quinta-feira, 15 de junho de 2017

História: 25 anos do Grande Prêmio do Canadá de 1992

Após a Williams ter perdido seu domínio implacável em 1992 com a surpreendente e emocionante vitória de Senna em Monte Carlo, a F1 atravessava o Atlântico novamente para a disputa do sempre festivo Grande Prêmio do Canadá, pista em que os pilotos adoravam. Porém, a mambembe Andrea Moda teve problemas no seu transporte e o time acabou em Quebec e sem motores. Ao chegar em Montreal, o time de Andrea Sassetti pediu um motor Judd emprestado à Brabham. Como milagres não acontecem todo o tempo, Roberto Moreno não conseguiu o milagre de classificar seu carro para o grid pela segunda vez, algo que o trabalhador piloto brasileiro havia conseguido quinze dias antes. Fora das pistas, uma movimentação interessante era um teste que Michael Andretti faria pela McLaren naqueles dias. Com o pai Mario fazendo a negociação, ainda com o pé engessado por um acidente durante as 500 Milhas de Indianapolis, Michael finalmente poderia estrear na F1, o que indicava que Berger poderia ter que procurar outro cockpit.

Mesmo a vitória de Senna em Mônaco ter acontecido de forma casual, com um problema que Mansell imaginou em seu Williams quando liderava com ampla vantagem, um triunfo sempre faz bem a confiança e Senna marcou sua primeira pole de 1992, quebrando também o domínio da Williams nesse quesito, com Patrese e Mansell, nessa ordem, ficando muito próximos do tempo do brasileiro. O ameaçado Berger, que sempre andava bem em Montreal, fechava a fila com um tempo meio segundo atrás do companheiro de equipe, seguido por Schumacher e a surpresa Johnny Herbert. Conta a lenda que durante os treinos, a March quase não participava por falta de patrocínios e o time chegou a anunciar em jornais locais que precisava de dinheiro para correr. Mesmo com esses problemas todos, o ótimo Karl Wendlinger ficou próximo do top-10.

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:19.775
2) Patrese (Williams) - 1:19.872
3) Mansell (Willaism) - 1:19.948
4) Berger (McLaren) - 1:20.145
5) Schumacher (Benetton) - 1:20.456
6) Herbert (Lotus) - 1:21.645
7) Brundle (Benetton) - 1:21.738
8) Alesi (Ferrari) - 1:21.777
9) Capelli (Ferrari) - 1:22.297
10) Hakkinen (Lotus) - 1:22.360

O dia 14 de junho de 1992 amanheceu nublado e frio em Montreal, por sinal um clima bem típico da região, mas a esperada chuva não veio, fazendo com que a corrida ocorresse com pista seca. Na largada, como se a primeira posição lhes pertencia por direito e havia um intruso ali, os dois pilotos da Williams atacaram com força Senna, mas o brasileiro usa sua agressividade implacável para deixar Mansell, que assumia a segunda posição, e Patrese para trás. Apesar da estreiteza das duas primeiras curvas e a força com que vieram as Williams, a primeira curva não teve nenhum problema e apenas Tarquini abandonou por problemas de câmbio.

Lembrando seus tempos de Lotus, Ayrton Senna não tinha um carro rápido, mas teimava em se manter na ponta e com isso, segurava um enorme pelotão atrás de si, em cena que já havia acontecido em Interlagos. Em segundo lugar, o sempre impaciente Mansell começava a mostrar seu carro a todo momento nos espelhos de Senna, mas parecia que o inglês não aprendia muito, pois esses truques Senna entendia e dominava como ninguém. Patrese apenas observava, enquanto era seguido de perto por Berger, Schumacher e Brundle. A corrida era próxima e interessante, ao contrário do que vinha acontecendo em 1992. Na volta 14, ocorre o primeiro ataque mais forte no pelotão da frente e Berger assume a terceira posição ao ultrapassar Patrese, numa situação atípica de um Williams-Renault sendo ultrapassado. Empolgado que uma ultrapassagem era possível e vendo-se sem o seu escudeiro e o deixando numa posição vulnerável de ataque, Mansell resolveu ir para cima de Senna. No fechamento da volta 14, Mansell colocou de lado na chicane, mas como era de se imaginar, Senna não pensa duas vezes antes de fechar o inglês, que roda e deixa o motor morrer. Mansell seria muito criticado por ter tentado a ultrapassagem de forma afoita e perdido uma nova chance de vitória tendo um carro bem melhor do que o de Senna e os demais. O inglês da Williams passou uma volta inteira dentro do carro, remoendo sua raiva até ser removido pelos comissários. Ainda furioso, Mansell foi aos boxes da McLaren discutir com Ron Dennis sobre o comportamento de Senna.

Além de não gostar de Mansell, Ron Dennis estava mais satisfeito por ver uma cena que não via fazia um ano: uma dobradinha da McLaren. Na volta 19 um grande susto quando Capelli bateu forte no muro e parecia que ele estava desacordado, mas não era o caso. Mesmo livre de Mansell, Senna não abria vantagem e um pelotão menor, mas ainda compacto, era visto na briga pela liderança, tendo Senna, Berger, Patrese e Schumacher. Quando os líderes se aproximam dos primeiras retardatários, Brundle entrou na festa, mostrando o quão o ritmo de Senna era ruim, a ponto dele ser atacado por Berger, que não comete o mesmo erro de Mansell. Os dois carros da Lotus corriam em quinto e sexto com Herbert e Hakkinen respectivamente, mas ambos tem quebras de câmbio em duas voltas, fazendo Alesi subir aos pontos na sua cambaleante Ferrari. Na volta 38, a falta de ritmo de Senna fica evidenciada quando seu carro trava de uma vez e o brasileiro tem que abandonar quando liderava. Um grande golpe na confiança de Senna, que poderia ter conquistado duas vitórias seguidas numa temporada amplamente dominada pela Williams, mas seu ritmo era tão ruim, que logo que fica com pista livre à frente, Berger começa a abrir aos poucos de Patrese e Schumacher.

Na volta 39 Schumacher comete um erro ao tentar passar Patrese e acaba ultrapassado pelo o seu companheiro de equipe Brundle. Cinco voltas mais tarde, Patrese entra nos boxes com o câmbio quebrado. Era estranho um Williams ficar no meio do pelotão tendo um carro tão competitivo. Era a primeira vez em 1992 que a Williams deixava uma corrida de mãos abanando. A alegria de Brundle dura pouco quando o inglês tem uma quebra de transmissão na volta 46 e do animado pelotão que havia entretido o público nas primeiras voltas, sobrava apenas Berger e Schumacher, separados por 3s. Com tantos problemas com os líderes, algumas surpresas começaram a brotar. Num ano difícil para a Ferrari, Alesi cavava um lugar no pódio, seguido por Wendlinger na quase falida March, Katayama e Andrea de Cesaris. Schumacher começa a ter uma luz piscando em seu painel, indicando que nem tudo ia bem na Benetton do alemão e com isso Michael tira o pé, deixando Berger solto na ponta. Katayama tem o motor quebrado com menos de dez voltas para o fim, perdendo pontos preciosos. Berger conseguia sua sétima vitória na carreira num momento crucial, onde tudo indicava que ele não permaneceria na McLaren. Schumacher era segundo e a Ferrari subia ao pódio pela primeira vez no ano. Wendlinger conquistava os últimos pontos da tradicional March na F1, enquanto Comas marcava com o sexto lugar o primeiro ponto da Ligier desde 1989. A vitória de Berger não diminuía o domínio da Williams em 1992, mas marcava a primeira corrida realmente divertida daquela temporada tão enfadonha. 

Chegada:
1) Berger
2) Schumacher
3) Alesi
4) Wendlinger
5) De Cesaris
6) Comas

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