Quinze dias após a corrida em Monte Carlo, a F1 cruzava o Atlântico para a primeira de duas corridas na América do Norte, no sempre emocionante Grande Prêmio do Canadá. O traçado rápido, estreito e traiçoeiro, somado ao clima inconstante, sempre fez da prova no circuito Gilles Villeneuve empolgante e com alguma surpresas. Uma das novas atrações é o recém-batizado 'Muro dos Campeões', onde três campeões (Villeneuve, Hill e Schumacher) bateram em 1999, batizando o muro na saída da última chicane. Com Jacques Villeneuve chegando ao Canadá, mesmo ele tendo morado apenas oito anos por lá, a torcida fica alvoroçada com a presença do campeão de 1997, mas o canadense estava no centro das atenções também por ter recebido uma oferta milionária da Benetton para 2001. Uma mudança, mas para a própria corrida no Canadá, quase aconteceu na Williams. Ralf Schumacher teve a perna ferida após bater na St. Devote e o alemão era dúvida até as vésperas dos treinos livres no Canadá. O piloto de testes Bruno Junqueira foi convocado e chegou a tirar fotos com o macacão da Williams, mas Ralf suportou bem os treinos livres e participou normalmente do final de semana.
Confiante após sua vitória em Mônaco, David Coulthard parecia ser a maior ameaça para a Ferrari de Michael Schumacher e foram os dois que brigaram pela pole numa sessão classificatória conturbada por duas bandeiras vermelhas, causadas por acidentes de Mazzacane e Jos Verstappen. Na última tentativa dos pilotos de McLaren e Ferrari, Schumacher liderava, seguido por Coulthard, Barrichello e Hakkinen. O brasileiro chega a tomar o segundo lugar de Coulthard, mas o escocês melhora o tempo de Schumacher, contudo, o alemão estava no meio de sua última volta na classificação e quando o cronometro já estava zerado, o alemão da Ferrari derrota Coulthard por um décimo de segundo. Foi uma classificação de tirar o fôlego, praticamente um prólogo para o que viria na corrida.
Grid:
1) M.Schumacher (Ferrari) - 1:18.439
2) Coulthard (McLaren) - 1:18.537
3) Barrichello (Ferrari) - 1:18.801
4) Hakkinen (McLaren) - 1:18.985
5) Frentzen (Jordan) - 1:19.483
6) Villeneuve (BAR) - 1:19.544
7) Trulli (Jordan) - 1:19.581
8) Zonta (BAR) - 1:19.742
9) De la Rosa (Arrows) - 1:19.912
10) Fisichella (Benetton) - 1:19.932
O dia 18 de junho de 2000 amanheceu frio e cinzento em Montreal, com previsão de chuva para as duas horas da tarde. Bem no meio da corrida! Com Villeneuve numa boa fase, as arquibancadas estavam lotadas e quando os carros estavam sendo ligados para a volta de apresentação, a McLaren de David Coulthard não funcionou. Os mecânicos da McLaren reiniciaram o carro, mas quando o fazem, o período para encostarem no carro estava esgotado, indicando uma clara infração, mas pelo menos Coulthard largaria na sua posição original. No apagar das cinco luzes vermelhas, Schumacher e Coulthard saem sem maiores problemas, com o alemão permanecendo em primeiro, mas na segunda fila, Hakkinen é mais lento que os pilotos ao redor dele. Barrichello tem que frear forte para não bater no finlandês, fazendo com que Villeneuve, em outra largada magistral, ficasse lado a lado com Hakkinen, ganhando a posição do finlandês. Barrichello aproveita a indecisão de Hakkinen e reassume o quarto lugar, mas Rubens não tinha muito o que comemorar, o mesmo Eddie Irvine, que ficou parado no grid e teve que largar uma volta atrasado.
Como já havia acontecido quinze anos atrás, a ótima largada de Jacques Villeneuve causou um drama para os pilotos de ponta que estavam atrás dele. Enquanto Schumacher e Coulthard disparavam na frente, o canadense segurava Barrichello e Hakkinen, que já tinham De la Rosa e Frentzen em seus calcanhares. Com a chuva iminente, alguns pilotos escolheram largar bem leve para fazer múltiplos pit-stops e em um deles, poder coincidir de colocar os pneus biscoito. Pedro de la Rosa era um desses pilotos e o espanhol fazia uma agressiva corrida em seu início. Outra coisa que era iminente era a punição à Coulthard, que foi anunciada na volta 11 e o escocês teve que cumprir um stop-and-go de 10s na volta 14, retornando à corrida em décimo. Isso significava que Villeneuve estava em segundo, para delírio do público canadense, mas ainda mais em êxtase estava Michael Schumacher, com 17s de frente, na liderança e sendo o piloto mais rápido da pista, aumentando ainda mais sua vantagem. A tática da Arrows falha quando Pedro de la Rosa faz sua primeira parada ainda na volta 18, mas para desespero do espanhol, a chuva começa a cair apenas cinco voltas mais tarde. Com a pista escorregadia, os primeiros incidentes não tardem a acontecer.
Verstappen e Coulthard são as primeiras vítimas ao rodarem, mas ambos retornam à pista sem problemas. Barrichello sempre foi um apreciador de condições de pista complicadas e o brasileiro aproveita a pista traiçoeira para ultrapassar Villeneuve na volta 27, no hairpin. Agora quem atacava Villeneuve era Hakkinen, mas o finlandês tem que esperar até a volta 35 para conseguir assumir a terceira posição no mesmo local, mas a corrida para a McLaren estava praticamente perdida. E iria piorar ainda mais! Schumacher antecipou sua parada e mesmo com a pista escorregadia, permanece com os pneus slicks, o mesmo fazendo a maioria quando as paradas programadas se completam na volta 44. Porém, a chuva se torna cada vez mais forte e na volta 45 vários pilotos saem da pista e resolvem ir aos boxes para colocar pneus de chuva, às vezes com dois carros da mesma equipe no mesmo momento. Por um motivo não explicado, Hakkinen esperar mais uma volta na pista, perdendo muito tempo. Fisichella e Verstappen tiveram sorte de ter combinado suas paradas programadas com a invasão de carros aos pits à procura de pneus para chuva e o piloto italiano sobe para segundo, se aproveitando de uma péssima parada de Barrichello, que ficou 16s parado nos pits até que a Ferrari completasse a parada de Schumacher. Porém, Fisichella, que sempre andou bem em Montreal, sai da pista brevemente e é ultrapassado por Barrichello, que andava forte na pista molhada, mas nem a saída de pista de Schumacher diminuiu a diferença de meio minuto que separava os dois pilotos da Ferrari.
Na confusão que se seguiu, vários pilotos perderam posições, mas outros, como Verstappen, se tornam estrelas da corrida, com o holandês conseguindo ultrapassar Wurz e Trulli no final da reta oposta para alcançar a quinta posição. Nas voltas finais Villeneuve, apenas em décimo após as manobras de pit-stop, tenta ultrapassar Button no hairpin, mas erra na freada e acaba acertando a lateral de Ralf Schumacher, tirando ambos da corrida. Coulthard, correndo atrás de pelo menos um ponto no campeonato, bate em Wurz e o austríaco leva a pior, tendo que ir aos boxes para consertos. O escocês parte para cima de Trulli para brigar pelo sexto lugar, mas o italiano mantém sua posição. Nas últimas voltas Schumacher diminui bastante seu ritmo e sua saída de pista tinha a ver com problemas de freios na sua Ferrari. Rubens era o piloto mais rápido nas últimas voltas e recorta toda a desvantagem que tinha para Schumacher, mas é avisado pela Ferrari para que ambos mantivessem as posições. Barrichello encosta em Schumacher e ambos cruzam a linha de chegada praticamente lado a lado, mas o alemão era o vencedor. No pódio, Barrichello parecia menos feliz, enquanto Schumacher elogiava bastante o seu companheiro de equipe, adjetivando-o de leal. Foi a primeira vez que Barrichello foi vítima de uma ordem de equipe da Ferrari, mas os italianos estavam felizes com uma dobradinha impressionante em Montreal e para melhorar, quem estava no pódio com eles era um italiano (Fisichella), não um piloto da McLaren, que teve uma corrida simplesmente para esquecer. O campeonato voltava a ter Schumacher como protagonista e líder inconteste do certame.
Chegada:
1) M.Schumacher
2) Barrichello
3) Fisichella
4) Hakkinen
5) Verstappen
6) Trulli
Nenhum comentário:
Postar um comentário