, com sede em Woking. Após conseguir sucesso logo em seus primeiros anos, Dennis tentou entrar na F1 como chefe de equipe pela primeira vez em 1974, projetando o Rondel F1 com apoio da petroleira francesa Motul. O carro chegou a ser projetado, mas a crise do petróleo daquele ano estragou os sonhos de Dennis e mesmo Trundle tentando tocar o barco na F1, Ron Dennis sabia que se tratava de uma barca furada e acabou a sociedade. Trundle colocou o Token na pista, mas acabou sendo um retumbante fracasso. Dennis queria entrar na F1 pela porta da frente e ainda em 1974 forma uma nova sociedade com outros dois investidores, nascendo a equipe Project 3, que logo se tornaria Project 4 com a entrada de outro investidor. Dennis consegue um patrocinador que o acompanharia em boa parte de sua carreira como chefe de equipe naquela época: a Marlboro.
A equipe de Ron Dennis se torna uma potência na F2 e, principalmente, na F3, conquistando alguns títulos no final da década de 1970, incluindo um com o brasileiro Chico Serra. Reconhecido como um chefe de equipe muito capaz, a F1 seria o próximo passo de Dennis e como o inglês desejava, ele entraria pela porta da frente, praticamente sendo convidado. E o alvo, até mesmo por causa do mesmo patrocinador, era óbvio: a McLaren. Após o título de James Hunt em 1976, a McLaren entrou em declínio e com problemas financeiros, o time ainda não havia fechado as portas por causa do valioso patrocínio da Marlboro, de propriedade da Phillip Morris, cujo presidente John Hogan colocou uma condição de permanecer na McLaren. Que Ron Dennis assumisse tudo. Sem maiores expectativas, Teddy Mayer aceitou a proposta e vendeu a McLaren para a Project 4 no final de 1980. O veterano chefe de equipe logo sairia de cena, fazendo com que Ron Dennis reinasse praticamente sozinho na equipe, que não vencia desde 1977 na F1. Ambicioso, Dennis não queria apenas participar da F1. Ele queria que a sua McLaren se tornasse uma potência e para isso, ele sabia que precisava pensar fora da caixa. Nos Estados Unidos, um jovem projetista havia feito muito sucesso na Indy e logo ele foi repatriado por Dennis. Seu nome era John Barnard. O projetista inglês tinha várias ideias inovadoras e em 1981 ele projeta o MP4/1 (P4 de Project 4), o primeiro F1 feito inteiramente de fibra de carbono, que teria sua resistência duramente testada por Andrea de Cesaris, jovem piloto italiano apadrinhado pela Marlboro e que já tinha corrido com Dennis nas categorias de base. O carro apresentou algum potencial e John Watson venceu uma corrida em 1981. Com a óbvia saída de Andrea de Cesaris, que fez Ron Dennis prometer nunca mais contratar um piloto italiano para a sua equipe, a McLaren precisava de um novo piloto. Porém, para ser companheiro de equipe de Watson em 1982, Dennis não precisava de um piloto qualquer.
Olhando 35 anos depois, o que será escrito aqui pode parecer uma blasfêmia, mas na época se falava que a F1 no começo da década de 1980 era uma categoria sem estrelas. Seu principal piloto, Nelson Piquet, apesar de ser mágico dentro das pistas, fora delas era arredio com a imprensa, principalmente com a do seu país. Alan Jones se aposentava, mas parecia não deixar muitas saudades com seu estilo rude. A Ferrari estava mal com Villeneuve e Scheckter, enquanto Alain Prost ainda era um promessa. A F1 sentia falta de suas antigas estrelas, mesmo algumas, como Emerson Fittipaldi, longe de seus melhores tempos. Então Dennis teve uma ideia arriscada para trazer de volta uma estrela. O inglês sabia que a Lauda Air não estava nas melhores condições financeiras e por isso, entrou em contato com Niki Lauda em meados de 1981. Os primeiros testes foram animadores, mas como tirar Niki da aposentadoria? Dennis convenceu Paul Hogan a pagar um salário milionário à Lauda, que diria que o valor do seu salário era mais pelo o seu nome do que pelo o que podia fazer dentro da pista. E não era pouco, pois Lauda venceu em sua terceira corrida de sua volta. A McLaren voltava a brigar pelo título em 1982, com John Watson se aproveitando do ano desastroso da Ferrari para ser o principal rival de Keke Rosberg pelo campeonato, mas vencido pelo finlandês. Mesmo o campeonato tendo sido de um piloto com carro de motor aspirado, a F1 rapidamente se transformava numa competição de motores turbo e a McLaren não tinha um. Ron Dennis pensou rápido e entrou em contato com Mansour Ojjeh, dono da TAG e investidor da Williams desde 1978. Dennis vendeu parte da McLaren para Ojjeh, que em troca financiaria um novo motor turbo encomendado pela Porsche. Nascia o motor TAG-Porsche e a McLaren fincava as estruturas para se tornar a dominadora da F1.
Com o motor TAG-Porsche em desenvolvimento, o ano de 1983 para a McLaren, como era esperado por Dennis, foi abaixo do ano anterior, com a McLaren sofrendo com a falta de um motor turbo, que só ficou pronto já no terço final do campeonato. Após vários testes durante a temporada, Niki Lauda foi o piloto mais rápido do Grande Prêmio da África do Sul, só não vencendo por causa de um problema mecânico já no final da prova. Era um aviso aos adversários do potencial da nova McLaren. Com a aposentadoria de John Watson no final de 1983, a McLaren precisava de um novo piloto e como Lauda em 1981, Dennis não queria qualquer piloto para a sua equipe. Alain Prost havia trabalhado brevemente com Ron Dennis em 1980, mas o francês se mudou para a Renault para realizar o sonho de ser campeão numa equipe totalmente gaulesa, mas Prost acabou seu sonho frustrado, primeiro pelas quebras constantes da Renault, depois pelo vacilo na disputa com Piquet em 1983. Nos bastidores, o clima dentro da Renault não era dos melhores, com boatos de que Prost estava tendo um caso com a esposa do chefe da equipe francesa, Gerard Larrousse. Sabendo de todos esses detalhes e mostrando o potencial de sua equipe, Dennis convence Prost retornar à McLaren em 1984, para iniciar a Era McLaren, capitaneada por Ron Dennis.
Barnard projeta o novo MP4/2, um carro ainda melhor do que o seu antecessor. Com o motor TAG-Porsche ainda mais desenvolvido (era o motor mais caro da época) e dois dos melhores pilotos da época, a McLaren conseguiu seu primeiro grande domínio. Prost venceu sua primeira corrida no retorno à McLaren, que só não conseguiu a dobradinha porque Lauda quebrou no Rio, mas não faltaram dobradinhas em 1984. Com a Brabham de Nelson Piquet tendo vários problemas de confiabilidade, o mesmo acontecendo com a Williams-Honda, a McLaren nadou de braçada, conquistando 12 vitórias em 16 corridas. O título, obviamente, ficou entre Niki Lauda e Alain Prost, com vantagem para o primeiro para a menor das diferenças da história da F1: meio ponto. Porém, Lauda não estava feliz. O austríaco teve muitas dificuldades em renovar o seu contrato com Dennis, que parecia preferir Prost, mais jovem do que Lauda e com bons anos de F1 pela frente. Lauda teve que recorrer à Hogan para renovar seu contrato e Niki saiu da McLaren e da F1 chateado com Dennis no final de 1985. Com Lauda desmotivado e tendo a McLaren a seu dispor, Prost finalmente venceu o seu primeiro título em 1985, mas uma ameaça crescia ainda naquela temporada. O motor Honda finalmente parava de quebrar e já era considerado o motor mais potente da F1. Para completar, a Williams contratava Nelson Piquet, um dos maiores rivais que Dennis teve dentro da pista, para 1986. Os primeiros testes comprovavam que a Williams iria forte para 1986, mas o time fica acéfalo com o acidente de Frank Williams e com o inesperado crescimento de Nigel Mansell, a Williams se dividiu entre o novo contratado e melhor piloto (Piquet) ou o queridinho dos ingleses (Mansell). A McLaren já não tinha o melhor carro, mas tinha em Alain Prost um piloto maduro e livre da pressão de ser o primeiro campeão francês de F1. Prost utiliza muito bem os problemas na Williams para conseguir um emocionante bicampeonato em 1986, sendo o terceiro consecutivo da McLaren de Ron Dennis.
Porém, a McLaren sofre um enorme baque com a saída de John Barnard para a Ferrari e mesmo trazendo outro gênio das pranchetas, Gordon Murray, a equipe não foi páreo para a potência da Williams-Honda em 1987, mesmo os problemas entre Piquet e Mansell permanecendo. Com os fracassos de Rosberg e Johansson, Ron Dennis sabia que teria novamente que investir em outro nome de peso ao lado de Prost, além do inglês estar de olho em outro trunfo. Mesmo vencendo em 1987, a Honda tinha ficado muito insatisfeita com a Williams pela perda do título de 1986, além da recusa da Williams em colocar Satoru Nakajima na equipe. Ron Dennis fareja uma boa oportunidade de negócio e para ter o melhor motor da F1, o inglês faz de tudo para agradar aos japoneses, inclusive contratando o novo 'darling' da Honda: Ayrton Senna. O brasileiro era o maior potencial da F1 no momento e já tinha iniciado o seu casamento com a Honda ainda na Lotus. De um tacada só, Ron Dennis teria o melhor motor da F1 e um dos melhores pilotos do pelotão, ao lado de Alain Prost. Estava formado o time dos sonhos da F1, iniciando uma batalha épica para ser gerenciada por Ron Dennis.
A McLaren tinha passado bem pelos anos em que Niki Lauda e Alain Prost correram juntos por dois anos. Apesar da enorme tensão entre eles, Lauda e Prost se respeitavam mutuamente. Porém, Ayrton Senna era de um material de diferente. Ele não apenas sabia do seu potencial, como também tinha certeza de que era o melhor piloto da F1 no momento, mesmo tendo ao seu lado um piloto do naipe de Alain Prost, que completaria no final de 1988 cinco anos de McLaren. O novo MP4/4 foi finalizado poucos dias antes da primeira corrida no Rio de Janeiro, mas logo no primeiro teste, em Ímola, coloca mais de 2s na concorrência. A Honda tinha saído da Williams, deixando a equipe enfraquecida, enquanto o então campeão Piquet iria para a Lotus, que mesmo com o motor Honda, errou feio na concepção do carro. Há muitas perguntas se o McLaren MP4/4 é ou não o melhor carro da história da F1. Foram 15 vitórias em 16 corridas, num domínio brutal da McLaren, ainda maior do que em 1984. E como havia acontecido quatro anos antes, a briga pelo título ficou entre Senna e Prost, que acabou com o brasileiro, mesmo o francês tendo marcado mais pontos. Coisas de regulamento. A convivência entre Senna e Prost foi relativamente pacífica em 1988, com uma ou outra cutucada, mas para 1989, mesmo os motores turbo tendo sido abolidos, a McLaren-Honda era a grande favorita. Ron Dennis estava despreocupado com os seus pilotos até o Grande Prêmio de San Marino. Senna desrespeitou um acordo com Prost de não haver ultrapassagem na primeira volta, deixando o francês furioso. Iniciava ali uma guerra fria dentro da McLaren, com cutucões e uma inimizade que levou dois dos grandes pilotos da história da F1 aos seus limites. Ron Dennis dizia que iria garantir o máximo de igualdade aos seus pilotos, mas como se fosse um deja vu de 1984, Prost agora se via na situação de piloto experiente sendo preterido pelo mais jovem e com mais potencial. Senna era o preferido por Dennis, enquanto Prost usava sua astúcia nos bastidores para se manter na briga. No verão de 1989, Prost anunciou que estaria saindo da McLaren após seis anos, mas antes, deixaria Ron Dennis extremamente irritado por um simples gesto. Mostrando sua personalidade autoritária, Dennis colocava nos contratos de seus pilotos que o troféu de vencedor ficaria com a McLaren, mostrando bem que para Dennis, por melhor que fosse o piloto, a vitória era da McLaren. Prost anunciou que estava indo para a Ferrari em 1990 no Grande Prêmio da Itália e venceu a prova, após Senna quebrar no final. No pódio, Prost jogou seu troféu de vencedor para a torcida, o que deixou Dennis irado e pensando até mesmo rescindir o contrato do francês!
Porém, o pior ainda estava por vir. Com o ar irrespirável dentro da McLaren por causa da tensão entre seus pilotos, a F1 chegou à Suzuka com Prost podendo conquistar seu título. Senna tinha que vencer as próximas duas corridas se quisesse defender seu título. Sabendo que estava em inferioridade dentro da própria equipe, Prost prometeu que o título acabaria em Suzuka e não abriria a porta para Senna, que foi o pole, mas perdeu a ponta na largada. O que se viu foi uma batalha de titãs, mas que seria decidida por uma manobra suja e incomum de Prost, que jogo o seu carro em cima de Senna na única tentativa do brasileiro, que errou feio ao cortar a chicane, quando todos sabiam que aquilo era proibido. Quando Senna recebeu sua emocionante bandeirada, imediatamente se mostrou Dennis preocupado, como se estivesse falando com alguém no rádio. Seu piloto Prost fora reclamar com a direção de prova e Senna acabaria desclassificado. Ron Dennis passou pela enorme saia justa de não comemorar seu quinto título em seis anos, pois fora Prost quem armou para cima do seu piloto favorito. Para alívio de Ron Dennis, porém, pelo menos essa briga ele não teria que administrar em 1990. Gerhard Berger era considerado um piloto com um potencial parecido com o de Senna no começo da carreira de ambos, mas o tempo mostrou que Senna estava anos-luz na frente do austríaco. Quando Berger chegou à McLaren, ele melhorou o clima na equipe com o seu bom humor, mas não diminuiu o ímpeto de Senna em se vingar de Prost, o que acabaria acontecendo em Suzuka, um ano antes da fechada de Prost, mas agora com os papeis invertidos. Depois do triste acidente, Dennis inventou uma cínica entrevista com Senna, mas a F1 vivia momentos, ao mesmo tempo, turbulentos e divertidos em sua história, tendo Ron Dennis como um dos seus protagonistas.
Assim como acontecera em 1985, a McLaren viveu em 1991 o ressurgimento da Williams como uma força ascendente e mesmo com a Ferrari de Prost caindo pelas tabelas, o time de Frank Williams crescia assustadoramente com o seu carro high-tech, onde conta a lenda, servia para corrigir as besteiras que Mansell costumava fazer. Porém, o carro ainda quebrava muito e Senna praticamente garantiu o título quando conquistou quatro vitórias nas quatro primeiras corridas. Porém, a Williams demonstrava o seu potencial em 1992 e Mansell finalmente conquistava o seu título com sobras. Para piorar, a Williams teria Alain Prost em 1993, um piloto melhor do que Mansell e Dennis tinha que domar Senna, que se oferecia de graça para estar na Williams. Outro complicador foi a saída da Honda no final de 1992, deixando a McLaren com um motor Ford de uma geração abaixo da Benetton de Michael Schumacher e Flavio Briatore. Senna pensou em se aposentar e dificultava ao máximo sua renovação de contrato. Dennis e a Marlboro tinha um contrato com Senna, mas externamente, o brasileiro tinha um contrato por corrida com a McLaren, onde receberia um milhão de dólares por prova. A Williams corroborou com o seu favoritismo e venceu o título com Prost, mas Senna deu estocadas de magias com seu McLaren, conseguindo vitórias mágicas em Interlagos e Donington Park. Quando Alain Prost anunciou que estava se aposentando da F1 no final de 1993, ano em que venceu seu quarto título, Dennis sabia que estava perdendo Senna. A McLaren iniciava um período de ocaso, com algumas apostas erradas, mas que Dennis rapidamente levaria a equipe de volta ao topo.
A McLaren retornava como equipe de fábrica em 1994 com a Peugeot, mas seria um retumbante fracasso, mas pessoalmente para Ron Dennis, o pior foi ter acompanhado a morte de Ayrton Senna. O inglês já tinha consigo um piloto que seria o seu preferido pelos anos vindouros: Mika Hakkinen. Com a saída da Peugeot, a McLaren iniciaria uma parceria história com a Mercedes, que duraria exatos vinte anos. Ron Dennis teve que engolir Nigel Mansell, de quem não gostava, para 1995, numa imposição da Marlboro, mas o inglês fracassaria, o mesmo acontecendo com a McLaren-Mercedes em seu primeiro ano. Para o lugar de Mansell, Dennis contrata David Coulthard para 1996, iniciando uma parceria com Hakkinen que duraria anos, enquanto o escocês se tornaria um dos pilotos com mais corridas da história da McLaren. O ano de 1996 também foi discreto, mas seria marcante por um motivo fora das pistas. Com a Marlboro cada vez mais focada na Ferrari, esse ano seria o último da McLaren com o mítico lay-out branco e vermelho da Marlboro, que havia durado vinte e dois anos. Dennis sabia que se quisesse voltar às vitórias e títulos, precisava ser uma equipe de fábrica e por isso, fazia todos os anseios da Mercedes, inclusive um patrocínio da West a partir de 1997, trazendo o belo lay-out cinza e negro para a McLaren, que voltava a vencer desde os tempos de Senna. Em 1997 Dennis contrata Adryan Newey da Williams, que já havia conquistado vários títulos e com uma mudança de regulamento gigantesca marcada para 1998, era a chance da McLaren finalmente terminar o reinado da Williams.
Com carros mais estreitos e os esquecíveis pneus frisados, a F1 mudou profundamente em 1998 e a McLaren aproveitou para dar o pulo do gato. Além de Newey, a potência do motor Mercedes e a força de sua dupla de pilotos, principalmente Hakkinen, o contrato com a Bridgestone foi o último ato de uma volta da McLaren aos bons tempos. A primeira corrida do ano foi emblemática, com apenas as duas McLarens na mesma volta, com o terceiro colocado Frentzen, da Williams, uma volta atrás. Após outra vitória massacrante em Interlagos, Ron Dennis fez uma aposta arriscada. Ao contrário de 1988, ele teria uma temporada perfeita dez anos depois. Porém, Dennis logo pagaria pela língua e na prova seguinte, Ron viu que fora dos seus cálculos, estava um piloto do nível de Michael Schumacher. Mesmo com uma Ferrari nitidamente inferior, o alemão tirava a diferença no braço, mas Dennis contava com um piloto, que não era tão talentoso, era muito forte. Mika Hakkinen, que havia escapado da morte em 1995 com um carro da McLaren, enfrentou seu antigo rival da F3 de igual para igual e deu o primeiro título para a McLaren em sete anos. Dennis pensou que teria o caminho livre para o bicampeonato quando Schumacher quebrou a perna em Silverstone, mas pouco tempo depois Coulthard tocou em Hakkinen na primeira volta em Zeltweg, deixando o campeonato numa disputa quadrupla entre os dois pilotos da McLaren, Irvine da Ferrari e o surpreendente Frentzen, da Jordan. Mesmo com a volta de Schumacher no final de 1999, Hakkinen garantiu o bicampeonato e reservadamente dizia à Dennis que se fosse tri no ano 2000, se aposentaria. A Ferrari crescia lentamente, mas de forma constante e a temporada 2000 foi um mano a mano entre Ferrari e McLaren, onde desta vez Schumacher teve vantagem, iniciando um domínio poucas vezes visto. A McLaren teria outro período de decadência, onde seria suplantada pela Ferrari e ainda teria que resistir ao crescimento da Williams-BMW, que para a parceira Mercedes, era bastante ruim ficar atrás dos bávaros. Nesse período, Dennis viu Hakkinen se aposentar em 2001 e para o seu lugar, contratou Kimi Raikkonen. Conta a lenda que Giancarlo Fisichella era o grande favorito para a vaga, mas Ron se lembrou de sua promessa de não trazer italianos por causa de Andrea de Cesaris e por isso, vetou Fisichella.
Mesmo sendo bastante amigo de Frank Williams, Ron Dennis não hesitava tirar alguma estrela da Williams e no final de 2004 ele trouxe Juan Pablo Montoya para a equipe, mas o colombiano foi um verdadeiro tiro n'água, com Montoya se machucando logo no começo do seu contrato num acidente mal explicado de tênis, mas que teria sido de motocross. A Mercedes algumas vezes tentou comprar a McLaren, mas Ron Dennis acabou vendendo parte da equipe para investidores barenitas e mesmo tendo parte minoritária da equipe, Dennis ainda gozava de certo prestígio dentro da McLaren. Desde 1999, Ron Dennis apoiava um garoto chamado Lewis Hamilton, que se destacava no kart inglês e já estava prestes a ingressar na F1 pelas mãos de Dennis. No final de 2005, Ron Dennis anuncia que contratava Fernando Alonso, mas o espanhol só estrearia em 2007. Apesar de Raikkonen ter surgido como sucessor de Hakkinen, Kimi não repetiria o seu compatriota e vai para a Ferrari em 2007, cedendo seu lugar para o bicampeão Alonso. Após o fracasso de Montoya e um teste bem sucedido, Dennis resolve promover seu protegido Lewis Hamilton como companheiro de equipe de Alonso. Era a primeira vez desde De Cesaris que Dennis colocava em seu carro um novato, mas o inglês esperava que Lewis só explodiria mais tarde, enquanto Fernando trazia mais qualidade para a equipe em 2007. O que Dennis e nem ninguém esperava era que a McLaren voltasse a ter uma clima ruim por causa dos seus pilotos. Alonso se mostrava um piloto fora da curva e após a McLaren passar 2006 sem vitória, o espanhol faria com que a equipe rapidamente uma equipe de brigaria pelo título com a Ferrari. Porém, Lewis Hamilton chamava a atenção pela a sua velocidade e rapidamente se mete na briga entre Alonso e as Ferraris, fazendo com que a McLaren e Dennis olhassem com mais atenção ao novato do que o novo contratado, incomodando sobremaneira Alonso. Porém, o espanhol tinha suas cartas na manga. Durante a classificação na Hungria, Alonso atrapalhou Hamilton de propósito, explodindo uma rivalidade que seria tão intensa quanto Senna e Prost pouco menos de dez anos antes. Para piorar, começava a surgir na imprensa ruídos de que a McLaren teria recebido documentos secretos da Ferrari. Logo viria a tona o 'Spygate', um dos maiores escândalos da história moderna da F1, onde a McLaren seria multada em cem milhões de dólares e teria cassado todos os seus pontos no Mundial de Construtores. Quando Alonso venceu em Monza, foi visto uma cena rara: Ron Dennis aos prantos. Mesmo com o melhor carro de 2007, Dennis veria Hamilton sucumbir a pressão na corrida final em Interlagos, perdendo o título justamente para Raikkonen.
A McLaren perdeu Alonso, cansado da preferência de Ron por Hamilton e o inglês teria que ser o principal piloto da McLaren em 2008, não decepcionando a confiança depositada nele e vencendo o que seria o último título da McLaren na F1. Ron Dennis já tinha quase 30 anos de carreira e no começo de 2009 anunciou que estava saindo do comando da equipe, delegando o comando da equipe para o seu braço direito Martin Whitmarsh. Dennis agora estava à frente da nova empreitada da McLaren, que era seu novo carro de rua, mas na F1 as coisas pioravam para a equipe. A Mercedes compra os espólios da vitoriosa Brawn e funda a sua equipe própria em 2010, enquanto a McLaren tem um péssimo ano em 2009. A McLaren volta a ter bons anos em 2011 e 2012, mas ainda longe dos bons tempos em que Ron Dennis comandava tudo no pit-wall. Com a queda de Whitmarsh, Ron Dennis voltava ao comando da equipe da F1, mas não ficava mais à frente do dia a dia da equipe. Em 2014 a McLaren anuncia uma nova parceria com a Honda, onde se tornaria novamente uma equipe de fábrica. Após vinte anos com a Mercedes, os últimos como cliente, a McLaren trocava de motor, mas os motores híbridos da Honda vem se mostrando um dos maiores fracassos da história da F1 até o momento. Dennis teve que engolir a volta de Alonso, após exigência da Honda. Após se indispor com vários acionistas, inclusive Ojjeh, Ron Dennis foi destituído do comando da McLaren após 35 anos. Ron Dennis construiu um império e acabaria consumido por ele, mas apesar de sua arrogância e seu estilo (havia o famoso Ronspeak, por causa de suas palavras inconclusivas em entrevistas), Dennis marcou sua história da F1 e aos 70 anos, não merecia estar de fora da F1 pela porta dos fundos.
Parabéns!
Ron Dennis