domingo, 11 de outubro de 2020

Missão cumprida e recorde igualado


Quando Lewis Hamilton venceu pela nonagésima vez, não era nenhum segredo que o incrível recorde de Michael Schumacher seria igualado a qualquer momento. Na verdade, desde que a Mercedes mostrou ter o carro a ser batido em 2020, essa contagem regressiva estava sendo feita por todos que acompanham a F1, surgindo até apostas de quando isso iria acontecer. Numa temporada atípica por tudo que estamos passando, Lewis Hamilton igualou o recorde de Schumacher justamente em Nurburgring, a pista mais próxima da cidade natal do alemão. Não importa todo o contexto em que Lewis Hamilton conquistou suas vitórias, se teve o melhor carro ou se não teve adversários tão fortes ou tão bem equipados quanto ele, mas a realidade é que ninguém tem 91 vitórias na F1 à toa e o inglês está, sim, entre os maiores da história.


Havia uma enorme expectativa de que a corrida em Nurburgring acontecesse debaixo de muita chuva, a ponto da F1 criar um plano de contingência, em caso da neblina da sexta-feira que cancelou todas as sessões retornasse no domingo. Porém, a chuva não veio na quantidade esperada, mas outro fator determinante deu as caras ao longo das encostas do castelo de Nürburg: o frio. Acostumada a correr em dias quentes, a F1 se viu num circuito onde a temperatura nunca atingiu os dois dígitos e aquecer os pneus foi um desafio constante a todos os pilotos. Porém, nem isso parou a Mercedes, principalmente de Lewis Hamilton. O inglês largou melhor do que o pole Bottas, mas o finlandês jogou duro na primeira curva e ficou stint inicial na ponta, mas Valtteri voltou a ser Valtteri ao errar a freada da primeira curva, proporcionando a ultrapassagem de Hamilton. Com o carro vibrando mais do que Hilux parada no sinal de trânsito, Bottas teve que antecipar sua primeira parada e atrás de Ricciardo, foi perdendo rendimento na medida em que o motor Mercedes falhou pela primeira vez no ano e a equipe tedesca amargou seu primeira abandono de 2020. Sem seu maior adversário, Hamilton apenas administrou Verstappen atrás de si até a consagradora bandeirada, vencendo pela nona vez nesse ano e começando outra contagem regressiva: onde comemorará seu heptacampeonato.


Mesmo a Red Bull ligeiramente mais próxima da Mercedes nesse final de semana, Verstappen pouco pôde fazer contra Hamilton, só ficando próximo do inglês quando o safety-car maroto apareceu na pista já nas voltas finais, porém, isso não tira o brilho da corrida do neerlandês, que subiu ao pódio novamente e encosta em Bottas na briga pelo vice-campeonato. Já Albon fez outra corrida esquecível, onde não largou bem, não conseguiu andar no ritmo da Renault de Ricciardo, foi justamente culpado por um toque em Kvyat e abandonou com um problema mecânico quando seria punido. Apesar da comparação ser até mesmo injusta com o tailandês, corridas como a de hoje não ajudam Albon. Com uma Mercedes e uma Red Bull de fora, alguém do pelotão intermediário subiria ao pódio e hoje foi a vez de Daniel Ricciardo, dando o primeiro pódio nessa volta da Renault à F1. O australiano fez uma corrida muito sólida, ultrapassando belamente Leclerc no começo da prova, contou com a ajuda da Renault quando os franceses pararam Ricciardo na hora correta pela segunda vez e segurou sem maiores sustos os ataques de Sergio Pérez. O risonho australiano vibrou como nunca e o CEO da Renault pareceu ter gostado do que viu. Pérez fez outra corrida de quase. O mexicano, que precisa de um resultado de relevo para conseguir uma vaga decente em 2021, teve chances de subir ao pódio pela primeira vez nesse ano, mas foi superado por Ricciardo, porém, Pérez teria uma chance de atacar mais fortemente o piloto da Renault se o SC não aparecesse no final, igualando a tático dos pneus dos dois. 


Como já aconteceu outras vezes em 2020, o Safety-Car entrou de forma, digamos, sem vergonha na pista, com o claro intuito de juntar os pilotos e ver no que dá nas voltas finais. O carro de George Russell estava numa posição mais próxima da pista quando o SC Virtual apareceu, ao meu ver, de forma genuína no começo da prova. Contudo, Lando Norris estacionou sua McLaren bem longe da pista e com um guindaste do lado. No máximo, um SC Virtual resolveria a questão, mas Michael Masi, apelidado certamente pelo ótimo Everaldo Marques como o 'Maníaco do Safety-Car', preferiu juntar tudo com o Mercedes de Bernd Maylander comandando o pelotão. Um artifício que pode causar danos para os fãs mais puristas. Ainda na Racing Point, o grande destaque vai para Nico Hulkenberg. Ontem pela manhã o alemão tomava um tranquilo café da manhã, quando recebeu uma ligação da Racing Point para que fosse para Nurburgring imediatamente. Hulk estava com seus exames de Covid na mão, pois estaria comentando a corrida para uma TV local, mas quando chegou ontem à pista, nem tinha a credencial correta e estava com o capacete com as cores da Renault, que usou ano passado. Indo para a pista na classificação, só conseguiu o último tempo, mas na corrida teve tempo para se acostumar à tudo e levou seu carro a um ótimo oitavo lugar, garantindo mais alguns pontinhos para a Racing Point e, no íntimo, fazendo com que alguns membros da equipe queiram outras dores de barriga para Lance Stroll...


A McLaren claramente perdeu rendimento nesse meio de temporada e o quinto lugar de Sainz aconteceu mais por problemas alheios, inclusive de Norris, que estava até mesmo na frente de Pérez quando começou a ter problemas no motor Renault. Pierre Gasly fez outra corrida sólida com a Alpha Tauri, enquanto Charles Leclerc foi muito bem pelo equipamento que tinha nas mãos. O monegasco ainda conseguiu salvar um sétimo lugar, mesmo a Ferrari usando todo o abecedário até acertar a estratégia de Leclerc. Já Vettel fez outra corrida abaixo do medíocre, ficando muito longe de Leclerc, além de cometer erros banais, como na tentativa de ultrapassagem sobre Giovinazzi no começo da prova. Por mais que seja de conhecimento público e notório que a Ferrari não ajuda os pilotos que estejam de aviso-prévio, o desempenho de Vettel já não condiz com essa desculpa. Com a sua vaga seriamente ameaçada por Mick Schumacher, que fez uma bela homenagem à Hamilton depois da corrida, Antonio Giovinazzi conseguiu marcar alguns pontinhos, enquanto outro ameaçado, Romain Grosjean, amealhou seus primeiros pontos do ano. Conseguindo o recorde de mais corridas na história da F1, Raikkonen sempre brigou com Vettel, mas seu erro no toque em cima de Russell foi de principiante.


Mesmo com todas as intempéries nesse final de semana, a F1 viu Lewis Hamilton e a Mercedes brilharem intensamente, mas hoje teve vários coadjuvantes (Ricciardo, Hulkenberg, Pérez, Gasly e Leclerc). A entrega do capacete de Michael Schumacher feita por Mick para Hamilton foi bastante simbólica, mesmo que o melhor teria sido que o próprio Michael tivesse feito essa entrega, mas o destino assim não o quis. Com o melhor carro nas mãos e uma equipe fortíssima a apoia-lo, Lewis Hamilton vai riscando suas missões para 2020. Uma foi cumprida hoje. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário