sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Divórcio anunciado

Poucas notícias foram menos surpreendentes do que a anunciada hoje pela manhã. Depois de três anos de uma expectativa boa que se transformou em pura desilusão, o casamento McLaren/Honda terminará no final dessa temporada. Quando McLaren e Honda juntaram forças no início de 2015, a primeira coisa que todo fã de F1 lembrou foi da vitoriosa parceria acontecido no final dos anos 1980, com resultados espetaculares nas mãos de Alain Prost e Ayrton Senna. Contudo, haviam dois 'poréns'.

O primeiro era que afora o sucesso da Honda conseguido com a McLaren, a gigante nipônica colecionou fracassos na F1 em suas outras duas passagens pela categoria. Os japoneses tiveram o dissabor de ver a equipe que abandonaram no final de 2008 vencer o campeonato seguinte com o nome de Brawn GP. O segundo era a complexidade do novo motor da F1 híbrida, onde as demais montadoras (Mercedes, Ferrari e Renault) já vinham desenvolvendo há alguns anos e a Honda começou com seu novo motor com, no mínimo, dois anos de atraso. Para quem conhece a forma de trabalhar da Honda, sabe que os japoneses gostam de trabalhar do seu jeito e isso vem desde que Soichiro Honda entrou no Mundial de Motovelocidade com motores de quatro tempos, quando todo mundo usava (e ganhava) com motores de dois tempos. Sem conhecimento prévio e querendo fazer do seu jeito, a Honda começava a sua esperada parceria com a McLaren mostrando o que estava por vir. Pouca potência e pouca confiabilidade. Uma mistura fatal na F1.

A volta de Fernando Alonso à McLaren, patrocinada pela Honda, significava a ambição da montadora, mas também a certeza que não faltaria piloto para fazer a revivida parceria andar. Pois foi Alonso e sua forma difícil de trabalhar que começou a minar a parceria. Reclamações em público e rádios vazados que entraram para o folclore da F1 mostravam um Alonso indignado por estar sem condições de lutar pela vitória por causa do motor Honda, apelidado certa vez de 'GP2 Engine(Motor de GP2)'. O segundo ano da parceria mostrou uma evolução e a McLaren pontuou com alguma regularidade em 2016, mesmo que longe dos pódios prometidos pela Honda, porém, com a evolução do motor japonês, havia a esperança de que finalmente Alonso e a McLaren voltassem à brigar por vitórias no terceiro ano. Pois em 2017 aconteceu exatamente o contrário. Os engenheiros da Honda contrariaram suas convicções e projetaram um motor inspirado na Mercedes, o melhor da F1. Sem experiência nessa nova concepção de motor, a Honda voltou praticamente para o início de 2015, onde a combinação pouca potência e pouca confiabilidade voltou com força total. Foi o fim da paciência de McLaren e Alonso. Numa manobra ousada e surpreendente, Alonso correu as 500 Milhas de Indianápolis, na tentativa de fazer seduzir o espanhol, mas cansado da difícil vida de retardatário que nem sempre chegava ao fim das corridas, Alonso deu o ultimato: ou eu ou eles (Honda). Sem vencer desde 2012, a McLaren fez sua escolha.

E essa escolha trouxe uma série de desdobramentos. Primeiro foi que a McLaren perdeu o enorme aporte financeiro que a Honda trouxe para o time e com os parcos resultados nos últimos tempos, houve uma fuga de patrocínios e a McLaren terá que se virar sozinha para se manter, além de arcar com o poupudo salário de Alonso. Outro fato é que a McLaren perdeu o status de equipe de fábrica, algo que poderá pesar a médio prazo. Um dos motivos da McLaren se divorciar da Mercedes foi que o time nunca seria campeão como equipe cliente, algo que faz sentido. Não pegaria bem para a Mercedes ter uma equipe que era derrotada por um carro que usa o seu motor. Porém, o mesmo vale para a Renault, que tem uma equipe oficial na F1 e cederá seus motores para a McLaren a partir do próximo ano. Podemos estar vendo o apequenamento da histórica McLaren, algo que já aconteceu com a Williams.

Foi sabendo desse detalhe que a Red Bull começou uma paquera com a Honda, cedendo sua segundo equipe como guarita para os japoneses tentarem melhorar os seus motores e, quem sabe, ceder seus motores para a Red Bull num futuro próximo, a tornando equipe de fábrica novamente, algo que o time austríaco não é. Não podemos duvidar que a equipe Renault oficial poderá crescer e não seria interessante para os franceses perder para um carro que use o seu motor, raciocínio que McLaren utilizou em 2014. No meio de tudo isso, a Red Bull cedeu seu piloto Carlos Sainz para a Renault, cansada da mediocridade de Jolyon Palmer. No fundo, a Red Bull que estar associada de qualquer maneira à Honda e para isso, cedeu seu valorizado piloto nessa intrincada negociação envolvendo McLaren, Honda, Renault e Red Bull. Com a Toro Rosso, a Honda terá menos pressão para desenvolver seus motores, afinal, a Toro Rosso sempre foi uma equipe de meio do pelotão. Se os japoneses crescerem, a Red Bull se envolverá com os japoneses, deixando a longa parceria com a Renault. Se Sainz se destacar na Renault, o time poderá pegar o espanhol de volta ou ganhar muito dinheiro vendendo o contrato para a Renault. E a McLaren? Tem três opções. A mais curto prazo, é se tornar uma Williams da vida, uma equipe que vive de sua tradição e história. A segunda seria construir um motor, algo já aventado pelo time em outras oportunidades. A terceira seria a McLaren ficar de olho no interesse da Porsche em voltar a F1 e nesse caso, outra parceria histórica seria feita, quando a McLaren foi tricampeã com o motor TAG Porsche no meio dos anos 1980, sendo que ao contrários dos japoneses, a Porsche tem uma ótima experiência com motores híbridos no WEC.

Finalmente, Alonso. Com 36 anos de idade o espanhol já está em sua reta final na carreira e corre contra o tempo para voltar a vencer na F1. Contudo, suas escolhas definitivamente o atrapalharam conseguir melhores resultados e já corre à boca pequena que do jeito que vai a sorte de Alonso, não seria de se admirar que a Honda evolua exponencialmente a partir de 2018...

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