domingo, 11 de junho de 2017

A calculadora

No começo dos anos 2000, Daniel Pedrosa e Jorge Lorenzo eram os pilotos mais promissores da leva espanhola que tomaria de assalto a MotoGP em meados da década passada. Badalados e com os melhores equipamentos, Pedrosa e Lorenzo tinham um rival menos talentoso, mas forte e trabalhador. Andrea Doviziozo não tinha a fogosidade dos espanhóis, mas enfrentava de igual para igual Jorge e Dani nas categorias menores, se tornando o grande rival dos dois. Enquanto Lorenzo e Pedrosa tinham apoio de montadoras, Aprilia e Honda respectivamente, com forte investimento de patrocinadores espanhóis, Doviziozo usava uma Honda privada de uma equipe média. Não tendo a velocidade dos seus rivais, Doviziozo usava a astúcia para brigar com eles, ganhando o apelido de Calculadora. Lorenzo confirmou tudo que se esperava dele, o que não aconteceu com Pedrosa. Doviziozo não brilhou na MotoGP, mas seguiu fiel ao seu estilo metódico e trabalhador nas melhores equipes do Mundial. Hoje em Barcelona, vimos o melhor de Andrea Doviziozo num final de semana descrito pelo italiano como estranho, mas que serviu bem ao piloto da Ducati conseguir sua segunda vitória consecutiva e entrar de vez na briga pelo campeonato.

A festa em Barcelona estava toda armada para os espanhóis. Se em Mugello o hino da Itália tocou três vezes semana passada, hoje era esperado que o hino espanhol tocasse três vezes. E já haviam tocado duas, para Joan Mir (Moto3) e Alex Márquez (Moto2). Na primeira volta, as cinco primeiras posições eram todas ocupadas por espanhóis, com Jorge Lorenzo liderando, mas eram os pilotos da Honda os grandes favoritos, principalmente Daniel Pedrosa. Num calor malaio e com um asfalto ruim, os pneus seriam decisivos para a vitória em Barcelona e Pedrosa, com seu peso pena e estilo suave, poderia se beneficiar disso, além de ter largado na pole. O ritmo de prova era lento e logo um intruso apareceu para estragar a festa espanhola com certeza. Doviziozo era o sexto colocado na primeira volta e aos poucos foi ultrapassando a espanholada toda. Numa disputa dura, ultrapassou seu companheiro de equipe Lorenzo na apertada e polêmica chicane, que era uma na sexta e passou a ser outra para o resto do final de semana. Quando se viu em segundo, atrás de Pedrosa, Doviziozo preferiu não atacar de imediato o antigo rival, mesmo tendo a moto mais equilibrada e tendo a incômoda Honda de Márquez fungando no seu cangote. Mesmo italiano, Dovi é um dos pilotos mais frios do grid da MotoGP e esperou o momento exato para soltar a cavalaria da Ducati e ultrapassar Pedrosa quando faltavam menos de dez voltas na reta dos boxes e conquistar uma vitória ainda mais tranquila do que em Mugello semana passada.

De favorito, Pedrosa perdeu desempenho e também foi ultrapassado por Márquez, que tentou manter o ritmo da Ducati de Doviziozo, mas logo perceber que os 20 pontos eram preciosos, por causa da péssima exibição da Yamaha hoje. O líder Viñales já parecia desesperado com a nona posição no grid e deve ter ficado ainda mais maluco quando caiu para décimo quinto na largada, mas ao contrário do que poderia supor, sua evolução na corrida foi lenta, numa corrida onde sofreu com os pneus traseiros. O máximo que Maverick conseguiu foi um décimo lugar, enquanto Rossi, mais experiente e sempre um racer nos domingos, ainda salvou um oitavo lugar. Após liderar o começo da prova, Lorenzo parecia que teria uma corrida daquelas quando foi ultrapassado em sequência, mas o espanhol se recuperou no terço final da prova e com direito a várias ultrapassagens, recebeu a bandeirada num bom quarto lugar. Porém, no íntimo, Lorenzo esperava estar no lugar de Doviziozo, mas o feeling com a moto virá com o tempo e não demorará para Jorge estar na briga pelas vitórias.

Com os pneus Michelin se mostrando bastante temperamentais em 2017, a briga pelo título vai se tornando indefinida e cheia de surpresas. Com essa vitória, Doviziozo encostou em Viñales, trazendo consigo os dois pilotos da Honda. Porém, ninguém poderá prever qual será o comportamento dos pneus na próxima etapa em Assen e no resto da temporada, que vem mostrando uma alternância impressionante de domínios, seja de Honda, Yamaha e Ducati. Num campeonato assim, um piloto constante e metódico como Andrea Doviziozo poderá se sobressair.

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