terça-feira, 14 de agosto de 2018

E ele disse adeus

Nessa terça-feira, Fernando Alonso anunciou algo que tem vários significados. Já contando com 37 anos de idade e mais de 300 Grandes Prêmios, Alonso falou que 2018 será seu último ano na F1. A saída de Alonso terá inúmeras implicações e não será apenas para o espanhol.

Primeiramente, essa saída de Alonso da F1 mostra bem o quão complicado um personagem tão forte pode atrapalhar os planos de equipes ao longo de uma temporada. A qualidade e o talento de Fernando Alonso são indiscutíveis. Ferrari e Red Bull tem vagas em aberto em 2019. E simplesmente ninguém pensou em Alonso para o ano que vem nessas duas equipes que tem tudo para ficar no pelotão da frente nos próximos anos. Alonso virou um nome proibido para qualquer equipe que queira manter um mínimo de harmonia e um bom gerenciamento. E a culpa foi dele.

As passagens de Fernando Alonso em todas as suas equipes foi cercada de polêmicas e dificuldades de relacionamento. Extremamente centralizador, Alonso é um tipo de piloto que talvez seja o último da espécie, do mesmo material feito por Senna e Schumacher. Se a equipe quiser ser campeã, basta investir única e exclusivamente em seu talento. Assim como Senna e Schumacher, Alonso tem cacife para garantir os resultados sonhados por qualquer equipe, nem que seja necessários passar por cima de quem quer que seja não apenas fora da equipe, mas também dentro do time. As saídas de Alonso em todas as suas equipes foram problemáticas e as portas iam sendo fechadas uma a uma. Ferrari conquistou três vice campeonatos com Fernando, mas ninguém em Maranello sente saudades de trabalhar com ele. Ron Dennis teve que engolir o espanhol após sua tumultuada passagem em 2007 muito pela pressão da Honda, mas não demorou dois campeonatos abaixo da crítica para que o próprio Alonso expulsar os japoneses da McLaren. A Red Bull negociou seriamente com Alonso, mas o espanhol esnobou a equipe que dez anos atrás parecia atrás apenas de se divertir e não competir. A Mercedes, que era parceira da McLaren na passagem de Alonso, não teve muitas boas lembranças do espanhol, o mesmo acontecendo com Lewis Hamilton, certamente não querendo outra guerra civil dentro de sua trincheira, como a que travou contra Nico Rosberg.

Alonso se achou sem saída. Mercedes, Ferrari e Red Bull não o queriam. A Honda, que no próximo ano será parceira da Red Bull, não deve esquecer do 'GP2 Engine' em plena Suzuka. Inteligente como é, Alonso sabe que uma equipe deve ter o status de fábrica se quiser brigar por títulos. E todas as quatro montadoras estão bem estabelecidas na F1 e no momento não há outra querendo entrar ou se associar a McLaren. A então gigante McLaren se vê numa encruzilhada, que poderá transforma-la numa Williams em poucos anos. Alonso não queria estar nessa barca furada quando a água começar a entrar. 

Mesmo tendo uma moral invejável dentro da McLaren, Alonso sabe que ele não terá chances de título num curto prazo. Querendo novos desafios, Alonso foi ousado ao experimentar as 500 Milhas de Indianápolis e acertar um contrato com a Toyota, onde vencer em Le Mans. Agora para Alonso resta a vitória em Indiana e por isso, muito provavelmente o espanhol irá correr na Indy nos próximos anos. A McLaren deverá ser a patrocinadora dessas investidas de Alonso na Indy, enquanto tenta se reinventar na F1. 

Uma pena para a F1 que um talento como Alonso só tenha conquistado dois títulos. Muitos acusam a F1 da aposentadoria sem glórias de Alonso, mas se esquecem que o caminho escolhido por Alonso em suas dezessete temporadas o colocaram nesse incômoda situação de ser um dos melhores pilotos da sua geração, mas ter seu último título conquistado há doze anos. Fernando Alonso será para sempre um nome respeitado, mas mesmo com dois títulos, seu nome ficará ao lado de pilotos como Stirling Moss e Carlos Reutemann. Personagens fortes e de muito talento, mas que não conseguiram o que eles podiam por escolhas (erradas) próprias.

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