A frase 'uma corrida não se decide na primeira curva' não se aplicou em Spa nessa manhã. Se a corrida não foi decidida na primeira curva, foi no primeiro quilômetro de uma corrida que ficou aquém do belo histórico de Spa na F1. Sebastian Vettel confirmou o favoritismo da Ferrari com pista seca numa corrida onde liderou de ponta a ponta, com Hamilton ficando num isolado segundo lugar, o mesmo acontecendo com Verstappen, que foi terceiro se aproveitando dos infortúnios dos seus rivais mais próximos.
A apertada curva Surcis causou um sério acidente quando Nico Hulkenberg errou a freada e encheu a traseira de Alonso, que alçou voo e caiu praticamente em cima de Charles Leclerc. O monegasco só não sentiu mais o peso da McLaren de Alonso por que o criticado Halo segurou o tranco. Ponto para a FIA. Alonso também bateu na traseira de Ricciardo, que atingiu o pneu traseiro direito de Raikkonen. Mais à frente, numa das cenas mais lindas do campeonato, Vettel pegou o vácuo de Hamilton no meio da reta Kemmel e completou a ultrapassagem ainda bem longe da freada da primeira curva. Usando a força do motor Mercedes, a dupla da Force India, que vinham logo atrás, ajudado pelo vácuo também emparelhou com os líderes e os quatro ficaram praticamente lado a lado, mas o juízo dos pilotos dos carros róseos falou mais alto e todos os quatro contornaram a chicane inteiros para ser anunciado a entrada do safety-car. O que ninguém sabia era que a corrida estava praticamente decidida ali. Raikkonen, com seu ótimo histórico em Spa, abandonaria algumas voltas mais tarde com a asa traseira avariada. Ricciardo teve sua asa traseira recolocada, mas como já largou com uma volta de atraso, a Red Bull achou por bem economizar equipamento e parou o australiano. Bottas também bateu na primeira volta e atrasou sua protocolar corrida de recuperação, deixando Verstappen sozinho para atacar os dois carros da Force India e garantir a terceira posição.
Lá na frente, Vettel administrou a corrida da mesma maneira com que fazia quando tinha nas mãos o dominador carro da Red Bull no começo dessa década. A única ameaça do alemão foi na única parada de pit-stops. Com bolhas aparecendo no pneu traseiro esquerdo, a Mercedes chamou seus pilotos para os boxes e ato contínuo, a Ferrari trouxe Vettel para os pits. Hamilton vinha muito rápido, mas encontrou Verstappen pela frente, enquanto Vettel saía à frente do holandês. Quando Lewis efetuou a ultrapassagem sobre Max na reta Kemmel, estava menos de 2s atrás de Vettel e pronto para um ataque, mas não demorou duas voltas para Vettel colocar ordem na casa e disparar na frente. Mesmo se tivesse conseguido a ultrapassagem nos boxes, era bem claro que Hamilton não teria como segurar Vettel, que partiu para uma vitória tranquila e dando-lhe um bom respiro no campeonato. Hamilton tirou o pé para economizar o seu equipamento e se preparar para o desafio a seguir. Se antes o carro da Mercedes era melhor do que a Ferrari em circuito rápidos, hoje foi provado o inverso, lembrando que a próxima corrida será em Monza, casa da Ferrari e onde o motor é ainda mais importante do que em Spa. Depois vem Marina Bay, circuito onde a Mercedes nunca andou muito bem. A liderança de Hamilton ainda é boa, mas a tendência é ir diminuindo cada vez mais.
Bottas teve sua recuperação adiada, mas conseguir o quarto lugar protocolar ao ultrapassar Sergio Pérez já nas últimas voltas. Porém, não se pode negar a corrida heroica da Force India. Durante as férias a equipe foi anunciada que estava falida, foi comprada por um consórcio, mas por motivos burocráticos, o time quase não correu em Spa. Trocando de nome de última hora e perdendo todos os seus pontos até a Hungria conquistados, a Force India participou da corrida na Bélgica como se nada tivesse conseguido e utilizando seus dois bons pilotos, além da força do motor Mercedes, conseguiram um quinto lugar com Pérez e um sexto com Ocon com grande tranquilidade para a sua antiga rival pelo quarto posto no Mundial de Construtores, a Haas. O time americano pontuou com seus dois pilotos e ainda viu a Renault fazer uma corrida esquecível, com Hulkenberg batendo na primeira curva e Sainz não brigar pelos pontos. Em outros tempos, Spa seria um pesadelo para o motor Honda, mas Gasly provou a evolução do motor japonês com um seguro nono lugar, ainda na mesma volta do líder. E a Red Bull vibra! Ericsson se aproveitou dos problemas dos demais para ficar com a última posição pontuável. A Williams fez sua corrida medíocre de sempre, mas usando o motor Mercedes conseguiu superar a McLaren, que sempre viu Vandoorne ficar sempre em último. Vinte anos atrás, Williams e McLaren eram sinônimos de glórias, vitórias e títulos. Hoje, lutam para escapar da última posição. Sinais dos tempos!
A corrida teve seus bons momentos, como a bela cena na primeira volta e a ultrapassagem na Eau Rouge de Bottas em cima do inofensivo Hartley. Contudo, a corrida ficou abaixo das expectativas de Spa e houve até torcida para que as nuvens carregadas no horizonte trouxessem a onipresente chuva na floresta da Ardenas. Para o campeonato, a vitória de Vettel significa que o alemão pode começar uma virada nessa volta das férias com sua Ferrari aparentemente melhor do que as demais, enquanto Hamilton e Mercedes lutarão para se manterem no topo. Um campeonato que poderá ter capítulos históricos até o final!
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