sábado, 31 de agosto de 2019

Aller avec Dieu, Anthoine

Quando terminava de escrever o post sobre a classificação do Grande Prêmio da Bélgica, uma notícia dava conta de uma sério acidente na F2. Claro que isso chamou minha atenção, mas quando vi as primeiras imagens, um frio atravessou toda a minha espinha. Um acidente na Eau Rouge sempre será uma pancada forte, basta lembrar os acidentes com os pilotos da BAR vinte anos atrás ou, voltando ainda mais no tempo, o acidente fatal de Stefan Bellof. Mas um acidente em 'T' nesse local era um prenúncio de que as notícias a seguir não seriam boas.

Alguns minutos se passaram antes que a FIA colocasse em todas as suas redes sociais a confirmação da morte de Anthoine Hubert, de 22 anos de idade, em decorrência do grave acidente deste sábado. Cria do automobilismo de base francês, Hubert tinha uma carreira brilhante e com títulos na F4 e GP3. Mesmo não liderando em seu primeiro ano na F2, o jovem francês havia sido contratado pela Renault e o futuro de Hubert prometia bastante. Num acidente em que não se pôde identificar culpados, Hubert bateu na proteção de pneus na Eau Rouge e acabou colhido por Juan Manuel Correa (que está hospitalizado). O carro de Hubert foi atingido em cheio por Correa. As imagens fortíssimas, junto com a falta de informações e o cancelamento da prova eram claros indicativos de que a situação de Anthoine Hubert não era nada boa.

Mesmo levado de helicóptero para o hospital, Anthoine Hubert faleceu.

Desde o trágico final de semana em Ímola vinte e cinco anos atrás, um piloto não morria num final de semana de F1 (Bianchi morreu nove meses depois do seu acidente). Muitas vezes nos pegamos fazendo troça do automobilismo atual e que os pilotos de hoje são todos 'Nutella'. Por mais que a segurança esteja cada vez mais reforçada, o lema 'Motorsport is dangerous' não pode ser esquecido jamais. 

Assim como jamais deveremos esquecer de Anthoine Hubert. 

Ferrari com sobras

Num ano marcado pelo domínio da Mercedes e de Lewis Hamilton, que devem garantir o título em algumas etapas, chega a surpreender o que a Ferrari e Charles Leclerc fizeram nesse sábado em Spa. Não foi apenas o caso do monegasco garantir a pole, mas enfiar goela abaixo da Mercedes uma vantagem de sete décimos de segundo, com Hamilton comemorando o terceiro lugar, enquanto Vettel se viu superado pelo jovem companheiro de equipe mais uma vez.

A classificação na Bélgica, debaixo de muito sol, foi bem atípica com duas quebras de motor bem ao velho estilo, com muita fumaça e fogo. A primeira vítima foi Robert Kubica em sua claudicante Williams, o que não deve fazer tanta diferença para o polaco em outro final de semana ruim da tradicional esquadra inglesa. Bem no finalzinho do Q1, foi a vez do motor Ferrari do Alfa Romeo de Antonio Giovinazzi abrir o bico, estragando a tentativa de Carlos Sainz ir ao Q2, além de deixar a dupla da Toro Rosso no limbo, com o detalhe de Gasly, ainda se acostumando com o novo carro, na frente de Kvyat. Nelsão merecia um genro um pouquinho mais talentoso. 

À essa altura já ficava claro que a Mercedes não teria muitas chances de brigar pela pole, mas Hamilton não tinha muito do que reclamar. No terceiro treino livre o inglês cometeu um incaracterístico erro e destruiu a frente do seu carro, dando muito trabalho aos seus mecânicos. Ajudado pela quebra de motor de Kubica, Hamilton pôde participar da classificação normalmente e ainda ficar na frente de Bottas. Outro que sofreu foi Verstappen. Correndo em 'casa', o holandês teve vários problemas com falta de potência do motor Honda e com isso Max teve que se contentar com uma opaca quinta posição, enquanto Albon foi um dos vários pilotos punidos por troca de motor e nem foi ao Q2 de forma estratégica.

Charles Leclerc deu um verdadeiro vareio em cima de Vettel, liderando todas as sessões de hoje e garantindo uma atordoante pole para a Ferrari, a primeira desde a Áustria. O monegasco lutará por sua primeira vitória na F1, enquanto Vettel tentará acabar com o tabu de recém-completados um ano sem vitória. Em condições normais, a Ferrari decidirá entre si a vitória no domingo, com Hamilton à espreita esperando um vacilo (algo que aconteceu várias vezes esse ano...) de algum dos pilotos ferraristas. Porém, estamos falando de Spa e a previsão é de chuva para amanhã. Portanto, nada está perdido para Hamilton e Verstappen, além de nada está garantido para a Ferrari, que dominou esse final de semana até agora com sobras.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

História: 20 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1999

Após o monótono Grande Prêmio da Hungria, onde a McLaren mostrou sua força com uma dobradinha dominante, a F1 chegava ao tradicional palco de Spa, num circuito completamente diferente de Hungaroring, mas nem por isso a McLaren parecia menos forte. Mika Hakkinen tinha cometido alguns erros não característicos para um campeão, o mesmo acontecendo com a McLaren, que deixou seus dois pilotos na mão algumas vezes vinte anos atrás. Por isso, mesmo com Michael Schumacher ainda se recuperando dos seus ferimentos em casa, a Ferrari liderava o Mundial de Pilotos com o segundo piloto Eddie Irvine, que negociava para onde iria no ano 2000, enquanto a Ferrari encaminhava um contrato com Rubens Barrichello, que fazia uma ótima temporada com a Stewart.

O tempo bom marcou os treinos em Spa, mas o que ficou na lembrança foram os dois acidentes protagonizados pela dupla da BAR. Jacques Villeneuve e Ricardo Zonta bateram muito forte na Eau Rouge, com pouca diferença entre os dois acidentes, mas apesar da magnitude das pancadas e os carros completamente destruídos, os dois pilotos saíram ilesos. A McLaren confirmou os prognósticos e arrastou a primeira fila com muita facilidade, com Hakkinen na frente de Coulthard. Numa tarde infeliz da Ferrari, foi a Jordan quem conseguiu a segunda fila com Frentzen novamente se mostrando como o piloto do ano de 1999, enquanto o semi-aposentado Damon Hill conseguia sua melhor classificação naquela temporada. Irvine era apenas sexto, tomando mais 1.5s das McLarens, num final de semana bem complicado para os italianos.

Grid:
1) Hakkinen (McLaren) - 1:50.329
2) Coulthard (McLaren) - 1:50.484
3) Frentzen (Jordan) - 1:51.332
4) Hill (Jordan) - 1:51.372
5) R.Schumacher (Williams) - 1:51.414
6) Irvine (Ferrari) - 1:51.895
7) Barrichello (Stewart) - 1:51.974
8) Zanardi (Williams) - 1:52.104
9) Salo (Ferrari) - 1:55.124
10) Herbert (Stewart) - 1:52.164

O dia 29 de agosto de 1999 amanheceu belo e pleno ao redor da floresta das Ardenas, num clima nada típico da região, mas que garantia uma corrida mais tranquila e no seco. Muito provavelmente a Ferrari esperava um clima diferente para ter uma chance na corrida, já que em nenhum momento os italianos conseguiram acertar o carro. Debaixo de muito sol a largada foi dada com a dupla da McLaren saindo rumo a primeira curva lado a lado. Hakkinen deixou patinar um pouco a embreagem, enquanto Coulthard saiu melhor. Vindo por dentro, Mika tentou forçar a barra e os dois McLarens se tocaram, mas sem maiores problemas dessa vez e na entrada da Eau Rouge era Coulthard quem liderava a corrida. Irvine fez uma boa largada e forçou para ficar em quarto, atrás de Frentzen e Ralf Schumacher, já que Hill não largou bem e ficou para trás, superado inclusive por Zanardi, que fazia uma corrida competitiva finalmente.

Coulthard imprimia um ritmo fortíssimo na frente, enquanto Hakkinen apenas se distanciava do terceiro colocado Frentzen. Os três primeiros colocados estavam distantes entre si e não haviam brigas pelas primeiras posições. Na volta 7 a McLaren mostrou a placa 'Push' para Hakkinen e o nórdico rapidamente diminuiu a vantagem para Coulthard, aumentando as suspeitas que uma ordem de equipe seria dada naquele momento, mas o escocês também incrementou o ritmo e a diferença entre a dupla da McLaren se estabeleceu nos 6s. Mais atrás Irvine segurava claramente Ralf Schumacher na briga pela quarta posição, mostrando que somente um milagre faria o irlandês permanecer na ponta do campeonato na bandeirada.  Quando os líderes fizeram suas primeiras paradas, a vantagem de Coulthard só aumentou, principalmente com Ralf Schumacher esticando seu stint e atrapalhando Hakkinen quando o finlandês tentava 'voar' com os pneus novos. 

Numa corrida sem muita emoção, saindo um pouco das características caóticas de Spa-Francorchamps, David Coulthard venceu com extrema facilidade, não dando chances à Hakkinen, que quase deixou o motor morrer em sua segunda parada, mas esteve longe de ser ameaçado por Frentzen, que chegou mais uma vez no pódio numa corrida solitária. Irvine teve sorte, pois a estratégia da Williams não funcionou e Ralf Schumacher perdeu bastante tempo com relação ao irlandês. Em termos táticos, não foi um dia feliz para a Williams, pois Alex Zanardi corria tranquilamente para marcar seu primeiro ponto em sua volta à F1 quando a Williams não colocou combustível o suficiente e o italiano teve que fazer uma parada não-programada, relembrando de forma triste os splash-and-go tão característicos da Indy. Hill ficou com o último ponto, segurando um frustrado Zanardi nas últimas voltas. Numa prova onde os cinco primeiros da primeira volta terminaram nas mesmas posições na bandeirada, a grande polêmica do dia foi a falta de ordens de equipe dentro da McLaren. Com a Ferrari num péssimo final de semana e Hakkinen brigando pelo títulos, os quatro pontos poderiam fazer muita diferença para o nórdico na briga com Irvine. Norbert Haug simplificou a questão dizendo que a McLaren não trabalhava da mesma forma do que outras equipes, numa alfinetada na Ferrari. Apesar do ato de esportividade da McLaren, por sorte aqueles pontos não fariam falta para Hakkinen no final do ano.

Chegada:
1) Coulthard
2) Hakkinen
3) Frentzen
4) Irvine
5) R.Schumacher
6) Hill

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Dia de hepta

Sinceramente acho muita graça quando falam que tinham saudades do começo da década 2000 na F1 em comparação com agora. Comparado com a atualidade, as corridas dos últimos anos são bem melhores do que de quinze ou vinte anos atrás, com equipes dominando e decidindo o campeonato com ampla vantagem sobre qualquer rival. A temporada 2004 não foi diferente desse enredo. Após um 2002 com a Ferrari praticamente humilhando as rivais, a FIA criou várias regras que tornou a temporada 2003 uma das melhores daqueles tempos, mas no ano seguinte a Ferrari entendeu melhor os regulamentos e 2004 foi quase uma repetição de dois anos antes.

Particularmente, acho 2002 bem mais chato e até triste em comparação à 2004, mesmo que essas temporadas tenham sido bem semelhantes em vários aspectos. Da mesma forma como a Mercedes atualmente, a Ferrari tinha um dream team dentro e fora das pistas, onde parecia estar sempre um passo à frente das demais. Se em 2002 Rubens Barrichello várias vezes fez frente à Schumacher e provocou o lamentável episódio em Zeltweg, dois anos depois as coisas foram bem diferentes. Com um carro nitidamente superior aos demais, Schumacher não deu chance a quem quer que fosse. Foram impressionantes doze vitórias nas treze primeiras corridas. E Schumacher só não chegou em Spa naquele 29 de agosto de 2004 de forma perfeita, por um erro incomum, durante um período de safety-car em Mônaco, onde o alemão bateu em Montoya dentro do túnel.

Spa era uma pista muito especial para Michael Schumacher, marco da primeira corrida e da primeira vitória do alemão na F1. Porém, a lendária pista belga costuma sempre causar corridas confusas e em 2004 não foi diferente. Numa prova marcada por vários acidentes e entradas do safety-car, Kimi Raikkonen fez uma corrida de espera para vencer pela primeira vez em 2004. Correndo ainda pela McLaren, o finlandês dava mostras do seu apreço por Spa, onde voltaria a vencer algumas vezes na carreira, superando até mesmo a temporada horrível da McLaren em 2004, onde os ingleses tiveram inúmeros reveses. Correndo pensando no campeonato, Schumacher chegou a ser ultrapassado com facilidade duas vezes (Kimi e Montoya) e com o necessário segundo lugar, garantiu o hepta campeonato. Rubens Barrichello fez uma corrida de recuperação após bater na largada e garantiu um terceiro lugar que não lhe faria diferença. Porém, para outro brasileiro faria bastante. Antônio Pizzônia decepcionava na F1 após fazer uma carreira muito forte nas categorias de base inglesa. Protegido da Williams, o manauara era piloto de testes da equipe em 2004 e em Spa correria no lugar do machucado Ralf Schumacher. Pizzônia fazia uma corrida inteligente, sua melhor na F1 e estava em terceiro, quando o motor BMW de sua Williams lhe traiu. Pizzônia saiu do carro com cara de choro. Se tivesse conseguido um pódio, provavelmente a carreira de Antônio Pizzônia teria sido bem diferente, mas sua tristeza marcava o praticamente fim de sua carreira competitiva na F1.

Naquela manhã a Rede Globo transmitiu ao vivo a final olímpica do vôlei masculino, ganha pela badalada seleção brasileira liderada por Bernardinho. A corrida foi mostrada na íntegra logo depois e em tempos que não existiam streaming, quem acompanhava F1 na época teve que se virar para ver Michael Schumacher garantir o hepta quinze anos atrás ao vivo. Com cinco títulos incontestáveis no bolso, a Ferrari parecia forte o suficiente para que o alemão continuasse destruindo recordes, mas aquele seria o último título de Michael Schumacher. Aquela animada corrida em Spa foi uma exceção à regra da época, onde boa parte das corridas eram ruins. 

Novamente Spa seria marcante para Michael Schumacher. Foi na pista belga que o alemão entrava de vez no olimpo dos grandes do esporte, mas que nunca mais repetiria seus feitos.

Quinta quente

Nas vésperas do final das férias de meio ano da F1 em 2019, duas notícias agitaram o até então morno mercado de pilotos. O grande entrave e o que faltava para esquentar era a situação de Valtteri Bottas na Mercedes. O finlandês tinha um contrato de apenas um ano e sua irregularidade deixava dúvidas no homens fortes da Mercedes. Porém, Lewis Hamilton já tem uma grande influência dentro da Mercedes. Por trás do papo de que prefere uma boa luta dentro e fora da equipe, Hamilton não quer ter outro duelo como o que travou com Nico Rosberg e sabendo que os anos estão passando, o inglês também não quer um jovem piloto lhe importunando. Se haviam algumas dúvidas para Toto Wolff, Hamilton tirou todas elas e Bottas ficará mais um ano na Mercedes em 2020.

Mesmo evoluindo a cada ano, Bottas está longe de incomodar Hamilton como fez Nico Rosberg nas já épicas três temporadas em que os dois pilotos animaram um campeonato dominado pela Mercedes. Além do mais, Bottas mostrou capacidade de tirar pontos dos adversários de Hamilton na luta pelo título, além de garantir importantes pontos no Mundial de Construtores. O 'fico' de Bottas pode significar que Hamilton pensa em ficar ainda muitos anos na F1 e consolidar-se como o maior recordista da categoria. Olhando para os boxes ao lado, Hamilton vê um Sebastian Vettel aflito com a pressão imposta pelo jovem Charles Leclerc, capaz até mesmo de dividir a Ferrari. Lewis enxergou em Esteban Ocon um piloto capaz de fazer o mesmo e por isso, a escolha por Bottas é mais do que óbvia. É racional!

Contudo, a F1 não deixaria um talento como Ocon de fora e o francês foi anunciado poucas horas depois na Renault. A montadora francesa ainda está muito aquém do seu potencial, mas vem mostrando que quer lutar pelo título em algum momento, montando uma dupla bem interessante com Ricciardo e Ocon a partir do próximo ano. Resta a Renault dar aos seus dois pilotos em 2020 um bom material para que eles briguem mais na frente. Com tudo isso, sobrou para Nico Hulkenberg. O alemão que despontava como um 'baby Schummy' perdeu o trem da história e já contando com 32 anos e sem pódios na carreira, Hulkenberg deverá ser conhecido por mais um piloto que poderia sido, mas nunca esteve perto de ser. No entanto Hulk poderá conseguir algo. E em breve. A Haas negocia sua dupla de pilotos para 2020 e nem precisa dizer que Günther Steiner não está nada satisfeito com o duo que tem, mesmo que parece bem claro que Kevin Magnussen fique. Se Hulkenberg for para a Haas, o clima dentro da equipe não melhorará muito, pois Hulk e K-Mag não se falam desde o episódio 'suck my balls'. Quem sobra também é Pietro Fittipaldi, que tinha esperanças na Haas em 2020.

Com a confirmação de Bottas na Mercedes, resta apenas a vaga de segundo piloto da Red Bull entre as equipes de ponta, que pode até fazer algo incomum no seu tempo na F1: investir num piloto. Com seu programa de jovens pilotos capengando, somente se Albon fazer algo de muito extraordinário para que ele fique na Red Bull em 2020. O quebra-cabeça para o ano que vem vai se encaixando e sem mudanças retumbantes à vista.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

História: 30 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1989

Quando o calendário chega ao final de agosto, a silly season corre solta na F1, mas trinta anos atrás muita coisa já se definia, mesmo que os anúncios só fossem feitos mais tarde. O acerto entre Alain Prost e a Ferrari chegava aos detalhes finais e mesmo que nada fosse anunciado na Bélgica, a Ferrari dava a deixa ao anunciar que sua dupla seria conhecida em Monza, tradicional local de apresentações. Nelson Piquet comemorava seu 37º aniversário praticamente acertando sua ida para a Benetton em 1990, que também trazia John Barnard da Ferrari, cansado de viver viajando para a Itália, país que declaradamente não gostava. Após sua ótima estreia na F1, Jean Alesi preferiu tentar manter a liderança na F3000 e por isso a Tyrrell contrata para Spa o inglês Johnny Herbert, mesmo o novato ainda mancando muito por causa do seu terrível acidente na F3000 em 1988. 

Como sempre foi comum em Spa, a chuva se fez presente em todo o final de semana do Grande Prêmio da Bélgica, mas a sessão de qualificação de sábado foi realizada no seco, permitindo a Senna conseguir a sua 37ª pole, cinco décimos à frente de Prost. Ferrari e Williams não puderam fazer nada contra a potência do novo motor Honda, ficando bem longe das McLarens. Para quem reclama do poderio atual trio de ferro da F1 em 2019, em 1989 as três principais equipes da época (McLaren, Ferrari e Williams) ficaram com as três primeiras filas, com o sétimo colocado tomando nada menos do que 2s do... sexto colocado! Basta dar uma olhadinha na história da F1 para ver que esse fenômeno sempre existiu. A grande surpresa dos treinos foi a desclassificação da Lotus, a primeira da história da tradicional equipe. Nakajima passou o final de semana reclamando de problemas de equilíbrio, enquanto Nelson Piquet sofreu com seu motor Judd. Quando o problema foi consertado, o carioca foi atrapalhado por Grouillard e rodou na Pouhon. Tendo que usar o carro reserva, Piquet se reencontrou com os problemas de motor e ficou de fora da corrida. Ainda mostrando algum senso de humor numa marca tão negativa, o mecânico chefe Bob Dance 'comemorou' com champanhe com Piquet quando ele chegou aos boxes. A Lotus apenas continuava seu longo e penoso declínio.

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:50.867
2) Prost (McLaren) - 1:51.463
3) Berger (Ferrari) - 1:52.391
4) Boutsen (Williams) - 1:52.786
5) Patrese (Williams) - 1:52.875
6) Mansell (Ferrari) - 1:52.898
7) Nannini (Benetton) - 1:55.075
8) Modena (Brabham) - 1:55.642
9) Gugelmin (March) - 1:55.729
10) Warwick (Arrows) - 1:55.864

O dia 27 de agosto de 1989 amanheceu como um dia qualquer nas Ardenas, com muita chuva. Quando os pilotos se encaminharam para o grid, a pista estava completamente encharcada, fazendo a dupla da Brabham rodar a bater antes da volta de apresentação, fazendo Roland Bruynseraede atrasar a largada em meia hora, enquanto os funcionários da pista tentavam melhorar a pista. Quando a chuva diminuiu um pouco, Bernie Ecclestone praticamente obrigou Bruynseraede começasse a corrida imediatamente, mesmo com a pista ainda sendo trabalhada. Alain Prost, que nunca gostou de correr naquelas condições, fala para Ron Dennis que estava muito preocupado e que abandonaria a prova, como havia feito em Silverstone no ano anterior. Mesmo ameaçando não largar, Prost resolve ir ao grid. A largada aconteceu com bastante cautela, com os pilotos praticamente indo para um voo cego com os carros levantando muito spray. Senna mantém a ponta, seguido por Prost e Berger, enquanto Mansell ultrapassa a dupla da Williams numa audaciosa ultrapassagem por fora, colocando duas rodas na grama.

As condições de pista estavam críticas e os pilotos pouco arriscavam. Mesmo com a ameaça de não largar, Prost permanece em segundo, mas não ataca Senna, que ia abrindo aos poucos. Herbert é o primeiro abandono e ainda com o macacão da Benetton, volta aos boxes mancando bastante. Senna tinha um problema com seus pneus dianteiros mal balanceados e por isso Prost fica apenas 5s atrás do companheiro de equipe, enquanto Berger vinha num voo cego, colado em Prost. Isso traria consequências na décima volta, quando Berger aquaplana nas Las Combes e roda. O austríaco bate de leve, mas como deixa o motor morrer, isso significava mais um abandono para Berger em 1989. Com os carros num ritmo até 20s mais lento que o normal, a corrida fica estática na frente, mas o retardatário Eddie Cheever resolveur animar a prova. Senna demorou meia volta para ultrapassar o americano, mas pior sorte teve Prost, que demorou três voltas para ultrapassar Cheever e com isso, Senna abriu 15s para o companheiro de equipe, enquanto Mansell encostava em Prost, mas Cheever também atrapalha Mansell de forma inacreditável. Ron Dennis e Cesare Fiorio pedem a Roland Bruynseraede a desqualificação do piloto de Arrows.

Quando Mansell se livra de Cheever, o inglês já havia perdido quase 20s (!) para Prost, mas pior sorte teve Patrese. Correndo logo atrás do seu companheiro de equipe Boutsen, Patrese não foi visto pelo retardatário Alboreto, que estava dando passagem para Boutsen e os dois italianos acabaram batendo, causando o abandono de ambos. Na metade da prova a chuva para, mas o asfalto nem de longe dava pinta que secaria. Mansell imprimi um ritmo forte para alcançar Prost, chegando a sair da pista na freada para a Les Combes. Porém, o inglês chamava atenção ao alargar a trajetória no hairpin da Source, ganhando um precioso tempo no local. Nos anos seguintes, o local viraria pista. Mansell era o piloto mais rápido da pista e chegava a tirar 2s por volta de Prost. Com a pista menos molhada, os pneus de chuva começavam a se deteriorar, enquanto Mansell definitivamente colava em Prost, numa empolgante briga pelo segundo lugar. Mesmo não estando confortável pela situação, Prost apertou o ritmo e começava a se aproximar de Senna, com Mansell tentando ultrapassar nas sessões lentas da pista. Se defendendo de Mansell, Prost marca a melhor volta na última volta e com Senna abrandando bastante o ritmo, os três primeiros colocados recebem a bandeirada com menos de 2s entre eles. Era a quinta vitória de Senna em 1989, com Prost e Mansell sendo bastante celebrados por Balestre no pódio. Boutsen terminou em quarto lugar na frente do seu público, Nannini levou a Benetton ao quinto lugar com Warwick ganhando o último ponto com a Arrows no dia do seu 35º aniversário. Senna provocava depois da corrida, dizendo que Mansell só não ultrapassou Prost porque eles correriam juntos pela Ferrari em 1990. Prost reclamou bastante das condições da corrida, mas demonstrava que quando havia muito em jogo, ele sabia se arriscar.

Chegada:
1) Senna
2) Prost
3) Mansell
4) Boutsen
5) Nannini
6) Warwick

domingo, 25 de agosto de 2019

Desgarrada fatal

Mesmo sendo uma categoria espetacular, a MotoGP vinha deixando a desejar nas últimas corridas com provas até mesmo chatas, com o domínio avassalador de Márquez. Como aconteceu na F1, principalmente após a medonha corrida em Paul Ricard, a MotoGP pareceu ter acordado para a vida e pela segunda corrida consecutiva tivemos uma batalha pela liderança decidida na última curva da última volta. Mais uma vez envolvendo Marc Márquez. E mais uma vez com o espanhol da Honda sendo derrotado. Se na Áustria o mérito deve ser inteiro de Doviziozo, em Silverstone Márquez escorregou na última curva, propiciando uma bela ultrapassagem por fora de Alex Rins, derrotando o compatriota por um centésimo de segundo.

Falando em Doviziozo, a corrida na Inglaterra começou bastante tensa com o perigoso acidente na primeira curva envolvendo Quartararo e o italiano da Ducati. Quartararo escorregou na primeira curva e Doviziozo não teve o que fazer, atingindo em cheio a moto do francês. O impacto foi tão forte que a Ducati de Dovi pegou fogo, mas a pancada que o italiano sofreu ao cair no asfalto foi fortíssimo. Doviziozo saiu de maca, acenou para o público e foi levado ao hospital. Tomara que não tenha acontecido nada demais. Rossi largou na primeira fila, mas não foi páreo para Márquez. A corrida parecia ganha para o espanhol da Honda, que dispararia no campeonato, já que seu principal rival estava sendo levado ao hospital. Contudo Rins ultrapassou Rossi e logo colou na rabeta de Márquez. A Suzuki de Rins parecia mais equilibrada do que a Honda de Márquez, mas faltava potência para a moto produzida em Hamamatsu. Enquanto isso, Viñales deixava Rossi para trás e lentamente foi tirando a diferença para os dois líderes. Maverick só se aproximou de verdade na última volta, mas nada vez para a luta pela vitória e teve que se contentar com o lugar mais baixo do pódio.

Márquez derrapava muito nas freadas, não raro levantando a roda traseira, enquanto Rins tinha uma tocada mais suave e até mesmo mais elegante. Em três oportunidades Rins ultrapassou Márquez, mas bastava uma reta para Márquez tomar a ponta. Na penúltima volta, Rins tentou uma manobra arriscada e audaciosa na última curva, quando veio por fora, mas Márquez não teve muito pudor em espremer o compatriota. A diferença para a volta seguinte foi que Márquez fez a última curva de forma perfeita. Rins acreditou na tática e repetiu na última volta. Por que deu certo? Márquez derrapou na última curva, perdeu tempo e isso foi o suficiente para Rins ter espaço e velocidade suficiente para ganhar pela segunda vez em 2019.

Márquez balançou a cabeça após a bandeirada, pois sabia que se na Áustria ele foi surpreendido por Doviziozo, hoje em Silverstone ele se deixou ultrapassar por um ligeiro vacilo seu. Alex Rins não tem nada com isso e celebrou bastante a sua espetacular vitória. 

sábado, 24 de agosto de 2019

O rival de Alesi

Eric Bernard chegou a ter seu estilo de pilotagem comparado a ninguém menos que Alain Prost, porém, essa não foi a grande característica do jovem piloto francês que despontou em meados da década de 1980. Correndo desde muito novo, Bernard foi o grande rival de Jean Alesi nas categorias de base francesas e como o rival se tornou uma promissora estrela no final da década de 1980, era esperado que Bernard conseguisse emular o sucesso de Alesi, algo que não aconteceu, o mesmo acontecendo também acontecendo com Alesi. Completando 55 anos hoje, vamos conhecer um pouco mais de Bernard.

Eric Bernard nasceu no dia 24 de agosto de 1964 em Martigues, próximo a Marselha na França. Desde muito novo Bernard foi apaixonado pelo automobilismo e com apenas sete anos já fazia seus primeiras corridas de kart, onde conquistou quatro títulos nacionais e encontrou o que seria o seu grande antagonista: Jean Alesi. Bernard e Alesi fizeram suas carreiras praticamente em paralelo. Em 1983, já kartista consagrado e contanto com 19 anos, Bernard se inscreveu no famoso Winfield Trophy, no circuito de Paul Ricard. Antigamente conhecido como Volante Elf, o torneio foi um verdadeiro celeiro de jovens pilotos franceses e naquela edição Bernard bateu Alesi e o belga Bertrand Gachot para se tornar campeão e com isso ganhar o valioso patrocínio da Elf, que o colocou na F-Renault francesa. Após um ano para ganhar experiência, Bernard conquista o campeonato em 1985 e gradua-se para a F3 em 1986. Eric compra um chassi Martini para participar do Campeonato Francês de F3 e termina o campeonato em 5º. Em 1987, Bernard troca o chassi Martini pelo Ralt e Eric vence suas primeiras corridas na categoria, incluindo a abertura em Albi. No campeonato Eric encontra seu eterno rival Jean Alesi e os dois pilotos lideraram a temporada, provando ser concorrentes formidáveis. Enquanto Alesi tinha uma tocada mais agressiva, Bernard era mais delicado ao volante, o que lhe rendeu comparações com Alain Prost, a grande estrela francesa da época. Porém, em 1987 foi a vez de Alesi dar o troco e vencer o campeonato de F3, com Bernard em segundo, mas com o patrocínio da Elf, o francês não encontra dificuldades para subir para a F3000.

O ano de estreia de Bernard foi difícil, incluindo uma troca de equipe no meio do campeonato, mas um ótimo segundo lugar em Dijon ajudou Bernard conseguir um lugar na equipe francesa DAMS para 1989, onde o francês teria mais estrutura para brigar pelo título. Bernard não decepciona e se torna um dos pilotos de ponta naquele ano na F3000 e seu grande rival pelo título era ninguém menos de que... Jean Alesi! Bernard também encontrou grande resistência do seu companheiro de equipe e quase xará Erik Comas. No fim das contas, Bernard terminou o campeonato em terceiro, com Alesi e Comas empatados na liderança, mas com Jean conseguindo o título pelo maior número de vitórias. Porém, o melhor momento de Bernard no ano não aconteceu na F3000. No verão de 1989 a equipe Larrousse de F1 se viu desfalcada de Yannick Dalmas e a Elf, uma das apoiadoras da equipe, indicou Bernard. O francês estrearia na F1 em casa, o que lhe ajudava a se acostumar a um carro numa pista muito conhecida. Bernard faz uma bela corrida, onde chegaria a correr em quinto lugar e estava em sétimo quando o motor Lamborghini quebrou. Aumentando a ligação entre Bernard e Alesi, o rival do aniversariante de hoje também estreou no Grande Prêmio da França de 1989 e realizou uma bela corrida, onde finalizou em quarto. A ligação entre Eric Bernard e Jean Alesi praticamente acabou ali. Alesi conseguiu um lugar na Tyrrell para 1990 e com uma temporada sensacional, o francês é contratado pela Ferrari para se tornar uma das estrelas da F1 na década de 1990, mesmo sem concretizar o que dele se esperava.

Bernard também consegue um lugar na F1 em 1990. Após sua boa corrida em Paul Ricard, Bernard se torna piloto de testes na Larrousse e os engenheiros ficam impressionados com seus conhecimentos. Bernard faria sua primeira temporada completa com a Larrousse e na pista mais difícil do calendário (Mônaco), o francês marcaria seu primeiro ponto na F1. Algumas provas mais tarde Bernard consegue um ótimo quarto lugar na Inglaterra, mas a Larrousse ainda sofria com problemas de confiabilidade, que fez a Lamborghini mudar de equipe para 1991. Sem o apoio de uma montadora e perdendo vários patrocinadores, a Larrousse perde muito rendimento em 1991 e os resultados de Bernard minguam. Seu único ponto seria marcado no Grande Prêmio do México com um sexto lugar, no que seria o último ponto de um carro construído pela Lola Cars na F1. Para piorar, Bernard sofre um sério acidente nos treinos do Grande Prêmio da Japão na saída da curva 130R e acaba quebrando uma perna. A recuperação de Bernard demorou bastante e ele somente retorna às pistas em 1993, como piloto de testes da Ligier. Naquele momento a tradicional equipe francesa sofria com problemas financeiros e uma gestão conturbada, mas ainda tinha o trunfo de ter o motor Renault, o melhor da F1 na época. Bernard é alçado a piloto titular em 1994, onde correria ao lado do novato Olivier Panis. O tempo fora das corridas e o fato da Ligier lhe dar um modelo 1993 modificado para as novas especificações daquele ano atrapalharam a temporada de Eric Bernard, que era superado sistematicamente por Panis. O francês fazia um ano medíocre, mas em Hockenheim tudo mudaria. Numa largada confusa, onde três acidentes distintos na largada tirou metade do grid ainda na primeira volta, Bernard usou a potência do motor Renault e a falta de concorrentes para subir pela primeira e única vez no pódio em terceiro lugar, ao lado de Panis, que foi segundo. Porém, nem isso foi o suficiente para que Bernard permanecesse na F1 e ainda antes de terminar a temporada, ele foi substituído por Johnny Herbert. Bernard faria sua última corrida na F1 pela capenga equipe Lotus em Jerez. A Larrousse tentou uma volta à F1 em 1995 e Bernard foi o escolhido para liderar a nova equipe, mas o time acabou antes da temporada terminar, assim como também era o fim da carreira de Eric Bernard na F1.

Foram apenas 45 corridas, 10 pontos e o fortuito pódio em Hockenheim para o francês. Sem vaga na F1, Bernard encontrou seu habitat natural quando se mudou para os GT's, onde obteve o sucesso no qual Eric estava acostumado nas categorias de base, tendo como grande rival Jean Alesi.

Parabéns!
Eric Bernard 

domingo, 18 de agosto de 2019

Será mesmo necessário?

Pocono é um dos superspeedways mais conhecidos e tradicionais dos Estados Unidos, principalmente pelo charme de ser um trioval. O circuito em forma de triângulo ficou fora do calendário da Indy por vários anos, só retornando em 2013 e mantendo as características de uma corrida rapidíssima. Porém, essa volta do oval da Pensilvânia também está se caracterizando pelos graves acidentes, com algumas fatalidades. Justin Wilson morreu lá em 2015 e três anos mais tarde Robert Wickens ficou paraplégico em Pocono. Hoje, por muito pouco um acidente similar que vitimou o canadense não aumentou a estatística de fatalidades em Pocono. 

Logo na primeira volta, Takuma Sato foi Takuma Sato e numa tentativa atabalhoada de ultrapassagem em cima de Alexander Rossi, acabou batendo no piloto da Andretti, levando consigo Ryan Hunter-Reay. Os três bateram forte no muro, mas o pior aconteceu logo depois. O desgovernado carro de Sato atingiu a roda traseira de Felix Rosenqvist e o sueco da Ganassi alçou voo, atingindo o alambrado. Por sorte, ninguém saiu ferido, mesmo Rosenqvist tendo que ir ao hospital para maiores avaliações. Após a morte de Dan Wheldon houve até quem defendesse que a Indy não corresse mais em ovais, o que iria totalmente contra o DNA da categoria, mas qual a diferença entre as corridas atuais para as de outros tempos, onde se corria em Pocono sem problemas? A resposta está na aerodinâmica e a aderência dos novos carros, que permitem que os mesmos corram muito próximos uns dos outros. Antigamente as velocidades atingidas em Pocono, Michigan e Indianápolis já eram altíssimas, mas os carros corriam de forma mais espaçada e os toques não ocorriam com tanta frequência. Hoje os carros são projetados para andarem próximos uns dos outros para dar mais 'emoção' as corridas e toques a mais de 350 km/h é algo com consequências difíceis de se calcular. Sato cometeu um erro inacreditável para um piloto de sua experiência e somado ao fato de ser a primeira volta, com os carros ainda mais próximos do normal, a equação foi outro acidente assustador em Pocono, mas felizmente sem maiores problemas aos envolvidos.

O grave acidente eclipsou totalmente a corrida vencida por Will Power, que passou boa parte da prova batalhando com os seus companheiros de Penske e Scott Dixon, que terminou em segundo. Newgarden fez uma corrida apagada, mas com Rossi abandonando por causa do erro crasso de Sato, o campeonato para o americano da Penske ficou ainda mais encaminhado. Hoje se reclama da falta de ovais na Indy, mas com a atual configuração dos carros, será que Pocono é realmente necessária?  

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Troca nada planejada

No final de 2018, Alexander Albon estava praticamente contratado na insossa F-E, quando foi procurado por Helmut Marko. O tailandês havia passado pelo programa de jovens pilotos da Red Bull numa época de pujança do sistema liderado por Marko, mas os tempos mudaram. Com uma rigidez fora do tom, Marko foi dispensando piloto em cima de piloto e no começo desse ano, o sisudo austríaco estava praticamente sem nenhum piloto para colocar na Toro Rosso, após a surpreendente saída de Daniel Ricciardo em direção à Renault. Albon agarrou a chance que lhe surgiu e estaria no segundo cockpit da Toro Rosso de forma tampão em 2019. Pelo menos era o planejado, mas da mesma forma como Albon foi surpreendido com o contrato com a Toro Rosso, hoje o tailandês teve outra oportunidade lhe aparecendo e foi anunciado na Red Bull para correr ao lado de Max Verstappen, talvez o piloto do ano nessa temporada.

Essa nova troca no meio da temporada promovida pela Red Bull só demonstra a falência do seu programa de jovens pilotos e a arcaica forma como Helmut Marko gere só está trazendo prejuízos para a Red Bull. Se antes sobravam pilotos, hoje está claramente em falta. Pierre Gasly estava claramente despreparado para enfrentar um Max Verstappen em forma exuberante com toda a pressão de uma equipe de ponta. O pobre francês fez uma primeira parte de temporada 2019 com uma equipe grande de forma até grotesca, com atuações abaixo da crítica. Com Verstappen dando espetáculos em todos os finais de semana de corrida, a pressão sobre Gasly só aumentava, na mesma medida que a qualidade de suas corridas iam caindo. A chegada de Albon à Red Bull é outra medida sem nenhum planejamento e pode queimar a carreira do novato, da mesma forma como aconteceu com Gasly e Kvyat.

E o que dizer do russo? Kvyat conseguiu um pódio na Alemanha, mas nem isso convenceu Marko e sua trupe e traze-lo para a Red Bull para o lugar de Gasly. Isso só aumenta a sensação de que o russo está fazendo hora extra na F1 e ele deve estar se perguntando, junto à namorada e a filha: o que ainda estou fazendo no sistema Red Bull?

Pierre Gasly é só mais uma vítima da falta de gestão que Marko vem levando o programa de pilotos da Red Bull, gastando muito dinheiro em jovens pilotos que não conseguem atingir os altos padrões impostos pelo austríaco e são descartados como uma roupa velha. Ao invés de ter paciência com esses pilotos, ainda jovens e desenvolvimento, carreiras são jogadas no lixo e não faltam exemplos. Onde estariam Christian Klien e Jaime Alguesuari, por exemplo? A falta de planejamento do programa de Marko já faz a Red Bull perder pontos (e dinheiro) no Mundial de Construtores e dificilmente Albon, com meia temporada de experiência, poderá ajudar a equipe a superar a Ferrari até o final do ano.

domingo, 11 de agosto de 2019

O homem criptonita

Quando Marc Márquez assumiu a ponta da corrida de hoje, deu até aquela impressão de que o espanhol despacharia todo mundo rumo a mais uma vitória, mas como sempre falo nessas ocasiões e também relembrando o velho maestro Juan Manuel Fangio, carreras son carreras. Spielberg e sua pista mais afeita aos carros sempre foi um território Ducati, com a marca italiana invicta desde que a Áustria retornou a MotoGP. Doviziozo sabia que essa corrida seria uma das poucas oportunidades para quebrar a incrível sequência de vitórias de Márquez em 2019 e o italiano foi até mais agressivo do que o normal, mas ele voltou ao seu estilo com uma ultrapassagem matadora na última curva da última volta para vencer na Áustria e manter a hegemonia da Ducati em Spielberg.

A corrida da MotoGP foi inteiramente dominada pela dupla que ponteia o campeonato. Doviziozo largou muito bem e rapidamente passou a atacar o poleman Márquez, mas o espanhol forçou a barra e numa disputa chegou a colocar os dois para fora da pista e com isso, perder muitas posições. O novato sensação Fabio Quartararo assumiu a ponta, mas com a Yamaha tomando até 15 km/h para Honda e Ducati nos fins de reta, o francês não foi páreo para Márquez e Doviziozo, que não se desgrudaram um momento sequer. Quando Márquez tomou a ponta, deu a sensação de que ele partiria para mais uma vitória. Mesmo Spielberg sendo uma pista da Ducati, o espanhol dominou o final de semana até aquele momento e parecia que voaria rumo a mais triunfo, mas Doviziozo não saiu de perto de Márquez e retomou a ponta. Com muito a perder no campeonato, Márquez estudou as linhas do rival e ultrapassou no finalzinho da corrida. Conhecido pelo estilo limpo de guiar, Doviziozo saiu um pouco de suas características e partiu para cima de Márquez, chegando a perder a tomada das curvas algumas vezes.

Nos últimos tempos Doviziozo foi uma espécia de criptonita para Márquez. Num levantamento rápido, Dovi tem uma ótima vantagem sobre Márquez em disputas ombro a ombro entre eles. Não seria numa pista que favorece sua moto que Doviziozo não manteria essa sina. O italiano voltou ao seu normal, se concentrou e com uma ultrapassagem definitiva na última curva da última volta, deixou Márquez para trás para voltar a vencer uma corrida emocionante, algo que a MotoGP já estava devendo aos seus fãs. Quartararo permaneceu a corrida inteira em terceiro e foi a melhor Yamaha do pelotão, logo à frente das motos oficiais de Rossi e Viñales. Mesmo sendo um circuito da Ducati em termos de desempenho, Spielberg tem como proprietário a Red Bull, que patrocina a KTM e o melhor piloto da marca austríaca foi Miguel Oliveira, suplantando a Ducati oficial de Petrucci e, principalmente, Johan Zarco, trazido a peso de ouro pela KTM, mas que vem fazendo uma temporada para lá de decepcionante.

A diferença entre Márquez e Doviziozo caiu um pouco e provavelmente essa vitória do italiano da Ducati não irá interferir no provável hexacampeonato de Márquez, mas Andrea Doviziozo provou mais uma vez que tem a fórmula para derrotar o incrível espanhol.

sábado, 10 de agosto de 2019

Volta completa

Para quem não sabe, por muitos anos a McLaren era uma equipe dividida em duas por seu fundador, Bruce McLaren. De um lado do Atlântico, crescia dentro da F1, a grande especialidade de Bruce. Do outro lado, a McLaren se destacava no rico automobilismo americano, primeiro dominando a Can-Am e depois construindo carros para a Indy, conseguindo importantes vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis. Claro que essa divisão não durou muito e em meados dos anos 1970, a McLaren se concentrou unicamente na F1, mas desde que Alonso viu que não venceria mais na categoria, a equipe decidiu seguir seu piloto principal rumo à Indy. O primeiro ano foi um sucesso, encorajando a McLaren a tentar um maior envolvimento na Indy, só que 2019 foi um fracasso retumbante. Porém, Zak Brown e seus blue caps não queria sair da Indy pelas portas dos fundos e nessa semana anunciou a entrada da McLaren full-time na Indy.

Por trás dessa reestreia da McLaren na Indy em todo o campeonato, aconteceram vários movimentos para que isso fosse possível. Alonso só se interessou pela Indy quando viu que suas chances de conquistar o terceiro título na F1 estavam indo para o ralo, muito por causa do noviciado da Honda com a tecnologia híbrida. Querendo agradar de qualquer maneira seu piloto, a McLaren deixou Alonso perder uma das corrida mais importantes da F1 (Mônaco) para estar em Indianápolis em 2017, em parceria com a equipe Andretti. Porém, o 'GP2 Engine' jamais foi esquecido pela Honda, que tem uma parceria forte com a Andretti e quando houve a ruptura com a McLaren na F1, fechou todas as portas para Alonso e por consequência, a McLaren na Indy. Com Alonso de fora da F1, a McLaren tentou correr em Indianápolis por conta própria esse ano, para isso contratando o experiente Rob Farley para comandar a empreitada. Foi um dos maiores fracassos da história gloriosa da McLaren. Após cometer erros básicos de preparação, a McLaren ficou de fora do grid de 33 carros em Indianápolis, tendo como piloto o grande Fernando Alonso.

Apesar do investimento ser exponencialmente menor do que na F1, preparar um carro na Indy não é tão simples e a McLaren percebeu isso da pior maneira possível. Na época da classificação em Indianápolis a McLaren escolheu a pequena Carlin como parceira. Mesmo muito tradicional nas categorias de base na Europa, a Carlin ainda engatinha nos Estados Unidos. A McLaren percebeu que precisava de uma equipe mais forte e estruturada, porém havia um pequeno detalhe: o veto da Honda. Os japoneses não queriam Alonso com seus motores de jeito nenhum e então a McLaren ficou com poucas opções viáveis na Indy, pois apenas a Penske utiliza motores Chevrolet, enquanto Andretti e Ganassi usam Honda. Restava a McLaren convencer uma equipe Honda trocar para Chevrolet. A Smith&Peterson é uma equipe emergente, mas com o tamanho do trio de ferro da Indy (Penske-Ganassi-Andretti), o time parecia que nunca brigaria pelo título, mesmo com essa ambição. A McLaren é uma parceira que todo mundo gostaria de ter e a SPM não ligou muito em trocar de motor para pintar seus carros de laranja em 2020. 

A chegada da McLaren na SPM causou várias reações dentro da Indy. Primeiro que a SPM já mudou de patamar tendo uma gigante ao seu lado e a geometria de gigantes da Indy pode mudar de um triângulo para um quadrado em breve. A McLaren não irá entrar num campeonato inteiro para perder e por isso tentará contratar os melhores pilotos disponíveis. Alexander Rossi, Josef Newgarden e Scott Dixon tem contratos sólidos com Andretti, Penske e Ganassi respectivamente, sendo assim, os três principais pilotos dessa temporada saíram do radar da McLaren. Resta saber se Alonso, que parece ainda tateando o que fazer em 2020, encararia uma temporada completa na Indy, como se ventilou por aqui, mas que acabou num tiro n'água. A dupla atual da SPM não é de toda ruim, mas tem seus problemas. James Hinchcliffe é um ótimo piloto, mas é piloto da... Honda! Mesmo com contrato para 2020, o canadense pode sair da SPM-McLaren. Marcus Ericsson até conseguiu um pódio nesse seu ano de estreia, mas o sueco, que nada fez na F1, vem se mostrando um novato muito irregular na Indy e não agrada. Felipe Nasr fez um bom teste com a equipe e tem o know-how de ter experiência na F1 e até conhecer alguns engenheiros da McLaren. Seria uma boa esperança para o Brasil na Indy, já que Tony Kanaan já faz hora extra na Indy e Matheus Leist ainda não mostrou a que veio, onde ambos estão na pior equipe (Foyt) da Indy. Também há Colton Herta, novato sensação da Indy, que está ligado à Andretti, mas sem espaço na equipe. As boas relações entre a McLaren e a Andretti podem facilitar um empréstimo. 

O que importa é que o interesse da McLaren na Indy só demonstra o bom crescimento da categoria, que volta a correr em circuitos tradicionais e está com um bom nível técnico de pilotos. Enquanto ainda tenta voltar aos tempos de glória na F1, a McLaren pode voltar a vencer no outro lado do Atlântico, como fazia muito bem seu fundador Bruce nos primeiros tempos da equipe.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Figura(HUN): Lewis Hamilton

O desempate desse lugar na coluna foi apenas pela vitória, pois Max Verstappen mereceu demais estar nessa posição com outra corrida espetacular em Hungaroring, mas Hamilton estava mordido nesse final de semana, muito por causa do holandês da Red Bull. Depois de duas vitórias espetaculares, muitos especulavam que Verstappen já havia superado Hamilton como o melhor piloto do pelotão. Mesmo sem ter nada a provar, Hamilton é um grande campeão e como tal, tem um ego bastante inflado. O inglês queria provar dentro da pista que sua história ainda tem algumas linhas pela frente. Hamilton e Verstappen protagonizaram uma das melhores perseguições dos últimos tempos da F1 na Hungrid, onde imediatamente os demais dezoito pilotos se tornaram coadjuvantes, tamanho o ritmo imposto por eles. O terceiro colocado Vettel terminou um minuto atrás e apenas os quatro primeiros da corrida terminaram na mesma volta da dupla. Numa briga titânica, Hamilton teve que usar todo o arsenal ao ser dispor para vencer Verstappen nas últimas voltas e mostrar ao jovem holandês que mesmo Max sendo um dos grandes, Lewis Hamilton ainda é o maior dessa geração.

Figurão(HUN): Renault

Para não ficarmos nos mesmos (leia-se Pierre Gasly), vale a pena dar uma olhada no resto do grid e identificar quem não está muito bem das pernas e fez feio na Hungria. Nesse caso, é impossível não olhar para a temporada que a Renault vem fazendo até agora, culminando com a pobre corrida em Hungaroring e não coloca-los nessa parte da coluna. Após contratar não apenas Daniel Ricciardo a peso de ouro, como centenas de técnicos para solidificar a estrutura da equipe, a Renault esperava ter um rendimento digno de uma montadora multi-campeã na F1 em 2019. Liderada por Cyril Abiteboul, a Renault esperava brigar com a sua antiga parceira Red Bull como a terceira força do Mundial, mas passada a metade da temporada, a equipe Renault vem sendo superada até pela sua equipe cliente, a McLaren, enquanto a Red Bull briga por vitória com a sua nova parceira. Na Hungria, circuito que exige pouca potência e que em outros tempos a Renault tinha uma certa vantagem quando estava ligada com a Red Bull, a equipe oficial do time francês teve outro final de semana medíocre, onde nenhum dos seus dois pilotos foram ao Q3 e em ritmo de corrida a situação não melhorou muito. Mesmo contanto com dois pilotos conceituados no pelotão, a Renault esteve longe de brigar pelos pontos em Hungaroring e com a transmissão de TV cada vez mais procurando Abiteboul no pit-wall, fica claro que o dirigente francês está, digamos, prestigiado dentro da Renault. 

domingo, 4 de agosto de 2019

Pegou mal

Nos últimos anos a F1 foi muito criticada pelo excesso de zelo no quesito segurança, mesmo com a morte de Jules Bianchi ainda recente. Quando a chuva dá as caras, o Mercedão pilotado de Bernd Maylander logo aparece, para desespero dos fãs. Sabendo que isso não estava pegando muito bem para a imagem da categoria, a F1 foi abolindo esses protecionismos e na semana passada, largou-se parado com pista molhada. Ponto para a F1.

Porém, a MotoGP passou por uma situação vexaminosa nessa manhã. Antes, vale ponderar que a segurança de uma corrida de moto é ainda mais delicada do que numa corrida de carro, ainda mais por existir pit-stops nas quatro rodas, algo que não existe no mundo das duas rodas. Voltando ao que aconteceu em Brno. Minutos antes da largada da MotoGP, uma pancada de chuva caiu na tradicional pista tcheca, mas logo o sol apareceu, causando uma enorme confusão para equipes e pilotos. Com qual pneu largar? Valentino Rossi foi falar com outros pilotos, que pressionaram Carmelo Ezpeleta e a largada foi atrasada quando a volta de apresentação estava para começar. As motos voltaram aos boxes e o belo BMW da organização começou a rodar pela pista. Foi aí que surgiu o vexame. A pista estava quase que completamente seca e não havia sequer sinal de chuva no horizonte. 

A largada foi atrasada por mais de trinta minutos sem nenhuma razão. Na primeira vitória de Rossi nas antigas 500cc, as condições em Donington Park eram muito piores do que as de hoje e largou-se normalmente. O mesmo acontecendo em várias situações ao longo dos anos. O papelão na Argentina, quando as condições de pista também eram traiçoeiras não serviu de lição para a MotoGP, que estragou seu belo espetáculo e levantou os mesmos questionamentos dos fãs da F1: se são os melhores pilotos do mundo, porque não largam assim?

Marc Márquez é que não tinha muito do que reclamar. O espanhol foi pego bocejando enquanto se esperava a largada e numa prova sem erros (e sem muitas emoções também...) Márquez venceu novamente e aumentou ainda mais seu domínio no campeonato rumo ao hexa. Porém, o que vimos hoje em Brno pegou mal demais para a MotoGP.

Demarcando território

Com as duas vitórias espetaculares de Max Verstappen nas últimas três corridas, levantou-se um questionamento na F1: o holandês já seria o melhor piloto do pelotão atual? Max teria superado o já histórico Lewis Hamilton? Mesmo que não admitam, os pilotos correm, sim, atrás de recordes e tem egos inflados. Mesmo prestes a conquistar seu sexto título, essas frases sobre Verstappen devem doer em Hamilton. Ele queria uma disputa direta com o holandês e hoje ele teve essa oportunidade. Numa corrida particular entre Hamilton e Verstappen, onde os demais dezoito pilotos se tornaram coadjuvantes instantâneos, os dois protagonizaram uma batalha técnica de altíssimo nível, que acabou com a vitória de Hamilton nos momentos finais, onde o inglês mostrou a todos: Verstappen é grande, mas ainda está atrás dele.

A corrida de hoje na Hungria foi mais uma da boa sequência de provas emocionantes da F1. Após a tenebrosa corrida na França, já tinha gente decretando a morte da F1, numa cartada, no mínimo, duvidosa. Que a F1 passa por um momento complicado fora das pistas, não há muitas dúvidas disso, e não serão essas últimas corridas monstruosas que vão negar esses fatos, mas dizer que a F1 está morrendo já vai oportunismo demais. Este domingo viu uma corrida um pouco diferente das outras etapas dessa sequência. Havia um algo a mais em disputa. Max Verstappen talvez seja um dos maiores talentos surgidos nos últimos tempos, desde a chegada do próprio Lewis Hamilton no já distante ano de 2007. As vitórias de Max na Áustria e na Alemanha, quando se aproveitou das circunstâncias com uma pilotagem cada vez mais madura levantou sérias questões se o piloto da Red Bull já estava um nível acima de Hamilton. Claro que Hamilton, pentacampeão a ponto de virar hexa, não deve pensar assim e no íntimo, estava louco para dar uma resposta no palco ideal: dentro da pista. Hungaroring era considerada a pista mais chata da F1 em meados dos anos 2000, mas com a entrada de tantas pistas ruins e o aumento da aderência dos carros, o traçado húngaro foi se tornando interessante e palco de corridas muito boas nos últimos tempos, mesmo que mantendo a dificuldade de ultrapassagem. Verstappen fez um esforço fora do comum para confirmar sua pole ao fazer uma largada diagonal em cima do segundo colocado Bottas, enquanto Hamilton mostrava seu instinto ao atacar o companheiro de equipe na segunda curva, nem que para isso desse um pequeno toque em Bottas. Para completar, o nórdico levaria um segundo toque de Leclerc e com a asa dianteira avariada, Bottas se tornou carta fora do baralho na briga pela vitória.

Assim se desenhou a corrida a partir de então. Verstappen abriu 2s para Hamilton, que disparou frente aos demais. A corrida só tinha dois personagens e nas arquibancadas, ingleses e holandeses roíam as unhas para torcer pelo seu piloto favorito. Verstappen vinha embalado com a sua primeira pole e duas vitórias sensacionais, mas sabia que seu Red Bull não era páreo para a Mercedes. Hamilton sabia também que um segundo lugar, com Bottas lá atrás, não seria nada mal para o campeonato, mas ele necessitava de uma vitória em cima de Verstappen para o bem do seu ego. Foi uma briga de titãs entre dois pilotos de altíssimo nível, que chegaram a colocar um minuto sobre o terceiro colocado Charles Leclerc. O primeiro round aconteceu no que seria a única parada de ambos. Hamilton vinha mais forte e esperava a parada para atacar Verstappen, mas o holandês parou primeiro e mesmo com pneus duros, onde teoricamente não pararia mais, Max voltou muito rápido para a pista. A Mercedes não agiu de imediato. Deixou Hamilton na pista, mesmo que bem mais lento. Quando o inglês finalmente parou, estava 6s atrás de Verstappen. Ponto para Max. Porém, a velocidade com que Hamilton engoliu essa diferença demonstrou bem o seu ímpeto. Não demorou mais do que duas voltas para Hamilton encostar e atacar o holandês, mas Verstappen segurou de todas as formas e manteve a ponta. Parecia que o ponto estava decidido a favor de Verstappen. Porém, um campeão da estirpe de Hamilton não ficaria calmamente atrás de Verstappen procurando um erro. A Mercedes também não. Porque não mudar? Com uma diferença brutal para o terceiro colocado, Hamilton entrou nos pits faltando vinte voltas para colocar os pneus médios e caçar Verstappen. Foi uma briga de gato e rato. Verstappen se desdobrava para manter um ritmo aceitável e tentar se defender de um ataque vindouro, mas quando Hamilton baixou a bota e passou a andar 1.2s mais rápido, não havia muito o que fazer. A questão eram com quantas voltas Hamilton encostaria. Ainda faltavam quatro. Lewis também sabia que não poderia demorar demais e que a demora poderia levara a afobação. E a um toque. Hamilton foi cirúrgico no terceiro setor para entrar na reta colado em Verstappen e com a ajuda do DRS, ultrapassar com sobras o holandês numa disputa direta pela vitória.

Foi uma vitória tática, técnica e emocional para Lewis Hamilton. O inglês soube usar todo o potencial técnico dele e da Mercedes para tirar o déficit que tinha rumo a uma vitória épica, derrotando Verstappen, que estava surfando numa onda de otimismo. O holandês pareceu desapontado ao sair do carro, porém Max não tem do que lamentar com a corrida que fez. Mesmo com um carro inferior, segurou por mais de 95% da corrida um piloto com muito mais experiência do que ele e que já tem o nome marcado na história do esporte. 

Com a disputa entre Hamilton e Verstappen, o restante do pelotão mal foi visto. O ritmo imposto pelos dois foi tão forte que apenas os quatro primeiros colocados terminaram na mesma volta e o recorde de Michael Schumacher de 2004 foi liquidado com sobras. Com o problema de Bottas na primeira volta a Ferrari ficou na posição de pódio o tempo inteiro, mas com uma estratégia diferenciada, Vettel ultrapassou Leclerc nas voltas finais para conseguir o terceiro lugar, mesmo que levando um baita binóculo dos líderes. Quando Bottas fez sua parada prematura, a Mercedes fez um cálculo e passou ao finlandês: dá para ser sexto. Ou os cálculos da Mercedes falharam, ou Bottas não fez sua parte e o nórdico terminou apenas em oitavo. Mesmo com o problema na primeira volta, mais uma vez Bottas ficou abaixo do esperado, mas o que dizer de Gasly? O pobre francês terminou ainda na sexta posição, não conseguindo ultrapassar a McLaren de Carlos Sainz. O ótimo resultado do espanhol, somado ao nono lugar de Lando Norris coloca a McLaren como a quarta força do campeonato, enquanto a equipe de fábrica da Renault passou outro vexame com seus carros longe dos pontos e Cyril Abiteboul aparecendo na TV de vez em quando. Como se fosse um sinal de que está 'prestigiado' dentro da Renault. Na Alfa Romeo e na Racing Point, a disparidade entre seus pilotos é tão grande quanto na Red Bull. Enquanto Raikkonen pontuou bem com um sétimo lugar, Giovinazzi só superou a Williams de Kubica, ficando logo atrás de Stroll, enquanto seu companheiro de equipe Pérez quase pontuou. Após seu pódio na Alemanha, Kvyat ficou atrás de Albon, que marcou o último pontinho do dia. A Williams mostrou evolução com Russell superando dois pilotos de duas equipes diferentes, mesmo eles sendo de qualidade questionável. No reino de Günther Steiner, já se tornou incompreensível a perca de rendimento dos treinos para a corrida dos carros da Haas. Grosjean foi ao Q3 e abandonou quando já estava na rabeira, enquanto Magnussen só apareceu na corrida fechando os outros pilotos. Muito pouco!

O que vimos nessa manhã foi mais uma disputa entre o velho e o novo leão. Com 34 anos de idade e com seu nome marcado no esporte, Lewis Hamilton usou tudo o que tinha direito para derrotar Verstappen e seus imberbes 21 anos de idade, que com uma nítida evolução, vai ficando mais maduro e melhorando sua pilotagem cada vez mais. Verstappen caminha para substituir Hamilton como a próxima estrela da F1, mas o inglês demonstrou hoje que esse dia ainda não chegou. Essa Era ainda é de Hamilton.

sábado, 3 de agosto de 2019

A primeira de Max

Alguém ignorar o que vem fazendo Max Verstappen na F1 beira a loucura. Não bastassem os recordes de precocidade conquistados e o grande talento, o holandês trouxe uma torcida fanática para as arquibancadas da F1, emocionando a quem assiste uma corrida e trazendo uma nova frase para quem acompanha as corridas: gol da Holanda. Hoje, Max conseguiu outro gol com a sua pole, a primeira na F1, além de outros recordes.

A Hungria nos trouxe até o momento um final de semana com o clima embaralhado e sem saber muito bem qual equipe está dominando ou não. A Ferrari, como sempre, está muito rápida nas retas. A Mercedes mostra mais equilíbrio. Enquanto a Red Bull tem Max Verstappen, que conseguiu uma pole sensacional numa das classificação mais emocionantes dos últimos tempos, onde o piloto da Red Bull por muito não teve seu tempo superado por Bottas (0.018s) na última volta do nórdico. A Ferrari pode ter o motor mais potente, mas Hungaroring não tem lá muitas retas e a dupla vermelha não brigou pela pole, com direito a um pequeno acidente de Leclerc no Q1, que quase atrapalhou o resto de sua classificação. A McLaren veio muito forte, com Lando Norris chegando a estar constantemente na frente de Gasly. Os carros laranjas já começam a se estabelecer como a quarta força destacada da F1, enquanto a Renault escorrega e a Haas bate cabeça com um carro montado na Austrália, primeira etapa do ano, mais rápido que o atual, com todos os upgrades colocados seis meses depois. 

A primeira pole de Verstappen foi a primeira da Holanda na F1, o centésimo piloto diferente a conseguir a ponta do grid e foi a primeira pole da Honda desde 2006. Onde estará Alonso agora? Sim, a Honda, tão criticada por falta de potência, conseguiu derrotar a Mercedes e seu 'modo fiesta'! Amanhã a corrida pode ser decidida na largada e é justamente aí que está o calcanhar de Aquiles da Red Bull, que não vem largando muito bem nas últimas provas. Quando Verstappen largou mal, venceu, mas o sinuoso traçado húngaro não permite corridas de recuperação e Max terá que ter mais cuidado do que o usual. Além disso tudo, tem o clima, que vem se mostrando traiçoeiro em Budapeste. Felizmente a F1 manteve seu bom momento, com outra festa de arromba promovida por Max Verstappen.