Não faltou muito para Lewis Hamilton colocar o braço para fora do carro e ligar a rádio na FM que estivesse sintonizada no seu carro. Foi um verdadeiro passeio no parque de Monza, mas ao contrário da semana passada, a Ferrari esteve longe de incomodar não apenas a vitória de Hamilton, como a dobradinha da Mercedes, que viveu um domingo parecido com os dos três anos anteriores, onde matava a concorrência com uma facilidade constrangedora. Para sorte de Hamilton, ele não tem mais Nico Rosberg ao seu lado e Valtteri Bottas foi comportado segundo colocado. Para azar de Hamilton, seu maior rival não veste o mesmo macacão branco e chegou em terceiro. Vettel perdeu a liderança pela primeira vez no ano, mas a surra que a Ferrari levou em casa merece um pouco de reflexão, mesmo a próxima etapa ser, teoricamente, uma pista com vantagem ferrarista.
Ao contrário da tempestade de sábado, o domingo amanheceu com um céu tão azul, que nem parecia que havia chovido tanto no dia anterior. As únicas lembranças de que tinha havido uma classificação complicada eram as presenças de Stroll e Ocon nas duas primeiras filas. Ao contrário do esperado, os dois se comportaram exemplarmente na largada, com Ocon tomando a segunda posição do canadense da Williams. Hamilton ainda foi para dentro para se defender da boa largada de Stroll, mas depois disso não foi mais visto. Foi uma vitória enfática e sem qualquer discordância. Bottas andou algumas vezes mais rápido, Lewis ia lá e respondia. Hamilton só não conseguiu o Grand-Chelem, porque parou duas voltas antes de Bottas e perdeu a volta mais rápida para Daniel Ricciardo, o grande destaque da corrida. Bottas ainda foi ultrapassado por Raikkonen na largada, mas tamanho era a vantagem da Mercedes que o finlandês logo deu o troco no seu compatriota e partiu para cima dos 'intrusos' Stroll e Ocon. Bottas se estabeleceu em segundo, com uma vantagem que flutuou entre três e quatro segundos para Hamilton, com o finlandês conseguindo um bom ritmo, mas ainda abaixo de Hamilton. Por mais que Bottas não queira essa situação, ele já é um claro segundo piloto na Mercedes e fez bem o seu papel, que é tirar pontos de Vettel.
O alemão da Ferrari não largou tão bem, mas pelo menos manteve a sexta posição. Ultrapassou Kimi numa manobra que não pareceu ter vinda dos boxes. Sebastian não teve problemas para superar Stroll e Ocon, mas quando se viu em terceiro, percebeu o tamanho da encrenca que terá pela frente quando a F1 visitar pistas onde o motor é mais exigido. Em Monza, pista símbolo da Ferrari e onde a equipe estampou uma propaganda com o aniversário de 70 anos, Vettel tinha um ritmo 1s inferior por volta ao da Mercedes, mesmo a de Bottas. Foi um banho que a Ferrari tomou em casa e pode-se dizer que os italianos tiveram uma pitada de sorte nesse final de semana. A Red Bull resolveu trocar os motores dos seus carros para chegar em Singapura com motores novos em folha e sem risco de punições. A boa performance da equipe foi jogada no lixo com as punições consequentes, jogando Ricciardo e Verstappen para o meio do grid. Max fez uma largada relâmpago, mas como lhe é comum, pecou pela impetuosidade e furou o pneu dianteiro direito num toque com Massa, caindo para último. Ricciardo fez uma largada mais convencional, mas rapidamente estava na zona de pontuação e brigando com pilotos equipados com motores mais potentes que o seu. A Red Bull arriscou num acerto com quase nenhuma pressão aerodinâmica e seus carros eram os mais rápidos em linha reta. Daniel usou bem esse artifício e foi escalando o pelotão. Largando com os pneus mais duros, foi o último a trocar pneus e fez um espetacular terço final de prova, incluindo uma ultrapassagem sem maiores rodeios em cima de Raikkonen. Piloto mais rápido da pista, Ricciardo tirou a volta mais rápida de Hamilton e partiu para cima de Vettel, mas a corrida acabou antes de qualquer ataque. Ricciardo foi escolhido com toda a justiça o piloto da corrida, enquanto Verstappen ainda conseguiu amealhar um pontinho, não sem antes tocar de leve em Magnussen, tirando o danês da pista. Se os dois carros da Red Bull tivessem largado nas posições correspondentes, provavelmente a Ferrari poderia ficar de fora do pódio, aumentando o prejuízo de Vettel no campeonato. Pela primeira vez no ano, Vettel caiu para segundo na tábua de classificação e com a Mercedes tão na frente em pistas rápida, Sebastian terá sérios problemas para recuperar a ponta do campeonato, além do que, Hamilton vem numa fase exuberante. Ainda mais não tendo muito a ajuda de Raikkonen, que mais uma vez teve uma corrida apática, sendo ultrapassado por Ricciardo de uma forma tão fácil, que pareceu que Kimi não estava prestando atenção no que vinha acontecendo atrás dele.
O conto de fadas dos jovens Ocon e Stroll acabou quando o domingo amanheceu claro e ensolarado em Monza. Por mais que fizessem boas largadas, os garotos de Force India e Williams pouco poderiam fazer para espantar o poderio de Mercedes, Ferrari e Red Bull. Ultrapassados pelos carros mais fortes, Ocon e Stroll tiveram que segurar seus companheiros de equipe mais experientes nas voltas finais. Após a parada, Massa se colocou atrás de Stroll, que atacava Ocon e com isso, sempre tinha a asa móvel aberta a seu favor. Quando Ocon conseguiu uma pequena folga, Stroll virou alvo de Massa, mas numa situação bem parecida com a de Raikkonen, Felipe não foi capaz de ultrapassar, só tentando alguma coisa com mais decisão na última volta, quando já era acossado por Pérez. Os três chegaram juntos na bandeirada, sem trocas de posição. Numa pista onde não há necessidade de downforce, a Williams se igualou à Force India e as duas clientes da Mercedes andaram juntas novamente numa pista favorável à montadora tedesca, sem vantagem aparente para nenhuma entre elas, mas o maior equilíbrio da Force India poderá ficar mais aparente em outras pistas, o mesmo não acontecendo com a Williams. Com a ultrapassagem de Verstappen nas últimas voltas em cima de Magnussen, as equipes Haas, Renault e Toro Rosso não tiveram chance de marcar pontos. Os seis pilotos das equipes citadas andaram juntas, trocando posições, mas sem ritmo para atacar as clientes da Mercedes numa pista onde se demanda tanta potência. Logicamente a McLaren-Honda sofreu horrores, mas Vandoorne surpreendeu ao andar muito tempo na zona de pontuação, até mesmo pressionando Kvyat da Toro Rosso. Quando o belga foi alcançado por Williams e Force India, foi vergonhoso a falta de potência da Honda, que ainda abandonou com seus dois carros. Infelizmente a parceria McLaren-Honda não funcionou, já colocando o verbo no passado. O divórcio é iminente, apesar dos esforços da Honda em ficar com a McLaren, mas o tradicional time inglês já perdeu todos os seus patrocinadores e, principalmente, a paciência com a falta de qualidade dos motores Honda. A Sauber escapou por pouco de pegar o fracassado motor japonês, mas ainda ficaram nas últimas posições de sempre.
Não houve briga pela vitória em Monza, apenas a apoteose de Lewis Hamilton no final de semana onde se tornou o maior poleman da história da F1. As duas vitórias em Spa e Monza deram ao inglês a esperada liderança no campeonato, além de mostrar a ótima forma de Lewis. No seco e no molhado, o inglês da Mercedes esteve simplesmente imbatível. Para sorte do campeonato, a F1 é feito de vários tipos de pistas e muitas equipes se prepararam com esmero para a próxima etapa em Cingapura, uma travada pista de rua. Red Bull e McLaren trocaram motores para serem punidas em Monza e não terem problemas em Cingapura. Mas é a Ferrari que é a grande favorita no sudeste asiático. Porém, a Mercedes e Lewis Hamilton voltaram muito fortes para a segunda metade da temporada.
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