domingo, 30 de agosto de 2020

Nem parecia Spa


 Circuito preferido dos pilotos e dos mais aclamados pelo público, o circuito de Spa-Francorchamps é sinônimo de emoção, certo? O ano atípico de 2020 viu uma corrida atipicamente chata no circuito belga, onde praticamente não houve emoção em nenhuma parte do pelotão. Mais uma vez Lewis Hamilton não teve do que reclamar e só não completou o Grand-Chelem pela melhor volta conquistada pelo quarto colocado Daniel Ricciardo na última volta. Mais um passo para o inglês se igualar a Schumacher em número de vitórias e títulos.


Em nenhuma sessão de 2020 a chuva foi um fator preponderante nesse final de semana. Uma garoa aqui, uma ameaça acolá, mas chuva de verdade mesmo, Spa não viu e resultou numa das corridas mais modorrentas dessa temporada. Resumir a corrida de Hamilton é fácil. Ele não largou perfeitamente, mas manteve a primeira posição sem sustos. Controlou a vantagem sobre Bottas a corrida inteira, mesmo quando um problema de potência e os desgaste de pneus apareceram em determinados momentos da prova. Ou seja, para Hamilton só faltou colocar o braço de fora, ficar ouvindo hip-hop no toca-fitas e aproveitar a bela paisagem belga num domingo ensolarado. Com 89 vitórias Hamilton caminha para deixar os recordes de Schumacher no chinelo, o mesmo acontecendo com o número de títulos, que será igualado nessa temporada. Se no começo da semana Bottas sentia o título escapando, hoje o título ficou ainda mais longe do finlandês, que amargou um segundo lugar e ainda ouviu de sua equipe que não poderia atacar Hamilton. Mais segundo piloto do que isso, impossível! Porém, Bottas pode conquistar vitórias aqui e ali, além de curtir um vice-campeonato, o segundo seguido. Nada muito diferente disso.


A única emoção da corrida, além do desgaste de pneus, foi a possibilidade da Red Bull tentar um pulo do gato como em Silverstone. Após a única parada dos seus pilotos no momento do safety-car, a Mercedes marcou Verstappen de perto, na expectativa se o holandês pararia uma segunda vez ou não. Por outro lado, a Red Bull percebeu que se Max parasse de novo, perderia a terceira posição para Daniel Ricciardo e poderia se meter numa briga que, em tese, estragariam seus pneus. Foi então que a Red Bull preferiu que Verstappen ficasse na pista, algo imitado pela Mercedes, deixando a corrida morna nas três primeiras posições em todo momento. A Renault teve seu melhor final de semana desde a nova gestão, com Ricciardo chegando a brigar com Verstappen na primeira volta, porém, o australiano ficou num sólido e solitário quarto lugar a corrida inteira, enquanto Esteban Ocon teve um pouco mais de trabalho com Alexander Albon, que arriscou colocar pneus médios na única parada que fez e acabou ultrapassado por Ocon na última volta. A sombra dos pneus duros estourados nas últimas voltas em Silverstone deixou todas as equipes em alerta e não faltaram rádios de pilotos reclamando de vibrações em seus pneus, mas a borracha da Pirelli resistiu dessa vez.


Um ano depois de estrear pela Red Bull, Albon vê o piloto a quem substituiu ano passado cada vez mais em ascensão. Pierre Gasly executou uma tática diferente dos demais e numa prova consistente e de recuperação, foi oitavo lugar, ainda com fôlego para alcançar a McLaren de Norris, se houvesse tempo. Albon ainda foi sexto, mais atrás das duas Renaults. A paciência de Marko, conhecida por ser bem pequena, não deve estar longe de acabar. Em mais um momento estratégico esquisito da Racing Point nessa temporada, Sergio Pérez ficou na pista com pneus moles quando todos fizeram suas paradas para colocar pneus duros (ou médios, no caso de Albon). Resultado dessa 'brilhante' tática foi Pérez perder rendimento e posições por consequência, cair para último quando fez sua parada e ficar mais uma vez atrás do queridinho da equipe, Lance Stroll. Será que vale a pena ir para uma equipe boa como a Force India, mas que privilegia tanto o filho do dono? McLaren começou a corrida desfalcada de Sainz, que sequer largou com problemas de escapamento.


No entanto chamou atenção a cara de Sainz, que assistia a prova, quando a Ferrari de Vettel foi facilmente ultrapassada na reta Kemmel. A Ferrari já teve corridas ruins ou péssimas por vários motivos, principalmente por causa de problemas técnicos ou até mesmo climáticos, mas em Spa/2020 vimos uma exibição pífia e patética, como diria o poeta, da equipe de Maranello. Com um motor abaixo do aceitável, a Ferrari parecia que estava parada enquanto era atacada por equipes com outros motores. Caberia até para Vettel um 'GP2 Engine'? Ou até mesmo 'F-E Engine!' Porém, além de ter o pior motor da F1 atual, a Ferrari ainda tem um chassi ruim, como prova foi Vettel ser ultrapassado pela Alfa Romeo, com o mesmo motor, de Kimi Raikkonen. Como 2021 não terá tantas mudanças em relação a esse ano, Sainz deveria estar pensando aonde ter amarrado seu burro...


A corrida ainda foi paralisada pelo forte acidente Antonio Giovinazzi e George Russell, que apesar do susto, só antecipou das paradas de praticamente todo o pelotão, onde os pilotos ficaram bem. Hamilton caminha impávido rumo aos recordes, Bottas deverá ser um vice que não engana ninguém e Max Verstappen corre sozinho, pois se não ataca as Mercedes, ninguém o ataca. Numa corrida ensolarada em Spa, a F1 viu sua cara de 2020 escancarada. Apesar de tudo tivemos corridas boas em 2020, mas hoje nem parecia uma corrida em Spa. 

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