sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A vez de Gil

 


A Indy ainda vivia um grande momento no final dos anos 1990, mesmo já tendo ocorrido a famigerada cisão com a IRL em 1996, a CART ainda era um campeonato de alto nível. Gil de Ferran fora um dos pilotos que migraram para os Estados Unidos atrás de sucesso após a F1 ter lhe negado uma chance. O brasileiro foi o novato do ano em 1995 com a equipe Hall e o mítico leiaute da Pennzoil. Em 1997 ele se mudou para a equipe Walker e conseguiu o vice-campeonato atrás de Zanardi, mesmo sem conquistar uma única vitória sequer. As duas temporadas seguintes viram Gil sendo coadjuvante no domínio dos pilotos da Ganassi, mas era nítido que De Ferran tinha condições de brigar pelo título, se tivesse o equipamento correto.

Ao mesmo tempo a Penske sofria uma rara entressafra. Ainda produzindo seu próprio chassi, a Penske sofria com o crescimento da Reynard e para piorar o motor Honda era disparado o melhor da Indy, enquanto o time de Roger corria com Mercedes por causa de relações comerciais do Capitão com a montadora germânica. Por fim, os pneus Firestone eram bem superiores ao Goodyear, enquanto a Ganassi usava os Firestone, a Penske sofria com os Goodyear. A falta de competitividade da Penske fez com que a equipe tomasse um decisão drástica no final de 1999. O time não apenas abandonaria o próprio chassi, como usaria o mesmo equipamento da Ganassi, com motores Honda e pneus Firestone. Al Unser Jr tinha quebrado a perna na primeira corrida de 1999 e quando retornou, estava longe dos bons tempos, sendo logo colocado como carta fora do baralho. A Penske testou vários jovens pilotos enquanto tentava se achar, mas não tinha se impressionado com nenhum. Tendo muita ambição para 2000, Roger Penske foi ao mercado. Gil de Ferran era um dos grandes pilotos à disposição e fora um escolha natural para liderar o ressurgimento da Penske. O jovem piloto também foi escolhido a dedo, para ser o futuro da Penske: Greg Moore. Infelizmente o promissor canadense faleceu na derradeira corrida de 1999 em Fontana e sem muitas opções no mercado, Penske contratou Helio Castroneves, que tinha mostrado algum talento em equipes menores.

A aposta da Penske não demoraria a se pagar, com Gil de Ferran liderando a equipe na briga pelo título, algo que não acontecida faziam longas cinco temporadas. A esperada centésima vitória da Penske veio com Gil em Nazareth e com mais uma vitória em Portland, De Ferran era favorito ao título usando a consistência. Porém, não faltavam concorrentes. Mudando de Honda para Toyota, a Ganassi não dominou como nos últimos anos, mas Montoya ainda fazia ótimas corridas nos ovais. A equipe Patrick estava particularmente muito forte, com Adrian Fernández e Roberto Moreno, que venceu uma corrida em Cleveland e estava na liderança do campeonato naquele momento. Usando o mesmo equipamento da Penske, o time Green tinha o sempre atrapalhado Paul Tracy mais consciente e na luta pelo título. E por último, o novato Kenny Brack da Rahal mostrava muita força. Foram vários pilotos diferentes vencendo e com os brasileiros nas equipes mais fortes da Indy, não faltaram pódios inteiramente verde-amarelo.

Com um terceiro lugar em Houston, antepenúltima etapa do ano, Gil de Ferran poderia conquistar o título na prova seguinte em Surfers Paradise, porém, Gil cometeu um erro incomum e bateu em Montoya ainda na largada, acabando completamente com suas chances de vencer na Austrália. Para piorar, Fernández venceu e se aproximava decisivamente do piloto da Penske, trazendo consigo Kenny Brack. A última etapa seria as 500 Milhas de Fontana, onde Gil teria o apoio de Jackie Stewart e David Coulthard em busca do seu primeiro título desde a F3 Inglesa em 1992. A Honda havia levado um motor especial para o circuito californiano e com ele, Gil de Ferran conseguiu a volta mais rápida da história da Indy, com uma média de 388,6 km/h. Mais importante do que o recorde, era o ponto conseguido pela pole. Para melhorar, Adrian Fernández não estava com seu carro acertado, porém, o primeiro título não viria logo. A largada foi dada no domingo, mas uma chuva fez com que a corrida fosse adiada para segunda, não sem antes Paul Tracy bater e ser menos um piloto para Gil se preocupar.

Na época o SBT estava de saída da transmissão da Indy e transmitia apenas VT's às 23h de domingo. Mesmo com toda a importância da prova, a emissora de Silvio Santos não passou a corrida ao vivo na segunda, dia 30 de outubro de 2000, e muitos (como eu) tiveram que acompanhar a prova pela Internet. Castroneves e Gil lideraram boa parte da corrida e chegaram a tentar colocar um volta em um problemático Fernández, mas a corrida foi muito acidentada a ponto de apenas sete dos 26 pilotos que largaram viram a bandeirada. Correndo com cautela e apenas marcando Adrian Fernández, Gil de Ferran levou seu Penske até o terceiro lugar, formando uma trinca verde-amarela com Christian Fittipaldi em primeiro e Roberto Moreno, terceiro no campeonato com o resultado, em segundo. 

Gil de Ferran chegou aos pits aos prantos. Com 32 anos de idade o brasileiro nascido em Paris conquistava o primeiro título internacional de ponta para o Brasil desde o triunfo de Senna em 1991 e colocava seu nome como um dos gigantes do automobilismo brasileiro.

Um comentário:

  1. Excelente tema ,texto e lembrança . Lembro q o Tracy não bateu, explodiu literalmente o motor, tanto que a válvula Pop off voou e acertou a suspensão dianteira do DaMatta, nunca tinha visto isso antes. Mas valeu demais a lembrança. Parabéns

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