sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Uma escolha surpreendentemente lógica


Antes da corrida na Hungria no final de semana passado, Daniel Ricciardo declarou que sua renovação com a Red Bull era questão de apenas detalhes e que no final das férias, tudo estaria resolvido. Olhando o mercado, essa era uma escolha lógica para o australiano. Com a Mercedes mantendo sua dupla de pilotos e a Ferrari pendendo entre manter um quieto Kimi Raikkonen ou apostar no talento de Charles Leclerc, permanecer na Red Bull era o havia de melhor para Ricciardo no momento. Mas haviam alguns poréns.

Após doze anos entre tapas e beijos, a Red Bull e a Renault se separaram e em 2019 os austríacos correrão com os motores Honda, que fracassaram de forma retumbante na McLaren, mas mostrou um bom progresso na Toro Rosso, que serviu de laboratório para a Red Bull. A partir do próximo ano a Red Bull se tornará uma equipe de fábrica, hoje um requisito básico para brigar pelas vitórias, mas a Honda ainda sofre com os mesmos problemas que minaram a promissora parceria com a McLaren. Como a Toro Rosso é uma equipe menor e tem pilotos longe do tamanho de Fernando Alonso, os problemas da Honda diminuíram bastante de intensidade, mas ainda estão lá. A Toro Rosso sente imensas dificuldades em circuitos com longas retas, demonstrando a falta de potência da Honda, mas o pior é a constante troca de motores. Passando da metade da temporada, Pierre Gasly e Brendon Hartley já utilizaram o dobro de motores 'permitidos' num ano, mostrando que a Honda ainda sofre com a confiabilidade dos seus propulsores. Mesmo a Red Bull se tornando uma equipe de fábrica e aparentemente dando mais liberdade para trabalhar com a Honda, os resultados não virão tão rapidamente e provavelmente 2019 será um ano de transição para a Red Bull.

Daniel Ricciardo completará 30 anos em 2019 e está com sede de títulos, além de ter talento para isso. Ele não precisa de um ano de transição como o que a Red Bull passará em 2019. Além do mais, Ricciardo teria a pressão de encarar um Max Verstappen cada vez mais dominador. O holandês ainda comete erros infantis e da mesma forma de Neymar, ainda sofre com uma maturidade que lhe custa chegar, mas apesar de todos os defeitos, o talento absurdo de Max faz a Red Bull apostar nele como a futura estrela do time, assim como Vettel foi no começo dessa década. Ricciardo deve ser inteligente o suficiente para saber que Max Verstappen é mais talentoso do que ele e somente a experiência do australiano o faz andar no mesmo ritmo ou até mais do que o holandês. Mas no momento em que Verstappen conseguir o um mínimo grau de maturidade, ele será difícil de ser batido, principalmente dentro da mesma equipe.

Mesmo sem as opções de Ferrari e Mercedes nos próximos anos, Ricciardo deve ter visto que a Red Bull também não era uma opção tão atraente assim. O australiano recebeu uma proposta da McLaren, mas é nítido que, infelizmente, a tradicional equipe inglesa está em franco declínio. Apesar do motor Renault não ser o melhor da F1, a montadora francesa está presente com uma equipe oficial. Como falado acima, ser uma equipe de fábrica é um requisito básico para brigar por vitórias e a Renault está na F1 com sua equipe. Ok, ainda brigando para ser a quarta força da F1, muito distante da própria Red Bull, mas com um potencial imenso para conseguir seus objetivos, que não são pequenos.

Numa movimentação rápida e que ocorreu sem muito alarde, Ricciardo anunciou sua saída da Red Bull, trocando a equipe que o revelou, pela Renault a partir de 2019, num contrato de dois anos. Para dissipar qualquer dúvida, a Renault anunciou que Ricciardo terá como companheiro de equipe Nico Hulkenberg, um piloto com objetivos muito parecidos com os de Ricciardo. Quando foi para a Renault em 2017, Nico estava procurando uma equipe de ponta para finalmente conseguir se firmar como um dos grandes pilotos da atualidade. Mesmo com pinta de eterna promessa, Hulkenberg já mostrou que tem talento e junto com Ricciardo, formar uma dupla homogênea e muito forte. 

A surpreendente saída de Ricciardo causou um turbilhão no mercado de pilotos. Mesmo tendo que correr ao lado de Max Verstappen, o 'darling' da Red Bull, a segunda vaga na equipe austríaca é bastante atraente para pilotos ainda procurando um lugar ao sol. Ou querendo voltar à ponta. Dois pilotos despontam como favoritos. Carlos Sainz acabou sobrando na Renault, mas ainda mantém vínculo com a Red Bull. Conta contra ele sua temporada abaixo do esperado na Renault e sua má relação com Verstappen nos tempos de Toro Rosso. Com a moral que Verstappen tem junto aos chefões da Red Bull, um veto não seria impossível. Outra promissora aposta seria o jovem Pierre Gasly. Vindo de uma bela corrida na Hungria, Gasly tem a vantagem de já conhecer o motor Honda e estar fazendo uma boa temporada na Toro Rosso. Conta contra sua inexperiência e Gasly formaria com Verstappen uma dupla muito jovem para desenvolver um projeto novo. E experiência sobra em Fernando Alonso. Mesmo já contando com 37 anos de idade, o espanhol ainda tem muita fome para voltar a conquistar títulos. Alonso não negaria um convite da Red Bull e seria uma grande atração na equipe, mas seu gênio difícil iria pesar bastante, ainda mais lidando com um fedelho tão talentoso como Verstappen. A Red Bull ainda não teve uma experiência de ter dois pilotos com tanta personalidade formando uma dupla tão explosiva.

Estranhamente a Red Bull não anunciou quem será o companheiro de equipe de Max Verstappen em 2019 e nos anos vindouros. Dificilmente Sainz ficaria sem cockpit em 2019 e já se fala numa dupla totalmente espanhola na McLaren. Isso, se Alonso realmente ficar. Vandoorne e Hartley são duas cartas totalmente fora do baralho, além do que, ainda há Lando Norris fazendo muita pressão para entrar na F1 já em 2019 e mostrando talento para tal. 

A saída de Ricciardo foi apenas o começo da dança das cadeiras na F1, o que fará desse período de férias bastante animado com relação à especulação de quem vai ficar aonde em 2019. A escolha de Daniel Ricciardo foi bastante audaciosa e surpreendente, mas houve bastante lógica em sua opção com a Renault. Ele estará numa equipe de fábrica, em desenvolvimento e como piloto principal, mesmo Hulkenberg sendo um ótimo piloto. Se a aposta de Ricciardo funcionará, conheceremos apenas daqui a um ano e meio, quando terminar a temporada de 2019.

2 comentários:

  1. E esqueceu de falar que a Honda poderia vetar o Alonso lembrando-se do tempos da McLaren onde o espanhol descia o sarrafo nos japoneses chegando a chamar o motor Honda de Motor de GP2 em pleno GP caseiro da marca em Suzuka...

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