sábado, 30 de setembro de 2017

Sorte de campeão?

Nas corridas, existem várias frases e clichês sobre a diferença do que pode acontecer entre sábado e domingo. "É na corrida que vale", "Os pontos são conquistados no domingo" e por aí vai, mas o passo que Lewis Hamilton deu rumo ao tetracampeonato nesse sábado não pode ser ignorado. O inglês da Mercedes conseguiu sua 70º pole na carreira, mas o que importa foi o problema no turbo de Vettel ainda no Q1, quando a Ferrari dava mostras que tinha carro para dar à Sebastian um respiro na luta pelo título com Hamilton.

De forma até surpreendente, a Ferrari liderava o pelotão em Sepang nos treinos livres e Vettel tinha ótimas chances de começar o final de semana com o pé direito, mas logo no Q1 as esperanças do alemão viraram pó, com o seu carro perdendo potência logo na sua primeira volta rápida. "Turbo", falou Vettel pelo rádio. A Ferrari ainda tentava um milagre, mas a cara dos mecânicos italianos diziam tudo. Ao invés da pole, Vettel largará em último amanhã, deixando o caminho livre para Hamilton abrir ainda mais na tábua de classificação do campeonato. Se há algo de bom para Vettel, é que a preocupação em ter que fazer a quinta troca de motor e ser punido acabou, pois largando em último amanhã, o alemão trocará o motor e correrá as provas finais com tudo novo, mas sua luta será inglória.

Assim como aconteceu em Cingapura, Hamilton capitalizou o problema de Vettel e marcou a pole, num final de semana que tinha cores vermelho-Ferrari. O inglês marcou a pole com direito a recorde histórico da pista de Sepang, que se despede do calendário da F1 nessa temporada. Carregando as esperanças ferraristas, Raikkonen ainda ficou muito próximo, menos de um décimo de Lewis, mas completará a primeira fila. A dupla da Red Bull superou um apagado (mais uma vez) Valtteri Bottas. Na luta pelo melhor do resto, melhor para a Force India e Esteban Ocon, que colocou tempo em Pérez. Hulkenberg ficou logo atrás do francês e a McLaren surpreendeu ao colocar seus dois carros no Q3 num circuito com duas retas longas. Ainda mais com Vandoorne superando Alonso, além da surpresa de Gasly ficando muito próximo de Sainz em sua estreia, algo que Kvyat não fazia o tempo todo. Enfrentando o declínio da Williams nesse ano, Massa ficou no Q2, nessa que pode ser sua última temporada na F1, desta vez, de forma definitiva.

Como não poderia deixar de ser, Vettel aposta no clima instável da Malásia. Como sempre, a chuva pode aparecer a qualquer momento e tornar a corrida uma loteria, algo que já aconteceu em várias oportunidades em Sepang. Largando em último, o alemão torce pelo imponderável, mesmo sabendo que Hamilton adora situações de pista molhada. Nessa reta final de campeonato, a estrela de Hamilton começou a brilhar na hora certa.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Saída pelos fundos

Para quem passou pela péssima sensação de ser demitido, sabe que mesmo quando é esperado, nunca é bom. Dizer que Daniil Kvyat mereceu ser demitido é não se colocar no lugar do jovem piloto russo, mas não restam muitas dúvidas que Kvyat não fez um trabalho, digamos, de nota em seus anos na F1.

Fruto do celeiro da Red Bull, Kvyat estreou na F1 em 2014 na Toro Rosso, após passagens de destaque nas categorias de base com apoio da Red Bull. Daniil fez todo o caminho que um piloto apoiado pela Red Bull faz até a F1 e a passagem pela Toro Rosso era apenas uma das etapas para ver Kvyat, se mostrasse serviço, na equipe Red Bull algum dia. Mesmo fazendo um ano irregular, mas mostrando muita velocidade, Kvyat se viu na Red Bull logo em sua segunda temporada, com a saída de Vettel para a Ferrari. O alemão foi o maior expoente do programa de jovens pilotos da Red Bull e Kvyat teria uma missão espinhosa logo em sua segunda temporada na F1, mas o russo não foi de todo mal, num ano em que a Red Bull ainda sofria horrores com os motores Renault.

Kvyat surpreendeu ao superar Daniel Ricciardo, seu companheiro de equipe que no ano anterior havia superado a estrela Vettel. Porém, para quem viu a temporada 2015, era claro que Ricciardo sofreu mais com os motores Renault e se mostrava bem superior à Kvyat, contudo, o russo ainda tendia a evoluir. Daniil Kvyat continuava a mostrar a mesma velocidade alucinante dos tempos das categorias de base na F1, mas essa agressividade parecia não domada pelo próprio russo. No momento decisivo da carreira de Kvyat, essa agressividade acabou se virando contra si e no quintal de sua casa, no Grande Prêmio da Rússia, Daniil assinou seu futuro na F1. Numa largada desastrosa, Kvyat tocou no seu companheiro de equipe Ricciardo no que seria o único zero do australiano em 2016. Para completar, Kvyat tocou em Vettel duas vezes em duas curvas, fazendo com que o antigo piloto da Red Bull abandonasse, deixando-o irado e fosse reclamar com a Red Bull na frente de toda a F1. O recado estava dado. Daniil Kvyat não tinha condições de estar na Red Bull. E seu substituto já estava prontinho.

Max Verstappen foi trazido ao seio da Red Bull após muito sucesso do prodígio holandês em toda a sua vida desde o kart e após tamanha presepada, Kvyat se viu na humilhante situação de ter sido rebaixado de volta para a Toro Rosso no meio da temporada, enquanto Max assumia o seu lugar e logo na estreia vencia em Barcelona. A carreira de Kvyat foi pelo ralo. De forma incrível, o russo renovou com a Toro Rosso para 2017, mesmo superado por Carlos Sainz. Pierre Gasly, protegido pela Red Bull e campeão da GP2, já aquecia na lateral, como se diz no futebol. Para piorar, os resultados de Kvyat não vinham e antes da temporada 2017, após ser superado amplamente por Carlos Sainz, o russo saiu pelas portas dos fundos da Toro Rosso, substituído por Gasly já na próxima corrida, em Sepang. Novamente no meio da temporada...

Kvyat teve todas as chances para fazer um bom trabalho na F1, mas o russo falhou em todas elas. Apesar da força mental de ter permanecido com a Red Bull mesmo sem ter nenhum futuro nessa parceria, Kvyat nunca se mostrou uma opção sequer para outras equipes e sai da F1 com apenas 23 anos sem deixar nenhuma saudade. A Red Bull já garantiu o sucesso de grandes talentos nos últimos anos, mas já moeu vários pilotos jovens, alguns antes mesmo de chegar à F1. Kvyat foi a última vítima. 

domingo, 24 de setembro de 2017

Corrida heroica

Marc Márquez venceu e disparou no campeonato. A Honda conseguiu uma dobradinha em Aragão. Andrea Doviziozo decepcionou na hora errada. E Jorge Lorenzo voltou ao pódio em outra corrida espanhola. Em condições normais, essas seriam os principais destaques da recém-terminada corrida em Aragão, mas Valentino Rossi conseguiu superar todas essas manchetes com uma corrida heroica nessa tarde.

Que os pilotos de moto são meio malucos, ninguém pode duvidar, até mesmo pelos riscos que correm ao andar a mais de 300 km/h em cima de uma moto, cujo contato com a asfalto não é muito maior do que um cartão de crédito. Porém, as recuperações pós-acidentes que chamam atenção. Desafeto de Rossi, Jorge Lorenzo fez a loucura-mor ao correr apenas um dia após ser operado, depois de um acidente em Assen na chuva. Fala-se que desde esse dia a relação Lorenzo-chuva nunca mais foi a mesma. Porém, o que Valentino Rossi fez hoje não fica muito atrás. Pouco mais de vinte dias depois de quebrar a perna direita, Rossi voltou ao Mundial e não se pode dizer que ele fez feio. Conseguiu um terceiro lugar no grid, passou a maior parte do tempo entre os três primeiros, mas o cansaço e as dores foram mais fortes e Rossi, de forma até esperada e lógica, foi perdendo rendimento e não mais brigou pela vitória, mas conseguindo um excelente top-5, contra pilotos melhores preparados e com motos melhores também. 

Marc Márquez caiu ontem na classificação e por isso largou em quinto, quebrando sua invencibilidade de quatro poles seguidas em Aragão. O espanhol da Honda fez uma corrida bem ao seu estilo, partindo para cima dos rivais de forma agressiva, até se arriscando em demasia quando ultrapassou Lorenzo e Rossi numa freada e acabou fora da pista. Contudo, o espanhol tinha mais moto e já nas últimas voltas conseguiu tomar a ponta de Lorenzo para vencer pela quinta vez no ano e abrir uma diferença boa no campeonato. Olhando o desempenho de Lorenzo com a Ducati, Andrea Doviziozo teve sua pior corrida no campeonato. O italiano até largou bem e correu a primeira metade da prova no pelotão da frente, mas foi perdendo rendimento e terminou apenas em sétimo, ultrapassado até mesmo pela anêmica Aprilia de Aleix Espargaró. Péssima hora de ter uma corrida ruim, pois Márquez agora tem dezesseis pontos de vantagem e mesmo Doviziozo sendo mais experiente, o italiano da Ducati nunca brigou pelo título da MotoGP, algo que Márquez já fez algumas vezes em sua carreira. Pedrosa dava pinta de ter outra corrida ruim, mas foi se recuperando até alcançar a segunda posição e completar a dobradinha da Honda, com Lorenzo em terceiro. O piloto da Ducati fez sua melhor corrida em sua passagem pela montadora italiana até agora, onde liderou boa parte da prova e mesmo superado pela força da Honda, se manteve perto dos compatriotas Márquez e Pedrosa. Largando na pole, Viñales vez uma corrida apagada, onde não lutou pela vitória, mesmo sendo o mais rápido na classificação.

Agora a MotoGP parte para a decisiva trinca de corridas no extremo oriente com Márquez tendo tudo para chegar à última etapa em Valencia com, ou o título nas mãos ou bem encaminhado. Doviziozo não teve força para diminuir o prejuízo e Viñales, após um começo de ano avassalador, terá que amadurecer mais para poder enfrentar Márquez num futuro próximo. Porém, Valentino Rossi merece sempre nossa reverência. Com 38 anos de idade, Rossi não tem mais nada a provar e pode-se dizer que ele tem mais a perder do que a ganhar em continuar competindo. Uma perna quebrada e vários pontos atrás no campeonato poderiam fazer o piloto da Yamaha simplesmente esperar para a melhor oportunidade para retornar às pistas. Porém, Valentino Rossi é feito de uma material diferente. Ele espantou os médicos e todo o mundo da MotoGP com uma volta impressionante. Rossi não venceu e nem subiu ao pódio, mas mostrou que está bem acima de todos no grid no quesito garra e amor às corridas.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Figura(CIN): Lewis Hamilton

Após suas vitórias em Spa e Monza, Hamilton partiu para Cingapura sabendo que teria uma corrida difícil pela frente. Se a Mercedes dominou nas lendárias pistas europeias e Hamilton se aproveitou muito bem por isso, a característica do carro alemão não casaria muito bem na apertada e sinuosa pista cingapuriana de Marina Bay. Hamilton tentou de tudo nos treinos, mas o máximo que conseguiu foi uma quinta colocação no grid. O inglês e toda a cúpula da Mercedes pensavam numa corrida de limitação de danos. Então, o inesperado que faz do esporte tão fascinante apareceu e as duas Ferraris, mais Verstappen, se eliminaram num acidente polêmico na largada, mas que Max não teve culpa nenhuma. Nesse momento, Hamilton já dava mostras do que poderia fazer ao pular de quinto para segundo na primeira curva, mas logo tomou a liderança quando Vettel abandonou com o carro destruído demais pelas pancadas recebidas. Porém, Hamilton não teria uma vida tão fácil na corrida. Daniel Ricciardo andou forte o final de semana inteiro e a Red Bull mostrou um ritmo muito forte em todo o final de semana na Cingapura, mas Hamilton mostrou que é um piloto diferenciado e dominou o talentoso australiano em todas as condições de pista, sejam elas secas ou molhadas. Nem as várias relargadas atrapalharam Hamilton rumo à uma vitória para lá de inesperada e com a vantagem conseguida nesse momento do campeonato, Lewis deu um importante passo no que pode ser seu quarto título mundial.

Figurão(CIN): Ferrari

A Ferrari chegou à cidade-estado de Cingapura como favorita destacada à vitória e a volta à liderança do Mundial de Piloto por parte de Sebastian Vettel era dada como favas contadas. Apesar da ameaça da Red Bull pelo desempenho dos austríacos durante os treinos livres, Vettel conseguiu a pole numa volta no limite, superando com até alguma vantagem a dupla da Red Bull. A agressividade de Max Verstappen era temida pela Ferrari na largada e tudo piorou com a chuva que caiu pouco antes dao apagar das luzes vermelhas. Talvez essa carga de tensão pode ter explicado o que aconteceu nos primeiros metros do Grande Prêmio de Cingapura. Com Hamilton apenas em quinto e numa pista amplamente favorável à Ferrari em comparação à Mercedes, Vettel sabia que manter a ponta era essencial, mas o alemão não largou bem, ao contrário do seu companheiro de equipe. Saindo da quarta posição, Raikkonen tracionou de forma estupenda, imediatamente ficando à esquerda de Verstappen, que largou de forma razoável e estava ao lado de Vettel, que ao ver sua primeira posição ameaçada, empurrou o holandês para a esquerda. Só que Raikkonen estava ao lado de Verstappen. O resultado foi um strike vermelho na primeira curva de Marina Bay e o que parecia ser uma corrida de soma importante de pontos para os dois Mundiais, terminou num dolorido zero ponto e a desvantagem de Vettel subindo para importantes vinte e oito pontos. Mais do que uma vitória. A Ferrari viu sua chance mais clara de vitória terminando pela afobação dos seus pilotos e com pistas, ora à favor da Mercedes, ora num nítido equilíbrio, terá que dar à Vettel um carro capaz de tirar uma diferença nunca vista entre os dois multi-campeões.

domingo, 17 de setembro de 2017

Nas mãos certas

A rateada em Watkins Glen assustou, ainda mais com Scott Dixon entrando definitivamente na parada. Asa negra da Penske, o neozelandês da Ganassi está mais do que acostumado em situações de decisão de título e em 2015 conseguiu uma virada histórica e improvável em cima de Juan Pablo Montoya. Porém, Josef Newgarden é feito de uma material diferente. Quando saiu do carro para comemorar com a equipe o título de 2017, o jovem americano de 26 anos nem parecia que acabara de conquistar seu primeiro campeonato na Indy. Gelado, Josef gritou o velho 'come on!' e vibrou com seus mecânicos e engenheiros, além de Tim Cindric e Roger Penske. Não havia choro ou movimentos exóticos. Newgarden saiu do seu Dallara-Chevrolet como se aquilo fosse mais uma corrida, não um sonho se tornando realidade, como o próprio definiu em entrevista à NBC. Josef é do tipo de pilotos que vencer uma corrida e um campeonato é tão natural quanto beber uma taça de vinho da região de Sonoma.

Josef Newgarden chegou à Penske após bons anos em equipes pequenas, onde conquistou três vitórias ao superar as gigantes da Indy, Penske, Ganassi e Andretti. O capitão Roger Penske farejou não apenas talento. Jovem,  americano, com trejeitos de modelo e bem articulado, Newgarden poderia ser o futuro da Indy e Roger não titubeou em dispensar o veterano Montoya e colocar Newgarden no quarto carro de sua equipe na Indy. Newgarden teria três pesos-pesados da história recente da Indy como companheiros de equipe. Simon Pagenaud era o atual campeão. Will Power é talvez o piloto mais rápido da Indy em circuitos mistos. Helio Castroneves tinha toda a experiência de 20 anos na Indy, mesmo em franca decadência há anos. Além do mais, havia o inimigo externo chamado Scott Dixon, numa Ganassi ainda se adaptando aos kits Honda. Porém, a velocidade de Newgarden não demorou a aparecer, mesmo que alguns incidentes fizessem que o americano não embalasse na primeira parte do campeonato.

Como um veterano, Newgarden conseguiu uma boa sequência na metade final do campeonato, conquistando quatro vitórias, passando por cima dos seus mais experimentados companheiros de equipe, além do astuto Scott Dixon. O erro em Watkins Glen fez Newgarden chegar à última etapa do campeonato pressionado, pois a sua vantagem no campeonato era pequena e o piloto mais próximo era justamente Dixon, com quatro títulos nas costas e extremamente forte em situação de final de campeonato. Pondo a cabeça no lugar, Newgarden aproveitou mais um final de semana próximo da perfeição da Penske e foi o pole e liderou as primeiras voltas em Sonoma, mas o americano não contou com a tática arriscada de Simon Pagenaud, que saiu da janela normal de pit-stops e com um ritmo alucinante, fez uma parada a mais do que os outros, mas era sempre mais rápido do que os demais rivais pela vitória. O francês venceu com categoria a última etapa do ano, garantindo o vice-campeonato.

A maior ameaça da Penske era Scott Dixon e a equipe fez de tudo para evitar os ataques do piloto da Ganassi. Em certo momento, a Penske deixou o piloto mais lento da equipe, Helio Castroneves, segurando o neozelandês, até Dixon 'ultrapassar' o brasileiro nos boxes e partir para cima do trio da Penske que liderava a prova. Com os recentes atritos entre Pagenaud e Newgarden, temia-se um toque entre eles e o campeonato da Penske indo para o ralo, mas Cindric controlava os impulsos de Newgarden pelo rádio e o americano se conformou com o mais do que necessário segundo lugar.

Dixon tentou uma tática quase suicida no fim, andando muito forte, num ritmo que não seria possível de se chegar ao fim sem uma última parada. Marcada por bandeiras amarelas marotas, a corrida em Sonoma foi limpa e Dixon teve que se conformar com a quarta posição, sendo o único piloto capaz de incomodar o poderio da Penske. Talvez o piloto mais completo da Indy, Scott Dixon terá que esperar por uma evolução da Ganassi com os novos carros em 2018 para poder enfrentar de igual para igual a Penske. Tony Kanaan teve uma corrida horrível, onde largando no final do pelotão, se envolveu num incidente nas primeiras voltas e passou a prova inteira uma volta atrás. Prestes a completar 43 anos, Kanaan fez uma temporada muito ruim e sairá da Ganassi pelas portas dos fundos, conseguindo abrigo na equipe de A.J. Foyt, time hoje de segundo escalão da Indy. Pelo o que fez nos últimos dois anos, era o máximo que Kanaan poderia almejar na próxima temporada.

Power voltou a ter uma temporada irregular, onde ora ganhava, ora batia, num ritmo bem parecido com o que acontecia antes de conquistar o seu campeonato, mas a velocidade do australiano em circuitos mistos permanece intacta. Pagenaud defendeu o seu título de forma discreta, ganhando apenas duas vezes, mas marcando pontos de forma consistente a ponto de conseguir o vice-campeonato. Helio Castroneves é claramente o ponto fraco da Penske e mesmo não fazendo o papelão de Kanaan em 2017, o brasileiro fazia corridas inconsistentes, principalmente nos mistos, onde muitas vezes liderou corridas, mas perdia rendimento ao longo das provas. Em Sonoma, Helio mostrou porque nunca foi campeão, numa corrida pobre na decisão do campeonato onde estava envolvido, mostrando a falta de estofo de Helio para ser campeão. Não é surpresa, diga-se, que ele nunca foi campeão de monopostos. A Andretti teve como destaque a vitória de Sato nas 500 Milhas de Indianápolis e a participação histórica de Fernando Alonso em Indiana, mas de resto, o time sofreu com o motor Honda, mas ao menos revelou Alexander Rossi como um futuro rival de Newgarden no futuro da Indy.

A corrida de hoje pode ter sido bem representativa para o automobilismo brasileiro na Indy. Kanaan irá para uma equipe de média para pequena em 2018, enquanto Helio ao que tudo indica irá para o programa IMSA da Penske, abandonando as chances de ser campeão, mas voltando para as 500 Milhas de Indianápolis. Ambos com mais de 40 anos de idade e em decadência em suas carreiras, Helio e Tony não veem ninguém a curto prazo a sucede-los na Indy.

Já a Indy não tem muito com o que se preocupar com seu futuro. De forma velada, a categoria torcia para um título de Newgarden. Ao contrário de Ryan Hunter-Reay, o último americano campeão, e de Scott Dixon, o melhor piloto, Josef Newgarden é carismático, jovem, corre pela tradicional equipe de Roger Penske e é americano. Além de muito talentoso. O título de 2017 está nas mãos certas.

Sorte no caos

A corrida em Cingapura nessa manhã foi como uma decisão no futebol. Sim, foi a primeira coisa que me veio a mente. Numa partida de futebol não há emoções durante todos os 90 minutos, mas alguns lances que resultam em consequências que podem durar dias, semanas e até mesmo anos. Foi impedimento? Foi gol? A bola saiu? A prova deste domingo ficará para sempre marcada pela largada e as consequências das decisões tomadas naqueles míseros dois ou três segundos antes da primeira curva por Sebastian Vettel, Max Verstappen e Kimi Raikkonen. O triplo acidente na largada entregou a vitória de bandeja para Lewis Hamilton, que antes da corrida sonhava com um pódio para diminuir o prejuízo de uma vitória de Vettel e acabou a prova com quase trinta pontos de vantagem, desequilibrando um pouco disputa que tinha com o alemão da Ferrari.

O domingo já começou especial com a chuva que caía no traçado cingapuriano. Pela primeira vez na história da F1, uma corrida noturna seria realizada com pista molhada, o que já era um desafio todo especial para os vinte pilotos que largaram parados, sem frescuras de safety-car. Nas duas primeiras filas dominadas por Red Bull e Ferrari, claramente quem saiu melhor foi Raikkonen, que se espremeu no muro para ficar por dentro na primeira curva. O segundo colocado Verstappen largou de forma razoável e se manteve em linha reta. Pressionado para vencer na melhor pista para a Ferrari nesse começo de reta final de campeonato, Vettel largou mal e não teve pudor em jogar sua Ferrari para a esquerda, para cima de Verstappen. O holandês ficou numa sinuca de bico. À direita, Vettel jogava seu carro para manter a vantagem da pole. À esquerda, Raikkonen vinha como um foguete e guinando sua Ferrari para a direita. O choque foi inevitável!

As rodas de Raikkonen se emaranharam com as de Verstappen, jogando Kimi contra a lateral de Vettel. De frente, parecia que Sebastian sobreviveria. Com o carro semi-destruído, Raikkonen se arrastou até acertar novamente Verstappen, pegando o azarado Alonso de rebarba. Kimi e Max abandonaram ali mesmo. Alguns metros depois, Vettel rodaria e arrancaria todo o bico de sua Ferrari. No que parecia ser uma barbeiragem do alemão em pista molhada, outras imagens mostraram a lateral destruída da Ferrari e um fluído verde caindo nas rodas traseiras do alemão, fazendo-o rodar e abandonar a prova alguns metros depois. E foi na pior hora possível. Ótimo piloto em piso molhado, Hamilton aproveitou o caos à sua frente para assumir a primeira posição e dominar uma corrida que parecia no início uma prova de limitação de danos. Ricciardo mostrou um ritmo superior nos treinos livres, mas na corrida o talento de Hamilton reverberou e o inglês não foi incomodado pelo piloto da Red Bull, mesmo com todas as relargadas devido às entradas de safety-cars. Foi um triunfo retumbante e novamente comparando com o futebol, Hamilton conseguiu uma goleada na casa do adversário. A Mercedes ainda viu Bottas, num final de semana extremamente apagado, conseguir o pódio com todos os abandonos resultantes e o time tedesco se firma cada vez mais como líder do Mundial de Construtores. No Mundial de Pilotos, os 28 pontos que Hamilton tem de vantagem dá uma ligeira tranquilidade para o inglês, pois daqui para frente, Vettel precisará de um campeonato próximo do perfeito para retomar a liderança do campeonato sem contar com problemas de Hamilton.

A repercussão da corrida praticamente terminou após a largada. Quem era o culpado? Era essa a pergunta feita por todos. De contrato recém-renovado, Raikkonen não pode ser acusado de ter largado melhor do que os pilotos à sua frente e tentar uma melhor posição na primeira curva. Tratado como uma ameaça na primeira curva pela impetuosidade, Max Verstappen mal se moveu enquanto era espremido pelas duas Ferraris. Restou Vettel. O alemão largou mal e na tentativa de se manter de qualquer jeito na ponta, acabou forçando para cima de Verstappen, mas Vettel não contou com a boa largada de Raikkonen, provocando o caos absoluto em que se meteu ele e a Ferrari. A situação de Vettel ainda não é crítica na briga com Hamilton, mas tirou um pouco a luta pelo título das mãos de Seb. Pela configuração atual do campeonato, apenas um problema de Hamilton colocaria a briga pelo título novamente no mesmo equilíbrio visto antes.

Atrás dos três pilotos com carros vencedores que sobraram, não faltaram brigas e acidentes. Carlos Sainz foi o grande destaque, conquistando seu melhor resultado na carreira bem no momento em que fora anunciado como piloto da Renault. Hulkenberg teve chances de quebrar o tabu de nunca ter ido ao pódio, mas acabou sucumbindo com problemas mecânicos quando estava em quarto. Palmer marcou seus primeiros pontos em 2017, mas o inglês foi tão azarado, que conseguiu isso bem no dia em seu substituto (Sainz) conseguiu o melhor resultado da carreira. Porém, mais azarado do que Palmer, só mesmo Alonso. O espanhol conseguiu uma largada espetacular e pulara para terceiro, quando pegou as sobras do incidente da largada e o fez abandonar mais tarde com a lateral do carro destruída, mas pelo menos a McLaren pontuou com Vandoorne, numa boa prova do belga. Pérez saiu do pelotão intermediário para chegar colado em Sainz, enquanto Ocon, bem menos experiente, não andou no mesmo ritmo do mexicano, como vinha acontecendo, mas garantiu um pontinho. Apesar de todas as deficiências, Stroll vem se mostrando um bom piloto na chuva e nessa condição suplantou com até facilidade Massa, reconhecido como um piloto que sofre na chuva. O brasileiro terminou em penúltimo, numa corrida onde apenas doze carros terminaram.

O acidente na largada em Cingapura poderá ser o grande marco da temporada 2017 da F1. Vettel transformou seu favoritismo em afobação e com isso destruiu não apenas sua corrida, como a de outros dois postulantes à vitória no sudeste asiático. Ano passado, alguns quilômetros ao norte, Hamilton perdeu o título quando o seu motor explodiu na Malásia. Quase um ano depois, na mesma região do globo, o inglês teve a sorte no caos e pode ter garantido o tetracampeonato hoje.    

sábado, 16 de setembro de 2017

Gangorra

Nas duas últimas corridas dessa temporada, Lewis Hamilton usou o favoritismo da Mercedes para conseguir duas vitórias enfáticas em dois finais de semanas dominadores, onde o inglês conseguiu duas poles que o colocaram como líder histórico desse quesito da F1. Porém, o grau de tecnologia e ciência da F1 está tão alto, que todos apostavam que o motivo do domínio da Mercedes em Spa e Monza colocaria o time alemão em maus lençóis em Cingapura, um circuito totalmente diferente das tradicionais pistas europeias. Se Hamilton é um dos grandes da história numa volta rápida, nem isso foi capaz de fazer o inglês sequer ficar entre os três primeiros que são entrevistados após o treino. Como também era esperado, a Ferrari voltou a pontear o treino com Vettel, como havia feito em Monte Carlo e na Hungria, pistas com características parecidas com a de Cingapura, porém, a Red Bull ficou muito próxima dos italianos.

Com todos os anúncios de ontem, ninguém prestou muito atenção na ótima forma da Red Bull. Numa pista onde a potência não faz diferença, a eficiência do chassi projetado por Adryan Newey fez com que a Red Bull dominasse na sexta, com a Ferrari sendo bastante discreta. Se estava escondendo o leite ou simplesmente ainda não havia encontrado o acerto ideal, o certo foi que a Ferrari melhorou seu desempenho no sábado e Vettel arrancou para uma pole numa volta banzai, com direito a toque no muro e tudo. A Red Bull mostrou força, mas Verstappen e Ricciardo não melhoraram seus tempos nas suas tentativas finais, mas ficaram em segundo e terceiro, com potencial para atacar Vettel, que não terá a proteção de Raikkonen, num obscuro quarto lugar. A Mercedes ficou abaixo das já baixas expectativas. Hamilton tomou mais de meio segundo e Bottas foi ainda pior, mais de 1s atrás de Vettel, com um tempo mais próximo do sétimo colocado, Hulkenberg. Também dentro das expectativas, a McLaren andou muito bem na travada pista asiática e colocou seus dois pilotos no Q3 com sobras. Mais um tapa na cara da Honda. Numa pista onde o motor é pouco exigido, o bom chassi da McLaren fez todo o serviço... A Williams está num final de semana ruim e Massa ainda bateu no muro, perdendo tempo no Q1 e saindo lá de trás numa pista ruim de ultrapassar, o brasileiro terá que ter muita paciência ou esperar por algo anormal para conseguir pelo menos um ou dois pontinhos.

Porém, a anormalidade é regra em Cingapura. A corrida noturna, que entrou no gosto da F1, já vai para a sua décima edição e sempre teve um safety-car para embaralhar um pouco as coisas. Numa pista travada, a largada e a primeira volta serão fundamentais para o posicionamento da corrida, até mesmo na bandeirada. Se Vettel largar bem e Hamilton não (ou o contrário), podemos ter líder novo amanhã à tarde.  

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Divórcio anunciado

Poucas notícias foram menos surpreendentes do que a anunciada hoje pela manhã. Depois de três anos de uma expectativa boa que se transformou em pura desilusão, o casamento McLaren/Honda terminará no final dessa temporada. Quando McLaren e Honda juntaram forças no início de 2015, a primeira coisa que todo fã de F1 lembrou foi da vitoriosa parceria acontecido no final dos anos 1980, com resultados espetaculares nas mãos de Alain Prost e Ayrton Senna. Contudo, haviam dois 'poréns'.

O primeiro era que afora o sucesso da Honda conseguido com a McLaren, a gigante nipônica colecionou fracassos na F1 em suas outras duas passagens pela categoria. Os japoneses tiveram o dissabor de ver a equipe que abandonaram no final de 2008 vencer o campeonato seguinte com o nome de Brawn GP. O segundo era a complexidade do novo motor da F1 híbrida, onde as demais montadoras (Mercedes, Ferrari e Renault) já vinham desenvolvendo há alguns anos e a Honda começou com seu novo motor com, no mínimo, dois anos de atraso. Para quem conhece a forma de trabalhar da Honda, sabe que os japoneses gostam de trabalhar do seu jeito e isso vem desde que Soichiro Honda entrou no Mundial de Motovelocidade com motores de quatro tempos, quando todo mundo usava (e ganhava) com motores de dois tempos. Sem conhecimento prévio e querendo fazer do seu jeito, a Honda começava a sua esperada parceria com a McLaren mostrando o que estava por vir. Pouca potência e pouca confiabilidade. Uma mistura fatal na F1.

A volta de Fernando Alonso à McLaren, patrocinada pela Honda, significava a ambição da montadora, mas também a certeza que não faltaria piloto para fazer a revivida parceria andar. Pois foi Alonso e sua forma difícil de trabalhar que começou a minar a parceria. Reclamações em público e rádios vazados que entraram para o folclore da F1 mostravam um Alonso indignado por estar sem condições de lutar pela vitória por causa do motor Honda, apelidado certa vez de 'GP2 Engine(Motor de GP2)'. O segundo ano da parceria mostrou uma evolução e a McLaren pontuou com alguma regularidade em 2016, mesmo que longe dos pódios prometidos pela Honda, porém, com a evolução do motor japonês, havia a esperança de que finalmente Alonso e a McLaren voltassem à brigar por vitórias no terceiro ano. Pois em 2017 aconteceu exatamente o contrário. Os engenheiros da Honda contrariaram suas convicções e projetaram um motor inspirado na Mercedes, o melhor da F1. Sem experiência nessa nova concepção de motor, a Honda voltou praticamente para o início de 2015, onde a combinação pouca potência e pouca confiabilidade voltou com força total. Foi o fim da paciência de McLaren e Alonso. Numa manobra ousada e surpreendente, Alonso correu as 500 Milhas de Indianápolis, na tentativa de fazer seduzir o espanhol, mas cansado da difícil vida de retardatário que nem sempre chegava ao fim das corridas, Alonso deu o ultimato: ou eu ou eles (Honda). Sem vencer desde 2012, a McLaren fez sua escolha.

E essa escolha trouxe uma série de desdobramentos. Primeiro foi que a McLaren perdeu o enorme aporte financeiro que a Honda trouxe para o time e com os parcos resultados nos últimos tempos, houve uma fuga de patrocínios e a McLaren terá que se virar sozinha para se manter, além de arcar com o poupudo salário de Alonso. Outro fato é que a McLaren perdeu o status de equipe de fábrica, algo que poderá pesar a médio prazo. Um dos motivos da McLaren se divorciar da Mercedes foi que o time nunca seria campeão como equipe cliente, algo que faz sentido. Não pegaria bem para a Mercedes ter uma equipe que era derrotada por um carro que usa o seu motor. Porém, o mesmo vale para a Renault, que tem uma equipe oficial na F1 e cederá seus motores para a McLaren a partir do próximo ano. Podemos estar vendo o apequenamento da histórica McLaren, algo que já aconteceu com a Williams.

Foi sabendo desse detalhe que a Red Bull começou uma paquera com a Honda, cedendo sua segundo equipe como guarita para os japoneses tentarem melhorar os seus motores e, quem sabe, ceder seus motores para a Red Bull num futuro próximo, a tornando equipe de fábrica novamente, algo que o time austríaco não é. Não podemos duvidar que a equipe Renault oficial poderá crescer e não seria interessante para os franceses perder para um carro que use o seu motor, raciocínio que McLaren utilizou em 2014. No meio de tudo isso, a Red Bull cedeu seu piloto Carlos Sainz para a Renault, cansada da mediocridade de Jolyon Palmer. No fundo, a Red Bull que estar associada de qualquer maneira à Honda e para isso, cedeu seu valorizado piloto nessa intrincada negociação envolvendo McLaren, Honda, Renault e Red Bull. Com a Toro Rosso, a Honda terá menos pressão para desenvolver seus motores, afinal, a Toro Rosso sempre foi uma equipe de meio do pelotão. Se os japoneses crescerem, a Red Bull se envolverá com os japoneses, deixando a longa parceria com a Renault. Se Sainz se destacar na Renault, o time poderá pegar o espanhol de volta ou ganhar muito dinheiro vendendo o contrato para a Renault. E a McLaren? Tem três opções. A mais curto prazo, é se tornar uma Williams da vida, uma equipe que vive de sua tradição e história. A segunda seria construir um motor, algo já aventado pelo time em outras oportunidades. A terceira seria a McLaren ficar de olho no interesse da Porsche em voltar a F1 e nesse caso, outra parceria histórica seria feita, quando a McLaren foi tricampeã com o motor TAG Porsche no meio dos anos 1980, sendo que ao contrários dos japoneses, a Porsche tem uma ótima experiência com motores híbridos no WEC.

Finalmente, Alonso. Com 36 anos de idade o espanhol já está em sua reta final na carreira e corre contra o tempo para voltar a vencer na F1. Contudo, suas escolhas definitivamente o atrapalharam conseguir melhores resultados e já corre à boca pequena que do jeito que vai a sorte de Alonso, não seria de se admirar que a Honda evolua exponencialmente a partir de 2018...

terça-feira, 12 de setembro de 2017

História: 35 anos do Grande Prêmio da Itália de 1982

Com sua vitória em Dijon na quinzena anterior, Keke Rosberg se tornava líder do Mundial de Pilotos e tinha ótimas chances de definir o campeonato em Monza, penúltima etapa do certame de 1982. Com Didier Pironi definitivamente fora de combate, o piloto mais próximo de Keke era Alain Prost e sua inconfiável Renault. Se Rosberg não ceder mais de um ponto para Prost ou dois para os dois pilotos da McLaren (Watson e Lauda), que estavam empatados, o finlandês se sagraria Campeão Mundial na Itália. Os tifosi tiveram uma agradável surpresa com o anúncio de Mario Andretti como segundo piloto da Ferrari para o resto da temporada, enquanto Marco Piccinini anunciava que René Arnoux faria dupla com Patrick Tambay na Ferrari em 1983. Arnoux teve duas temporadas complicadas com Prost e fez questão de se livrar da companhia do compatriota. Prost, por sua vez, pediu à Renault um piloto mais maleável e em Monza a montadora francesa anunciou o jovem Eddie Cheever para 1983, primeiro não-francês a correr pela Renault na F1, mas ao menos o americano falava fluentemente francês. Na festa da Marlboro, Ron Dennis e Niki Lauda anunciavam uma parceria entre a McLaren e a TAG, que queria um maior envolvimento na F1, e financiava o novo motor Porsche turbo, a ser usado pela McLaren em meados de 1983.

Mesmo morando nos Estados Unidos há vários anos, Mario Andretti era um verdadeiro ídolo nacional italiano e em todo o final de semana, Mario foi ovacionado pelos tifosi, que em troca, receberam de presente uma surpreendente pole de Andretti, na primeira vez que o americano corria com um carro turbo na F1. Andretti deu uma volta a mais para acenar para a torcida, que aplaudia em júbilo. Mesmo ainda com fortes dores nas costas e tendo tomado vários analgésicos para poder correr, Tambay conseguiu um bom terceiro lugar, com Nelson Piquet separando as duas Ferraris, enquanto o piloto da casa Riccardo Patrese fechava a segunda fila. Os pneus Goodyear funcionaram melhor em Monza e a Renault foi relegada à terceira fila, com Arnoux se envolvendo num incidente com Elio de Angelis durante os treinos. Os carros com motor aspirado sofreram nas longas retas de Monza, com Keke Rosberg sendo o primeiro não-turbo com um tempo 3s mais lento do que Andretti, enquanto as duas McLarens sofreram com os pneus de classificação da Michelin.

Grid:
1) Andretti (Ferrari) - 1:28.473
2) Piquet (Brabham) - 1:28.508
3) Tambay (Ferrari) - 1:28.830
4) Patrese (Brabham) - 1:29.898
5) Prost (Renault) - 1:30.026
6) Arnoux (Renault) - 1:30.097
7) Rosberg (Williams) - 1:31.834
8) Giacomelli (Alfa Romeo) - 1:32.352
9) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:32.546
10) Lauda (McLaren) - 1:32.782

O dia 12 de setembro de 1982 amanheceu com o típico clima de outono em Monza, com tempo bom e uma multidão para torcer pela Ferrari. E por Mario Andretti. Porém a torcida admirava a coragem de Tambay, que se dizia com 60% de condições físicas para correr, por causa das fortes dores que sentia nas costas. Como sempre, a Brabham colocava suas máquinas de reabastecimento na frente dos boxes e calçava seus pilotos com pneus macios, com intuito de realizar uma parada programada. Mais acostumado com as largadas lançadas da Indy, Andretti acaba largando muito mal e é quase que imediatamente ultrapassado por Piquet, Tambay e Arnoux, que largara muito bem. Prost tenta ganhar a posição de Mario, mas acaba colocando duas rodas na grama e era o francês da Renault que perdia muitas posições, enquanto Andretti se mantinha em quarto.

Nelson Piquet tem problemas na embreagem e tira o pé nas curvas de Lesmo, sendo ultrapassado por Tambay, Arnoux, Patrese e Andretti. Na saída da Parabolica, Arnoux pega o vácuo de Tambay e cruza a primeira volta na frente. Derek Daly tem a suspensão quebrada após um toque na largada e bate em Henton e Warwick num strike britânico! Os três estavam fora na primeira volta. Na segunda volta Piquet vê seus problemas na embreagem piorar e cinco voltas depois ele abandonaria. Patrese consegue uma bela ultrapassagem por fora em cima de Tambay na Parabolica para ser segundo. Com menos combustível e mais leve, não demorou para Patrese colar em Arnoux, mas o italiano abandona na mesma volta de Piquet e com o mesmo problema: embreagem. Ainda cedo na corrida, a Brabham tem que recolher seu equipamento de reabastecimento e juntar as malas para casa. Isso deixava Arnoux com uma vantagem de 7s em cima de Tambay, enquanto Prost se recuperava de sua má largada e após uma boa disputa com Andretti, assumia o terceiro lugar, com o americano, com problemas no cabo do acelerador, em quarto, mas tamanha era a vantagem dos motores turbo, que mesmo assim Mario tinha uma boa vantagem para o primeiro carro não-turbo, que era Andrea de Cesaris.

Quando De Cesaris vai aos boxes com problemas de ignição, uma briga aparentemente sem importância se iniciava no pelotão intermediário, mas que valia muito no campeonato. John Watson executava outra boa corrida de recuperação e já estava em sétimo, após largar em 12º. O irlandês da McLaren começava a atacar Keke Rosberg, que fazia uma corrida longe de ser brilhante. Sem condições de luta, Keke é facilmente batido por Watson, que entrava na zona de pontuação e passava a atacar Giacomelli, ultrapassando o italiano na volta 13, se tornando o melhor não-turbo da corrida. Mesmo com suas conhecidas provas vindo de trás, Watson não era milagreiro. Sem um motor turbo, ele nada podia fazer para alcançar os carros turbo nas longas retas de Monza. As pequenas chances de título de Lauda terminam quando o austríaco abandona na volta 22 com problemas de freio. Enquanto isso, o outro contendor ao título era o piloto mais rápido da pista. Em sua perseguição à Tambay, Prost aumentou seu ritmo e exatamente na metade da prova, ele começou a atacar seu compatriota da Ferrari. Correndo em 'casa', Tambay jogou duro com Prost, mas a briga não durou muito. Os velhos fantasmas voltaram a assustar a Renault e Prost. Na volta 29 o francês levanta o braço e encostava seu carro em outra quebra mecânica. Mais uma vez um problema na injeção do motor gaulês, que destruía os sonhos da Renault ser campeã do mundo. Ou ainda havia alguma chance?

Enquanto Prost voltava aos boxes recebendo apupos do público italiano, Keke Rosberg voltava dos boxes duas voltas atrasado. Sem nenhum aviso, a asa traseira da Williams de Keke voou! O carro ficou parecendo mais um F-Ford tamanho família e Keke passou duas voltas tentando entender o que tinha acontecido, até ser avisado por outros pilotos que algo estava faltando em seu carro. Rosberg foi aos boxes providenciar uma nova asa traseira. Com Prost fora, as chances de Keke ser campeão em Monza estava nas mãos de Watson, que com o quarto lugar, marcava os pontos necessários para manter o campeonato vivo até a última prova, em Las Vegas. Depois desse acontecimento, nada mais ocorreu numa prova de ficou morna do meio para o fim e René Arnoux venceu pela quarta vez na carreira em uma corrida sólida. Os tifosi comemoravam muito. Mesmo Arnoux ainda estando de amarelo, eles consideravam o francês como ferrarista e no pódio, Arnoux teve dois companheiros de equipe, com Tambay e Andretti em segundo e terceiro. Andretti era o mais aplaudido pela torcida italiana e o americano mostrou que mesmo aos 42 anos, ainda se mantinha brilhante como nos bons tempos. Watson marcava pontos após três meses e mantinha o campeonato vivo, com Alboreto e Cheever fechando a zona de pontuação. Mesmo fazendo uma corrida para lá de discreta, Rosberg saiu de Monza com o título praticamente nas mãos. Com nove pontos de vantagem sobre Watson, Keke se livrava das ameaças de Prost e Lauda, além de precisar apenas pontuar em Las Vegas para ser campeão. Isso, no caso de uma vitória de John Watson. Ainda haviam pendengas políticas por causa das polêmicas desclassificações ocorridas durante a temporada, mas Keke Rosberg era o virtual Campeão Mundial de 1982.

Chegada:
1) Arnoux
2) Tambay
3) Andretti
4) Watson
5) Alboreto
6) Cheever  

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

História: 40 anos do Grande Prêmio da Itália de 1977

O grande assunto do final de semana italiano quarenta anos atrás foi o anúncio oficial da saída de Niki Lauda da Ferrari. Cansado das brigas internas e pela forma como a Ferrari o tratou após o acidente em Nürburgring, além do abandono voluntário em Fuji, Lauda decidiu abandonar a Ferrari, causando a ira de Enzo Ferrari, que o chamou de traidor, além da torcida italiana, que estaria em peso em Monza. Temendo pela própria segurança, Lauda solicitou segurança pessoal reforçada e se isolou na Vila d'Este, longe da pista, ao lado da esposa, Walter Wolf e... James Hunt. Ao contrário do que mostrou 'Rush', Lauda e Hunt eram bons amigos. Todos sabiam que o destino de Lauda era a Brabham, mas a repercussão da saída do austríaco fez com que a Brabham resolvesse anunciar a contratação depois da corrida na Itália. A Ferrari tentou contratar Mario Andretti usando o amor que o americano sentia pela equipe italiana, mas Andretti preferiu ficar na Lotus e apostar no carro-asa, cada vez mais aperfeiçoado. 

Preocupada com o progresso dos pneus Michelin usados ​​pela Renault, a Goodyear trouxe pneus ultramacios para Monza e o resultado foi que os 24 pilotos do grid melhoraram a pole de Laffite em 1976. No sábado pela manhã Patrick Tambay sofreu um grave acidente nas curvas de Lesmo, quando seu Ensign saiu da pista a 200 km/h, batendo no guard-rail duas vezes antes de capotar. Felizmente o jovem francês estava milagrosamente ileso. Hunt encarava este fim de semana com um espírito de vingança, depois dos insultos que sofreu dos italianos na corrida anterior em Monza e fez a pole com um tempo 3s melhor do que Laffite em 1976. Reutemann repentinamente revigorou-se depois de várias corridas ruins, garantindo o segundo lugar. A segunda fila tinha Scheckter e Andretti. Lauda ficou em quinto, seguido pelo jovem Patrese, que marcou um excelente sexto tempo. Assim como em Hockenheim, o Copersucar de Emerson Fittipaldi sofreu nas longas retas de Monza e o bicampeão acabou não conseguindo tempo para largar.

Grid:
1) Hunt (McLaren) - 1:38.08
2) Reutemann (Ferrari) - 1:38.15
3) Scheckter (Wolf) - 1:38.29
4) Andretti (Lotus) - 1:38.37
5) Lauda (Ferrari) - 1:38.54
6) Patrese (Shadow) - 1:38.68
7) Regazzoni (Ensign) - 1:38.68
8) Laffite (Ligier) - 1:38.77
9) Mass (McLaren) - 1:38.86
10) Brambilla (Surtees) - 1:38.92

O dia 11 de setembro de 1977 amanheceu com sol e havia um belo dia para uma corrida de F1. Mesmo de saída da Ferrari, Lauda perguntou ao diretor esportivo da escuderia se Carlos Reutemann cederia sua posição quando fosse necessário, como haviam combinado. O dirigente confirma, enquanto os pilotos se preparavam para a largada. Em Monza, com sua reta muito larga, as largadas sempre foram caóticas e não foi diferente em 1977. Reutemann e Andretti queimaram a largada de forma descarada, mas achar que os italianos puniriam um piloto da Ferrari e um ídolo da casa era pedir demais. Porém, foi Scheckter quem largou melhor, pulando para primeiro, seguido por um impressionante Regazzoni, enquanto Laffite tem problemas na embreagem e fica parado no grid.

Houve muita movimentação na primeira volta, quando o líder Scheckter saiu da pista na Variante della Roggia e mesmo indo para a caixa de brita, o sul-africano consegue retornar à corrida ainda em primeiro. Regazzoni mal sentiu o gostinho da boa largada e já era ultrapassado por Hunt na Variante Ascari e na entrada da curva seguinte, a Parabolica, o suíço era deixado para trás por Andretti. Após o incidente em Zandvoort, era esperado uma briga encarniçada entre Hunt e Andretti, mas surpreendentemente o americano da Lotus ultrapassa Hunt de forma tranquila ainda na segunda volta, enquanto Regazzoni era ultrapassado pelas duas Ferraris. Scheckter mantinha uma boa vantagem de 3s em cima de Andretti, que era seguido por Hunt e as duas Ferraris. Com Reutemann na frente de Lauda. Porém, Andretti fazia uma corrida de administração, sabedor do potencial do seu carro. Em apenas duas voltas o americano tira toda a vantagem de Scheckter e assume a primeira posição na volta 10, ainda antes da Parabolica. Mais atrás, Reutemann parte para cima de Hunt e no início da volta 12 o argentino põe a Ferrari por dentro na primeira curva, porém Hunt joga duro e tenta evitar a ultrapassagem, só que coloca duas rodas da McLaren na terra. O inglês perde o controle e roda, ficando de frente para os demais carros. Lauda, Stuck, Mass e Alan Jones passam por Hunt até o piloto da McLaren retornar à corrida, bem na frente de Regazzoni, que após a sua ótima largada, perdia rendimento e posições.

Com esse problema, Scheckter conseguia abrir um pouco para as duas Ferraris, mas via Andretti abrir cada vez mais, porém, a corrida do piloto da Wolf estaria terminada na volta 24 com o motor quebrado. Depailler (motor) e Hunt (freios) abandonam, fazendo com que pilotos de equipes medianas chegassem à zona de pontuação. Andretti liderava tranquilo, com 8s de vantagem sobre as duas Ferraris, que andavam juntas. Atrás de Lauda vinha Jones, Stuck, Mass e Regazzoni. Lauda ficava cada vez mais impaciente atrás de Reutemann, esperando que o argentino lhe cedesse a posição, como combinado, mas Reutemann não aliviava. Na volta 35, cansado de esperar uma gentileza do seu desafeto, Lauda ultrapassa Reutemann na freada da primeira chicane, mas o seu companheiro de equipe teimava em segui-lo de perto. O italiano Bruno Giacomelli, virtual campeão da F2, fazia sua estreia na F1 num terceiro carro da McLaren e fazia uma corrida bem decente até seu motor quebrar na volta 40. A falta de experiência fez com que Giacomelli rodasse no próprio óleo na chicane da primeira curva. Os líderes não sabiam do problema de Bruno e principalmente do óleo no local. Andretti escorregou, mas segurou. Lauda também abanou, mas para evitar um acidente com o companheiro de equipe, Reutemann saiu da pista em alta velocidade e ficou atolado na caixa de brita. Logo depois foi a vez de Patrese. Com três carros abandonados, a corrida transcorreu normalmente, com os pilotos tendo mais cuidado no local, enquanto os fiscais jogavam pó de cimento no local, para secar o óleo. Tudo isso com a corrida acontecendo! Eram outros tempos...

Peterson foi o último a vacilar no óleo de Giacomelli, mas o sueco permaneceu na corrida. Esse foi o último fato da corrida, que terminou sem maiores emoções. Andretti administrou praticamente até a bandeirada, vencendo com 16s de frente para Lauda, que não comemorou muito o segundo lugar, mesmo que o título fosse praticamente seu, só faltando confirmar matematicamente. Mesmo com o abandono de Reutemann, a Ferrari conquistava o Mundial de Construtores, mas o clima dentro da equipe não era nada bom, principalmente quando Lauda descobriu que Roberto Nosetto nunca havia combinado nada com Reutemann sobre uma troca de posições entre os pilotos da Ferrari. Jones terminou em terceiro lugar e conseguiu seu segundo pódio depois da vitória na Áustria. Mass conseguiu um belo quarto lugar, seguido por Regazzoni e Peterson. Fato raro ocorrido em Monza, Mario Andretti foi tão aclamado pelos tifosi quanto o ferrarista Lauda. Mesmo não sendo piloto da Ferrari, Andretti era um piloto muito popular na Itália pelas suas origens, mas nem essa vitória poderia tirar o bicampeonato de Lauda, apenas a um ponto do título.

Chegada:
1) Andretti
2) Lauda
3) Jones
4) Mass
5) Regazzoni
6) Peterson 

domingo, 10 de setembro de 2017

Em câmera lenta

Se corridas na chuva trazem um tempero à mais nas corridas de F1, nas de MotoGP ocorrem praticamente o contrário. Empolgantes com piso seco, quando a pista fica molhada, o cuidado dos pilotos por motivos óbvios de segurança faz com que a corrida fique menos emocionante, com a corrida ficando praticamente em câmera lenta. A chuva anunciada para este domingo em Misano veio forte nas provas de Moto3 e Moto2, mas diminuiu bastante na MotoGP e com a pista secando, Marc Márquez aumentou seu ritmo e com uma ultrapassagem cirúrgica no início da última volta em cima da surpresa Danilo Petrucci garantiu ao espanhol da Honda a co-liderança do campeonato, empatado com o terceiro colocado do dia, Andrea Doviziozo.

Hoje poderia muito bem ter sido o dia da redenção de Jorge Lorenzo. Fazendo uma largada espetacular, o espanhol da Ducati pulou para a ponta e contrariando seu bloqueio em piso molhado, Lorenzo caminhava para uma vitória arrebatadora em Misano. Seria uma vitória duplamente saborosa, pois seria a primeira com a Ducati e também calaria a boca dos críticos, que falam do medo que Jorge tem da chuva. Bastava não cair. Mas Lorenzo caiu. Quando estava isolado e abrindo do segundo colocado, à essa altura Danilo Petrucci, especialista em pista molhada e já tendo ultrapassado vários pilotos para estar nessa posição. Nesse momento, a corrida ficou estática, com Petrucci puxando um pequeno pelotão que ainda tinha os dois contendores ao título, Márquez e Doviziozo. O piloto da Honda chegou a sinalizar para os seus pits alguma coisa, no que poderia ser uma troca de moto. A chuva havia parado, mas a pista ainda estava muito molhada para arriscar uma troca de moto com acerto seco. Porém, era nítido que Márquez estava andando mais do que a moto naquelas situações muito molhadas, mas na medida em que a pista melhorava, a Honda melhorava de desempenho. Sem nada a perder e desejando sua primeira vitória, Petrucci aumentou o ritmo, mas Márquez vinha nitidamente mais forte no final. Doviziozo já tinha ficado definitivamente para trás, talvez o italiano esperando um entrevero entre dois pilotos tão agressivos na luta pela vitória. Curiosamente, a luta entre Márquez e Petrucci foi breve e sem maiores dramas. Márquez esperou a abertura da última volta para emparelhar com o italiano e assumir a ponta numa ultrapassagem sem maiores problemas. Sem condições de revidar, Petrucci apenas viu Marc Márquez fazer a melhor volta da corrida e vencer pela quarta vez nesse ano, empatando com Doviziozo no campeonato, mas levando a melhor nos critérios de desempate.

Doviziozo continuou em sua estratégia que lhe deu bons resultados quando corria nas categorias inferiores e marcou pontos que o mantiveram na ponta do campeonato. Única Yamaha oficial na pista com o acidente de Rossi no enduro, Maverick Viñales fez uma corrida discreta, onde logo percebeu-se que não tinha chances de vitória e segurou como pôde sua quarta posição, atacado por Cruthlow, Miller e Pirro durante a prova. Numa condição de pista onde não esteve confortável, Viñales administrou os danos e não é carta fora do baralho, mas já está na hora do piloto da Yamaha voltar a ganhar, após um início de campeonato fulminante. Como não deixaria de ser, vários pilotos encontraram o chão, como Lorenzo, Cruthlow e Loris Baz, que vinha crescendo na prova. Daniel Pedrosa fez uma corrida medonha, ficando nas últimas posições a corrida toda e só garantindo mais um pontinho com o problema de Zarco na última volta, onde o francês cruzou a bandeirada empurrando sua moto. Nas enquetes sobre os melhores de todos os tempos, na minha opinião o melhor Agente da história é o de Pedrosa. São doze (!) temporadas na equipe oficial da Honda e ele se mantém na equipe mesmo com corridas como essa.

Misano mudou a cara do Mundial, com Márquez retornando a liderança, mas tendo que enfrentar um piloto completamente diferente do que está acostumado em 2017. Ao contrário dos talentosos e rápidos Lorenzo e Rossi, Marc tem pela frente um piloto extremamente cerebral e astuto em Andrea Doviziozo, onde nenhuma chance é perdido pelo italiano da Ducati. Se Maverick Viñales não vencer nas próximas corridas, o campeonato pode ficar bipolarizado entre esses dois pilotos tão diferentes.  

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

História: 20 anos do Grande Prêmio da Itália de 1997

A F1 chegava à sua reta final da temporada 1997 com Michael Schumacher na liderança do campeonato e quando a Ferrari não está bem os tifosi enchem Monza, com um piloto ferrarista na ponta do certame, a festa estava garantida. Porém, alguns torcedores mais antigos sofriam de uma pequena confusão em suas preferências. Óbvio que a torcida seria para Schumacher, afinal, ele corre de vermelho e a história já provou que ser ferrarista é mais importante do que a pátria. Porém, o sobrenome do rival do alemão alimentava boas lembranças aos tifosi. Passados quinze anos de sua morte e o nome Villeneuve ainda causava suspiros nos torcedores italianos, mas desafortunadamente Jacques corria de azul e era o principal rival da Ferrari.

Os treinos livres indicavam um enorme equilíbrio entre as quatro equipes grandes. A Benetton havia vencido em Hockenheim, pista com característica parecidas com a de Monza, de forma enfática com Gerhard Berger, enquanto a Mercedes que empurrava a McLaren já era considerado o motor mais potente da F1 em 1997. Apesar de francês, Jean Alesi é filho de italianos e sempre andou bem em Monza. Ídolo dos tifosi quando esteve na Ferrari, Alesi conseguiu sua segunda e última pole na F1 com a Benetton, mesmo sabendo que estava fora da equipe para 1998. Frentzen liderou praticamente toda a classificação, foi superado por Alesi na última tentativa do francês, mas estranhamente o alemão abortou sua última volta e teve que se conformar com a segunda colocação. Para tristeza dos tifosi, Schumacher não estava conseguindo extrair o melhor da Ferrari e foi apenas nono, dividindo a quinta fila com Irvine. Tamanho era o equilíbrio que os dez primeiros colocados ficaram separados por 1s, com o piloto da casa Fisichella conseguindo um bom terceiro lugar, mas os torcedores locais prefeririam que um piloto da Ferrari e não um compatriota estivesse naquela posição.

Grid:
1) Alesi (Benetton) - 1:22.990
2) Frentzen (Williams) - 1:23.042
3) Fisichella (Jordan) - 1:23.066
4) Villeneuve (Williams) - 1:23.231
5) Hakkinen (McLaren) - 1:23.340
6) Coulthard (McLaren) - 1:23.347
7) Berger (Benetton) - 1:23.443
8) R.Schumacher (Jordan) - 1:23.603
9) M.Schumacher (Ferrari) - 1:23.624
10) Irvine (Ferrari) - 1:23.891

O dia 7 de setembro de 1997 amanheceu com o tradicional clima do final de verão em Monza, perfeito para uma corrida de F1 e também para que os fãs da Ferrari empurrassem seus pilotos para um posição melhor. Na largada, Alesi manteve a ponta, segurando bem as investidas de Frentzen. Largando da sexta posição, Coulthard conseguiu uma largada espetacular para subir para terceiro, passando Villeneuve e Fisichella ainda antes da primeira curva. Essa manobra seria decisiva para a posição final da corrida. Para delírio dos tifosi, Schumacher conseguiu duas posições na largada, ao ultrapassar seu irmão e Berger, pulando para sétimo.

Alesi começa a corrida num ritmo forte, marcando quatro voltas rápidas seguidas, mas logo o francês da Benetton perdeu rendimento, principalmente nas fortes freadas das chicanes e logo Frentzen e Coulthard encostaram, com Fisichella correndo sozinho em quarto, enquanto Villeneuve e Hakkinen ficavam para trás, mas o equilíbrio do treino permanecia na corrida e na volta 15, os seis primeiros colocados estava separados apenas por 9s! Hakkinen fechava o pelotão, mas era nítido que o finlandês estava mais rápido do que Villeneuve, mas não conseguia a ultrapassagem. Esse problema é antigo... Monza mostrava uma corrida tensa, onde os líderes andavam próximos, mas não acontecia as esperadas trocas de posição, com os pilotos andando numa espécia de trenzinho. Para desgosto de muitos fãs e puristas, a corrida seria decidida na única rodada programada de paradas. Com Alesi perdendo rendimento dos seus pneus Goodyear, mas ninguém sendo capaz de executar uma mísera ultrapassagem, na metade da corrida, os seis primeiros estavam separados por menos de 7s! No entanto, o momento decisivo da prova se aproximava com as paradas dos líderes.

Villeneuve foi o primeiro a parar na volta 28, com Frentzen sendo o próximo a fazê-lo. Quando se viu livre de Frentzen, Coulthard colou em Alesi, mas não tentou nenhuma ultrapassagem, até mesmo diminuindo seu ritmo. Quando a Benetton chamou Alesi na volta 32, a McLaren fez a mesma coisa. A conta era simples. David tinha economizado combustível o suficiente para passar menos tempo parado no reabastecimento, enquanto Alesi teria que encher o tanque do seu carro. Bastava que a McLaren não errasse no pit-stop do escocês. E os mecânicos vestidos de negro não erraram. As contas deram certo e Coulthard emergiu na frente de Alesi, enquanto o pessoal da Benetton coçava a cabeça com o 1s perdido por ter que colocar mais combustível no carro de Jean. Quando Hakkinen parou na volta seguinte, os seis primeiros tinha efetuados seus paradas, mas a situação estava completamente diferente. Coulthard liderava à frente de Alesi e Frentzen. Parando mais tarde do que Fisichella e Villeneuve, Hakkinen aproveitou a pista livre para fazer bons tempos e superar os dois, subindo para quarto. E Mika partiu para cima de Frentzen, num final de semana bem apagadinho da Williams, porém, Frentzen teve um alívio quando Hakkinen voltou aos boxes três voltas depois de sua parada programada com um jogo de pneus defeituoso e saindo da zona de pontos e da briga, pelo menos, do pódio. A corrida seguia a mesma toada de antes das paradas, com os líderes ainda próximos (mesmo que nem tanto como antes), mas sem ultrapassagens ou até mesmo tentativas.

Na volta 38 ocorreu o momento mais assustador da corrida, quando Johnny Herbert foi ultrapassado por Ralf Schumacher no final da reta dos boxes, mas o alemão da Jordan fechou na freada antes da hora, forçando Herbert ir para fora da pista a mais de 320 km/h. Felizmente o inglês da Sauber estava bem, mas bastante irritado com Ralf, que do seu lado, acusou Herbert pelo incidente... Isso foi o último fato relevante de uma corrida pobre em emoções, mas não deixava de ser um pódio diferente. Se Williams e Ferrari brigaram pela vitória na maior parte da temporada, em Monza quem brigou pelo triunfo foi McLaren e Benetton, com os dois desafiantes ao título longe até mesmo do pódio, onde Schumacher se aproveitou do problema de Hakkinen para salvar um pontinho. Ainda enlutado pela morte da princesa Diana, Coulthard dedicou à vitória para a ela. Foi uma corrida equilibrada, mas sem emoções e apesar da bipolaridade da briga pelo título, havia uma diversidade interessante nas lutas por vitória. Por isso que a temporada de 1997 é considerada a melhor da década de 1990.

Chegada:
1) Coulthard
2) Alesi
3) Frentzen
4) Fisichella
5) Villeneuve
6) M.Schumacher  

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Figura(ITA): Lewis Hamilton

Esse lugar poderia ser muito bem de Daniel Ricciardo e sua incrível corrida de recuperação contra todos os prognósticos, por causa do motor do australiano, abaixo de Mercedes e Ferrari, numa pista onde a potência significa muito no resultado da prova. Porém, Lewis Hamilton teve outro final de semana soberbo em Monza e na casa da rival Ferrari, o piloto da Mercedes conseguiu emular seu desempenho espetacular da semana passada em Spa, sendo que desta vez ele não teve a presença incômoda de Vettel, o que garantiu à Hamilton a liderança do campeonato, algo que não foi alcançado até então, mesmo com várias vitórias e poles em 2017. Falando nisso, Hamilton começou a se colocar como um grande da história da F1 ao conseguir sua 69º pole na carreira, superando Schumacher como o maior de todos os tempos nesse quesito. Pelo menos, nos números. A corrida foi um passeio no parque de Monza, onde Hamilton passou a administrar a corrida desde a largada, quando superou as surpresas Stroll e Ocon na primeira curva e quando os dois jovens foram ultrapassados por Bottas, Hamilton passou a controlar a distância para o seu companheiro de equipe, além de ter um escudeiro fiel atrás de si, por mais que Bottas não gostar dessa situação. Com pouco menos da metade para o fim do campeonato, Hamilton parte como favorito pela segunda volta à Ásia e nas Américas para tentar seu quarto título, agora na liderança do campeonato. E pela forma que vem mostrando, dificilmente a perderá por muito tempo.

Figurão(ITA): Ferrari

Num passado nem tão distante assim, a lenda contava que a Ferrari sempre preparava um motor especial quando a F1 chegava em Monza, lar espiritual do time italiano. Nos treinos, com um motor até mesmo irregular, a Ferrari andava acima do normal e empolgava seus tifosi, mas na corrida, com um motor 'normal', a Ferrari voltava ao desempenho de sempre, mas a festa nunca parava. Porém, em tempos de fiscalização mais rígida e parque fechado, histórias como essa se tornaram impossíveis, mas a Ferrari sempre foi capaz de lotar Monza, independentemente da sua fase e ainda havia o mote dos 70 anos da scuderia. A festa estava pronta, mas esqueceram de avisar ao time de F1 dos vermelhos. A Ferrari esteve irreconhecível em sua casa e mesmo que fosse esperado que a Mercedes andasse bem numa pista rapidíssima como Monza, ver a Ferrari tomar 1s por volta em ritmo de classificação calou fundo no colação dos torcedores fiéis da Ferrari. Nem Vettel, muito menos Raikkonen, ambos com seus contratos renovados semana passada, foram capazes de fazer melhor do que terminar atrás, bem atrás da rival alemã, sendo que por muito pouco Vettel não pedia seu lugar no pódio para o ascendente Ricciardo, que largou em 16º e recebeu a bandeirada próximo do alemão. Foi uma corrida complicada e se quiser levar o título para Maranello, a Ferrari terá que aprender as duras lições ministradas em sua casa pela Mercedes.

domingo, 3 de setembro de 2017

Jogando a vantagem fora

Quando deu um chega pra lá em Simon Pagenaud semana passada em Gateway, Josef Newgarden dava um recado claro à todos os rivais: ele não mediria esforços para ser campeão da Indy em 2017. O americano não se importou em bater no seu companheiro de equipe para vencer e dar uma pequena disparada no campeonato na reta final do certame. Helio Castroneves, que liderou a maior parte da prova no oval de Saint Louis e vacilou no momento decisivo (oh novidade) declarou, desconsolado, que pelo menos um piloto Penske seria campeão. Dixon, em sua luta solitária com a Ganassi, parecia conformado em não ter muito o que fazer conquistar seu quinto título. Isso foi sete dias atrás. Mas como tudo na vida, nunca é bom garantir certas coisas, ainda mais no automobilismo e Newgarden jogou fora sua enorme vantagem e vai para a última prova em Sonoma com uma pressão enorme em seus ombros, com Scott Dixon colado no campeonato.

Desde os treinos livres era claro que as equipes com o kit Honda estavam com vantagem no mítico circuito de Watkins Glen. Porém, quando se fala de Penske, nunca se pode esperar uma derrota sem luta e o embalado Newgarden brigou pela pole, mas acabou superado por Dixon e pelo americano Alexander Rossi, da Andretti. Havia previsão de chuva e ela veio pela manhã, mas a pista estava seca na bandeira verde e os pilotos não demoraram uma volta para trocar para os pneus slicks. A corrida começava a ser decidida. Com a indefinição de quando a chuva viria (e ela nunca veio), pilotos acertaram seus carros com acertos para diferentes situação. Dos pilotos da Penske, aparentemente apenas Helio Castroneves arriscou para o piso seco e se deu bem. Pagenaud e Power, que largavam mais atrás, se despediam das chances de serem campeões com corridas opacas. Newgarden até começou bem, mas foi perdendo terreno, enquanto Helio fazia sua corrida de Leão da Metro. Rugia forte no começo para dar lugar às principais estrelas. Castroneves se aproveitou da confusão da primeira volta para assumir a ponta da corrida, mas como normalmente ocorre em circuitos mistos, seu ritmo de corrida vai diminuindo e ele foi perdendo terreno, mesmo tendo apostado certo.

O pole Rossi liderou após a segunda rodada de paradas, mas um problema na sua mangueira de reabastecimento o fez parar fora da janela dos líderes e mesmo muito rápido, o americano da Andretti parecia carta fora do baralho para vencer. Parecia. A Andretti consertou a mangueira e acertou a estratégia de Rossi, que reassumiu a ponta e liderou até o final para uma vitória arrebatadora, sua primeira na Indy em circuitos mistos e a segunda na carreira. Junto com Newgarden, Rossi poderá ser o futuro dos Estados Unidos na Indy. Porém, Newgarden se encarregava de estragar um campeonato que parecia ser seu. Após sua última parada, Josef, que vinha perdendo rendimento, foi superado por Power nos boxes e na ânsia de se recuperar, acabou batendo na saída dos boxes e ainda foi atingido na traseira por Sebastien Bourdais. Mais atrás Tony Kanaan cometia o mesmo erro e abandonou em sua penúltima prova pela Ganassi, numa passagem para esquecer. Newgarden fez de tudo para se manter na prova e conseguir alguns pontos, mas perdendo voltas, acabou em último, perdendo toda a sua vantagem para a última etapa do campeonato. E o rival de Newgarden nessa decisão não poderia ser pior.

Scott Dixon é o que os americanos gostam de chamar 'raposa felpuda'. É aquele animal astuto e inteligente, sempre pronto para conseguir vantagem quando ela aparece para abater sua vítima. Numa pista favorável à Honda, Dixon até deu pinta de favorito num circuito onde já venceu quatro vezes, mas o neozelandês não tinha do que reclamar do seu segundo lugar, muito próximo de Rossi numa disputa mano a mano com o americano no stint final. Agora três pontos atrás de Newgarden, Dixon vai com um viés positivo para Sonoma, na última etapa do ano e com a pontuação dobrada em jogo. Castroneves poderia ter atacado o terceiro colocado Ryan Hunter-Reay nas voltas finais e conseguir mais pontos que o ajudariam na batalha pelo título, mas acabou se conformando com a quarta posição. O paulista ainda tem boas chances de título, mas dependerá demais do azar de Newgarden e Dixon em Sonoma, pois fica claro que Helio, mesmo com toda a sua imensa experiência, não tem estofo de campeão.

Num campeonato que já parecia decidido à favor de Newgarden, a Indy chega à Sonoma com três pilotos brigando diretamente pelo título, mas todas as atenções estarão direcionadas para Josef Newgarden e Scott Dixon. O jovem americano da Penske representa o futuro da categoria e até mesmo do automobilismo americano. Dixon pode colocar ainda mais seu nome na lista das lendas do automobilismo ianque com um possível quinto título. Newgarden nunca esteve na situação de brigar pelo título na Indy, experiência que Dixon tem se sobras, incluindo viradas incríveis, como em 2015. Castroneves corre por fora e dependerá dos azares alheiros, além de fazer uma corrida que faz tempo que não faz em misto, na prova que poderá ser a sua última pela Penske na Indy. Não faltará emoção para a decisão da Indy. 

Como nos tempos prateados

Não faltou muito para Lewis Hamilton colocar o braço para fora do carro e ligar a rádio na FM que estivesse sintonizada no seu carro. Foi um verdadeiro passeio no parque de Monza, mas ao contrário da semana passada, a Ferrari esteve longe de incomodar não apenas a vitória de Hamilton, como a dobradinha da Mercedes, que viveu um domingo parecido com os dos três anos anteriores, onde matava a concorrência com uma facilidade constrangedora. Para sorte de Hamilton, ele não tem mais Nico Rosberg ao seu lado e Valtteri Bottas foi comportado segundo colocado. Para azar de Hamilton, seu maior rival não veste o mesmo macacão branco e chegou em terceiro. Vettel perdeu a liderança pela primeira vez no ano, mas a surra que a Ferrari levou em casa merece um pouco de reflexão, mesmo a próxima etapa ser, teoricamente, uma pista com vantagem ferrarista.

Ao contrário da tempestade de sábado, o domingo amanheceu com um céu tão azul, que nem parecia que havia chovido tanto no dia anterior. As únicas lembranças de que tinha havido uma classificação complicada eram as presenças de Stroll e Ocon nas duas primeiras filas. Ao contrário do esperado, os dois se comportaram exemplarmente na largada, com Ocon tomando a segunda posição do canadense da Williams. Hamilton ainda foi para dentro para se defender da boa largada de Stroll, mas depois disso não foi mais visto. Foi uma vitória enfática e sem qualquer discordância. Bottas andou algumas vezes mais rápido, Lewis ia lá e respondia. Hamilton só não conseguiu o Grand-Chelem, porque parou duas voltas antes de Bottas e perdeu a volta mais rápida para Daniel Ricciardo, o grande destaque da corrida. Bottas ainda foi ultrapassado por Raikkonen na largada, mas tamanho era a vantagem da Mercedes que o finlandês logo deu o troco no seu compatriota e partiu para cima dos 'intrusos' Stroll e Ocon. Bottas se estabeleceu em segundo, com uma vantagem que flutuou entre três e quatro segundos para Hamilton, com o finlandês conseguindo um bom ritmo, mas ainda abaixo de Hamilton. Por mais que Bottas não queira essa situação, ele já é um claro segundo piloto na Mercedes e fez bem o seu papel, que é tirar pontos de Vettel.

O alemão da Ferrari não largou tão bem, mas pelo menos manteve a sexta posição. Ultrapassou Kimi numa manobra que não pareceu ter vinda dos boxes. Sebastian não teve problemas para superar Stroll e Ocon, mas quando se viu em terceiro, percebeu o tamanho da encrenca que terá pela frente quando a F1 visitar pistas onde o motor é mais exigido. Em Monza, pista símbolo da Ferrari e onde a equipe estampou uma propaganda com o aniversário de 70 anos, Vettel tinha um ritmo 1s inferior por volta ao da Mercedes, mesmo a de Bottas. Foi um banho que a Ferrari tomou em casa e pode-se dizer que os italianos tiveram uma pitada de sorte nesse final de semana. A Red Bull resolveu trocar os motores dos seus carros para chegar em Singapura com motores novos em folha e sem risco de punições. A boa performance da equipe foi jogada no lixo com as punições consequentes, jogando Ricciardo e Verstappen para o meio do grid. Max fez uma largada relâmpago, mas como lhe é comum, pecou pela impetuosidade e furou o pneu dianteiro direito num toque com Massa, caindo para último. Ricciardo fez uma largada mais convencional, mas rapidamente estava na zona de pontuação e brigando com pilotos equipados com motores mais potentes que o seu. A Red Bull arriscou num acerto com quase nenhuma pressão aerodinâmica e seus carros eram os mais rápidos em linha reta. Daniel usou bem esse artifício e foi escalando o pelotão. Largando com os pneus mais duros, foi o último a trocar pneus e fez um espetacular terço final de prova, incluindo uma ultrapassagem sem maiores rodeios em cima de Raikkonen. Piloto mais rápido da pista, Ricciardo tirou a volta mais rápida de Hamilton e partiu para cima de Vettel, mas a corrida acabou antes de qualquer ataque. Ricciardo foi escolhido com toda a justiça o piloto da corrida, enquanto Verstappen ainda conseguiu amealhar um pontinho, não sem antes tocar de leve em Magnussen, tirando o danês da pista. Se os dois carros da Red Bull tivessem largado nas posições correspondentes, provavelmente a Ferrari poderia ficar de fora do pódio, aumentando o prejuízo de Vettel no campeonato. Pela primeira vez no ano, Vettel caiu para segundo na tábua de classificação e com a Mercedes tão na frente em pistas rápida, Sebastian terá sérios problemas para recuperar a ponta do campeonato, além do que, Hamilton vem numa fase exuberante. Ainda mais não tendo muito a ajuda de Raikkonen, que mais uma vez teve uma corrida apática, sendo ultrapassado por Ricciardo de uma forma tão fácil, que pareceu que Kimi não estava prestando atenção no que vinha acontecendo atrás dele.

O conto de fadas dos jovens Ocon e Stroll acabou quando o domingo amanheceu claro e ensolarado em Monza. Por mais que fizessem boas largadas, os garotos de Force India e Williams pouco poderiam fazer para espantar o poderio de Mercedes, Ferrari e Red Bull. Ultrapassados pelos carros mais fortes, Ocon e Stroll tiveram que segurar seus companheiros de equipe mais experientes nas voltas finais. Após a parada, Massa se colocou atrás de Stroll, que atacava Ocon e com isso, sempre tinha a asa móvel aberta a seu favor. Quando Ocon conseguiu uma pequena folga, Stroll virou alvo de Massa, mas numa situação bem parecida com a de Raikkonen, Felipe não foi capaz de ultrapassar, só tentando alguma coisa com mais decisão na última volta, quando já era acossado por Pérez. Os três chegaram juntos na bandeirada, sem trocas de posição. Numa pista onde não há necessidade de downforce, a Williams se igualou à Force India e as duas clientes da Mercedes andaram juntas novamente numa pista favorável à montadora tedesca, sem vantagem aparente para nenhuma entre elas, mas o maior equilíbrio da Force India poderá ficar mais aparente em outras pistas, o mesmo não acontecendo com a Williams. Com a ultrapassagem de Verstappen nas últimas voltas em cima de Magnussen, as equipes Haas, Renault e Toro Rosso não tiveram chance de marcar pontos. Os seis pilotos das equipes citadas andaram juntas, trocando posições, mas sem ritmo para atacar as clientes da Mercedes numa pista onde se demanda tanta potência. Logicamente a McLaren-Honda sofreu horrores, mas Vandoorne surpreendeu ao andar muito tempo na zona de pontuação, até mesmo pressionando Kvyat da Toro Rosso. Quando o belga foi alcançado por Williams e Force India, foi vergonhoso a falta de potência da Honda, que ainda abandonou com seus dois carros. Infelizmente a parceria McLaren-Honda não funcionou, já colocando o verbo no passado. O divórcio é iminente, apesar dos esforços da Honda em ficar com a McLaren, mas o tradicional time inglês já perdeu todos os seus patrocinadores e, principalmente, a paciência com a falta de qualidade dos motores Honda. A Sauber escapou por pouco de pegar o fracassado motor japonês, mas ainda ficaram nas últimas posições de sempre.

Não houve briga pela vitória em Monza, apenas a apoteose de Lewis Hamilton no final de semana onde se tornou o maior poleman da história da F1. As duas vitórias em Spa e Monza deram ao inglês a esperada liderança no campeonato, além de mostrar a ótima forma de Lewis. No seco e no molhado, o inglês da Mercedes esteve simplesmente imbatível. Para sorte do campeonato, a F1 é feito de vários tipos de pistas e muitas equipes se prepararam com esmero para a próxima etapa em Cingapura, uma travada pista de rua. Red Bull e McLaren trocaram motores para serem punidas em Monza e não terem problemas em Cingapura. Mas é a Ferrari que é a grande favorita no sudeste asiático. Porém, a Mercedes e Lewis Hamilton voltaram muito fortes para a segunda metade da temporada.