sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Pensando nos pontos

Corrida em Spa é sempre sinônimo de emoção, certo? Nem sempre. Quinze anos atrás, no Grande Prêmio da Bélgica de 2002 a F1 viu uma de suas temporadas mais chatas estragar até mesmo uma prova em Spa. 

Aquela corrida foi tão chata, que durante a transmissão da Globo, Galvão Bueno lançou um desafio para Reginaldo Leme: Quem eram os cinco pilotos da BRM em 1972? Se o desafio fosse feito quinze anos depois, seria logo criado um hashtag e milhares de expectadores ajudariam o Regi a responder o desafio do Galvão. Sem tanta interatividade, Regi contava na época apenas com a sua memória e alguns amigos lhe mandando SMS. Outros tempos.

Um fato interessante nessa corrida foi perceber que os cinco pilotos que receberam a bandeirada foram praticamente os mesmo que largaram nessas posições. Na classificação no sábado, Schumacher fez o melhor tempo com a Ferrari, seguido por Raikkonen (McLaren), Barrichello (Ferrari), Ralf (Williams), Montoya (Williams) e Coulthard (McLaren). Raikkonen quebrou o motor no final da corrida, mas já havia perdido a sua segunda posição para a imbatível Ferrari de Barrichello, enquanto Schumacher liderou de ponta a ponta e venceu exatos dez anos após sua primeira vitória na F1. Montoya e Coulthard superaram um problemático Ralf e assim terminou a corrida, num exemplo claro das forças daquela época. As Ferraris disparadas na frente, Williams e McLaren andando misturadas e só então vinha o resto do pelotão. Em Spa, o sexto colocado foi Eddie Irvine da Jaguar, quase um minuto atrás do terceiro colocado Montoya. 

Na época, apenas os seis primeiros marcavam pontos e pela lógica, se não houvesse um problema com algum piloto das três principais equipes de 2002, os pilotos das equipes médias ficavam zeradas, numa época em que a F1 tinha cada vez menos abandonos, principalmente nas equipes grandes. Estava claro que o sistema de pontuação, praticamente o mesmo desde os primórdios da categoria na década de 1950, estava antiquado para a F1 contemporânea. Colocando na ponta do lápis, as equipes médias gastavam rios de dinheiro para marcar (haviam equipes de fábrica da Ford e da Honda nesse meio), com sorte, oito pontos ao longo de toda a temporada. Como convencer um investidor patrocinar uma equipe para marcar poucos pontos no final do ano? Haviam muitas reclamações à respeito e o sistema de pontuação da Indy era sempre usado como exemplo. Na época, a CART dava pontos até o 12º colocado na bandeirada. Aquela corrida em Spa foi um exemplo cristalino que teria que haver uma mudança no sistema de pontos rapidamente.

Porém, a politicagem de Max Mosley entrou em ação e com medo do domínio avassalador da Ferrari, aumentou-se o número de pilotos marcando pontos na temporada seguinte, mas o valor da vitória foi diminuído, com apenas dois pontos separando o primeiro do segundo colocado. Anos depois essa aberração foi abolida e a vitória passou a valer mais hoje em dia. Muitos puristas ainda clamam pelo sistema de pontos usado entre 1990 e 2002. Trazendo aquela pontuação para 2017, provavelmente teríamos um quadro relativamente parecido com 2002, com duas equipes dominando as quatro primeiras posições (Ferrari e Mercedes) e uma terceira força destacada (Red Bull). As outras equipes? Só reza braba para que um desses carros quebrassem para conseguir um lugarzinho entre os seis primeiros. Numa opinião particular do blogueiro, a corrida em Spa/2002 mostrou bem que aquele sistema de pontuação estava obsoleto para uma F1 com um nível de qualidade dos materiais cada vez maior e onde as quebras se tornavam raras nos carros. Quando metade do grid abandonava com alguma quebra mecânica, o sistema antigo de pontuação funcionou muito bem, mas a F1 evoluiu a ponto de quebras deixarem de ser constantes. E não se pode pedir a uma equipe que construa um carro que quebre. Se a pontuação estava obsoleta quinze anos atrás, ainda está em 2017, portanto, não tenho saudade nenhuma do antigo sistema de pontuação, assim como não tenho saudade nenhuma de 2002, pelos mais variados motivos.

Ah! Os pilotos da BRM em 1972 foram Jean Pierre Beltoise, Peter Gethin, Howden Ganley, Helmut Marko, Alex Soler-Roig, Reine Wisell e Jackie Oliver. Não eram cinco? É que a BRM precisava de dinheiro e vendia a vaga para quem aparecesse com alguma grana, mas os quatro primeiros correram a maioria das provas naquela temporada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário