A corrida em Cingapura nessa manhã foi como uma decisão no futebol. Sim, foi a primeira coisa que me veio a mente. Numa partida de futebol não há emoções durante todos os 90 minutos, mas alguns lances que resultam em consequências que podem durar dias, semanas e até mesmo anos. Foi impedimento? Foi gol? A bola saiu? A prova deste domingo ficará para sempre marcada pela largada e as consequências das decisões tomadas naqueles míseros dois ou três segundos antes da primeira curva por Sebastian Vettel, Max Verstappen e Kimi Raikkonen. O triplo acidente na largada entregou a vitória de bandeja para Lewis Hamilton, que antes da corrida sonhava com um pódio para diminuir o prejuízo de uma vitória de Vettel e acabou a prova com quase trinta pontos de vantagem, desequilibrando um pouco disputa que tinha com o alemão da Ferrari.
O domingo já começou especial com a chuva que caía no traçado cingapuriano. Pela primeira vez na história da F1, uma corrida noturna seria realizada com pista molhada, o que já era um desafio todo especial para os vinte pilotos que largaram parados, sem frescuras de safety-car. Nas duas primeiras filas dominadas por Red Bull e Ferrari, claramente quem saiu melhor foi Raikkonen, que se espremeu no muro para ficar por dentro na primeira curva. O segundo colocado Verstappen largou de forma razoável e se manteve em linha reta. Pressionado para vencer na melhor pista para a Ferrari nesse começo de reta final de campeonato, Vettel largou mal e não teve pudor em jogar sua Ferrari para a esquerda, para cima de Verstappen. O holandês ficou numa sinuca de bico. À direita, Vettel jogava seu carro para manter a vantagem da pole. À esquerda, Raikkonen vinha como um foguete e guinando sua Ferrari para a direita. O choque foi inevitável!
As rodas de Raikkonen se emaranharam com as de Verstappen, jogando Kimi contra a lateral de Vettel. De frente, parecia que Sebastian sobreviveria. Com o carro semi-destruído, Raikkonen se arrastou até acertar novamente Verstappen, pegando o azarado Alonso de rebarba. Kimi e Max abandonaram ali mesmo. Alguns metros depois, Vettel rodaria e arrancaria todo o bico de sua Ferrari. No que parecia ser uma barbeiragem do alemão em pista molhada, outras imagens mostraram a lateral destruída da Ferrari e um fluído verde caindo nas rodas traseiras do alemão, fazendo-o rodar e abandonar a prova alguns metros depois. E foi na pior hora possível. Ótimo piloto em piso molhado, Hamilton aproveitou o caos à sua frente para assumir a primeira posição e dominar uma corrida que parecia no início uma prova de limitação de danos. Ricciardo mostrou um ritmo superior nos treinos livres, mas na corrida o talento de Hamilton reverberou e o inglês não foi incomodado pelo piloto da Red Bull, mesmo com todas as relargadas devido às entradas de safety-cars. Foi um triunfo retumbante e novamente comparando com o futebol, Hamilton conseguiu uma goleada na casa do adversário. A Mercedes ainda viu Bottas, num final de semana extremamente apagado, conseguir o pódio com todos os abandonos resultantes e o time tedesco se firma cada vez mais como líder do Mundial de Construtores. No Mundial de Pilotos, os 28 pontos que Hamilton tem de vantagem dá uma ligeira tranquilidade para o inglês, pois daqui para frente, Vettel precisará de um campeonato próximo do perfeito para retomar a liderança do campeonato sem contar com problemas de Hamilton.
A repercussão da corrida praticamente terminou após a largada. Quem era o culpado? Era essa a pergunta feita por todos. De contrato recém-renovado, Raikkonen não pode ser acusado de ter largado melhor do que os pilotos à sua frente e tentar uma melhor posição na primeira curva. Tratado como uma ameaça na primeira curva pela impetuosidade, Max Verstappen mal se moveu enquanto era espremido pelas duas Ferraris. Restou Vettel. O alemão largou mal e na tentativa de se manter de qualquer jeito na ponta, acabou forçando para cima de Verstappen, mas Vettel não contou com a boa largada de Raikkonen, provocando o caos absoluto em que se meteu ele e a Ferrari. A situação de Vettel ainda não é crítica na briga com Hamilton, mas tirou um pouco a luta pelo título das mãos de Seb. Pela configuração atual do campeonato, apenas um problema de Hamilton colocaria a briga pelo título novamente no mesmo equilíbrio visto antes.
Atrás dos três pilotos com carros vencedores que sobraram, não faltaram brigas e acidentes. Carlos Sainz foi o grande destaque, conquistando seu melhor resultado na carreira bem no momento em que fora anunciado como piloto da Renault. Hulkenberg teve chances de quebrar o tabu de nunca ter ido ao pódio, mas acabou sucumbindo com problemas mecânicos quando estava em quarto. Palmer marcou seus primeiros pontos em 2017, mas o inglês foi tão azarado, que conseguiu isso bem no dia em seu substituto (Sainz) conseguiu o melhor resultado da carreira. Porém, mais azarado do que Palmer, só mesmo Alonso. O espanhol conseguiu uma largada espetacular e pulara para terceiro, quando pegou as sobras do incidente da largada e o fez abandonar mais tarde com a lateral do carro destruída, mas pelo menos a McLaren pontuou com Vandoorne, numa boa prova do belga. Pérez saiu do pelotão intermediário para chegar colado em Sainz, enquanto Ocon, bem menos experiente, não andou no mesmo ritmo do mexicano, como vinha acontecendo, mas garantiu um pontinho. Apesar de todas as deficiências, Stroll vem se mostrando um bom piloto na chuva e nessa condição suplantou com até facilidade Massa, reconhecido como um piloto que sofre na chuva. O brasileiro terminou em penúltimo, numa corrida onde apenas doze carros terminaram.
O acidente na largada em Cingapura poderá ser o grande marco da temporada 2017 da F1. Vettel transformou seu favoritismo em afobação e com isso destruiu não apenas sua corrida, como a de outros dois postulantes à vitória no sudeste asiático. Ano passado, alguns quilômetros ao norte, Hamilton perdeu o título quando o seu motor explodiu na Malásia. Quase um ano depois, na mesma região do globo, o inglês teve a sorte no caos e pode ter garantido o tetracampeonato hoje.
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