Há dez anos atrás, assim como agora, a F1 saía de uma merecida férias para voltar com tudo ao campeonato, mas ao contrário de 2015, onde o tradicional circuito de Spa inaugura a segunda parte da temporada, em 2005 o novo circuito de Kurtkoy fazia sua estreia na F1, trazendo a Turquia para o circo da F1. Mais uma circuito projetado por Herman Tilke, o novíssimo autódromo turco aparentemente era mais um projeto pasteurizado do arquiteto alemão, com longas retas separadas por curvas lentas e amplas áreas de escape. Porém, o fato do circuito ser anti-horário chamava a atenção (somente Ímola e Interlagos tinham essa configuração na época). Além do mais, haviam várias subidas e descidas e um conjunto de curvas chamava a atenção: a enigmática curva 8. Com quatro pernas, a curva era feita praticamente de pé embaixo, com alto grau de força G contra a cabeça do piloto. Com uma alta média de velocidade, Kurtkoy logo passou a ser adorado não apenas por pilotos, mas também pelos fãs. Até hoje, o circuito turco ainda é cultuado como o melhor dos novos circuitos que entraram no calendário da F1 nos últimos quinze anos.
O calor turco em agosto chamava a atenção, com temperaturas superiores aos 30ºC, enquanto que na pista a temperatura superava os 50ºC. Havia havia sol forte e céu claro em todos os treinos, com Renault e McLaren voltando a dominar em todos os treinos livres. Sendo o último a entrar na pista, Raikkonen viu os dois carros da Renault muito bem, Michael Schumacher rodar em sua volta mais rápida e Montoya, mesmo sendo um dos primeiros a ir à pista, fazer um bom tempo. Corroborando com o favoritismo que tinha construído nos treinos livres, Kimi fez uma ótima volta e ficou novamente com a pole, sendo o único a andar na casa de 1:26. Fisichella superava Alonso por poucos milésimos e Montoya fechava a segunda fila, demonstrando um domínio de McLaren e Renault. A Toyota não tinha andado bem nos treinos livres, mas Trulli utilizou sua conhecida velocidade numa volta única e ficou em quinto, superando os dois carros da Williams, depois de muito tempo andando forte. A Ferrari teve outro sábado para esquecer, pois com a rodada de Schumacher e a volta burocrática de Barrichello, não havia nenhum carro vermelho no top-10.
Grid:
1) Raikkonen (McLaren) - 1:26.797
2) Fisichella (Renault) - 1:27.039
3) Alonso (Renault) - 1:27.050
4) Montoya (McLaren) - 1:27.352
5) Trulli (Toyota) - 1:27.501
6) Heidfeld (Williams) - 1:27.929
7) Webber (Williams) - 1:27.944
8) Massa (Sauber) - 1:28.419
9) R.Schumacher (Toyota) - 1:28.594
10) Klien (Red Bull) - 1:28.963
O dia 21 de agosto de 2005 amanheceu tão quente em Istambul como nos dias anteriores, indicando uma corrida difícil para os pilotos por causa dos pneus. Um enorme público se deslocou para a nova pista turca, que lotou as arquibancadas e demonstrava um possível sucesso de crítica (pela pista) e público. Pena que isso não passou de uma mera primeira impressão. Mesmo adorado pelos pilotos, o automobilismo não contaminou o povo turco, que aos poucos deixou de se deslocar até o circuito de Kurtkoy e pagar os caros ingressos para ver F1. Hoje, o circuito de Kurtkoy está praticamente abandonado. Voltando dez anos no tempo, Fisichella conseguiu uma ótima largada e assumiu a primeira posição, com Raikkonen se preocupando em segurar ao menos o segundo posto de Alonso. Se respeitando ao máximo, os dois rivais pelo título fizeram a primeira curva (muito parecida com o S do Senna em Interlagos) sem maiores problemas, assim como a maior parte do grid, com exceção de Felipe Massa, que deu um pequeno toque na traseira de Trulli e precisou trocar a asa dianteira.
Porém, a liderança de Fisichella seria efêmera. O italiano da Renault erra entre as curvas 9 e 10 e Raikkonen não perdeu tempo em retomar a ponta duas curvas mais tarde, cruzando a primeira volta na ponta. Apesar de rápido, esses erros fizeram de Fisichella um piloto apenas regular, frente às estrelas de sua geração. A corrida promissora da Williams piora consideravelmente quando Webber larga mal e cai para nono, mas logo o australiano ganha uma posição quando Heidfeld tem um pneu furado ainda na primeira volta, mas Webber teria um destino parecido algumas poucas voltas mais tarde, com a Williams praticamente fora da briga pelos pontos logo no início. Como era de se esperar, Fisichella não fez o mínimo esforço para que Alonso assumisse o segundo lugar e partisse à caça de Raikkonen, que não consegue abrir muito para espanhol, com vice-líder e líder do campeonato separados por pouco mais de 1s. Porém, esse desempenho de Alonso se torna evidente com uma parada cedo do espanhol (volta 13), enquanto o final de semana de Fisichella piorava quando o italiano tem problemas em seu reabastecimento. No final do pelotão, Webber e Michael Schumacher batem numa boa briga pelas últimas posições, indicando o fim de corrida para ambos, em mais uma triste apresentação de Williams e Ferrari, duas das mais tradicionais escuderias da F1, em 2005.
Button fazia uma ótima corrida e com o carro mais leve do que Alonso, toma o terceiro lugar do espanhol antes de ir aos boxes. A tática das equipes fica logo clara, com a McLaren parando dez voltas depois dos pilotos da Renault. Para compensar o melhor ritmo da McLaren, a Renault tentou dar o pulo do gato e parar mais uma vez, mas a McLaren permanecia na frente, com Raikkonen liderando tranquilamente. Para piorar ainda mais as coisas para os franceses, Montoya, mesmo não tendo uma parada perfeita, assumia o segundo lugar, relegando Alonso para terceiro, seguido por Fisichella, Trulli e Button. Percebendo que não tinha muito o que fazer para derrotar a McLaren, a Renault resolve mudar a estratégia dos seus pilotos, enchendo o tanque de Alonso e Fisichella na segunda parada de ambos, para que eles não voltassem aos pits de forma programada. Na segunda rodada de paradas, a única mudança foi Button ter assumido o quinto lugar, relegando Trulli ao sexto posto. Largando em 13º, Button fazia uma bela corrida. Lá na frente, Raikkonen e Montoya voavam na pista, trocando melhor volta em cima de melhor volta, numa provável dobradinha da McLaren na Turquia. Porém...
Já nas voltas finais, com a corrida praticamente definida, Juan Pablo Montoya se preparava para colocar uma volta em Tiago Monteiro, da Jordan. Desmotivado pela forma exuberante do seu companheiro de equipe Kimi Raikkonen, à essa altura, escolhido pela McLaren para lutar pelo título, Montoya não parecia muito animado em ajudar Kimi ou a McLaren. Numa manobra muito otimista, o colombiano quase estampa a traseira de Monteiro, tendo que sair da pista e estragar seus pneus. E para piorar, permitiu a aproximação de Alonso. As modorrentas últimas voltas ganham em emoção para uma luta pelo segundo lugar. Com os pneus estragados, Montoya contornava a curva 8 na penúltima volta quando novamente saiu da pista, permitindo à Alonso assumir o segundo lugar e não deixar Raikkonen se aproximar no campeonato. O clima no boxe da McLaren ficou muito ruim com a saída de pista de Montoya, que pareceu decepcionado pelo o seu erro tão perto do fim, mas no íntimo, Montoya não parecia estar muito preocupado em ajudar Raikkonen, que cruzou a linha de chegada confortavelmente na frente, com Alonso 18s atrás, conquistando a sua quinta vitória em 2005 e sendo o primeiro a vencer o Grande Prêmio da Turquia. O campeonato, que poderia se abrir com uma dobradinha da McLaren, permanecia nas mãos de Alonso. Culpa de Montoya!
Chegada:
1) Raikkonen
2) Alonso
3) Montoya
4) Fisichella
5) Button
6) Trulli
7) Coulthard
8) Klien
Na verdade foi o Monteiro quem estampou a traseira do Montoya...
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