Nas suas férias, Lewis Hamilton deve ter ficado muito tempo em sua jacuzzi, relaxando após alguma farra homérica pelo mundo afora. De volta ao trabalho, no sugestivo nome de Spa, Hamilton apenas relaxou e venceu com imensa facilidade do Grande Prêmio da Bélgica, num domínio absurdo da Mercedes, pois tirando a largada, Nico Rosberg passou a maior parte da corrida em segundo, completando uma massacrante dobradinha prateada. Contudo, o equilibrado grid do terceiro para trás se refletiu numa equilibrada disputa pelo terceiro lugar, vencida por Romain Grosjean, após Vettel ver sua aposta arriscada, literalmente, explodir pelos ares na última volta.
Havia expectativa para os novos procedimentos de largada, onde os pilotos cuidariam cada um e sem ajuda externa, de como sairiam no lugar no apagar das cinco luzes vermelhas. Apesar dos pilotos terem diminuído a força da novidade nas entrevistas antes da corrida, a impressão foi que todo mundo largou mais lento do que nas corridas passadas, trazendo surpresas no aponche da primeira curva. Hamilton manteve a ponta, enquanto Nico Rosberg, novamente e com cola e tudo no volante, caiu para quarto. Bottas, o terceiro, largou ainda pior e foi ultrapassado pelos surpreendentes Sergio Pérez e Daniel Ricciardo, segundo e terceiro colocados quando o pelotão chegou à Eau Rouge. Usando a potência do seu motor Mercedes, Pérez ainda esboçou um ataque em cima de Hamilton nas Les Combes, mas o inglês não teve problemas em se manter na ponta. Dá para dizer que esse foi o único momento em que Hamilton teve que brigar por alguma coisa na corrida. Com Pérez em segundo e Ricciardo em terceiro, Hamilton rapidamente abriu 5s de vantagem para os demais e quando a primeira rodada de paradas terminou, com Rosberg conseguindo 'ultrapassar' Pérez e Ricciardo nos boxes, a vantagem do inglês era de quase 8s. Nico ainda aumentou seu ritmo e cortou a diferença para 3s, mas quando Lewis recebeu a notícia da aproximação do companheiro de equipe, igualou o ritmo do alemão para receber com tranquilidade a bandeirada, conseguindo sua sexta vitória em 2015, se aproximando de vez do tricampeonato. Como disse muito bem Galvão Bueno na transmissão de hoje, a Mercedes fez uma corrida à parte, onde Nico Rosberg chegou em segundo, também sem maiores arroubos, mas o terceiro colocado chegou incríveis 36s atrás do líder.
E a luta pelo terceiro lugar teve vários protagonistas, com Pérez, Ricciardo e Vettel ocupando o posto, mas no final, foi Romain Grosjean que subiu ao pódio pela primeira vez nessa temporada. Por causa de seu início de carreira errático na F1, há um pouco de preconceito com o francês, o comparando com o seu desastrado companheiro de equipe Pastor Maldonado (que abandonou no comecinho da corrida com problemas mecânicos), mas como provou em 2013, Grosjean evoluiu bastante e hoje é um dos melhores pilotos do meio do pelotão. O francês começou o dia tendo que pagar uma punição de cinco posições por ter trocado o câmbio, não largou bem, mas foi galgando posições, até deixar para trás Pérez e Ricciardo para se estabelecer em quarto lugar, logo atrás de Vettel. Mesmo bem mais rápido do que o alemão da Ferrari, que arriscava uma estratégia de uma parada, Grosjean usou a cabeça e não fez nenhuma loucura, mas o francês acabou recompensado pelo inesperado furo do pneu de Vettel na última volta, conseguindo um ótimo terceiro lugar, além de dar boas razões para a Renault fazer a necessária compra da Lotus, em sérios problemas financeiros. Vettel arriscou fazer uma única parada, o que seria muito difícil, pois Spa demonstrava que estava desgastando em demasia os pneus, mas até a penúltima volta estava funcionando, então o pneu traseiro direito explodiu bem no comecinho da reta Kemel, para sorte de Vettel, que pôde segurar sua máquina, mas teve que praticamente abandonar ali. A 900º corrida de F1 da Ferrari não foi das mais memoráveis, pois Kimi, maior vencedor em Spa na F1 atual, conseguiu se recuperar de uma classificação muito ruim, mas só conseguiu um sétimo lugar, se segurando dos ataques de Max Verstappen na volta final.
Daniel Ricciardo vinha fazendo uma corrida para chegar no pódio, onde o australiano largou muito bem, foi o primeiro a calçar pneus médios e estava no bolo, com Pérez, Vettel e Grosjean, quando aparentemente o câmbio do seu Red Bull quebrou, trazendo o Safety-car virtual para a pista. Se confirmado o problema de câmbio, a Red Bull terá pouco do que reclamar da Renault, pois mesmo nas longas retas de Spa, não faltaram ultrapassagens dos carros equipados com os motores franceses. E quem se aproveitou muito bem disso foi Kvyat, que numa estratégia parecida com a de Ricciardo, colocou pneus macios no final da corrida e atropelou todos os seus adversários, ultrapassando um a um até chegar num ótimo quarto lugar, outro ótimo resultado para o piloto russo, que com os pontos amealhados hoje, já ultrapassa Ricciardo no Mundial de Pilotos. Sérgio Pérez fez uma largada estupenda, se manteve em segundo no primeiro stint de corrida, mas não teve forças para segurar Grosjean, que com o mesmo motor, teve bem mais ritmo do que ele. Porém, não se pode colocar uma única vírgula na corrida muito boa do mexicano, que no stint final fez uma corrida que fez fama a ele no começo da década: fazer longas sessões com o mesmo pneu. Pérez andou várias voltas com os pneus médios na última parte da corrida com um desempenho digno, só ultrapassado no final por Kvyat por que o russo estava melhor 'calçado', mas o quinto lugar foi muito bom para Pérez, num final de semana em que a Force India viu Nico Hulkenberg abandonar ainda na volta de apresentação com problemas no motor. Por sinal, hoje foram dois motores Mercedes (Maldonado e Hulk) com problemas...
Quatorze anos atrás, a Williams cometeu uma pataquada homérica quando deixou seus dois carros (Montoya e Ralf Schumacher) em cima de cavaletes numa relargada, estragando uma corrida em que ambos largavam na primeira fila. Hoje, a Williams fez uma besteira similar. Desde que passou-se a identificar com cores ou frisos os pneus duros e macios num final de semana, somente uma vez a Ferrari saiu com um pneu diferente dos outros três. Ainda assim, isso aconteceu num treino livre e quando Alonso saía da garagem, foi percebido o erro e o espanhol mal saiu dos boxes. Hoje, a Williams conseguiu a proeza de, na primeira parada, colocar três pneus macios e um pneu médio no carro de Bottas, provocando a punição mais bizarra dos últimos tempos na F1. Após o ótimo terceiro lugar de Bottas no sábado e a aguerrida corrida de Massa rumo ao sexto lugar hoje, a gafe da Williams marcou um final de semana que ficou abaixo das expectativas para a equipe do velho Tio Frank. Max Verstappen, que mora na Bélgica, conseguiu uma boa recuperação após ser punido por ter trocado o câmbio e foi oitavo, mas o erro na última volta, quando perdeu a chance de uma ultrapassagem fácil sobre Raikkonen, fez com que o adolescente holandês fosse criticado novamente pela falta de experiência. Carlos Sainz teve problemas semelhantes ao de Hulkenberg, mas conseguiu largar duas voltas atrasados até abandonar de vez. A Sauber tinha grandes esperanças em marcar bons pontos em Spa, pois teria a sua disposição o novo motor Ferrari, usado pela matriz desde o Canadá, mas a equipe suíça ficou praticamente na mesma posição das últimas corridas e ainda marcou um pontinho com Ericsson. O que chama atenção é a queda de Felipe Nasr, pela segunda corrida consecutiva derrotado inapelavelmente por Ericsson, que está longe de ser um grande piloto. A McLaren deve estar feliz por ter conseguido dados importantes para continuar o desenvolvimento da nova parceria com a Honda. Afinal, devemos ser positivos num final de semana medonho de McLaren-Honda em Spa. A Manor fez o papel de sempre.
Com pista seca o tempo todo, mesmo com a expectativa de chuva para o final da corrida, Spa não proporcionou a melhor das corridas e a Mercedes, após quatro semanas de férias, voltou ainda mais forte e massacrante sobre as demais. Após um escorregão na Hungria, a Mercedes voltou a mostrar força e com Hamilton numa fase exuberante, a questão agora é quando Lewis comemorará seu tricampeonato.
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