domingo, 28 de março de 2021

Tivemos briga


 Mais uma vitória de Lewis Hamilton. Monótono, chato. Qual a novidade nisso? Bom, olhando unicamente o resultado da prova desse domingo no Bahrein pode-se chegar a conclusão que a F1 não mudou nada e que o inglês segue dando as cartas. Porém, quem não assistiu a prova de abertura da temporada de 2021 perdeu uma corrida de tirar o fôlego, num final realmente emocionante e que Lewis Hamilton mostrou para os que tem dúvidas o porquê seus tantos títulos o quanto ele pode ser excepcional, enquanto Max Verstappen também apareceu bem e dar um pequeno recado ao inglês de que o oitavo título pode até vir, mas Lewis terá que lutar duro por ele.


O Grande Prêmio do Bahrein entrou para o rol das ótimas aberturas de campeonato, numa corrida em que a pessoa não poderia cravar o vencedor da prova depois da primeira volta, algo que vem acontecendo continuamente de 2018 para cá. Max Verstappen ficou com a pole e largou muito bem, mas atrás dele vinha Lewis Hamilton, simplesmente dono de sete títulos mundiais, fato que não pode ser negado ao inglês. As estratégias entraram em cena e mais uma vez a Mercedes se aproveitou da situação 2x1 em relação à Red Bull. Os alemães anteciparam a parada de Hamilton, mas como Bottas não estava muito longe de Verstappen, fez com que a Red Bull não reagisse a jogada da Mercedes, mantendo Verstappen na pista, pois qualquer deslize significaria uma vitória de Bottas. Quando Max fez sua parada mais tarde, ele voltou atrás de Hamilton, que sempre colocou pneus duros. Verstappen colocou pneus médios, tendo que colocar outro composto em sua segunda parada. Ao retardar a parada do seu piloto, a Red Bull deu a sensação que colocaria os macios no carro de Max, mas para surpresa geral, faltando apenas 16 voltas e com o carro com o tanque mais vazio, montou os compostos duros no carro de Verstappen. Mesmo com o vacilo da trupe de Christian Horner, descortinou-se uma luta épica entre um Lewis Hamilton com pneus mais gastos, contra um Max Verstappen com sangue nos olhos. O neerlandês foi se aproximando volta a volta, até chegar na chamada 'zona do DRS'. Porém, Hamilton usou seu talento e experiência para dar apenas uma chance para Max, que aproveitou para ultrapassar, mas claramente colocando as quatro rodas para fora da curva 4. Podemos criticar, mas se o regulamento diz que não pode, tudo o que Verstappen pôde fazer era devolver a posição metros adiante. O piloto da Red Bull claramente guardou energia para a última volta, mas não foi o suficiente. Numa luta fratricida, Lewis Hamilton abriu a temporada de 2021 com uma vitória consagradora, mostrando que sabe reagir quando está em desvantagem ou atacado. 


A Red Bull precisa urgentemente garantir que Max Verstappen não fique sozinho em suas lutas contra a Mercedes. Sergio Pérez não foi ao Q3, mas ainda assim isso não faria diferença, já que seu carro simplesmente apagou na volta de apresentação, fazendo o mexicano largar dos boxes e tendo que fazer uma corrida de recuperação rumo ao quinto lugar. Olhando o copo meio cheio, Pérez fez uma impressionante remontada em sua estreia pela Red Bull. Já olhando para o copo meio vazio, Checo falhou em nunca andar próximo de Verstappen, aumentando as opções da Mercedes na escolha da melhor estratégia para seus pilotos. Menos mal para Verstappen que a Mercedes cometeu um raro erro. E quando isso acontece, sempre sobra para Valtteri Bottas, que ficou 10s parado no seu segundo pit-stop por causa de uma porca presa, saindo definitivamente da luta pela vitória, restando ao nórdico um decepcionante terceiro lugar.


Na briga pelo resto, Lando Norris lutou bastante com Charles Leclerc e acabou se sobressaindo ao monegasco, no que promete ser uma outra luta bem interessante nesse campeonato. No fim, o jovem inglês ainda ficou na frente de Pérez, que não teve tempo de alcança-lo, garantindo pontos importantes para a McLaren. Leclerc chegou a ocupar a terceira posição no início da corrida, mas mais uma vez mostrou-se um abismo entre o duopólio de Mercedes e Red Bull para o resto do pelotão. Daniel Ricciardo não conseguiu andar na frente de Norris, no que pode se afirmar de um início abaixo do esperado do australiano, enquanto Sainz também não o fez com Leclerc. Havia a expectativa de que Aston Martin e Alpine estivessem nessa briga, mas as duas montadoras decepcionaram e só pontuou com o fraco Lance Stroll, na décima posição. Fernando Alonso chegou a brigar na zona de pontuação com McLarens e Ferraris, mas um problema de freio tirou o espanhol da corrida, mas Alonso ainda tem a competência de sempre, enquanto Ocon foi vítima do figurão da corrida de hoje. Vettel largou apenas em 18º, que se tornou último por não ter respeitado as bandeiras amarelas no dia de ontem. O alemão tentou postergar sua parada, se envolveu numa luta birrenta com Alonso, claramente querendo se sobressair frente ao espanhol da Alpine, mas no final ele acabou atingido a traseira da outra Alpine numa manobra que mais parece de um motorista barbeiro do que de um tetracampeão mundial. Muito, muito ruim a estreia de Vettel pela Aston Martin, equipe que aposta nele para tentar ficar no top-3 do Mundial de Construtores, mas corre o risco de se juntar à Ferrari como mais uma a se lamentar pela eterna má fase de Vettel.


A Alpha Tauri poderia muito bem estar nessa briga, mas Pierre Gasly acabou atingido pela McLaren de Daniel Ricciardo logo na primeira relargada, deixando o francês na última posição e como não houveram mais SC's, a corrida de Gasly estava praticamente condenada ali. Uma pena, pois Pierre vinha fazendo um ótimo final de semana. Se serve de consolo, o novato Yuki Tsunoda chegou em nono e se tornou o primeiro japonês a pontuar na sua estreia na F1. A Alfa Romeo deu indícios de melhoria, com Kimi Raikkonen chegando a estar próximo de pontuar, mas o nórdico teve que se conformar com a 11º posição, ficando logo à frente de Giovinazzi. O italiano vinha mais rápido do que Kimi todo o final de semana, mas novamente sucumbiu em ritmo de corrida. A Williams se mostrou estacionada, enquanto a Haas já ocupa, sozinha, o cargo de pior equipe de 2021. Seus dois pilotos novatos erraram na mesma curva em manobras semelhantes, mas ao menos Mick Schumacher pôde levar o carro até o fim, mas o último dentre os que terminaram.


Para os consumidores brasileiros, a grande novidade foi a entrada da TV Bandeirantes na F1. Com uma novidade dessa nas mãos, a emissora paulista caprichou em sua primeira corrida, com três horas de programa antes da largada e o belo pódio sendo mostrado. Porém, com uma equipe praticamente vinda inteira da Globo, não se sentiu uma grande diferença, com Felipe Giaffone sempre preciso, Reginaldo Leme errando aqui e ali, mas exalando qualidade e insuspeição, enquanto Sergio Maurício fez um ótimo trabalho, mesmo que em alguns momentos ele gritou demais quando o momento não precisava para tanto. Com Mariana Becker sendo pouco interrompida, a Bandeirantes começou bem sua nova jornada na F1 e ainda teve a sorte de ter mostrado uma bela corrida na sua reestreia.


Se há algo de bom da temporada começar em Sakhir é que temos um quadro mais real das forças da F1 em 2021, ao contrário do que ocorresse se o campeonato começasse no circuito de rua de Melbourne, um traçado atípico do que acontece no resto da temporada. O asséptico traçado barenita é ordinário, até por que ele foi feito por Tilke e não faltam circuito feitos pelo arquiteto alemão por aí. E o que se viu foi muito bom. A Red Bull apareceu muito forte com Verstappen, comprovando o que se viu na pré-temporada, enquanto a Mercedes se recuperou rapidamente da má performance no mesmo circuito. As brigas pelo pelotão intermediário continuam animadas, somente uma pena que longe do pelotão dianteiro. A Red Bull ainda tem pendente ter seu segundo piloto mais próximo da briga pela liderança. Hamilton pode ter vencido mais uma vez, mas o inglês lutou bastante para isso. Se continuar assim, podemos ter uma temporada e tanto pela frente!

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