terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Herói anônimo

Ele seria apenas mais um piloto inglês na F1 endinheirado na década de 1970, se não fosse um ato heroico durante o Grande Prêmio da Holanda de 1973, de triste lembrança a todos que gostam da F1 de hoje e do passado. Se estivesse vivo, David Purley teria completado 70 anos ontem e talvez seria mais reverenciado do que é. Vindo de uma família rica, David começou relativamente tarde no automobilismo, só chegando à F3 com 25 anos de idade, em 1970. Após três temporadas, com a providencial ajuda da empresa de sua família, a LEC Refrigeration, Purley pulou para a F1 em 1973, após comprar um March.

Em sua terceira corrida pela F1, no Grande Prêmio da Holanda, David Purley largaria atrás de um jovem compatriota chamado Roger Williamson, que também usava um March particular, mas era considerado um piloto extremamente promissor, inclusive com chances de correr pela então forte equipe Tyrrell em 1974. Williamson perdeu o controle do seu carro após uma suspensão quebrada e seu March ficou capotado, mas haviam três grandes problemas: um pequeno incêndio que logo ganhou uma grande dimensão, o ângulo em que seu carro ficou capotado, praticamente colado no muro e, o pior de todas, a falta de preparo dos fiscais holandeses. Purley, que vinha logo atrás de Williamson, percebeu o potencial perigo e não pensou duas vezes em deixar seu carro e prestar socorro à Williamson.

Iniciou-se uma das cenas mais chocantes, dramáticas e marcantes da história da F1. David Purley primeiro tentou virar o carro, enquanto Williamson, preso em seu carro e impossibilitado de sair das chamas, clamava por socorro. Então Purley procurou um extintor de incêndio e realmente só encontrou um, despejando todo o pó químico no incêndio que já se transformara de grandes proporções. Desesperado, Purley clamou para que a torcida o ajudasse em alguma coisa e depois pediu para que os pilotos que passavam no local o ajudassem a socorrer Roger Williamson. Tudo em vão. 

Williamson morreu ao vivo na frente de todos e David Purley, arrasado, foi considerado um herói, ganhando vários prêmios pela sua tentativa desesperada de salvar seu colega piloto, mesmo que infrutífera. Após esse episódio marcante, Purley ficou alguns anos na F5000 para retornar à F1 com chassi próprio em 1977. E novamente participar de um evento nada agradável. Nos treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra, Purley perdeu o controle do seu carro e bateu no muro com extrema violência. Talvez excessiva! Purley sofreu uma desaceleração brutal de 179.8g, a maior registrada numa prova de F1 e a maior no automobilismo até o acidente de Kenny Brack na infame pista de Texas, em 2003, que aposentou o sueco. David Purley quebrou vários ossos, principalmente nas pernas, mas sobreviveu ao acidente, mesmo tendo que fazer como Brack vinte e cinco anos mais tarde e abandonar o automobilismo.

Ainda querendo experimentar altas doses de adrenalina, David Purley se tornou piloto de acrobacias aéreas e foi dessa maneira que ele encontrou seu destino, quando perdeu o controle do seu avião em 1985 e faleceu aos 40 anos de idade.  

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