sexta-feira, 26 de março de 2021

Lella


 Não resta muita dúvida de quem foi a mulher mais bem-sucedida da história da F1. Mesmo com algumas tentativas antes e depois dela, Lella Lombardi foi mesmo a melhor mulher a correr na F1, além de ter sido a único a ter pontuado. Se viva fosse, Lella estaria completando 80 anos de idade no dia de hoje.

Maria Grazia Lombardi nasceu no dia 26 de março de 1941 em Frugarolo, no Piemonte. O começo do interesse de Lella Lombardi por carros e corridas foi bem peculiar, pois além de sua família não se interessar por corridas, nem carros eles tinham! Mas Lella era apaixonada por esportes e jogava handebol no time local. Numa partida, Lombardi foi designada a marcar a melhor atacante do time adversário e a pequena italiana foi muito bem, fazendo com que a adversária não marcasse nenhum gol, contudo, Lella acabou levando uma cotovelada no nariz, quebrando-o. Depois da partida Lella estava no ponto de ônibus com o nariz tampado com um lenço quando um Alfa Romeo azul parou na frente dela. Era a atacante que ela tinha acabado de marcar, que estava ao volante. "Vamos, vou levá-lo ao hospital", disse ela, então Lella entrou no carro. Vendo a situação do nariz de Lella, a antiga adversário dirigiu rumo ao hospital a toda velocidade. Lella de repente esqueceu do seu ferimento. Ela ficou tão impressionada com a velocidade e a emoção que estava tendo naquele momento que o estrago foi feito. O nariz da jovem foi consertado e isso não era mais um problema, mas a alma de Lella Lombardi foi tomada pela paixão pela velocidade.

Lella sonhava com carros rápidos, mas nem carteira de motorista ela tinha. À muito custo ela entrou num auto-escola e quando conseguiu um namorado, ela tinha mais interesse em dirigir o Fiat dele do que no rapaz. Um dia, Lella conheceu um jovem que era piloto de corridas e passou a ajuda-lo fora das pistas. Em uma ocasião, o rapaz inscreveu seu Alfa Romeo para um rali e Lella seria seu navegador. Ela gostou daquele 'fim de semana em alta velocidade' e convenceu o amigo a trocar de lugar para o próximo evento. Quando Lella apareceu no banco do motorista, os outros pilotos riam com desprezo ... Lella ficou muito chateada e colocou toda a sua raiva em seu volante. Ela ganhou a sua corrida de estreia! Depois desse tremendo sucesso, com a ajuda de uma empresa italiana, ela teve a chance de correr para a Alfa Romeo no Campeonato Italiano de Turismo. No início, seus resultados foram modestos, mas ela terminou na terceira posição num evento em Palermo. Mais tarde a atenção de Lella se voltou para os monopostos, onde seria vice-campeã da F3 Italiana em 1968. Seu maior sucesso veio no Campeonato de F-Ford do México, no qual ela se tornou a campeã em 1973. No ano seguinte, ela subiu para a Fórmula 5000 e estava competindo no campeonato Shellsport, na Inglaterra.

Em 1974 ela participou de sua primeira corrida de F1, no Grande Prêmio da Inglaterra, com um Brabham. Ela seria patrocinada por uma rádio de Luxemburgo, cuja estação era a FM 208 e foi com esse número incomum que Lella correu naquele final de semana, mas ela não conseguiu se classificar. Em 1975 as coisas mudaram para melhor. O multi-milionário Conde 'Guggi' Zanon comprou um lugar na equipe de fábrica da March para Lombardi, ao lado de Vittorio Brambilla. A primeira tentativa de Lella veio em Kyalami, onde ela registrou o 26º tempo e último tempo, ficando à frente de Wilsinho Fittipaldi e Graham Hill. Pela primeira vez em 17 anos a F1 veria uma mulher largar para um Grande Prêmio. Então veio a corrida em Montjuich, na Espanha. O então campeão mundial Emerson Fittipaldi liderou um movimento para boicotar a corrida devido à falta de segurança. Aquilo se mostrou profético. Lella alinhou seu March em 24º no grid. Na volta 26, o carro do líder Rolf Stomellen quebrou a asa traseira e o alemão perdeu o controle da máquina, destruindo um guard-rail e matando cinco espectadores. A corrida foi interrompida na 29ª volta e devido ao alto índice de abandonos Lella subiu para o sexto lugar. Jochen Mass venceu, mas com um terço de corrida percorrido apenas, os pilotos receberam meio ponto. Então, Lella recebeu 0,5 ponto por seus esforços. Essa foi a primeira e única vez na história da F1 que uma piloto marcou um ponto.

Depois da Espanha, Lella Lombardi marcou apenas um resultado digno de crédito, com a sétima colocação em Nurburgring. Quando Mark Donohue morreu durante os treinos para o Grande Prêmio da Áustria, Lella quase se aposentou da Fórmula 1, mas o desejo de competir no mais alto nível do automobilismo a fez ficar. Para o Grande Prêmio dos EUA, Lella se mudou para Frank Williams Racing, mas ela não conseguiu se classificar para a prova. Para a primeira corrida de 1976, Lella estava de volta à March e ela terminou em 14º lugar após largar em 22º. Aquela corrida em Interlagos, a 12º de sua carreira, seria a última de Lombardi na F1. Quando Ronnie Peterson saiu da Lotus, a March o contratou imediatamente e dispensou Lella. Ela ainda tentou correr pela equipe RAM, mas falhou em todas as suas tentativas. Em 1977 Lella Lombardi fez uma aparição na Nascar, onde teria a companhia da também desbravadora Janet Guthrie, além da belga Christine Beckers. Durante os anos 1980, Lella Lombardi disputou várias categorias de turismo, além de se declarar homossexual, se juntando à companheira Fiorenza. Sua paixão pelas corridas continuou intacto até praticamente o fim de sua vida. Em 1989 ela ainda participava do campeonato europeu de turismo, até o câncer a afastar das corridas. Ela sucumbiria à doença em 1992, poucos dias antes de completar 51 anos de idade. 

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