Fevereiro de 2004. A expectativa para a temporada vindoura era enorme pelos resultados da pré-temporada, onde McLaren-Mercedes e Williams-BMW pareciam dispostas a acabar com a hegemonia da Ferrari, mesmo o título de Schumacher em 2003 tenha sido conquistado na bacia das almas. Veio a primeira corrida e toda aquela expectativa foi para o ralo e o binômio Ferrari-Schumacher conquistaria o mais fácil dos seus cinco títulos consecutivos. Voltando para março de 2021. Apesar dos encantos da F1, a hegemonia da Mercedes nos últimos anos já causa enfado no mais ferrenho torcedor da categoria e qualquer sinal de fraqueza dos alemães já significa alegria para muitos.
A pré-temporada 2021 ocorreu de forma diferente dos outros anos, com tudo sendo suprimido em três míseros dias no Bahrein duas semanas antes da abertura do campeonato, no próximo dia 28. E a Mercedes esteve longe de estar bem. Longe a ponto de Toto Wolff se dizer preocupado com as seguidas falhas do novo carro, além do comportamento arredio da traseira do carro. Blefe? Aprendemos que isso será respondido no próximo sábado, mais especificamente durante o Q3, mas nunca nos últimos anos se previu a Mercedes tão próxima das demais equipes como em 2021. Na verdade, essa conta pode ficar no singular. A Red Bull andou sem nenhum problemas nos três dias barenitas, fazendo o melhor tempo com seus dois pilotos, incluindo uma bela adaptação de Sérgio Pérez a um bólido conhecido por só se fazer aparecer nas habilidosas mãos de Mex Verstappen. E é no neerlandês que todos já apontam o dedo como favorito, se as dificuldades da Mercedes se confirmarem. Mas será tão simples assim?
Mesmo com problemas, a Mercedes tem uma equipe entrosada e forte o suficiente para dar uma volta por cima e voltar a colocar a casa em ordem. Além do mais, tem uma pecinha muito importante que fica atrás do volante chamada Lewis Hamilton que faz muita diferença. Muitas vezes acusado de ter seus números inflados por ter disparado o melhor carro (fato) e correr sozinho (dizia-se o mesmo de Schumacher e o tempo mostrou o contrário), Hamilton pode ter em mãos um desafio diferente em 2021. Se a Red Bull encostar mesmo na Mercedes, Lewis terá a chance de triunfar mesmo sem ter claramente o melhor carro nas mãos e mesmo já tendo feito isso em 2008, Hamilton terá uma oposição bem mais forte, pois não restam muitas dúvidas de que Max Verstappen é bem superior ao super-confiante Felipe Massa na ocasião. Se derrotar Max e conquistar o oitavo título numa disputa acirrada com o piloto da Red Bull, os feitos de Hamilton serão vistos com outro olhar. E no posicionamento da história, isso é muito importante para Hamilton. Já Verstappen poderá ter nãos mãos pela primeira vez na carreira um carro realmente bom o suficiente para ser um contendor ao título mundial. Lembrando que mesmo ainda jovem, essa será a sexta temporada de Max e sua velocidade nunca foi colocada em dúvida. Poderá ser uma temporada épica entre o jovem leão (Verstappen) contra o velho lobo (Hamilton).
Porém, se tudo passou mesmo de um blefe da Mercedes e Toto Wolff dar uma risada na cara de todos nós, resta à Valtteri Bottas a esperança de deter de alguma forma Hamilton. Agora alguém ainda acredita no finlandês? Que nessa temporada de Drive to Survive nos 'presenteou' com um nude? Provavelmente apenas Wolff acredita, mas a paciência do dirigente austríaco deve estar se esgotando e como se fala no futebol, George Russell já está na fase final de aquecimento, prontinho para falar com o técnico. O fator Sérgio Pérez também será interessante nas equipes de ponta. O mexicano terá a chance de sua carreira e mais experiente e maduro do que imberbe garoto que chegou na McLaren em 2013, Pérez certamente agarrará essa chance e deverá fazer melhor figura do que os antigos segundos pilotos da Red Bull.
Convencionando que a F1 2021 terá apenas Mercedes e Red Bull como postulantes únicas ao título, como ocorria com Ferrari e McLaren no começo dos anos 2000, quem será a terceira força? Essas duas equipes tradicionais estão numa briga muito forte com Aston Martin, Alpine e Alpha Tauri para ser o líder do pelotão intermediário e que essa briga esteja a mais próxima possível dos líderes. Usando novamente motores Mercedes, a McLaren desponta como favorita a esse posto, principalmente com Daniel Ricciardo se mostrando tão forte como nunca, ao lado de Lando Norris, em sua terceira temporada e fazendo uma dupla harmoniosa (em todos os sentidos) com o australiano. A Ferrari se mostrou sólida na pré-temporada, sem quebras e com o motor não mostrando tanta deficiência como no ano passado, mas os italianos não foram capazes de retornar à briga pela vitória. Leclerc agora será o líder inconteste da Ferrari, mesmo Carlos Sainz tendo se mostrado um piloto muito regular nas suas equipes anteriores. Após a cópia descarada da Mercedes no ano passado, a Aston Martin terá que ter um pouco mais de trabalho esse ano com as restrições impostas pela FIA e nem de longe mostrou o resultado da pré-temporada do ano passado. Sebastian Vettel deve ter perdido um pouco mais dos seus ralos cabelos numa adaptação que está se mostrando mais lenta do que o habitual. Fernando Alonso retornou à F1 como se nunca tivesse saído dela, mas isso não significa um retorno aos bons tempos, com a Alpine se mostrando firme na luta para se manter forte no pelotão intermediário. Pierre Gasly lutará para se manter no mesmo bom ritmo de 2020, mas o novato Tsunoda mostrou ser melhor do que os vários japoneses que aportaram na F1 e nada demais fizeram. Todas essas equipes tem um discurso bem alinhado: esperar por 2022 e o novo regulamento técnico, uma ruptura com o atual.
O mesmo é dito pelas equipes que deverão brigar pela rabeira do pelotão. Alfa Romeo, Haas e Williams tem seus problemas e dificilmente sairão da posição que ocuparam ano passado. A Alfa manteve a mesma estrutura sonhando que com a continuidade as coisas melhorem, enquanto Haas e Williams mudaram seus pilotos, mas tem estratégias parecidas, apostando num piloto para tentar algo de bom, enquanto o outro paga as contas. Ao mesmo tempo que Russell sonha com a Mercedes, Nicholas Latifi banca a Williams, que manteve o nome mesmo com a saída da família Williams. Na Haas saíram os dois pilotos atrapalhados que tinham e trouxeram dois novatos, mas de formas diferentes. Mick Schumacher será uma atração óbvia pelo seu sobrenome e vem de um título da F2, com as bençãos da Ferrari. Enquanto Nikita Mazepin pouco fez nas pistas, contudo aprontou bastante fora delas, mas com o pai tendo o bolso bem fundo, seguirá a linha de Stroll e Latifi para ficar na F1.
E a F1 começará ainda sob a influência da pandemia, que já postergou corridas, mas o calendário se manteve com 23 provas. Para o público brasileiro, a grande novidade será a troca da TV Globo para a TV Bandeirantes, que montou uma equipe inteira vinda da Vênus Prateada. Muitas questões serão respondidas no domingo e se o que foi visto na pré-temporada foi verdade ou mentira.
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