sábado, 3 de outubro de 2020

O ufanismo enganoso

 


Uma das críticas que se faz a Rede Globo quando o assunto é F1, é que sua forma de cobrir a categoria sempre foi pautada nas vitórias brasileiras, principalmente nos anos 1980, quando o auge de Nelson Piquet e Ayrton Senna foram praticamente emendados e o hino brasileiro era o principal hit da F1 naquele momento. Contudo, para esses torcedores a corrida acabava quando os brasileiros abandonavam ou deixavam de acompanhar a F1 quando algum piloto tupiniquim não vencia. Foi assim nas secas de brasileiros vencendo na F1 e não deixa de acontecer agora, sem nenhum brasileiro na categoria. As boas audiências da Globo vem muito pelos vários fãs abnegados, que adoram corridas, não importa quem esteja vencendo.

Nesse final de semana a Indy voltou ao circuito misto de Indianápolis para uma rodada dupla decisiva para o campeonato. A Band por muito pouco não transmitiu a temporada 2020, mas de última hora resolveu acompanhar a categoria que a tanto tempo transmite, principalmente no seu canal esportivo, o Bandsports. Com a concussão de Oliver Askew, a equipe McLaren resolveu trazer Helio Castroneves para substituir o jovem americano e com um pé fora da Penske, já que a equipe terminará seu programa na IMSA, Castroneves estaria interessado em voltar à Indy full-time. Para quem não lembra, Helio teve temporadas medíocres em seus últimos anos na Penske, chegando a ficar três anos sem vitórias na principal equipe da Indy, que muitas vezes dominava o campeonato com os seus outros pilotos. Mesmo aos 45 anos e com essa dificuldade anterior, Helio ainda se sente competitivo e suas exibições na IMSA deixa claro que o veterano não está tão fora de forma. Contudo, uma corrida endurance na IMSA é bem diferente de uma prova sprint na Indy. Porém, a equipe da Band resolveu nos brindar com uma transmissão ufanista em que a vaga na McLaren para 2021 teria que ser de Helio Castroneves. De qualquer maneira!

Celso Miranda e Paulo Carcasci são duas pessoas das mais entendidas do automobilismo brasileiro, mas a forçada de barra que ambos fizeram, principalmente o segundo, foi irritante nas duas corridas em Indianápolis. Na primeira corrida, de forma pouco usual numa sexta, dizia-se que Castroneves estava enferrujado, mas que ele estava no ritmo dos líderes. Contudo, ele chegou em 20º, uma volta atrás do vencedor Josef Newgarden. Num circuito de quatro quilômetros, andar no mesmo ritmo dos líderes está longe de significar que um piloto está levando volta dos líderes, mas Helio ainda teve um trunfo, que foi ter chegado à frente do seu jovem companheiro de equipe, Pato O'Ward. Já no sábado o mexicano se colocou entre os primeiros do grid e Helio continuava na rabeira. Dada a largada, com Will Power dominando a corrida de ponta a ponta, Castroneves mudou sua estratégia e chega a andar em sexto. "Uma pilotagem fantástica," exclamou Carcasci.

Não demorou muito para Helio Castroneves voltar para o fundo do pelotão, chegar numa posição ainda pior, 21º. Para piorar as coisas, O'Ward chegou em quinto lugar e a ponto de colocar uma volta no experiente brasileiro. Porém, mesmo com duas atuações medíocres, os comentaristas da Band achavam que Helio tinha feito um ótimo trabalho e que por eles, a vaga em 2021 na McLaren era dele. Um claro desserviço para alguém que estava assistindo a Indy pela primeira vez. Como um piloto que termina duas corridas abaixo da vigésima posição e uma volta atrás do vencedor andou super bem, como falado por Miranda e Carcasci? Se fosse leigo, eu acharia no mínimo estranho.

Claro que existe o fato de toda a adaptação a um carro, contudo, Helio já não vinha bem nas últimas temporadas na Penske e isso já faz alguns anos. Helio teve uma bela carreira nos Estados Unidos, mesmo não vencendo um campeonato, mas como tudo na vida há um início, meio e fim. Mesmo não querendo ou aceitando, o tempo de Castroneves na Indy já passou. E as duas exibições desse final de semana em Indianápolis esteve longe de impressionar qualquer chefe de equipe na Indy. Um contrato part-time ainda valeria para o bem da equipe e de Helio, mas dizer para milhares de pessoas que o Helio foi fantástico nessas duas corridas chega a ofender a inteligência dos telespectadores.

Numa resposta bem americana aos comentários ufanistas de Celso e Paulo na transmissão da Band, bastaria um... Come on!

2 comentários:

  1. o que é mais irritantes nas transmissões nas corridas é sem duvidas a obrigação de defender um brasileiro quando ele vai muito mal, por exemplo, Rubens Barrichello acerta em cheio a traseira do Ralf Schumacher no GP do Brasil de 2001, o Galvão e o Reginaldo falam que o Ralf ficou lento de repente (WTF!!!) e o pessimo desempenho do Pizzonia, onde falam que a Jaguar beneficiava o Webber, sendo que o Pizzonia ficava tomava 1s na classificação e 0.7s na corrida

    e não só são os comentaristas, além dos estupidos comentarios de "@F1MorreuEm1994", meu marido insiste que o Prost fechou a porta encima do Senna no Japão em 1990, sendo que até os comentaristas falam que ele jogou o carro encima do Prost.

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    1. E o pior é que passado tantos anos, a forma de transmissão não muda e isso é um tremendo desserviço. Custava nada falar a verdade e dizer que um piloto (brasileiro ou não) foi mal no final de semana?

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