quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Dia de hepta

Sinceramente acho muita graça quando falam que tinham saudades do começo da década 2000 na F1 em comparação com agora. Comparado com a atualidade, as corridas dos últimos anos são bem melhores do que de quinze ou vinte anos atrás, com equipes dominando e decidindo o campeonato com ampla vantagem sobre qualquer rival. A temporada 2004 não foi diferente desse enredo. Após um 2002 com a Ferrari praticamente humilhando as rivais, a FIA criou várias regras que tornou a temporada 2003 uma das melhores daqueles tempos, mas no ano seguinte a Ferrari entendeu melhor os regulamentos e 2004 foi quase uma repetição de dois anos antes.

Particularmente, acho 2002 bem mais chato e até triste em comparação à 2004, mesmo que essas temporadas tenham sido bem semelhantes em vários aspectos. Da mesma forma como a Mercedes atualmente, a Ferrari tinha um dream team dentro e fora das pistas, onde parecia estar sempre um passo à frente das demais. Se em 2002 Rubens Barrichello várias vezes fez frente à Schumacher e provocou o lamentável episódio em Zeltweg, dois anos depois as coisas foram bem diferentes. Com um carro nitidamente superior aos demais, Schumacher não deu chance a quem quer que fosse. Foram impressionantes doze vitórias nas treze primeiras corridas. E Schumacher só não chegou em Spa naquele 29 de agosto de 2004 de forma perfeita, por um erro incomum, durante um período de safety-car em Mônaco, onde o alemão bateu em Montoya dentro do túnel.

Spa era uma pista muito especial para Michael Schumacher, marco da primeira corrida e da primeira vitória do alemão na F1. Porém, a lendária pista belga costuma sempre causar corridas confusas e em 2004 não foi diferente. Numa prova marcada por vários acidentes e entradas do safety-car, Kimi Raikkonen fez uma corrida de espera para vencer pela primeira vez em 2004. Correndo ainda pela McLaren, o finlandês dava mostras do seu apreço por Spa, onde voltaria a vencer algumas vezes na carreira, superando até mesmo a temporada horrível da McLaren em 2004, onde os ingleses tiveram inúmeros reveses. Correndo pensando no campeonato, Schumacher chegou a ser ultrapassado com facilidade duas vezes (Kimi e Montoya) e com o necessário segundo lugar, garantiu o hepta campeonato. Rubens Barrichello fez uma corrida de recuperação após bater na largada e garantiu um terceiro lugar que não lhe faria diferença. Porém, para outro brasileiro faria bastante. Antônio Pizzônia decepcionava na F1 após fazer uma carreira muito forte nas categorias de base inglesa. Protegido da Williams, o manauara era piloto de testes da equipe em 2004 e em Spa correria no lugar do machucado Ralf Schumacher. Pizzônia fazia uma corrida inteligente, sua melhor na F1 e estava em terceiro, quando o motor BMW de sua Williams lhe traiu. Pizzônia saiu do carro com cara de choro. Se tivesse conseguido um pódio, provavelmente a carreira de Antônio Pizzônia teria sido bem diferente, mas sua tristeza marcava o praticamente fim de sua carreira competitiva na F1.

Naquela manhã a Rede Globo transmitiu ao vivo a final olímpica do vôlei masculino, ganha pela badalada seleção brasileira liderada por Bernardinho. A corrida foi mostrada na íntegra logo depois e em tempos que não existiam streaming, quem acompanhava F1 na época teve que se virar para ver Michael Schumacher garantir o hepta quinze anos atrás ao vivo. Com cinco títulos incontestáveis no bolso, a Ferrari parecia forte o suficiente para que o alemão continuasse destruindo recordes, mas aquele seria o último título de Michael Schumacher. Aquela animada corrida em Spa foi uma exceção à regra da época, onde boa parte das corridas eram ruins. 

Novamente Spa seria marcante para Michael Schumacher. Foi na pista belga que o alemão entrava de vez no olimpo dos grandes do esporte, mas que nunca mais repetiria seus feitos.

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