domingo, 17 de setembro de 2017

Nas mãos certas

A rateada em Watkins Glen assustou, ainda mais com Scott Dixon entrando definitivamente na parada. Asa negra da Penske, o neozelandês da Ganassi está mais do que acostumado em situações de decisão de título e em 2015 conseguiu uma virada histórica e improvável em cima de Juan Pablo Montoya. Porém, Josef Newgarden é feito de uma material diferente. Quando saiu do carro para comemorar com a equipe o título de 2017, o jovem americano de 26 anos nem parecia que acabara de conquistar seu primeiro campeonato na Indy. Gelado, Josef gritou o velho 'come on!' e vibrou com seus mecânicos e engenheiros, além de Tim Cindric e Roger Penske. Não havia choro ou movimentos exóticos. Newgarden saiu do seu Dallara-Chevrolet como se aquilo fosse mais uma corrida, não um sonho se tornando realidade, como o próprio definiu em entrevista à NBC. Josef é do tipo de pilotos que vencer uma corrida e um campeonato é tão natural quanto beber uma taça de vinho da região de Sonoma.

Josef Newgarden chegou à Penske após bons anos em equipes pequenas, onde conquistou três vitórias ao superar as gigantes da Indy, Penske, Ganassi e Andretti. O capitão Roger Penske farejou não apenas talento. Jovem,  americano, com trejeitos de modelo e bem articulado, Newgarden poderia ser o futuro da Indy e Roger não titubeou em dispensar o veterano Montoya e colocar Newgarden no quarto carro de sua equipe na Indy. Newgarden teria três pesos-pesados da história recente da Indy como companheiros de equipe. Simon Pagenaud era o atual campeão. Will Power é talvez o piloto mais rápido da Indy em circuitos mistos. Helio Castroneves tinha toda a experiência de 20 anos na Indy, mesmo em franca decadência há anos. Além do mais, havia o inimigo externo chamado Scott Dixon, numa Ganassi ainda se adaptando aos kits Honda. Porém, a velocidade de Newgarden não demorou a aparecer, mesmo que alguns incidentes fizessem que o americano não embalasse na primeira parte do campeonato.

Como um veterano, Newgarden conseguiu uma boa sequência na metade final do campeonato, conquistando quatro vitórias, passando por cima dos seus mais experimentados companheiros de equipe, além do astuto Scott Dixon. O erro em Watkins Glen fez Newgarden chegar à última etapa do campeonato pressionado, pois a sua vantagem no campeonato era pequena e o piloto mais próximo era justamente Dixon, com quatro títulos nas costas e extremamente forte em situação de final de campeonato. Pondo a cabeça no lugar, Newgarden aproveitou mais um final de semana próximo da perfeição da Penske e foi o pole e liderou as primeiras voltas em Sonoma, mas o americano não contou com a tática arriscada de Simon Pagenaud, que saiu da janela normal de pit-stops e com um ritmo alucinante, fez uma parada a mais do que os outros, mas era sempre mais rápido do que os demais rivais pela vitória. O francês venceu com categoria a última etapa do ano, garantindo o vice-campeonato.

A maior ameaça da Penske era Scott Dixon e a equipe fez de tudo para evitar os ataques do piloto da Ganassi. Em certo momento, a Penske deixou o piloto mais lento da equipe, Helio Castroneves, segurando o neozelandês, até Dixon 'ultrapassar' o brasileiro nos boxes e partir para cima do trio da Penske que liderava a prova. Com os recentes atritos entre Pagenaud e Newgarden, temia-se um toque entre eles e o campeonato da Penske indo para o ralo, mas Cindric controlava os impulsos de Newgarden pelo rádio e o americano se conformou com o mais do que necessário segundo lugar.

Dixon tentou uma tática quase suicida no fim, andando muito forte, num ritmo que não seria possível de se chegar ao fim sem uma última parada. Marcada por bandeiras amarelas marotas, a corrida em Sonoma foi limpa e Dixon teve que se conformar com a quarta posição, sendo o único piloto capaz de incomodar o poderio da Penske. Talvez o piloto mais completo da Indy, Scott Dixon terá que esperar por uma evolução da Ganassi com os novos carros em 2018 para poder enfrentar de igual para igual a Penske. Tony Kanaan teve uma corrida horrível, onde largando no final do pelotão, se envolveu num incidente nas primeiras voltas e passou a prova inteira uma volta atrás. Prestes a completar 43 anos, Kanaan fez uma temporada muito ruim e sairá da Ganassi pelas portas dos fundos, conseguindo abrigo na equipe de A.J. Foyt, time hoje de segundo escalão da Indy. Pelo o que fez nos últimos dois anos, era o máximo que Kanaan poderia almejar na próxima temporada.

Power voltou a ter uma temporada irregular, onde ora ganhava, ora batia, num ritmo bem parecido com o que acontecia antes de conquistar o seu campeonato, mas a velocidade do australiano em circuitos mistos permanece intacta. Pagenaud defendeu o seu título de forma discreta, ganhando apenas duas vezes, mas marcando pontos de forma consistente a ponto de conseguir o vice-campeonato. Helio Castroneves é claramente o ponto fraco da Penske e mesmo não fazendo o papelão de Kanaan em 2017, o brasileiro fazia corridas inconsistentes, principalmente nos mistos, onde muitas vezes liderou corridas, mas perdia rendimento ao longo das provas. Em Sonoma, Helio mostrou porque nunca foi campeão, numa corrida pobre na decisão do campeonato onde estava envolvido, mostrando a falta de estofo de Helio para ser campeão. Não é surpresa, diga-se, que ele nunca foi campeão de monopostos. A Andretti teve como destaque a vitória de Sato nas 500 Milhas de Indianápolis e a participação histórica de Fernando Alonso em Indiana, mas de resto, o time sofreu com o motor Honda, mas ao menos revelou Alexander Rossi como um futuro rival de Newgarden no futuro da Indy.

A corrida de hoje pode ter sido bem representativa para o automobilismo brasileiro na Indy. Kanaan irá para uma equipe de média para pequena em 2018, enquanto Helio ao que tudo indica irá para o programa IMSA da Penske, abandonando as chances de ser campeão, mas voltando para as 500 Milhas de Indianápolis. Ambos com mais de 40 anos de idade e em decadência em suas carreiras, Helio e Tony não veem ninguém a curto prazo a sucede-los na Indy.

Já a Indy não tem muito com o que se preocupar com seu futuro. De forma velada, a categoria torcia para um título de Newgarden. Ao contrário de Ryan Hunter-Reay, o último americano campeão, e de Scott Dixon, o melhor piloto, Josef Newgarden é carismático, jovem, corre pela tradicional equipe de Roger Penske e é americano. Além de muito talentoso. O título de 2017 está nas mãos certas.

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