Outro detalhe era saber aonde a Indy aportaria no Brasil. A categoria vivia um momento tão bom que Bernie Ecclestone em pessoa praticamente vetou que Interlagos recebesse a prova. Sim, a F1 tinha receio da Indy. Então surgiu a ideia de utilizar o Autódromo Nelson Piquet, mas de uma forma diferente. Ao invés de utilizar o belo circuito misto de Jacarepaguá, se construiria uma variante totalmente nova e inédita no Brasil. Nascia o circuito oval Emerson Fittipaldi. Estava tudo pronto para receber a Indy naquele março de 1996.Seria a segunda etapa do campeonato, cuja a estreia viu vitória de Jimmy Vasser na ascendente equipe Chip Ganassi. Gil de Ferran, rookie of the year de 1995, chegara em segundo e era talvez a maior esperança brasileira quando a Indy saiu de Miami rumo ao Rio de Janeiro. A Rio 400 ganhou uma cobertura maciça na mídia brasileira. O SBT investia pesado no esporte e não mediu esforços para promover a corrida e seus pilotos, principalmente os brasileiros. Além de Gil, havia o pioneiro Emerson Fittipaldi, seu sobrinho Christian, o rodado Raul Boesel, que na ocasião corria no carro da Brahma, os experientes Maurício Gugelmin e Roberto Moreno, além do inexpressivo Marco Greco. E André Ribeiro.
Paulista de 30 anos na época, André Ribeiro começou tarde no automobilismo e mesmo fazendo bons trabalhos na Europa e nos Estados Unidos, estava longe de brilhar. Na ocasião corria pela equipe Tasman ao lado do mexicano Adrian Fernández e mesmo tendo vencido uma corrida em 1995, André não aparecia entre os favoritos à prova. Contudo, Ribeiro tinha um trunfo a seu favor: o motor Honda. Na primeira corrida da temporada, no oval de Homestead, era nítido que a Honda era o propulsor mais potente do pelotão e isso faria diferença.
No dia 17 de março de 1996, o Rio de Janeiro voltava aos bons tempos como anfitrião de uma prova internacional e o sucesso foi imediato. O público foi em peso à Jacarepaguá e ninguém se arrependeu do que viu. A primeira fila foi toda da Ganassi, com o fogoso Alex Zanardi conquistando a sua primeira pole na Indy. André Ribeiro fora o melhor brasileiro do grid em terceiro. Logo no começo da corrida um acidente muito forte com Mark Blundell assustou a todos, mas o inglês teve apenas uma fratura no pé. Rapidamente Gil de Ferran partiu para a briga pela vitória, mas sua equipe errou no cálculo de combustível e o brasileiro acabou tendo uma pane seca antes de uma de suas paradas. Gil ficou arrasado depois da corrida com a chance perdida de vencer em casa. O novato Greg Moore chegou a liderar a prova, mas acabou quebrando a suspensão, deixando a ponta para André Ribeiro. O paulista fez uma corrida excepcional, sempre se mantendo entre os primeiros, se aproveitando dos vacilos alheios para liderar no stint final. Uma bandeira amarela marota no fim da corrida ainda fez Ribeiro receber uma forte pressão da raposa felpuda Al Unser Jr, mas Ribeiro administrou bem a prova e usando a potência do seu motor Honda, venceu com todos os méritos.
A festa ocorrida vinte e cinco atrás foi inesquecível. Ribeiro saiu do carro com o público em delírio e logo pegou uma bandeira brasileira, imediatamente fazendo lembrar das inesquecíveis festas de Ayrton Senna, morto menos de dois anos antes. A foto de André Ribeiro com a bandeira brasileira foi capa de praticamente todos os jornais tupiniquins na segunda-feira seguinte.
A Indy vivia seu melhor momento, mas o fim estava à espreita. De forma até discreta, com pilotos semi-profissionais, a IRL começava seu campeonato de forma meio mambembe, mas em maio ela estaria em Indianápolis, não as estrelas da CART. Isso se mostraria definitivo num futuro próximo. Ainda assim, até hoje muitos lembram as combinações chassi/motor/pneu da temporada 1996 da Indy. Foi uma época mágica, uma pena que não tenha durado muito. André Ribeiro só faria mais duas temporadas além daquela antes de se aposentar do automobilismo, se tornando um empresário de sucesso. Porém, sua marca vinte e cinco anos atrás nunca será esquecida.
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