domingo, 16 de agosto de 2020

Tudo normal em Barcelona

Passa ano, muda regulamento, muda a geração de pilotos, mas a F1 tem uma certeza: a corrida em Barcelona será um enorme bocejo. Das trinta edições do Grande Prêmio da Espanha realizado no circuito de Barcelona, conta-se nos dedos de uma mão as corridas realmente boas e emocionantes. Uma mistura de pista estreita, conhecida das equipes e com curvas rápidas transformaram a pista localizada em Montmeló em um sonho para as equipes, mas um pesadelo para os fãs da F1, que ficam quase duas horas se apegando em alguma coisa para se manter acordado até a bandeirada. Claro que Lewis Hamilton não teve do que reclamar e de ponta a ponta, venceu a corrida de hoje, espantando qualquer zebra como ocorrida semana passada.

A corrida desse domingo pode ser resumida à gestão de pneus. Nunca se pode menosprezar a capacidade das equipes de F1, ainda mais uma como a Mercedes. Depois do vareio tático tomado da Red Bull semana passada, a Mercedes baixou a cabeça para entender como perderam uma corrida donde colocaram 1s em cima de Max Verstappen na classificação. Acerto do carro e ritmo de corrida foi pensado para que Lewis Hamilton confirmasse sua pole com uma vitória arrebatadora, onde a única ameaça poderia vir dos céus, numa chuva que não apareceu. Hamilton administrou os pneus macios no primeiro stint com um pilotagem bem lenta, acelerou no momento certo e quando esteve com os pneus médios, o inglês teve mais sobra para gerir sua corrida rumo a bandeirada e a vitória de número 88. Com 156 pódios na carreira, Hamilton se tornou o piloto que mais subiu ao pódio na história da F1. Fazendo uma continha rápida, Lewis ficou no top-3 da F1 em 60% das corridas em que largou, numa média absurda, mas levando-se em conta os carros que teve em mãos e a atual geração de bólidos inquebráveis, esse feito pode ser colocado em perspectiva. Além do seu natural talento, Hamilton ainda tem na Mercedes uma equipe que vive em torno dele. Hoje Bottas não foi atrapalhado por sua competente equipe, mas destruiu qualquer chance de vitória com uma largada horrorosa, onde ficou atrás até mesmo da Racing Point de Stroll. Com um carro superior, era normal que Bottas atacasse o segundo colocado Verstappen, certo? Errado. Max se manteve confortavelmente em segundo a corrida inteira e Valtteri sequer colou no holandês da Red Bull.

Toto Wolff percebeu que pode se extrair tudo de Lewis Hamilton deixando-o confortável dentro da equipe e por isso o austríaco não se preocupa em trazer uma superestrela para a Mercedes ao lado do inglês, correndo o risco de perder pontos bobos. Bottas é um bom piloto e rápido, sem dúvidas, mas está longe de sequer fazer cócegas em Hamilton em ritmo de corrida ou ao longo de uma campeonato. Para melhorar as coisas para a Mercedes, Bottas também é um piloto regular e que traz bons pontos para a equipe no Mundial de Construtores. Para que arriscar trazendo um Vettel ou Verstappen, se Hamilton pode conquistar sozinho o Mundial de Pilotos e Bottas garante o necessário para o Mundial de Construtores? A equação é bem simples para Wolff, que deixa Lewis Hamilton sendo uma prima-donna dentro da Mercedes e Bottas num excelente amealhador de pontos. Max Verstappen vai levando sua Red Bull nas costas e conseguiu outro resultado acima do potencial do seu carro muito pela largada, superando Bottas facilmente e controlando a vantagem sobre o nórdico para ser segundo na corrida e também no campeonato. Havia esperanças que a Red Bull desse um pulo do gato na gestão de pneus, como ocorrido em Silverstone semana passada, mas como diria os antigos, faltou que a Red Bull combinasse com os russos, ou seja, com a Mercedes.

O ritmo imposto pelos três primeiros foi tão acima do resto, que apenas Hamilton, Verstappen e Bottas receberam a bandeirada na mesma volta. Sergio Pérez, punido por 5s e quarto colocado na pista, já estava uma volta atrás de Hamilton. As únicas brigas aconteciam exatamente no pelotão intermediário, mas devido a notória e conhecida dificuldade de se ultrapassar em Barcelona, o que mais se viu foram longas filas indianas, mais parecido com procissões em alta velocidade. Os carros mais bem equilibrados sempre funcionam muito bem em Barcelona e como a Racing Point tem um carro da Mercedes do ano passado, logicamente o time se sobressaiu frente aos demais. Stroll conseguiu uma ótima largada e pulou para terceiro, mas não fez mais nada demais, assim como Pérez, que tentou um diferente ao parar apenas uma vez. Contudo, o mexicano acabou punido pelos comissários por ignorar bandeiras azuis numa manobra que não ficou clara pela transmissão e mesmo chegando na frente de Stroll, o mexicano teve que se conformar com a quinta posição. Alguém imagina a Racing Point entrando com uma ação contra os comissários para reverter a punição de Pérez e deixar o mexicano na frente do darling Lance? Correndo em casa Carlos Sainz chegou logo atrás da dupla da Racing Point numa corrida combativa do espanhol, enquanto Alexander Albon, coitado, sofre com as comparações com Verstappen e ainda foi o único a usar os pneus duros. 

A Ferrari teve outro dia dolorido para a sua história, mas comum em seu 2020. Leclerc brigava no meio do pelotão quando seu carro travou e se tornou o único abandono do dia. Vettel fazia uma corrida opaca, mas resolveu arriscar uma parada e acabou se beneficiando com a tática, terminando em sétimo. Contudo, o clima entre o alemão e a sua equipe está longe de ser dos mais amistosos. Durante a corrida, as comunicações de rádio entre Vettel e a Ferrari eram ríspidas e muitas vezes demonstrando que ambos não falam a mesma língua ou tem o mesmo objetivo. Gasly e Norris completaram a zona de pontuação, deixando a Renault de fora. O problema foi que o CEO da montadora, Luca de Meo, esteve presente nos boxes da equipe e Cyril Abiteboul deve ter muito o que se explicar para o chefe nessa noite. Haas, Williams e Alfa Romeo cumpriram seu dever de fechar o grid, já se destacando com os piores carros da F1. Pelo menos a Williams não está sozinha nesse pelotão...

E assim terminou mais um Grande Prêmio da Espanha onde permanecer acordado foi bastante complicado, mas antes que alguém venha 'Ain, a F1 atual...', basta lembrar que corridas chatas em Barcelona acontecem faz quase trinta anos. Hamilton não tem do que reclamar, já que entre as suas contagens regressivas para os recordes, Lewis já deve começar a pensar quando irá acontecer a festa do hepta, se pelo menos haverá público. De qualquer maneira, se hoje houvesse público, eles não teriam perdido muita coisa. 

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