domingo, 2 de agosto de 2020

Ah o esporte...

Caminhávamos para uma das corridas mais chatas dos últimos tempos, talvez comparável ao marcante (pelo lado negativo) Grande Prêmio da França do ano passado, quando a F1 entrou em crise por causa de termos uma corrida tão ruim como aquela. Então, o esporte nos surpreendeu, como várias vezes aconteceu não apenas na F1, mas em outros esportes. Faltando algumas voltas para o fim, entre bocejos e cochilos, os pilotos começaram a reclamar de vibrações nos pneus e então a corrida em Silverstone ganhou uma inesperada vida com alguns estouros de pneus, envolvendo os dois pilotos da Mercedes. Hamilton estava conquistar mais uma vitória fácil na carreira, mas acabou vencendo a prova mais dramática dos últimos tempos, com o pneu dianteiro esquerdo estourado bem na última volta. Bottas, que tinha sofrido um pneu estourado poucas voltas antes, não capitalizou. Onde estaria o solitário Max Verstappen? O holandês tinha acabado de trocar seus pneus para marcar a volta mais rápida da corrida e se viu 34s atrás de Hamilton, que com o contratempo percorreu meia volta com três pneus e com menos de 6s de vantagem para o piloto da Red Bull. De acordar até defunto!

Para sempre lembraremos do final do Grande Prêmio da Inglaterra de 2020 pelo seu final maluco, porém, 90% da corrida foi um verdadeiro porre de dar sono em qualquer fanático por F1. Como esperado, a Mercedes esmagou a concorrência com um ritmo muito superior aos adversários. O mais próximo era mesmo a Red Bull. E de Max Verstappen. O holandês estava correndo tão sozinho hoje que deu até tempo de zoar seu engenheiro no meio da prova. Liderando o pelotão intermediário, estava Charles Leclerc. Sim, hoje podemos afirmar com todas as palavras que a Ferrari está no pelotão intermediário, lutando com Renault, McLaren e Racing Point. Mesmo com duas entradas do safety-car, a corrida não ganhou tempero nenhum, com lutas apenas pelo pelotão intermediário. Esperto, o diretor de TV preferiu mostrar as lutas pelo sétimo, oitavo e até mesmo décimo quarto lugar do que o passeio da Mercedes, que mal apareciam nas nossas telas. Contudo, o erro de Daniil Kvyat que trouxe o segundo SC foi decisivo para o que aconteceria no final da prova. Ainda antes da metade da corrida, todos os pilotos (com exceção de Grosjean) foram aos pits colocar pneus duros para irem até a bandeirada sem precisar de nenhuma parada a mais. Uma tática padrão e lógica. Contudo, o bom do esporte é que nem sempre há padrões e lógicas para definirem tudo. Como em todos os finais de semanas nos últimos tempos, as equipes da F1 testam mais os pneus macios e médios nos treinos livres, praticamente deixando o composto duro de lado. Muitas vezes, só colocam esse composto na corrida. Silverstone tem uma carga aerodinâmica muito grande e com isso, maltratam bastante os pneus. Hamilton e Bottas trocavam de melhor volta na frente, como se querendo entreter um ao outro. Verstappen perguntava ao seu engenheiro se ele estava bem hidratado. Leclerc não era ameaçado, enquanto McLarens, Renaults e Lance Stroll brigavam pelas posições restantes da zona de pontuação. Tudo muito bem, mesmo que muito chato. Os rádios que apareceram na transmissão da TV recentemente e mostra reações explosivas e chorosas dos pilotos nos trouxeram à baila reclamações de vibrações de vários pilotos, claro indício que os pneus duros e pouco testados nesse final de semana não estavam 100%. Foi então que a corrida morna e parada de Silverstone se tornou dramática. Bottas perdia ritmo claramente e até mesmo Verstappen se aproximava quando o pneu dianteiro esquerdo do finlandês estourou, fazendo-o sair da pista. Isso já serviu para nos acordar.

Bottas se arrastou por todo o circuito antes de entrar nos pits e colocar pneus novos. Isso nos transporta para o pit-wall da Williams em Adelaide/1986. Com tamanha diferença para Verstappen, não seria interessante trazer Hamilton para uma parada de precaução? Sem poder prever o futuro e com Max também reclamando de vibrações, a Red Bull trouxe o holandês para os pits. Não para precaver algum incidente com o pneu Pirelli, mas para marcar a melhor volta da corrida, garantindo mais um pontinho na conta de Verstappen. Faltando uma volta e meia, tudo o que Max estava preocupado era aquecer seus pneus e garantir mais um ponto na última passagem da corrida de Silverstone. Quando as câmeras buscaram Sainz com o pneu estourado, percebeu-se que uma drama se estabelecera no tradicional circuito inglês. Ricciardo já tinha ultrapassado Norris com problemas de pneus e Stroll se arrastava na pista fazia algum tempo. Foi então que apareceu Lewis Hamilton com o pneu dianteiro esquerdo murcho. Quase ouviu o 'ohhhh' das arquibancadas, se lá houve público. Hamilton teria que receber a bandeirada com apenas três pneus operando. Verstappen teria tempo para alcança-lo? Já dando tudo de si para marcar a volta mais rápida, Max deve ter levado um susto quando foi avisado do incidente pelo rádio. Porém, a parada duas voltas antes da Red Bull se provou decisiva. Com apenas três pneus, Hamilton venceu com menos de 6s de vantagem para Verstappen, que pode ter perdido a sua melhor chance de vencer em 2020. Com os pneus em frangalhos, Leclerc completou o pódio com Ricciardo já colado nele. Foi o segundo pódio para a Ferrari esse ano. Nada mal para uma equipe intermediária...

Para comprovar a sorte de Hamilton, que lhe dará o sétimo título, Bottas teve duas voltas para se recuperar, mas terminou a corrida em 11º e fora dos pontos. Ou seja, mais 25 pontos limpos para Hamilton, rumo ao título, em cima do seu único rival. Após citar algumas vezes a Ferrari, alguém deve estar se perguntando por Vettel. O alemão teve uma corrida abaixo do medíocre, tomando ultrapassagem da Alpha Tauri de Pierre Gasly e só pontuando por causa dos incidentes das últimas voltas. Vettel pode entrar no rol de Kimi Raikkonen, que hoje recebeu a bandeirada em último, atrás das Williams: a de ex-piloto em atividade. Somente uma vaga na Racing Point pode salvar Vettel na F1, mas estar numa equipe ao lado de Lance Stroll pode ser um perigo. Não por causa do talento do canadense, mas pela forma como ele é favorecido dentro do time do papai. Na ausência de Sergio Pérez, Nico Hulkenberg foi convocado de última hora e o alemão, sem nenhum treino com esse carro, já andava no ritmo de Stroll. Porém ele teve problemas antes da largada e Hulk nem pode reestrear. Alguém enxerga isso acontecendo no carro de Lance Stroll? E o canadense foi outro que teve um desempenho horroroso, sendo ultrapassado várias vezes após não saber cuidar dos pneus. A Racing Point está claramente sem um bom primeiro piloto, ainda mais com Lawrence acreditando que este seja Lance. Albon se envolveu em um incidente em que foi considerado culpado com Kevin Magnussen (isso é uma grande novidade) e chegou a cair para último. Tendo sendo um dos poucos a ter trocado duas vezes de pneus, o tailandês fez várias ultrapassagens no final da prova que o colocou na zona de pontuação. Contudo, atrás de Gasly. Para os padrões draconianos de Helmut Marko, Albon já pode colocar as barbas de molho. O mesmo acontecendo com Kvyat, que confessou ter destruído o carro por ter se distraído ao mexer nos botões do seu volante. 

O final da corrida mudou todo o script do que seria falado depois da bandeirada. Já me preparava para ler e ouvir que a F1 tinha morrido e está muito sem graça, porém, o bom do esporte é sua imprevisibilidade. O grande charme da F1 de anos atrás eram as possíveis quebras, mas os anos de conhecimento fizeram com que os carros atuais sejam praticamente inquebráveis e não podemos culpar as equipes por isso. Quem seria o chefe de equipe maluco que construiria um carro para quebrar apenas para emocionar as corridas? Por isso que não é surpresa que num dos poucos itens em que a mecânica e a eletrônica não está envolvida num carro de F1 transformou uma corrida horrorosa numa das mais dramáticas e malucas de todos os tempos. Nem assim, porém, tirou a vitória de Lewis Hamilton, mas o esporte agradece um final de corrida como o de hoje.

Um comentário:

  1. Que final de corrida foi esse hein? Mds! Automobilismo é isso, torna o previsível e monótono, no aleatório é caótico! E por isso é tão apaixonante. Mudando um pouco o foco, que passadão que o Vettel levou do Gasly hein? Por fora na stowe kkkk

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